quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

86) Cuidado, as crianças ouvem tudo!


Tive um único filho, mas por razões particulares, não tive oportunidade de vê-lo crescer, participar de sua evolução e desse crescimento. Por outro lado, meus três irmãos, cada um teve três filhos na mais democrática distribuição de seus sexos. Um com três filhos homens, outro dois homens e uma menina e o último um homem e duas meninas. Sou afetivamente muito próximo dos nove! Essa afetividade deve ter sido um prêmio que o Criador me concedeu, por não vivenciar meu único filho.

Afinal, que experiência é essa e quão rica pode ser? Posso afirmar que nesse Espetáculo da Vida, fiquei “na arquibancada” assistindo, mas gloriosamente curtindo seu lado bom. Baseio-me nisso por uma frase que meu amigo Gordo, o Motta falou: “Ser Pai, é padecer no Paraíso!” Ou ainda, como escreveu Vinícius de Moraes no poema Enjoadinho: “Filhos, filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos, como sabê-los?!”

Então as passagens de evolução dos nossos “rebentos” são registradas com muito amor e carinho! Quem viveu isso sabe do que estou falando. Desde a primeira fralda, o primeiro passo e primeira palavra. Pais e Mães podem apostar, os filhos que os surpreenderam por qualquer ato, gostam de ouvir – as vezes encabulados e/ou se mostrando constrangidos – mas gostam de ouvir seu passado, sim. Claro, em maior ou menor tempo, eles também terão seus filhos para gravar aqueles momentos de destaque e orgulho ou apenas risos sinceros!

Teve um fato em minha Família, que não foi nenhum espetáculo circense, mas que despertou minha atenção e me deu hoje a motivação de trazer esse título, “Cuidado, as crianças ouvem tudo! Contos eróticos, são muitos os que relatam das interrupções através da intervenção de algum dos herdeiros, ainda crianças, que entram quarto adentro e ... Mas não é disso que trato hoje.

Estava um dos meus irmãos e sua esposa mais o primeiro filho ainda criança de uns três anos talvez, encerrado almoço naquela imersão letárgica pós refeição, curtindo um preguiçoso “dolce far niente”, talheres cruzados, Verão rigoroso, som de cigarras anunciando seca com altas temperaturas, silêncio entre o casal mas com suave ruído do seu neném a brincar com os talheres em seu prato, até que ambos se dão conta de que devem se movimentar, seguir a rotina diária e voltar ao trabalho. Meu mano toma a iniciativa e convoca:

- Vamos tomar uma atitude?

- É. Vamos! Está na hora!

- Eu também quero!

- Quer o que?

- Tomá isso daí!

- Meu filho, não se trata de tom...

- Uáááá!

- Tá bem, tá bem! Só um pouquinho!

E agora? Responder o que? Deixar o filho sem resposta? Não! Não conte com um

bom desenvolvimento da criança, sem uma conclusão a sedimentar sua inteligência, muito menos impor antidemocraticamente que não está incluído na conversa dos “mais velhos!” (Ouvi muito isso enquanto criança!)

Minha cunhada inteligente, concorda com o menino e cria uma nova bebida, preparada com uma limonada e uma pitada de bicarbonato (torna o suco efervescente) e serve! Pronto. Refresco tomou o nome de "Atitude". Servido com algumas pedras de gelo e foi  reestabelecida a paz e hamonia com a boa comunicação entre pais & filhos!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

85) Um Don Juan à Minha Moda!

Era uma vez num passado não muito remoto, eu com uns quarenta anos de idade e recém-saído do meu primeiro casamento, inundado do sentimento de liberdade, adquirindo o discutido status de "solteirisado", que demorou um pouco, mas chegou! Chegou forte e na volúpia de recuperar seis anos de “bom comportamento”, me larguei na vida e me enterrei no “mau comportamento”!

Transbordando testosterona, a chamada Idade do Lobo pulsava em meu coração, mente e outras regiões do corpo! Entretanto, o fato de viver solitário em uma casa razoavelmente espaçosa, fazia com que essa solidão me incomodasse um bocado. Ficar em casa em final de semana me entristecia muito, deprimia. Nunca tive muitos amigos, mas os que tive, sempre  de alta qualidade, daqueles que chamá-los de irmão, não tinha nenhum exagero! Os que moravam em Porto Alegre – todos bem casados - eu evitava sobrecarrega-los com meus assuntos de recém “solteirizado!”

Para variar apenas, minha melhor opção de final de semana, era sempre a minha Jaguari! Lá eu tinha acolhimento de Pai e Mãe muito carinhosos, um irmão, os mais antigos e leais amigos e nove sobrinhos que me davam alegria em alta densidade! Alguns desses sobrinhos – que não moravam lá -  eu os levava daqui de Porto Alegre para ter uma ótima parceria na viagem de 400 km com diversão garantida.  

E Don Juan? Bom, esse se manifestava no sábado à noite, quando eu sendo um “Coroa”, me somava a outros contemporâneos e com os jovens também, sem discriminação alguma, pelo contrário, recebido de braços abertos por todos. Tinha um dos amigos, casado há muitos anos, o Camotin, que pedia “licença temporária” a sua esposa, com o motivo de não me deixar sozinho naquela noite e me acompanhava, preservando rigorosamente sua fidelidade matrimonial, me deixando livre para eventuais incursões amorosas!

Numa noite ao sair de casa, minha mãe me chama atenção:

- Te comporta, hein?!

Parei. Voltei e olhei bem nos olhos dela:

- Eu sempre me comporto, mãe! Às vezes bem e outras vezes mal! Mas sempre me comporto, podes cofiar!

Ouvir sua rizada farta, valia o melhor prêmio da noite! Ela ainda completava:

- Homem separado e mulherengo é deselegante!

- É verdade mãe, entretanto homem separado e “homerengo”, acho que não aprovarias, né?!


Numa dessas noites teve baile no Clube União e lá estávamos. Todos meus sobrinhos e eu. Tudo ocorria leve e solto, mas a considerar minha idade provecta, naturalmente cansei antes de todos e decidi voltar para casa, no início da madrugada. Um dos sobrinhos, o Sé Ginho, me acompanhava até a saída do clube mas ao passar por uma linda menina, que fez um "olhar daqueles" nos deixou paralisados... Mandei que me deixasse e a capturasse, já! Foi e em segundos voltou trazendo-a pela mão, me apresentando e me falando ao pé do ouvido: 

- Aquele olhar, era prá ti...

Virou as costas me deixando às sós, se afastou olhando para trás, com um olhar insinuante, atrevido! Fiquei encantado! Aí abordagem de sedução se inicia! O desejo de tocar nos seus cabelos, me enfraquecia! A imaginação fértil de aproximação a sentir o toque em um quadril macio e uma coxa firme, o perfume da carne jovem era como o cheiro suave e quente extraído dos arbustos de pêssegos, aquecidos pelo Sol! Hummmm! As portas do Jardim do Édem se abrem generosamente!

Em meio a todos esses devaneios, não mais que devaneios, mas na prática já com o rosto quase encostado no dela sentindo sua respiração ofegante, com olhares cheios de promessas, surge abruptamente ao meu lado, minha sobrinha Sufla. Faz um quebra-gelos monumental, surpreendente! Simula cara de braba, coloca as duas mãos na cintura - fazendo aquela pose de açucareiro - que significa claramente uma mulher furiosa, prestes a agredir e vocifera convicta com extrema bravura:

- Muito bonito né, "seu" Fausto!? Eu em casa cuidando das crianças e tu aqui no Clube namorando!!!


Pasmo, aturdido como cachorro que caiu da mudança, me restou piscar os olhos lentamente, como uma tartaruga sem dizer uma palavra. Tentava entender o que estava acontecendo. A menina alvo da minha abordagem libidinosa, fugiu, simplesmente desapareceu, sumiu! Eu apenas mantinha aquele piscar de olhos lerdos, indefinidos. Sufla e as outras duas pestinhas, ou melhor, as outras duas sobrinhas, que espreitavam tudo aquilo, caíram na gargalhada e saíram correndo, olhando para trás gritando:

- Boa sorte "Tiufa"!  Traduzindo: - Tio Fausto!

Definitivamente aquela noite foi perdida, não estava boa para aquele Don Juan “de araque”! Ainda sem noção de espaço e tempo, baixei a cabeça e fui para casa dormir! Só fui tentar acerto de contas com elas no dia seguinte. Na verdade perdi. Elas gozaram com a minha cara de idiota por muitos anos sem que eu tivesse reação. Pior que - como o tempo passa rápido - não tive tempo para me vingar, pois as três, sem que eu me desse conta, amadureceram e ao sabor do tempo se casaram. Hoje, cada uma com dois filhos e eu nada fiz daquilo que meu "Espirito Vingativo da Maldade" queria fazer. Agora só me resta a saudades delas e suas brincadeiras com o "Tiufa" ! 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

84) A Profundidade da Cultura Oriental!


Em meados de 1974, tive meu primeiro contato com a Profundidade da Cultura Oriental, atraído que fui pelas Artes Marciais através de filmes em moda na época. O contato decisivo foi com o Karatê Dô, estilo Wado-Ryu de origem Japonesa, fundado pelo Mestre Hironori Ohtsuka em 1934, que ostento a honra máxima de ser Certificado em Primeiro Dan - a Honrada Faixa Preta - assinado pelo filho do Fundador do Estilo, Hironori Ohtsuka II, em janeiro de 2005.

Minha Iniciação foi com o Mestre Takeo Suzuki, vindo do Japão exclusivamente para aplicar essa nova Cultura no Sul do Brasil, em Porto Alegre. Não ficou restrito ao Karatê mas com a amplitude do Budô, que estuda Meta Filosofia Zen – Zen Budista – aplicado às Artes Marciais. Demorei um bocado para atingir a Faixa Preta, é verdade. Tive interrupções por novo posicionamento profissional que exigiu mudança de residência ao Rio de Janeiro. Depois tive um acidente de para-quedismo, dentre tantas paradas... Significa isso tudo, que fui um aluno, ou Discípulo bem abaixo da média...


O que realmente importa, foi o grande resultado pessoal que tive durante todo esse período. Em um de meus retornos à prática se deu através do melhor aluno do Mestre, o Professor Nelson Guimarães, que iniciado comigo na mesma época, mas de atividade contínua e constante até os dias de hoje. Um exemplo brilhante a ser seguido de fidelidade, lealdade e forte dedicação.

Professor Nelson assumiu a representação do Mestre Suzuki para todo Brasil dando continuidade, já que esse, retornou ao Japão para cursar Medicina em Acupuntura e hoje a exerce em Portugal.


Mestre Suzuki não nos abandonou de um todo. Uma vez por ano retorna a América do Sul, preferência ao Brasil, para um programa de encontro nominado "Gasshuku!"! Trata-se de um período em retiro por três a quatro dias em total imersão no Caminho (DO) Físico, Mental e Espiritual, a se desenvolver aperfeiçoamento pessoal. Ponto diferencial desses Gasshuku é a prática de Zazen. “Za” significa sentar-se; “Zen”, estado meditativo profundo e sutil. É estar consciente de si mesmo e da teia da vida na qual somos causas, condições e efeitos.

Participei de alguns deles em Gramado, Nova Petrópolis, Ribeirão Preto, Brasília, Ouro Preto e em 2003 através de um convite especial do Mestre Suzuki, para ir a Montalvo - Equador, em um Mosteiro em meio aos Andes, um pouco distante de Guayaquil. Coordenado pelo Professor local, Raúl Aveiga e foi com ele que viajei – aparentemente em meio as nuvens com seu Jeep – até chegar ao local sagrado, afastado do mundo em total isolamento. Cheiro de mata virgem, enchia meus pulmões de saúde na caminhada matutina. Inesquecível, extremamente revigorante, somado à exaustão física pela prática intensa do Karatê por horas!

O respeito reinante é severo onde só se fala o estritamente necessário e em voz baixa. Levanta-se de madrugada e se deita muito cedo, sem rádio, sem TV, fica-se muito próximo de um Paraíso na Terra! Mestre Suzuki fez em sua alocução de encerramento um formal e elegante agradecimento da minha presença, pela longa viagem que fiz e por ser o único representante do Brasil naquele momento.


O sacrifício de minha parte, aconteceu em se tratar de uma época de escasso recurso financeiro. Fiz aproveitamento das ”milhas Smiles” da extinta Varig, só para voar de Porto Alegre a Lima no Peru e dali tomar um ônibus por vinte e quatro horas através da rodovia “Pan-americana”, até Guayaquil! Esse foi o maior sacrifício de ida e volta, no entanto, o que assisti nas paisagens desérticas desse percurso, fez valer o sacrifício, mas o cansaço é real,  verdadeiro!

A cordialidade dos equatorianos foi exemplar. Evento encerrado e no dia em que acompanhamos o Mestre Suzuki ao aeroporto, na passagem fui bilhetar meu ônibus a iniciar retorno para o dia seguinte, estivemos no posto rodoviário, com todo grupo acompanhando, inclusive o Mestre. Ao pagar percebi que o valor da passagem era U$S 150.00 mais cara do que a vinda – mesmo trajeto –  de Lima. Foi quando um dos amigos esclareceu:

- Taxa de turismo. É cobrado só para viagem terrestre!

- Quem veio de avião não paga?

- Não. Daí é isento!

- Fiá das puta! 

Saiu sem querer, mas em alto e bom tom. Verdadeiramente sincero, mas não ousaria tal palavrão pelo menos próximo ao Mestre. Todos riram da minha espontaneidade. Foi sem querer mesmo. Me escapou a frase... Mas o Mestre sempre atento me repreendeu de imediato.

- Fausto que feio! Ontem fez um discurso  tão bonito sobre Moisés! E agora... Estragou tudo!


Novas gargalhadas que tornaram, pela primeira vez, um ambiente descontraído, alegre! O Mestre para piorar minha cábula, reforça:

- Equador tem que entender, brasileiro é assim mesmo. Não consegue levar tudo a sério! Povo muito brincalhão!

Nunca tinha me orgulhado de cometer uma gafe como a daquele momento! O resultado foi que finalmente todos riram e a partir daquele momento - ainda fiquei mais um dia com eles - o clima ficou solto, leve, tive uma excelente e festiva despedida do Grupo Equatoriano! Ainda volto lá mas apenas como turista e via aérea...



quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

83) Um Lider com Autoridade

O tema Liderança desperta curiosidade, estudo e investigação há muitos anos que nem dá para contar. Muitos profissionais que necessitam, procuram leituras sobre o assunto, exploram treinamentos e acabam – através de promoções – atingindo cargo nas Instituições Privadas e Governamentais, mas ainda sem obter um nível adequado de desenvolvimento e acabam se tornando meros “chefes”, que detém o poder de mando e ali se estacionam sem avanço nessa Arte tão disputada. A bem da verdade, se trata de um talento de difícil, mas possível desenvolvimento.

Muito trabalhei – como Professor, Instrutor, Facilitador – e outros títulos mais, dependendo do local, tentando ensinar e apreender essa disciplina tão desafiadora e indispensável, como Desenvolvimento de Pessoal (diferente de Treinamento).

No prepararo de Gestores, Gerentes o tema Liderança não deve ficar de fora nunca, mas que lamentavelmente nem sempre é incluído nos “Curricula” das Escolas e Universidades!

Por um longo período, junto com o Patrô, muito discutimos na formação de um módulo que pudesse, noformato de Curso, ser intitulado Liderança, Influência & Poder. Juntamos conceitos, teorias e uma boa dose de experiência real no o assunto, até formarmos um tema concreto que desse pelo menos uma alguma Luz nesse assunto. Chegamos a um ponto de opinião unânime de que – em Desenvolvimento de Pessoal – se mostra o caminho, não a posição final e esse, induzido e dado total liberdade ao Estudante em atingir sua conclusão derradeira e dali para diante tocar o seu trabalho com os tropeços naturais e finalmente a obtenção do sucesso almejado.

Formar um Comandante, só acontece com a ajuda do tempo, as vezes muito largo, onde a aplicação da teoria se mistura com o exercício da prática e daí, “chegar lá”! Para tanto, não há um "Curso Completo"! Uns são mais habilidosos e dá-se a impressão que nasceram para isso. O óbvio é de que o exemplo do Líder se torna fundamental, acompanhado do Saber, empatia, resiliência, autocontrole etc. No entanto há um nó górdio da questão que está no velho questionamento em qual “Estado de Espírito”, se torna um Verdadeiro Líder:  - Medo ou amor?

Perguntar isso em sala de aulas chega a ser divertido, tamanha a polêmica que gera provocando discussão acalorada entre os participantes! A tendência inicial é afirmada sendo o amor a argamassa que liga liderados ao Líder! Se o Instrutor provocar num segundo momento nominando quais são os Maiores Líderes da História da Humanidade, desmorona o castelo de areia! Os defensores do amor – inicialmente maioria – citam Mahatma Gandhi, que influenciou 350 milhões de pessoas em uma não guerra, mas que precisou de vinte anos de luta, Nelson Mandela dentre tantos pacifistas. Isso é um fato.

Entretanto ao considerar o tempo necessário para que essas Lideranças repercutam, em especial em uma época como a atual em que respostas são exigidas de imediato, esses Líderes ficam para trás, independente ou não de gostarmos dele.

Tristemente é assim que funciona. Os exemplos do “outro lado”, o medo, que até com idiotas emocionais trabalha rápido e eficazmente. Dentre tantos desses Comandantes se notabilizaram cruéis e más pessoas como Nero, Hitler, Napoleão Bonaparte, Átila, que faziam do medo a sua principal e decisiva ferramenta e suas ideias eram cumpridas imediatamente com rigor e lealdade imbatível.

Estamos escrevendo sobre passado e tendência no Mundo Atual. Agora, não há mais espaço para tiranos, embora em alguns Países ainda não conseguiram se livrar deles. Nem sei se um dia se livrarão. A Sabedoria nos mostra que o meio termo é o ideal. “Nem muito ao céu nem muito ao mar”, nos ensinou Dédalo! (Arquiteto da Mitologia Grega ao orientar seu filho Ícaro, a fugir do labirinto, voando em liberdade de Creta).

Um show de Liderança: - Há alguns anos, assisti uma curiosa reunião, em uma Empresa no Brasil, dirigida por um  Poderoso Executivo da multinacional de grande porte, que ao ser pressionado por seus vendedores na busca de melhores preços, foi à Matriz, nos EUA e conseguiu trazer um "pacote" com tão exigido melhor preço. Conseguiu! Mas junto veio seu sacrifício, o comprometimento expressivo de quantidade a ser vendida num curto espaço de tempo. A tal de quota pesada!

Em reunião formal, foi exposto o programa, responsabilizando cada integrante do time com um desafiante objetivo,. A resposta inicial foi de um silêncio espantoso. Entretanto nesse grupo, uns quinze gerentes, havia um e sempre tem um arrojado com seu ar debochado, sorriso no canto da boca, olhar superior, com postura física desafiadora, sentado no extremo de sua poltrona – quase deitado – em tom atrevido contesta o chefe:

- Traz de fora do Brasil uma quota absurda desse tamanho e agora quer nos enfiar goela abaixo?!

 O “Chefe” mantem tranquilidade, apesar do tumulto provocado pelo colega cheio de coragem, responde-o olhando firme nos olhos do inquisidor:

- Na verdade sempre trago um "plano B" para essas situações: Ou eu te enfio goela abaixo ou cu acima! O que prefere?

Levamos um susto! Todos, eu inclusive. O antes arrojado da reunião, deu um pulo na sua poltrona se acomodando rapidamente ereto e respeitoso! Constrangimento geral e todos aceitaram seus desafios ordeiramente!

Mesmo usando uma grosseira enorme, criou um “choque térmico” no grupo, sem dúvidas pôs em estado de alerta impressionante na equipe! A grande maioria cumpriu sua responsablidade! Importante é claro, avaliar a hierarquia no recinto! O risco atual de qualquer Líder, nesse caso, é ser processado por "ameça de estupro profissional", se é que isso existe. 



quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

82) A História Continua.


 
Reconhecemos que ao longo da História da Humanidade os fatos acontecem, geram novos fatos e assim o desdobramento da História de cada um de nós acontece. Picos e vales ocorrem e é muito claro que o valor dos “picos”, vamos chamar assim, aos bons momentos em que sorvemos a felicidade e alegria, que só serão valorizados – via de regra - se antes vivenciarmos algum “vale”! Quando temos uma saúde boa nem a reconhecemos como o verdadeiro presente de Deus, mas por outro lado, como damos valor quando enfrentamos uma doença!

Nos dias de hoje, início da segunda década do Século XXI, a Pandemia gerada pelo Covid19, nos tirou o sossego, tirou Vidas, a Liberdade de ir e vir e nos deu a presença do medo a cada vez que respiramos, em especial em “recintos suspeitos”.... Quanta saudade das pessoas que amamos e que subitamente deixamos de ver, visitar, viajar, apreciar o sorriso daquela criança que cresce tão rapidamente, confraternizar, aglomerar ou trocar um fraterno abraço! Ah, que falta nos faz esse abraço!

Imaginávamos um dia acabar tudo isso. Não. Simplesmente inimaginável! Assim, depois de tantas ameaças superadas, o que vem na sequência nos recompensa com a tamanha alegria que volta! Volta?

 Então apostemos naquele adágio popular que diz: - Tudo passa! A vida volta ao normal, doenças se curam e o Sol volta a brilhar para todos nós. “A História Continua” para todos e hoje trago de volta, da crônica 80) "Como o Brasil é Grande”, ao contar outra história verdadeira sobre o Adão Martins de Souza. Conterrâneo humilde, analfabeto e muito pobre. Estaria, como afirmam aos moldes modernos, abaixo da linha da pobreza! Lá, naquela crônica, contei que esse pobre indivíduo, sequer soube avaliar o tamanho geográfico da nossa Pátria, achando o Brasil enorme em apenas vinte km de viagem rodoviária!

Adão vivia de migalhas que lhe davam e uma delas proveniente do seu trabalho na Estação Ferroviária. Em Jaguari tínhamos talvez uns dois “carros de praça” na década de cinquenta. O nome de táxi veio muito tempo depois!

 Na chegada do trem no meio da manhã proveniente de Santa Maria e em extensão de Porto Alegre com a saudosa ”Maria Fumaça” e seu envolvente cheiro fumacento da queima de carvão Desembarcavam muitos “potenciais clientes” para carregar as malas. À tarde vinha de São Borja alternado com São Luiz Gonzaga. Esses, traziam passageiros com suas pesadas malas e carregá-las até seu destino final de algum passageiro, era o que produzia a renda do Adão! Sempre solícito com seu tímido olhar e voz fanhosa, caminhava rapidamente sem sentir o rigor do peso daquelas malas e pacotes.

Nem Adão e nem um outro brasileiro dessa época, contava com qualquer apoio do Estado em problemas de saúde como temos hoje, ainda que moroso e às vezes tardios. Haviam Institutos para cada linha profissional que só foram “unir pobreza” com a fundação do INPS lá por 1966, que concentrava dentre tantas coisas, a aposentadoria e assistência Médico Hospitalar.

 Felizmente em nossa Cidade, havia o Dr. Agost, que com sua bondade infinita e suprema sensibilidade social, atendia aos menos afortunados sem cobrar um centavo. Símbolo fiel e representante de Asclépio. (deus da cura e da medicina da Mitologia Grega).

Um dia Adão se sentiu adoentado e foi consultar com esse Médico, que nesses casos atendia no final do dia em sua própria casa,como disse, sem cobrar um centavo. Para diagnosticar o que se passava com Adão e sua dor abdominal, iniciou a consulta – já um tanto cansado daquele dia - com o protocolo básico de primeira consulta seguindo o vocabulário apropriado, como todos Médicos o fazem, respeitosamente:

 - Adão, tens ido aos pés?

 - Como dotôr?

 - Tens evacuado?

 - O que que tem?

 - Tens defecado, Adão?

 - Senhor?

 Dr. Agost então com a voz mais alta e com paciência no limite:

 - Tu cagou?


- Ah eu caguei!!!

 Adão meio assustado, mas já pedindo que não desse injeção para o caso... A elogiável sensibilidade e habilidade em adotar o vocabulário adequado na hora certa é coisa de gênio! Adão retornou para casa medicado!

 Como prometi ao iniciar essas crônicas de que faria sem censura, nenhuma crítica literária, sem vigilância ao vernáculo, da pureza de estilo da fala na boca dos analfabetos e menos iluminados, preservo a autenticidade dos diálogos, pois palavra “chula” não soa, no meu entendimento, como palavrão de mau gosto. Mesmo assim, peço desculpas por usar o verbo “cagar”!

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

81) O Invejável Orgulho de Ser Peruano!

Já escrevi sobre uma das mais interessantes aventuras que vivi e isso ocorreu no final do Verão de 2003. Foi quando Garden e eu fizemos “El Camino Inka”no Peru por quatro dias inteiros de extenuante caminhada. Andes acima e abaixo, com três noites de sono em pequenas barracas acampadas ao longo da trilha. Essa trilha foi construída há Séculos pelos Inkas, muito antes do descobrimento da América, legítimos precursores do Povo Latino Americano.

Durante o dia se caminhava com temperatura amena para a noite gelada. Dormir com um colchonete de espuma de nylon com espessura semelhante à de um chinelo de dedos barato. Foi a parte mais dura – literalmente – e o travesseiro, o próprio tênis. Tudo isso para minimizar a carga que cada um levava em suas mochilas. Entretanto Gardem e eu ainda “fretamos” um dos porteadores para levar a parte mais pesada, isto é, barraca, suas estacas, o colchonete e “unas cositas mas”! Foi um investimento de US$ 100.00 mais bem pagos de toda viagem!

Eu só dormia com uma porrada, chamada de “Dormonid”, mesmo assim, não era um sono reparador. Numa noite ouvimos em plena madrugada, uma trovoada longa e forte que nos acordou com tremor de nossas “camas”, isso mesmo, tremeu o chão... Assustou de verdade! Chuva? Se acontecesse seria a pior coisa para uma caminhada ao ar livre de longa duração como aquela. Só nos “tranquilizamos” quando alguém do acampamento gritou em alto e bom tom:

- Sismo!!!

Nem precisou tradutor! Só de imaginar um terremoto, já torcia por chuva, por razões mais do que óbvias... Depois nos contaram ser comum essas acomodações de placas naquela Região. Mesmo diante de "falsa tranquilidade," voltamos a dormir, dado ao cansaço da caminhada!

A cada dia dos quatro na trilha, tinha um desafio peculiar, como já contei na Crônica  72) Quando Cantei uma Ópera no Exterior, que pode ser lida agora, basta clicar o cursor a descer...

Todo sacrifício era amplamente recompensado a cada momento, a cada desafio superado, mas necessariamente acompanhado de reforço através de pílulas para altitude - compra-se facilmente em qualquer farmácia em La Paz -  pastilhas de hidrostern para purificar água,  remédios para enjoo e dores musculares, chocolates, balas de limão, folhas de coca para mastigar, essas,  fartamente distribuidas pelos porteadores!

São tantas Belezas Naturais de um encantamento pleno, emocionante. Isso que não sou fã de caminhadas, na verdade prefiro deitar em uma rede, bebendo água de coco apreciando coqueiros nas praias do Nordeste! Mas pisar em um solo que é História da América Latina, é revigorante!

Cabe uma referência toda especial ao Ministério do Turismo Peruano pela organização dos eventos na Região. As caravanas de uns vinte turistas cada, com ajustado protocolo de acompanhamento por profissionais muito bem preparados. As partidas são liberadas  de forma escalonada. Assim, não acontece invasões de um grupo no outro. Tudo transcorre na mais perfeita harmonia, inclusive nos cuidados de higiene e proteção ambiental. Não se deixa lixo para trás, nem um palito de fósforo. Também nada se leva. Nem aquela "pedrinha bonitinha” de lembrança...


No final do quarto e último dia, é quando se encerra a caminhada. Curte-se livremente o destino final, a intrigante Cidade de Machu Pichu. Depois o encerramento se inicia com retorno em descida íngreme, - em ônibus - para uma localidade próxima, Águas Callientes. Ali, como diz o nome da localidade, pode se tomar um banho em vertentes de água muito aquecida, vinda do subsolo! Acho que para impressionar, chamam de "Águas Vulcânicas"!

É aqui a estação de trem, em  que se aguarda a nos levar de volta a Ollantaytambo, de onde seguiremos a Quito, destino final, em ônibus já contratados no programa. É um percurso interessante costeando o correntoso rio Urubamba por umas três horas. É atualmente considerado o verdadeiro início do Rio Amazonas, e aí sim, o rio mais longo e de maior volume de água do Planeta com seus 6.436 km de extensão, 140 mais que o Rio Nilo no Egito!

A viagem de trem é muito curiosa. Uns oito vagões lotados onde se ouve as mais diversas línguas e dialetos do mundo. Até “Quéchua” dos Nativos Inkas se ouve em profusão, idioma falado pelos porteadores e guias das Caminhadas! A propósito, os Guias da nossa expedição nos ensinaram algumas palavras e nos induziam a falar em voz alta, para depois sabermos que se tratavam de frase “autodepreciativas”, só para fazê-los rir de quão imbecis fomos. Caimos na brincadeira deles para descontrair! Com o mesmo propósito, ensinamos algumas palavras do "bom português"...

A chegada desse trem ao seu destino, se deu lá pelas 22:00hs em uma estação completamente às escuras, com seu expediente encerrado. Ali a confusão latina foi estonteante. Os diversos ônibus que deveriam estar a nossa espera com seu respectivo guia turístico, a nos conduzir de volta ao hotel em Cusco, simplesmente sumiram. Verdadeiro caos. O que tinha de sobra, eram os “agenciadores de táxi” aos berros contribuindo para a confusão e gritaria generalizada. Berravam não ter ônibus nenhum... Ficamos perdido, alguns passageiros desesperados! Éramos uns duzentos turistas tontos! A corrida de táxi até Quito, com mais de cem quilômetros, custaria uma fortuna!

Achei que era golpe. Apostei provocar uma provável rivalidade com seu país lindeiro ao Sul: Subi num tonel a ficar mais alto e gritei à plenos pulmões, diretamente aos “agenciadores”, num espanhol razoável que dava para entender:

- Calma pessoal! Não estamos na Bolívia! Estamos seguros! Aqui é o Peru! Um País sério onde turista é respeitado!

Silêncio e perplexidade! A surpresa "doeu" e o vigaristas líder, com o seu amor próprio lá nas nuvens e comInvejável Orgulho de Ser Peruano”, peito estufado falou para mim e para todos ouvirem:

- Seguramente senhor! Os ônibus estão logo aqui ao lado num grande estacionamento, aguardando a todos!

E explicou claramente onde era o bem iluminado estacionamento com os ônibus a nos aguardar e conduzir confortavelmente até Quito! Garden me falou ao pé do ouvido:

- Que jogada de marketing hein Fausto?! Frase típica de um grande puxa-saco!

De volta ao hotel para o merecido e bom banho quente, uma CAMA REAL, e um sono reparador por umas dez horas a nos recuperar e continuar nosso programa do dia seguinte!


Com todo esse envolvimento físico da caminhada, atingi meu "objetivo oculto" da caminhada: - Gerar superação e reforçar autoconfiança para voltar a saltar de para-quedas! Me dei alta! Minhas limitações e sequelas do acidente de para-quedas, ocorrido três anos antes, iam ficando para trás. Reabilitado e apto a voar e saltar, me senti recuperado, em especial o lado psicológico. Na sequência escrevi um relato completo do acidente e chamei-o de "A Paixão de um Paraquedista”, contando do acidente e toda difícil recuperação física dos membros inferiores com multi fraturas! Esses escritos, a pedidos e sugestão de alguns amigos e familiares, poderão se tornar – eu acho, quem sabe - um Livro a ser publicado!

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

80) Como o Brasil é Grande!


Brasil, um País de Dimensões Continentais! Quantas vezes vimos e estudamos essa afirmativa verdadeira. Seu tamanho coloca-o como a Quinta Nação no Planeta em extensão. Não é só imenso, mas de uma diversidade no amplo sentido da palavra. De norte a sul, o Chile é quase do mesmo “comprimento”, basta uma olhadela no Mapa Mundi para comprovar, no entanto, de leste a oeste, temos esse admirável tamanho!

Povos, biodiversidade e em tantas outras coisas somos enormes! Temos a maior Colônia Japonesa do Mundo, fora do Japão. Imagine que só não temos mais japoneses do que na Terra do Sol Nascente, o próprio Japão! Somos multirraciais, negros, brancos, caucasianos, amarelos de “zóinho puxado”, com porte físico tão variado quanto as Raças que nossa Pátria generosamente acolhe!

Los “Hermanos Argentinos”, sempre criando algum assunto para fazer uma piada sobre o


nós, dizem que não existe “Raça Genuinamente Brasileira”! De certa forma, estão corretos basta verificar o sobrenome da maioria dos nossos conterrâneos...

Felizmente nossos mais de duzentos e doze milhões de almas que vivem por aqui, conversam, com algum sotaque, mas se entendem claramente. Nem os 4.174 quilômetros que separam o Oiapoque do Chuí são suficientes para que nossos diversos sotaques impeçam um entendimento claro entre as Regiões. Algumas palavras mudam sim. Eu chamo meu tubérculo preferido de mandioca, lá para cima o chamam macaxera, outros de aipim e por ai vai... Mas no final todos nós entendemos muito bem obrigado! A mandioca, basta “cozinha-la” bem, que para o meu gosto é o melhor acompanhamento de um churrasco, especialmente se for de uma costela gorda!!!

Lá em Jaguari – apenas para variar de cidade – eu tinha um colega no Colégio Comercial de nome Plínio que por alguma necessidade profissional, teve que viajar a Santa Maria, pouco mais de cem quilômetros de distância, mas percurso demorado pela má qualidade da estrada sem asfalto. “Em compensação” cheia de buracos, pedras, pontes de madeira como pregos viçosos à exposição a furar pneus à vontade! O trecho é bonito pelos verdes campos e a deliciosa fragrância que as flores silvestres perfumam e decoram a estrada na Primavera!

O pai do Plínio tinha um armazém, daqueles que lá tudo se encontrava. Do feijão na tulha, enlatados, mortadela pendurada num barbante, bebidas e até sorvete! Esse último, tinha um feito de ameixas pretas, inesquecível! Não sei o porquê, era chamado de “Creme Russo”! Com nome adequado ou não, era de comer ajoelhado com os olhos fechados. Eu devorava até a “casquinha”, onde serviam aquela guloseima!

Nesse local, sempre se juntavam alguns clientes que iam ficando por ali durante horas. Desocupados ou não a sombra de um cinamomo em frente, era um convite irresistível ao ócio! Dentre os ociosos, tinha o Adão Martins de Sousa, que só trabalhava no horário do trem que vinha de Santa Maria ou de Santiago no sentido oposto, a carregar malas de quem chegava. Táxi tinha só o do seu Moneiro que também fazia uma corrida por vez.

Voltemos à viagem do Plínio: Como iria de carro próprio voltando no mesmo dia e para não ir sozinho, convidou o Adão para essa empreitada, no que foi aceito imediatamente coberto de alegria viva!

- Vamos sair amanhã cedo!

Mas não disse o horário com precisão. Assim encerrou seu dia e mais tarde foi dormir como de costume. Dado ao “silêncio sepulcral” da noite jaguariense, Plínio ouviu lá pelas duas da fria madrugada, uma tosse reincidente próxima à janela de seu quarto. Não deu bola. Quando amanheceu, dia claro lá pelas sete da manhã Plínio se levanta e vê que aquela tosse da noite pertencia ao ansioso Adão, que para não perder o horário da sonhada viagem, nem dormiu! Ficou acordado a noite inteira, fumou uma carteira de cigarros a conter sua angustiante espera!

Enfim, se dá o início da jornada. Ronca o motor, ou melhor, “gagueja o motor” de sua Ford 1929 e lá se foram estrada afora. Primeiros minutos de viagem, Plínio puxou conversa, mas sem retorno algum. Adão estava calado, mudo a olhar fixo na estrada. Mais de meia hora depois, percorrido uns vinte quilômetros, se avistava a cidade vizinha, General Vargas, depois São Vicente do Sul.

- Olha lá Adão. Estamos quase chegando em General Vargas!

- Mas bah, seu Plínio! Como esse Brasil é Grande!


Depois disso, Adão volta a ficar mudo e a observar o tamanho do Brasil. Só relaxou horas depois. Dado a noite em claro e com a injeção de adrenalina, depois endorfina no seu organismo, adormeceu profundamente só acordando na chegada em Santa Maria, onde novas e extravagantes novidades o mantiveram em sua contagiante alegria! 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

79) Um Bom Restaurante de Caxias do Sul


Perdizes! Ah perdizes, se nunca comeu, eu lamento muito pois se trata de um dos pratos mais saborosos de uma origem que nem imagino sua origem, só sei que é espetacular! Perdizes ao molho de tomates, cebolas e cheiro verde, acompanhadas de polenta mole coberta de queijo parmesão ralado e salada verde de radiche com rúcula, é um “Prato Divino”! O vinho? Esse tem que ser tinto e seco! Não me venham com um “vinho tinto maravilhoso com cheiro de uva"! Esse joga fora!

Como já escrevi diversas vezes, vivi em Jaguari até meus vinte anos e desde criança acompanhava meu pai e irmãos às caçadas no interior, em fazenda de amigos e conhecidos. Nas caçadas, durante o período de almoço, em que todos caçadores paravam para almoçar e “tomar uns tragos”, eu pegava o cachorro o meu pai emprestado e sua arma, uma italiana, "Trochados Damasco" calibre 28 de dois canos e dava uma volta ao redor do acampamento. Meu velho usava em seus cartuchos, por ele mesmo carregados - ou um de nós, seus filhos - “pólvora preta” cujo tiro deixava todos meio surdos ao seu redor! Sobre vinha uma nuvem branca de fumaça com seu cheiro peculiar! Eu gostava, alguns odiavam! A sorte é que tínhamos cães bem adestrados para buscar a caça abatida, senão não veríamos onde caiu, graças aquela nuvem...

Já tem muitos anos que a caça é proibida, no entanto minha memória tem registro com incrível nitidez quando da primeira vez, abatendo uma perdiz em pleno voo! Via de regra, os principiantes fazem seu debut com uma “perdiz no pio”, que é quando ela sai da toca onde se escondia e corre a preparar para alçar voo. Decolando, se torna presa difícil de acertar. Aí é reservado para os bons caçadores! Nesse dia do meu primeiro sucesso, fiz uma “gritaria” festiva de assustar os bois que pastavam por perto!

Depois dessa proibição alguns criadores passaram a cultivar a Codorna, uma espécie muito semelhante, um pouco menor e sabor mais suave! Já que falamos em mais suave, é hora de dar glória novamente e com ênfase ao que significa um jantar com esse quitute! É de fato justificável comer “de joelhos”!

Mesmo depois de me mudar para a Capital dos Gaúchos e até mesmo ao Rio de Janeiro, nos meses de inverno costumava ir até Jaguari e geralmente acompanhado do Cauby, revivia as fortes emoções de uma caçada! Sempre dei larga preferência por exemplo, às pescarias. A adrenalina que é derramada no sistema quando o cachorro perdigueiro dá sinal de localização da caça, é impressionante. Quanto menos se pratica – meu caso era na melhor das hipóteses uma vez por ano – mais forte é a emoção. Lembro de sentir o batimento cardíaco na garganta, e a boca seca... A adrenalina nos envolve, nos enche de alegria quando o cachorro trás o "troféu" até a mão do Caçador. A interação e troca de carinhos "entre os dois", é fantástica! Aí é a vez da endorfina nos encher da sensação de um prazer indescritível!

Quando trazia para casa o resultado, se iniciava a programação para um lauto e festivo jantar! Evidentemente apreendi a preparar com "Dona Olga", minha mãe!  Jamais jantei acompanhado unicamente da esposa, sempre julguei "esse um evento fora da curva!"  Convidava algum amigo a partilhar da iguaria!

Qualquer tipo de caça, é terminantemente proibido servi-la em restaurantes e o rigor na fiscalização, merece todo o respeito, porque esse crime tem pena bem pesada. Restaurantes com habilidade a esses pratos exóticos usam, no caso da perdiz, sua “versão genérica” já apresentada em linhas acima, a tal de codorna. Alguns supermercados mais sofisticados, é possível encontra-las.

Lá por meados 1975 eu estava trabalhando na cidade de Caxias do Sul onde me indicaram um bom restaurante que dispunha em seu cardápio a tão venerada ave. Fui jantar lá e encontrei o disputado prato – embora com preço bem “salgado” - mas que sabia de antemão, valer a pena! O perfume de manjerona, louro e outros cheiros verdes invadiram o restaurante!

Por outro lado, não faço ideia de onde tirei a ideia esperta, inteligente, com demonstração clara do domínio em conhecimento e sabedoria culinária, ao chamar o garçom, usando de um olhar de criança que surpreendeu o titio mais velho e lasquei, "insinuando crime":

- Essa codorna é caçada?

- Não, absolutamente senhor! Trata-se de “perdiz japonesa” ou codorna como diz na embalagem. Uma novidade na cidade que somente nós servimos!

Ah é? Podes me dizer como foi parar esse chumbinho caça na sua carne! Será que o supermercado abate à tiros?

Garçom empalideceu pegou meu prato com a “prova do crime” e não voltou mais. Até a conta foi cobrada por outro profissional! Sai do restaurante com ar de superioridade e olhar desafiador, pensando: Humilhei o cara, dei um show de conhecimento de caça & pesca! A soberba tomou conta do meu ego inflado!

Passados alguns dias, um mês talvez, voltei à cidade e retornei ao restaurante para pedir aquela delícia única! Com ar superior, solicitei a codorna, eis que o garçom com uma cara de ar superior à minha até então cheia de soberba e disse:

- Lamento senhor. O prato ainda está no cardápio sim - já antigo - mas não servimos mais codornas!

"Punto e basta!"! Frustrado, pedi um espaguete à bolonhesa, bem “mais ou menos” e voltei ao hotel puto da cara comigo mesmo... Paguei caro aquela minha insolência, prepotência idiota! Custou-me a pena de nunca mais comer codorna naquele resstaurante e em nenhum outro que oferecesse aquela delícia. Como diz um adágio popular, “O que a boca fala o outro padece”... É. como dizem também, aquele que fala demais...