26) Meus amigos leitores,
Dentro do plano inicial desse blob, me propus colocar acontecimentos em que vivi de verdade e de "forma ridícula". Tratam-se portanto, de histórias verdadeiras vividas e não apenas estórias... As que me contaram (essas eu não garanto serem verdadeiras!) como o da Estação, por exemplo, embora aquela, alguns ex "Ferrinhos" (*) me ligaram para afirmar que a história - em seu núcleo - é verdadeira!
Essa de hoje, posso afirmar com todas as letras, foi minha maior gafe desses "últimos 71 anos"! Um horror... A cábula tomou um tamanho, que pensei mais de uma vez se devia publicá-la. Como a origem de tudo, vem do meu "quase livro" intitulado "Contos de um RIdículo" A primeira sílaba "RI" é em maiúsculo mesmo, porque depois de tudo passado, me dou o direito de rir de mim mesmo, então vou em frente!
(*) Carinhoso apelido daqueles que trabalharam ou trabalham nas ferrovias...
26) Saia Curta.
A situação de “saia curta” é aquela que a gente se mete numa enrascada, que mais parece um brete. Por mais que se procure não tem saída, sente-se uma imensa inveja da tartaruga, que em apuros simplesmente se recolhe para dentro da casca ou a avestruz que enterra a cabeça da areia, deixando o resto de fora. É, o “resto” fica de fora. Já me senti assim. O interessante, é que lá se vão mais de meio Século e toda a vez que me recordo, ainda fico um pouco corado, da vergonha que senti.
Em 1966 eu voltava dessa missão, pela Rua Sete de Setembro, totalmente vazia, momento em que todo mundo sesteava, especialmente no verão, e encontrei com um jovem conhecido – minha idade – morador da cidade vizinha de Santiago, de férias em Jaguari. Contei a ele, num misto de pesar e orgulho, que ao me alistar, fora designado a servir ao Exército em Santiago, sua terra e onde como Soldado, ficaria por um ano numa “posição social” em que as gurias desprezavam, no que ele concordou de imediato:
- Mesmo?! Que bom saber. Coincidentemente tenho três amigos Sargentos, dois são solteiros. Todos foram no ano passado para o Exército e já são Sargentos!
- Te aproxima dos solteiros e vais te dar bem! Elas adoram Sargentos!
- É? Farei isso. Tenho pena do que se casou. Coitado, é um arigó! Nunca teve namorada, não ia a baile, cinema, nada. Foi servir, conheceu uma que lhe esfregou a perereca na cara, comeu e em meio ano se casou. Inexperiente! Dizem que em Santiago ela DAVA para todo mundo. Agora é uma senhora, imagina, uma baita galinha!
Afirmei com todas as letras e convicção, próprio de um adolescente pleno de conhecimento, malandro e que tudo sabe, dono da verdade!
- Hehehehehe... Nossa, quem é ele? Me diz quem é, talvez eu conheça o otário! Vou pros amigos e me divertir muito com essa...
Perguntou curioso, os olhos brilhando e sorriso maroto estampado, ávidos de uma revelação que daria uma bela fofoca! Disse-lhe o nome completo!
- É o Sargento “Tal”!
- Ah sim! Conheço!
- Verdade?
- Sim. É casado com minha irmã!
Silêncio sepulcral! Não tinha competência para puxar assunto novo. Pensei que se eu tossisse um pouco, disfarçaria. Tossi bastante, mas não ajudou. Talvez acender um cigarro, não pois eu já estava fumando. Assoviar, não deu pois os lábios estavam petrificados. Ainda faltavam dois quarteirões para a minha casa. Os dois quarteirões mais longos e demorados da minha vida. Era uma saia curta desgraçada, salto alto, espinho de peixe na garganta, dor no pé!
Caminhava desajeitado. Vontade de sumir do
mapa. Nenhuma palavra mais, nunca mais. Também jamais voltei a vê-lo, felizmente. Se isso
acontecer hoje, fujo, desapareço da frente dele...