quarta-feira, 23 de setembro de 2020

21) Bat Masterson

Meus amigos e leitores,

Primeiramente peço desculpas, se em meu último blog da quinta-feira passada, com o "Drama do Hospital" tenha ficado uma leitura um pouco pesada. Coloquei ali naquela crônica, um período muito difícil da minha vida e que posso garantir, uma divisória das etapas da minha existência. Estava na ocasião aos cinquenta anos de idade e é precisamente o momento do homem - refiro-me ao sexo masculino - que grandes mudanças ocorrem, pois ali ao nos tornarmos "cinquentões" atingindo o ápice de nossa Vida, tanto no plano físico como intelectual. Podemos nos manter por anos naquele patamar e na sequência o "declínio garantido" da Espécie!

O "Drama" foi incluído exatamente porque tive a Grande Graça de tornar um momento de dor lancinante num "pós riso", e o que tudo indica, é de que rindo, a Vida se torna melhor, sempre!

Hoje volto à minha Infância, tão divertida e feliz que tive para contar uma peripécia ingênua e divertida:


21) Bat Masterson.                                                                              


Eu tinha uns dez anos de idade quando se passou este fato: O “
Papito” - como chamávamos nosso pai - tinha no galinheiro de nossa casa, uma belíssima criação de galinhas da raça Plymout. Galinhas enormes de penas alvas. No meio destas, algumas crioulas também. Havia um galpão velho na porteira do galinheiro. Lá se armazenava milho e farelo de arroz em tonéis, para o alimento das penosas. Esta área onde elas viviam, era também um amplo pomar, onde sempre tinha alguma fruta madura.

Na hora da sesta, enquanto todos dormiam, eu tinha o hábito de ir “lá atrás” brincar, subir em árvores, comer frutas. Esta não era ainda hora de alimentar galinhas, o que acontecia ao entardecer pelo comando do Papito logo, nessa hora já estavam famintas. Embora criança, já com “espírito de porco”, fiz uma brincadeira comigo mesmo, para rir depois: Ao abrir o portão para meu passeio pelo pátio, eu jogava uma lata cheia de milho e cantava bem alto um pequeno trecho da música que aprendi numa revista em quadrinhos do Bat Masterson:

- "No velho Oeste ele nasceu e entre bravos se criou, seu nome-lenda se tornou: Bat Masterson, Bat Masterson!"

Bat Masterson era um herói da tal revista da época e sua música pueril, fácil de decorar por apenas um verso. 

A reação das aves era espantosa enquanto habituadas à premiação em milho. Corriam entusiasmadas em alta velocidade ao meu encontro para ganhar seus prêmios. Apreenderam rápido. Eu repetia a ritualística diariamente. O estímulo, o som da canção significa para elas “vem milho” e isso ficou bem registrado na reduzida mente das aves!

Passado algum tempo, chegou lá em casa o Buby, de São Pedro do Sul, primo do Papito, que era viajante. Ia seguido com seu Jeep e almoçava conosco, às vezes hospedava por um dia. O Buby, com seus 1,90 m. de altura, homem de seus quarenta e tantos anos, calmo e de fala mansa, não sesteava. Num destes pós-almoço, todo mundo ”abraçado ao deus Morpheu”, ficamos nós dois acordados e eu o convidei a comer laranjas. Topou. Lá fomos nós. Ele caminhava mantendo sua enorme mão sobre minha cabeça, como me conduzindo ou como se eu, no meu pequeno porte, fosse sua bengala. Ao aproximar-nos do portão, disse a ele orgulhoso:

- Sabe Buby, aqui em casa as galinhas gostam muito de me ouvir cantar!


- É mesmo Fausto?! Que bonito! É, tu deves cantar muito bem, claro!

Disse ele com riso escondido em tom de “faz de conta que eu acredito”... Crianças sempre tem estórias para contar! Quando abrimos o velho portão de madeira e tela, soltei a voz:

- No velho oeste ele nasceu...”

A recepção das “minhas fãs penosa” foi extraordinariamente calorosa como era todos os dias. Imaginem cerca quarenta galinhas enormes que vinham com tudo, surgiam de todo canto fazendo um alarido imenso, se batendo umas nas outras aos escandalosos cacarejos, desesperados, voando tábuas, virando latas, levantando uma poeira imensa, umas arrastando asas querendo voar para chegar antes da outra, um tumulto espantoso!

Acabou tudo quando todas nos rodearam atentas, aguardando o milho - nesse dia


estrategicamente não dei - elas se mantiveram em completo silêncio ao nosso redor com olhares firmes para mim na expectativa secreta entre elas e eu.... Quase não nos víamos tamanha poeira ao redor. Baixado toda esse pó, Buby ainda meio pasmo, incrédulo mas convencido sentenciou:

- Poxa Fausto, é verdade!

Entendo que a Lição para todos, é que não devemos duvidar nunca do "Talento  Nato" das crianças, seja para criar uma forte empatia com os animais, aves e talvez até répteis ou de criar uma mentira sadia - se é que existe - para tornar o Mundo um pouco mais surpreendente, coisa difícil entre nós, os adultos!

17 comentários:

  1. Show! Sempre um show a parte, teus contos são de uma simplicidade e tão agradável leitura que fica aquela incógnita qual será o próximo. Fico no aguardo. Abração Dr.

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  2. Crianças tem o dom.Até se tornar adulto.Vi muito.

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  3. Ótima estória. Texto bem leve. Saúde.

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  4. Parabéns Fausto, primeira vez que li uma crônica do teu blog. Procurarei as outras. Gostei muito, tens veia de "escriba". Um TFA.

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  5. Grande Fausto, primo talentoso! Cada crônica melhor q a outra. Esperando a próxima p mais risadas....

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  6. Fico imaginando a cena. Boas histórias da infância!!!!!!

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  7. Adorei!!! E essa música era tudo de bom! Bjos primão

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  8. Parabéns por mais um texto brilhante!

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  9. Como me divirto!!!!! Já estou aguardando a próxima! Parabéns pela riqueza que passa a cada semana. Consigo ver, ouvir e até sentir o cheiro em cada descrição!!!!!!!!!

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  10. Kkkkk adorei!! Já de pequeno mostrava talento e esperteza. Muito Bom!

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  11. O Fausto tem uma linda voz e usamos para chamar nosso gato. Mas precisa oferecer o prêmio igual a História.

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  12. Eu acho que ele deve participar de um coral tem uma voz linda .

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  13. Excelente história, os animais de fato criam muira empatia com o humano, quando vem tratadas. Falando Bat Mastersom me fez voltar no tempo, tenho uma foto com uma camiseta do Bat Mastersom..valeu

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