64) Fui canalha, mas quem não é?!
Em Porto Alegre era uma filial dessa concessionária e eu responsável a dirigir a área comercial. Rugg era um dos sócios fundadores foi que me convidou a esse desafio e que me antecedera na Sociedade. Num determinado momento me passou uma tática, garantindo ser infalível para saber o clima e o sentimento geral dos nossos mais de sessenta colaboradores:
- Informalmente, convida Zunhóz para um chope depois do expediente. No terceiro chope ele te conta tudo o que ocorre com o pessoal. Até quem está “dando” para quem...
Num entardecer de Verão, o convidamos ao irrecusável chope com sanduíche aberto na “Caverna do Ratão”. O bar é simples, sempre cheio, muita algazarra, cheiro de cigarro e do delicioso chope, que tanto agrada a nós, os brasileiros!
Ele, são-borjense da gema, gabola e cheio de autoconfiança, tão macho quando um bajeense, faceiro uma barbaridade, se juntou então a nós e fomos ao chopinho!
Garanto: É um dos melhores chopes da Capital, colarinho maduro, gelada ao ponto e serviço rápido em especial quando acompanhado por bolinhos de bacalhau, esses, nota dez.
Mas
acontece que o moço de São Borja era duro na queda! Os tais de três chopes que
Rugg disse que abriria o seu coração, não funcionou. Continuava sóbrio de dar raiva.
Foi então que mudamos a tática a prospectar o estado de espírito na Organização,
com as confidências que eu as queria reveladas!
Sugeri que concomitantemente com o chope, tomássemos um cálice de trigo velho a cada chope servido. Na terceira rodada – já eram seis chopes - Zunhoz falava mais do que pobre na chuva!
Maquiavelicamente tive a ideia maldosa, canalha, mas de resultado espetacular, fulminante: - Chamei o garçom, nosso amigo de muitos chopes e mandei que as próximas rodadas fossem regadas com um cálice de trigo velho somente ao Zunhoz. A mim e ao Rugg no mesmo modelo de cálice, água mineral sem gás! O resultado apurado foi surpreendente, maravilhoso, em especial ao desafio à cada rodada que eu fazia:
- Vamos ver quem é macho para me acompanhar!
Evidente que Rugg topava e Zunhoz com os olhos um pouco arregalados e brilho excessivo, resmungava um pouco mas aceitava o desafio, ainda mais quando provocado clamando suas origens de fronteira com a Argentina...
- Não me mixo para qualquer desafio! Sou de São Borja, tchê!
Não sou desses “bundinhas di Porto Alegre”!
E assim, com aquela composição química seguimos bebendo até o sexto chope, quando o moreno se entregou.
- Não aguento mais. Prá mim chega. Amanhã de manhã tenho compromisso com minha irmã!
Tinha compromisso nada. Estava era podre de bêbado! Era uma sexta-feira e não tinha expediente no sábado. Ele era de fato um solitário que vivia com sua irmã, até onde eu sei, zelosa com a vida do irmão!
- Bom. Todo mundo satisfeito, vamos prá casa!
- Mas Bah! Não sinto mais nem meus dente!
Conta paga, informados de todas fofocas e “mimimis” da empresa, podemos de fato encerar o “happy hour”, no entanto nosso amigo Zunhoz subitamente revelou estar uma tonelada mais pesado! Com força própria, não conseguia se levantar da cadeira. Tivemos que guincha-lo manualmente, diante de uma plateia que certamente invejaram o porre do cara! Mas porre de juntar guris à volta...
Colocado no carro conduzimos o dito cujo à sua casa. Felizmente ele morava no térreo do prédio, logo no primeiro apartamento. Ele não achou sua chave em seus bolsos, é claro!
- Vamos ter que tocar a campainha!
- Hiiii, vai dar problema! A “mana” não gosta muito de me ver assim...
Segunda-feira
seguinte ao iniciar o expediente, ele usava óculos escuros e nem me
cumprimentou! Que rebeldia!
Sou! Mas quem não é!?!