Antes da
Ópera em si, que cantei no Peru, cabe a justificativa de uma mania que tenho, não chega a ser uma mania TOP, apenas um hábito de higiene razoavelmente saudável, mesmo estando muito frio que é o “Banho Diário!
” Essa é uma confissão, mas de fato fico muito incomodado quando não tomo
meu banho antes de dormir, ou ao final da tarde.... Também é verdade, que
essa mania foi adquirida bem depois do Serviço Militar, onde nosso alojamento não
possuía água aquecida para o chuveiro. Banho frio no Inverno, o “convite
a matá-lo" era frequente...
Março de
2002, Luigi, Jardim e eu, fizemos uma viagem a conhecer por meio rodoviário, a Bolívia e Peru.
Chegamos em La Paz em voo Varig e seguimos até Lima de automóvel,
conhecendo diversos sítios arqueológicos interessantíssimos, a cidade Copacabana, Puno – a cidade flutuante do Lago Titicaca - e Cusco. A Catedral de
Cusco, com sua edificação em pedras irregulares imensas, ajustadas com precisão
milimétrica! Que se reserve um tempo para sentar a praça defronte esse Templo Maravilhoso e curtir como "pano de fundo", o visual dos Andes, sempre com música executada por algum Nativo com suas flautas mágicas e outros instrumentos de sobro e percussão, que encantam com seu triste tom! Só isso, vale a viagem!

Eu e Jardim
tínhamos um objetivo bem focado: “El Grand Camino Inka!” Quatro dias completos de trilha com
três pernoites caminhando de Ollantaytambo – uma fortaleza impressionante - rumo
a Machu Picchu. Cada dia da caminhada em meio aos Andes tinha um desafio em particular, sempre ameaçador!
O primeiro por
se tratar de um “aquecimento”, que por mais que se prepare para tal caminhada, somente
lá é que percebemos que não foi o suficiente! A construção dessa trilha pelos Inkas, foi composta de algumas escadas rudimentares cujos degraus, alguns com mais de 60 cm, isso
significa passadas "mui largas"!
O segundo
dia, é unicamente ascendente! Não há nenhum degrau para descer! Somente subida o
que resulta numa constante e torturante diminuição de oxigênio! Chega-se a 4.000 metros
acima do nível do mar. Algo irrespirável, por outro lado, respira-se sim, mas
mesmo enchendo o pulmão, não dá satisfação. É falta de
ar constante. Cansa demais.

Na trilha, armam-se barracas para o sono, café da manhã, almoço, jantar e o transporte das coisas mais pesadas são executadas pelos “porteadores” – nativos da Região – que o fazem com incrível velocidade e desprendimento. Para receberem o pelotão de turistas que se arrasta, estão sempre a frente e nos aguardam com tudo preparado e boa antecipação. Esses porteadores são muito ágeis, nos ultrapassam correndo a carregar botijão de gás, panela, luminárias, mantimentos, tendas, barracas, estacas, etc, enquanto nós suados, gemendo e queixosos vamos lentamente adiante!
As refeições, por incrível que pareça, são de primeira categoria: Entrada (creme de milho verde com natas), prato principal e até sobremesa, acompanhado sempre de chá verde! É primoroso! E eu preocupado com o banho!
Terceiro dia
é o mais arriscado e o último, o quarto dia, se faz durante a madrugada/noite em total escuridão, numa trilha estreita costeando penhasco assustador. Nesse último dia, foi sob chuva fina e constante. Mas foi tudo, absolutamente tudo extremamente compensador quando o fim da missão acontece. O prêmio é assistir ao majestoso nascer do Sol em Machu
Picchu! Todos os grupos, talvez uns dez, se assentam em completo silêncio para contemplar esse espetáculo da Natureza que acontece sob uma situação inebriante. Percebe-se que está próximo do amanhecer, no entanto o clarear do Sítio Machu Picchu é instantâneo! Abruptamente toda a cidade hora na sombra, como um flash, se ilumina por completo em fração segundos! O público, com mais de cem pessoas que o aguarda respeitosamente silencioso, emite um sonoro e emocionado "Hoooooo"!
Irradiam-se junto ao Sol, numa alegria coletiva e contagiante. Uns se abraçam - afinal, a dolorosa caminhada está se encerrando - alguns choram e a emoção é de grande significado! Eu me entreguei às lágrimas num sentimento inexplicável de felicidade profunda e mágica!
Volto, ao encerrando da história do primeiro dia, que ao entardecer, fomos recebidos com lanche para mais tarde
termos o jantar! Após o lanche, solicitei aos trabalhadores da nossa expedição –
que lavavam pratos em uma torneira simples - se havia algum lugar que eu pudesse
me lavar. Apontaram para uma “tapera”, restos de uma pequena casa de pedras abandonada, suas paredes em
pé mas sem telhado, sem portas nem janelas, onde havia um banheiro nas mesmas condições de total abandono. Lá de fato tinha o espaço que no passado fora um banheiro. Um furo na parece com o resto de um cano que se
abria por uma torneira despejando um generoso jato de água gelada. Água canalizada do derretimento de Neves, típicas dos altos dos
Andes! Acabou minha preocupação com o banho!
A tática para o desafiador banho, foi respingando gotas de água por todo o corpo nu e passar o sabonete abundantemente! Chega o momento de tirar esse perfumado sabonete e dar o banho por completo. O frio, por
estar numa “casa” totalmente aberta era rigoroso, ainda mais que naquele momento o Sol já se punha. Chegou a hora do que seria o pior momento do banho! Abri bem a
torneira para um jato muito forte, enchi o pulmão de ar ao limite e fui para
debaixo daquele perfurante jato de água muito gelada! Queria pedir socorro, mas achei melhor à pleno pulmão rasgando a garganta, o italianíssimo “Torna a Sorriento:
- Vide
‘o mare quant’é bello;
spira
tanto sentimento,
comme
tu, a chi tiene mente,
ca scetato
‘o faje sunná...
Bom, não foi exatamente uma Ópera, mas as emoções que me envolveram,equivalem! Acreditem,
funciona! Pois água naquela temperatura faz a gente gritar mesmo. O "romântico" desse momento foi que ao encerrar o último verso para respirar, ouvi muito perto, a voz de uma
criança, com um “lá-lá-lá” a entoar a MINHA música! Daí em diante, eu cantava
um verso e ele ecoava... Um espetáculo!
Foi nesse momento do desafiante banho, que considerei meu Conserto Internacional de Canto em meio aos Andes Peruanos! Tive plateia internacional, com pelo menos um peruano a compartilhar aquele momento lúdico, solene! Deixei a modéstia de lado e me aplaudi vigorosamente! Eu merecia!
Esse é o Fausto kkk
ResponderExcluirValeu o sacrifício.
ResponderExcluirAlemão, vc está ótimo. Vc pode até publicar narrativas falsas que vou aceitar. Não sabia, mesmo pq vc nunca revelou, essa sua natureza de expor fatos de forma romântica... se é que posso classificar assim. Perdeu tempo, vendendo maquinas de escrever, qdo na realidade, deveria estar sim, escrevendo seus contos. Teria se revelado, e com certeza, com louvor.
ResponderExcluirParabens, guarde algum, inédito, para a inauguração da pousada... não vale conteúdos que traga Galinha e Arroz, estes vc manda pra KNORR ou MAGGI.
3 abraços.
Experiências ricas q já tiveste hem? Continue nos contando.. Agora,Tomar banho frio é pra muito macho mesmo.
ResponderExcluirVc faz a gente viajar junto, me senti contemplando essa paisagem tão maravilhosamente narrada. Mas tomar banho frio nessa temperatura só sendo muito macho mesmo. Adorei!!
ResponderExcluirSensacional!
ResponderExcluirVai escrever bem assim lá no Peru.
Tens que escrever livro. Meus parabéns!
Ótima história vivida. E muito bem contada.
😄😄😄😄
ResponderExcluirQue espetáculo!!! Nunca vi nada parecido! Além de muito bem narrado...
ResponderExcluirSim, 70 contos da um livro e com certeza deixará o leitor preso na busca do fim em cada narrativa
ResponderExcluirAdorei!Nesta viagem vc deu sua própria alta do seu acidente.
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