quinta-feira, 2 de julho de 2020

09) - Eu tenho doença não


Meus estimados e respeitosos leitores,

Hoje irá ao ar uma história que tem pouco mais de um quarto de Século, que guardo fechado à sete chaves por ser “delicado” e tem o poder de suscitar suspeitas - que eu garanto injustas - da minha sexualidade.
Como disse, garanto injustas por eu ser heterossexual assumido e afirmo-o, como diria um ex-governador do RS, PEREMPTORIAMENTE: - Sou heterossexual! Mesmo com o risco de ser taxado de não ser “Politicamente Correto”.
Vamos lá então. Coragem!



09) - Eu tenho doença não...

Em 1994 participei de um Projeto com uma Empresa de Consultoria de São Paulo, visando Desenvolvimento de Pessoal com treinamento para Executivos de Negócios de uma Multinacional Americana por todo o Brasil.

Em um período, compromissos no Nordeste me retiveram na região durante o final de semana. Resolvi passá-lo em João Pessoa, na Paraíba.

No final do domingo, solitário resolvi caminhar pela praia por uns três quilômetros de uma área em que não há rua costeando o mar. Deserto, tranquilo, coqueiros, lindo pôr do sol! Ao retornar, avistei um solitário que caminhava em diagonal lentamente ao meu encontro. Não estava malvestido, aparentava uns 30 anos e “aspecto normal”. 

Pelo jeito, vai me abordar para me pedir alguma coisa, pois me fez sinal com a mão que queria falar comigo. Sei lá, vai pedir dinheiro, cigarro, enfim.... Como a praia estava deserta, não posso demonstrar medo. Não vou desviá-lo pensei, ao contrário, vou intimidá-lo indo com decisão à sua direção de forma bem firme.  Chegando bem próximo, olhei na cara dele tentando fazer um semblante de raiva, disse um SIM bem forte; quase um grito. Ele não deu à mínima, não se abalou e iniciou falou:

-         Qué fazeaô cumigu? Qué?

-         Não entendi! Como é que é?

-         Qué fazeamô cumigu? Qué? Falou um pouco mais claramente no nome “daquilo” que ofertava, mas eu surpreso, pedi confirmação!

-         Se eu quero fazer amor contigo...?! Nem tive coragem de repetir o – e agora escrever - nome do que ele de fato queria me dar...

-          Qué? Eu tenho doença não! Sotaque bem caracterizado.

-         Hãããã... Acho que não... Pensei que negar com decisão poderia ofendê-lo, provocar revolta pela rejeição... Sabe-se lá o que passa na cabeça desse maluco. Estranho que ele não tem jeito de boiola. Não se abalou com minha negativa e continuou na maior serenidade do mundo:
-         Eu não tenho AIDS não! Tenho doença nenhuma não!

-         Claro que não. É que justamente agora eu estava indo...

-         Pago dé reau!

-         Não quero seu dinheiro. O problema é o seguinte... Vou tentar “enrolar” o cara para sair dessa, mas estou cada vez mais desconcertado. Quase pânico.

-         Pago quinze reau!   Pronto, agora virou leilão!

-         Não! Os dez reais já seriam muito bem pago! É que sou casado! Não vou trair minha mulher, entende?! Acho que assim escapo dessa! Não se deu por vencido:

-         Eu prometo não contar prá ela. É nosso segredo! Puta que pariu? “Nosso segredo”! Já está íntimo! E agora? Esse desgraçado não desiste fácil. Nunca tinha levado uma “cantada desse gênero”! Não sei como agir. Tentei a tática de concordar para postergar a decisão final de fugir:

-         Tá bem! Vamos combinar: Aguarda aqui. Vou até o hotel dizer para minha mulher que vou demorar e volto OK? Pára aí. Espera. Você não vem comigo. Fica aqui. Não te mexe deste lugar. Parado, não me segue! Stop!

Ele concordou enquanto sai rápido sem olhar para trás, depois de uns cem metros olhei, lá estava ele parado me esperando. Aí me deu “vontade de correr”! Corri uns duzentos metros - que me pareceram 15 quilômetros - e neste ritmo, entrei ofegante hotel adentro. Fiquei quieto no quarto por um bom tempo. Jantei no quarto.

Experiência única, num misto de engraçado e assustador. Incrível a sensação de sentir a presença muito próxima de um Predador!!!


Porto Alegre 02 de julho de 2020.

12 comentários:

  1. Mas que cena mais inusitada... se acontecesse aqui no Rio eu imagino que o diálogo seria outro... "Perdeu!" e diante de uma faca ou revólver eu teria de voltar pro hotel nu ou quase nu...

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    1. Que situação pra lá de embaraçosa!! Posso imaginar o seu desespero!! Hilário!!

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  2. São Coisas que acontecem

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    1. Deveras difícil! Obrigado por comentar. No próximo comentário que fizeres, por favor assine, coloque seu nome...

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  4. Foi um situação muito engraçada e diferente.

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  5. As vezes somos pegos de surpresa e a vontade é de sair correndo mesmo!

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  6. Realmente o Fausto fala a verdade. Conheço o Fausto desde os idos 1960, nada a dizer quanto seus hábitos prazeirosos com relação a opção sexual, logo entendo que o jovem que por ele se apaixonou, nada levou, mesmo não estando o outro com AIDS, na época mais temido que o atual COVID-19

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  7. Que experiência! Vc viu até que horas ele te esperou? Tadinho.

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  8. Só fiquei com uma dúvida, quantas vezes repetiu a caminhada no mesmo horário? Kkkkkkk brincadeira.

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