quarta-feira, 9 de setembro de 2020

19) O ar condicionado...

19) O ar condicionado...                      

Meus amigos,

Nem sempre o orgulho de alguns, corresponde à expectativa de outrem, de qualquer forma entendo que o que deve pautar nossa Vida é sermos felizes com o que somos e o que temos, principalmente com esse “o que temos” nos dê orgulho. Seja aquele menino com um brinquedo velho ou aquele adulto, com brinquedo novo!

Vou escrever um pouco sobre brinquedo de adulto e falo por mim: Homem adulto adora seu automóvel! Duvido algum homem que tenha esquecido seu primeiro “carro”, sua cor, marca e talvez até o número da placa! Década de noventa, os caminhonetões - F.100 & D-20 - com motor diesel, faziam a glória dos motoristas machos!                      

 

19) O ar condicionado...                                                             

 


Essa, veio lá de Jaguari. O acontecimento se dá com um índio xucro mas com bom dinheiro no bolso, o tal de Pagnollo. Comprou uma caminhonete Chevrolet numa revenda em Santiago. Zero quilômetro, completa; tinha tudo que é acessório possível em um veículo, ainda mais do valor desse em questão. Rádio, antena imensa com a bandeirinha de seu time de coração na extremidade a balançar, rodas de aço inoxidável, até uma pequena gaiola com um papagaio de plástico pendurado no espelho retrovisor, bancos forrados de um feltro verde com bordados vermelhos e uns apliques de feltro roxo de margaridas e de uma Santa que não me lembro qual!. O ar condicionado então, o que havia de mais potente e moderno.

No dia em que recebeu o carro, num sábado, duas da tarde de um Verão rigoroso que só Jaguari conhece. Uns quarenta graus à sombra, sensação térmica do interior de uma chaleira com água pronta para chimarrão, sem nenhum vento a soprar, mormacento, daquelas tardes que não se vê nem cachorro se coçando na rua da cidade inteira. No calçamento - em decorrência da forte seca - um reflexo como gasolina evaporando. As raras pessoas na rua, caminham bem devagarinho arrastando o chinelo e ao se encontrarem, se cumprimentam só com um aceno das  sobrancelhas, de tanta preguiça! Só se ouve cigarras cantando prenúncio de mais seca. Daquelas tardes de tanta preguiça que se tu encarregar um moleque para tomar conta de duas tartarugas, uma foge...

Vamos ao fato: Nesse dia havia um Rodeio Crioulo em São Francisco de Assis e o Pagnollo pronto para sair com sua caminhonete nova, chama seu filho:

- Júnior, põe o ar condicionado aí no máximo que eu não sei ligar esses botãozinhos de merda...

se foi ele na cabine gelada da D-20. No trevo de São Vicente um guasca pedindo carona, caprichosamente pilchado e a rigor, todo de preto em pleno sol, camisa de mangas comprida, abotoada até o pescoço, sem exagero, maquela hora devia estar uns cinqüenta graus. Suado, o coitado estava pálido de tanto calor. Atencioso, o dono da D-20 para e o desmilinguido embarca.

- Buenas prá lá e buenas prá cá!

Segue viagem. O destino de ambos era o mesmo: O Rodeio. Fecha a porta, o guasca passa um trabalho danado para colocar o cinto de segurança a pedido do motorista e nestas alturas o potente ar condicionado está botando vapor pelas ventas. Fazia nuvens de tão gelado! Dali a pouco o índio para de falar. Foi se enrolando no pala, se encolhendo todo, unhas e lábios ficando arroxadas e ele só esfregava as mãos. Por mais que o motorista puxava assunto, o caroneiro só fazia movimento com a cabeça afirmando que sim ou que não e ainda mexia com os ombros para informar que não sabia. 

Uma hora depois de estrada poeirenta e cheia de buracos, o cara tremia batendo os dentes de tão gelado! Ainda mudo só foi falar na chegada ao destino final:

- Cheguêmo! Graças a Deus! E quanto lhe devo pela carona?

- Ora tchê, um homem com uma caminhonete linda destas vai precisar cobrar pela carona?! É de graça vivente!

- Ma entonce muchas gracias! Mas é verdade, sua caminhonete é muito bonita uma barbaridade, mas tô até cum pena do sinhô!

- Mas tu tá loco, tchê! Pena de mim por que?

- Se agora no Verão tá um frio desse jeito aqui dentro, imagino no inverno o frio desgraçado que o sinhô deve sofrer...

É difícil contentar a todos, mas também ninguém é obrigado a conhecer tanta tecnologia a ponto de tornar subitamente o Verão em uma estação temporariamente fria!

 

Porto Alegre 10 de setembro de 2020.

 

11 comentários:

  1. Haha,isso acontece,com certos motoristas de ônibus,em viagem longa,nem pedindo, não normalizam a temperatura.

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  2. Conto gostoso de ser ler, a leitura flui suavemente.
    Meus cumprimentos ao grande contista
    Dirceo Stona

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  3. Hehehe quem pega carona está sujeito a esses perrengues!

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  4. Primo se superando!! Muito bom esse causo! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  5. Nessa época,esse carro ,era muito chique,mas acho que o caroneiro nunca mais pediu carona kkkkk..

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  6. Kkkkk imaginei todos os detalhes

    Tida

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  7. Muito bom recordar eventos como esses seus, parabéns amigo Fausto

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