Meus amigos leitores,
Por coincidência a publicação dessa crônica - foi o Décio que me lembrou isso - hoje se celebra o aniversário de criação da nossa RFFSA, quando muitos ferroviários comemoram também como "Seu Dia", embora o dia oficial desse Profissional seja 30 de abril! Nosso afetuoso abraço a essa classe de trabalhador. Como nosso Brasil seria melhor, se o modal de transporte de passageiros tivesse um percentual mais expressivo, na ferrovia!
Quanto me encanto com os trens da Europa - tanto carga como passageiros - desonerando as vias rodoviárias e facilitando tanto o trânsito como lhe dando maior segurança!
22) A Estação do Trem!
Em Jaguari sua chegada, era um momento muito aguardado. Vinha de Porto Alegre destino São Borja, alternando com Cerro Largo. Nele vinha o jornal Correio do Povo do dia anterior, as notícias, vendedor de revistas diferentes, amigos e parentes. Só alegria! Contrapondo no sentido inverso quando esse partia rumo à Capital, dia de despedidas. Melancólico! Como tudo na vida, o mesmo som do apito que significava chegada de alguém com um abraço alegre com a despedida umedecida em lágrimas!
Aqui começa uma saborosa reflexão de interpretação de ordens superiores, que sempre devemos ter em mente sua profunda e verdadeira intenção. Não sou do tipo que estimula a constante negação de ordens que vêm de cima, também não apoio aquele subordinado carimbado de "concordino" com tudo o que o chefe manda. Do tipo que privilegia aquela máxima popular que: "O saco do chefe é o corrimão do sucesso"!
Pois num Verão, já absurdamente quente, o nosso Chefe da
Estação passou a adotar
O fato em questão: - Alguns minutos antes da chegada do trem, lá iam ele e seu principal funcionário vestir um robusto sobretudo. O trem partia e os dois suando de dar dó. O Guarda de Trilhos, magro, ficava pálido, parecia que ia desmaiar. Recuperava-se depois de um balde de água de poço! O Chefe, que era gordo, imenso, chegava a emitir finos gemidos pelas narinas. Quase um choro. Olhos arregalados tamanho sacrifício que a vestimenta impunha. Encharcava seu lenço com suor misturado com o picumã do Maria Fumaça. Alguns diziam que ele era louco, mas não podia ser loucura nos dois simultaneamente no mesmo formato, mesmo sintoma ao mesmo tempo. Sei lá, algo realmente para ser estudado a fundo e foi o que a Comunidade Local resolveu fazer.
- Buenas thê! Como tu tá lôco da cabeça, nóis tamo aqui prá te amarrá numa soga e te entregá na ambulância do Hospício São Pedro. É prá lá que vamo te levá. E nem me faz gritedo que já to acostumado carneando porco!
- Mas o que é isto vivente? Me solta!
- Tu tá aí suando feito um matungo que perdeu a cancha reta e não tira esse sobretudo de lã, com esse baita calor, só pode tá lôco!
- Que nada. Tô cumprindo ordem tchê! Os chefe tão preocupado com a segurança. Vô te amostrá o telegrama de serviço que eu tenho que obedecê, vivente!
De fato, ele tinha razão. Ordem escrita com recomendação expressa no final do telegrama:
...FINALIZANDO VG MUITO CUIDADO COM A SEGURANÇA VG SOBRETUDO NA HORA DO TREM...”