quarta-feira, 30 de setembro de 2020

22) A Estação do Trem!

Meus amigos leitores,


Por coincidência a publicação dessa crônica - foi o Décio que me lembrou isso - hoje se celebra  o aniversário de criação da nossa RFFSA, quando muitos ferroviários comemoram também como "Seu Dia", embora o dia oficial desse Profissional seja 30 de abril! Nosso afetuoso abraço a essa classe de trabalhador. Como nosso Brasil seria melhor, se o modal de transporte de passageiros tivesse um percentual mais expressivo, na ferrovia!

Quanto me encanto com os trens da Europa - tanto carga como passageiros - desonerando as vias rodoviárias e facilitando tanto o trânsito como lhe dando maior segurança! 


22) A Estação do Trem!


São tantas as histórias de trens no nosso passado, especialmente os de passageiros, que cada estação guarda sempre algum símbolo que desperte emoção em nossos corações! Até o cheiro de carvão da "Maria-Fumaça" ficou indelevelmente marcado em nossas memórias. 

Em Jaguari sua chegada, era um momento muito aguardado. Vinha de Porto Alegre destino São Borja, alternando com Cerro Largo. Nele vinha o jornal Correio do Povo do dia anterior, as notícias, vendedor de revistas diferentes, amigos e parentes. Só alegria! Contrapondo no sentido inverso quando esse partia rumo à Capital, dia de despedidas. Melancólico! Como tudo na vida, o mesmo som do apito que significava chegada de alguém com um abraço alegre com a despedida umedecida em lágrimas!

Aqui começa uma saborosa reflexão de interpretação de ordens superiores, que sempre devemos ter em mente sua profunda e verdadeira intenção. Não sou do tipo que estimula a constante negação de ordens que vêm de cima, também não apoio aquele subordinado carimbado de "concordino" com tudo o que o chefe manda. Do tipo que privilegia aquela máxima popular que: "O saco do chefe é o corrimão do sucesso"! 

Pois num Verão, já absurdamente quente, o nosso Chefe da Estação  passou a adotar

um comportamento, ou melhor, um uso de indumentária pouco usual para a temperatura reinante, no mínimo estranha. Usava não só ele, mas seu Guarda Trilhos também um grosso sobre tudo de lã preto, tipo “Capas Ideal do Renner", muito conhecidas à época por seu forte apelo contra o mau tempo e frio rigoroso. Não seria tão estranho, não tivesse ele mantido o hábito durante o forte Verão. Aliás, já comentei em crônica anterior o quão severo é o Verão naquelas bandas.

O fato em questão: - Alguns minutos antes da chegada do trem, lá iam ele e seu principal funcionário vestir um robusto sobretudo. O trem partia e os dois suando de dar dó. O Guarda de Trilhos, magro, ficava pálido, parecia que ia desmaiar. Recuperava-se depois de um balde de água de poço! O Chefe, que era gordo, imenso, chegava a emitir finos gemidos pelas narinas. Quase um choro. Olhos arregalados tamanho sacrifício que a vestimenta impunha. Encharcava seu lenço com suor misturado com o picumã do Maria Fumaça. Alguns diziam que ele era louco, mas não podia ser loucura nos dois simultaneamente  no mesmo formato, mesmo sintoma ao mesmo tempo. Sei lá, algo realmente para ser estudado a fundo e foi o que a Comunidade Local resolveu fazer. 


No domingo depois da missa se reuniram alguns amigos e suas esposas no café do Roberto, tomando uma ou algumas "batidas de limão" a discutir como orientar o pobre a se afastar do inexplicável e ridículo sacrifício. Os desgraçados podiam ter um mal súbito e morrerem, tamanho o estado depauperado que ficavam! Na reunião discutiram por horas e montaram uma estratégia para ajudar o pobre vivente. A decisão foi de que uma comitiva dos mais intelectuais iria conversar com ele. Selecionados os que poderiam abordá-lo de forma sutil a não correr risco de eventualmente ofendê-lo ou até assustá-lo.  O negócio é pegar leve e afastar aquele ideia maluca, bem como a de seu funcionário. "O assunto tem que ser tratado com jeito", disse um dos participantes. Escolhido o mais diplomático para chefiar a comitiva e lá foram eles na segunda-feira. Ênfase: Sutileza!

- Buenas thê! Como tu tá lôco da cabeça, nóis tamo aqui prá te amarrá numa soga e te entregá na ambulância do Hospício São Pedro. É prá lá que vamo te levá. E nem me faz gritedo que já to acostumado carneando porco!

-  Mas o que é isto vivente? Me solta!

- Tu tá aí suando feito um matungo que perdeu a cancha reta e não tira esse sobretudo de lã, com esse baita calor, só pode tá lôco!

-   Que nada. Tô cumprindo ordem tchê! Os chefe tão preocupado com a segurança. Vô te amostrá o telegrama de serviço que eu tenho que obedecê, vivente!


De fato, ele tinha razão. Ordem escrita com recomendação expressa no final do telegrama:


...FINALIZANDO VG MUITO CUIDADO COM A SEGURANÇA VG SOBRETUDO NA HORA DO TREM...”


Assim tudo ficou esclarecido, devidamente explicado e resolvido através daquele telegrama da Chefia. Comissão plenamente satisfeita foi dissolvida na hora e a vida volta ao normal, inclusive com o sobretudo. Na sequência, a cordial celebração do entendimento entre as partes, com mais algumas rodadas de batida de limão (que é ótima, recomendo!), mas dessa vez no bar do seu Alvino M., onde a batida vem até gelada!

5 comentários:

  1. Os Ferrinhos,eram muito disciplinados,acatar ordens dos chefes,era primordial,mesmo vindo de um telegrama,lido nos extremos.Muitas histórias,e estórias,vividas por esses personagens saudosos.Valeu a lembrança.Abreijão.

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  2. Parabéns Fausto. Linda crônica.Saiba que não se trata de conto. Ocorreu de fato. Não em Jaguari e em contesto um pouco diferente, mas ocorreu mesmo e entrou para os o folclore da nossa saudosa RFFSA. Teve origem em drtermibação feita pela chefia que, descontente o pessoal das estações não estarem usando adequadamente os unifornes durante o verão, oruginou telegrana à todo pessoal reforçando sobre a "obrigatoriedade do uso de uniformes, sobretudo quando passar o trem da chefia". Daí não deu outra.

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  3. Adorei História eu não tive oportunidade de usar o transporte.Eu só Maria da fumaça de Bento.

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  4. Tambem boas lembranças me trouxe, tanto da Maria Fumaça que antigamente tomavamos para subir a serra de Petropolis, quanto de, na area empresarial, duplos sentidos que acabavam acontecendo por mais cuidado que se tomasse.

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  5. Esse interpretou ao pé da letra. Coitados,que sufoco que passaram com o calor. Muito bom!

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