quarta-feira, 21 de outubro de 2020

25) Humor Negro.

 

25) Meus amigos que me prestigiam com suas leituras,

A cada crônica, eu sinto um certo compromisso de justificar minha postura, especialmente quando a julgo inadequada, no entanto em se tratar de um conto de algo que verdadeiramente já aconteceu, não cabe mais se desculpar, não tenho mais o "alvo" da ocorrência para minhas, ainda que sinceras escusas.

Nessa crônica de hoje que leva esse título merecidamente, não tenho "culpa em cartório" e se tiver, o único é de ter levado comigo dois elementos, ou melhor, dois amigos que fizeram toda a fuzarca de que tanto me envergonho. Não fossem esses dois amigos que mantive por toda minha vida [o Gordo já nos deixou em agosto de 2018] de valor tão alto, talvez já os tivesse esquecido e no embalo dos esquecimentos os teria abandonado também. Nada disso. São autênticos "Amigos para Sempre", sem ser piegas, mas amigos valorosos que jamais serão esquecidos, Graças a Deus!


25) Humor Negro.

Enquanto morei com meus pais em Jaguari sempre tive, como meus irmãos, responsabilidade de trabalho. Meu velho, além de sócio de um curtume e fábrica de calçados, era Distribuidor Autorizado da Cia. de Fumos Santa Cruz para Jaguari e Santiago. Minha primeira atividade profissional, foi a de fazer tamancos e foi desse trabalho que comprei orgulhosamente minha primeira bicicleta! Outra de minhas tarefas - só quando obtive minha carteira de motorista - era o de “fazer a praça” todas semanas, que consistia em visitar todos os botecos, restaurantes, clubes e cigarrarias da Cidade vendendo cigarros à pronta entrega. Antes de ter o Direito de Dirigir, fazia-o na companhia de meu irmão mais velho ou do meu próprio pai. Para isso usávamos um caminhãozinho Opel ano 1951 de cor verde, mais adiante uma Ford F1 carroceria tipo bau - apelidada de Tufuma - que eu babava de prazer em dirigir.

Então, quando Maior de Idade sempre me fiz acompanhar de um ou dois amigos, para que o trabalho se misturasse com divertimento, e era. Nesse dia estava comigo o Gordo, que assim o chamávamos pela sua forma arredondada e o Kolvinko. Todos com uns dezoito anos de idade. Na saída da Cidade  de Santiago tinha um boteco de um senhor que tivera um mal na garganta, lhe tirando o som da fala. Respirava por um terrível cano na garganta e por ali emitia alguns sopros que pela força do hábito, eu até entendia como se houvesse o precioso som de sua voz. Algo tétrico.

Sempre que o atendi, saía de lá deprimido. Neste dia antes de entrar na loja, adverti aos amigos da situação, para que eles não se surpreendessem e nem fizessem qualquer tipo de manifestação. Evitem olhar, que é melhor! Após os cumprimentos de praxe, perguntei se precisava de alguns de nossos cigarros ao que ele prontamente respondeu com sons que se confundiam com silvos ou discretos assovios, tipo um:

- Pfih, pfih, pfih..

Era apenas algum deslocamento de ar naquele caninho de seu pescoço, acostumado entendi. Olhei para os "meus ajudantes" e falei em alto em bom tom:

- Três pacotes de Tufuma, dois de Paquetá e um BR!

Os dois indignados com minha tradução simultânea, se entreolharam e voaram porta a fora do bolicho lá para
o meio da rua e explodir em ruidosa gargalhada. Eu ouvia suas risadas. Tive que segurar firme, sério obviamente. Fiquei puto da cara com os dois que choravam de tanto rir. Descarreguei os cigarros sozinho, porque nenhum daqueles moleques de merda tiveram coragem de voltar lá dentro. 
Passados muitos anos, todos maduros, sentimos remorso pelo ocorrido, mas toda vez que se lembra daquele som, discretamente rimos, mas nos repreendemos mutuamente. 

Com a Graça do Criador, é que esse senhor, viveu ainda por mais de trinta anos!!!

 

6 comentários:

  1. Conheci esse senhor,a dificuldade era grande,um pouco de pena,um pouco risível,mas gurizada se perdoa,porque adultos,sentirão,e sentiram o mal feito.hehe.

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  2. Lembro muito do caminhãozinho verde... E adorava dar uma voltinha de carona com o tio Waldemar. Qto ao fato imagino tua situação com os moleques. Hj, boas recordações...

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  3. Que saia justa, segurar o riso é um sufoco. A cena do tubo na garganta é deprimente e a voz meio metálica , difícil de entender. Mas quem não está habituado com a cena, dá nisso, ou fica petrificado ou com acesso de riso. Coisas da juventude, boas recordações...

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  4. Situação complicada do meu amigo Fausto

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  5. As risadas naquela idade são plenamente comprensíveis e perdoáveis. Reação típica de gurís, que na sua ingênua infância viam graça em tudo, sem se preocupar com maiores preconceitos e responsabilidades, mas, com certeza, sem qualquer maldade.

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  6. Gosto da História da compra da sua bicic leta conta para nós.

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