quarta-feira, 24 de novembro de 2021

81) O Invejável Orgulho de Ser Peruano!

Já escrevi sobre uma das mais interessantes aventuras que vivi e isso ocorreu no final do Verão de 2003. Foi quando Garden e eu fizemos “El Camino Inka”no Peru por quatro dias inteiros de extenuante caminhada. Andes acima e abaixo, com três noites de sono em pequenas barracas acampadas ao longo da trilha. Essa trilha foi construída há Séculos pelos Inkas, muito antes do descobrimento da América, legítimos precursores do Povo Latino Americano.

Durante o dia se caminhava com temperatura amena para a noite gelada. Dormir com um colchonete de espuma de nylon com espessura semelhante à de um chinelo de dedos barato. Foi a parte mais dura – literalmente – e o travesseiro, o próprio tênis. Tudo isso para minimizar a carga que cada um levava em suas mochilas. Entretanto Gardem e eu ainda “fretamos” um dos porteadores para levar a parte mais pesada, isto é, barraca, suas estacas, o colchonete e “unas cositas mas”! Foi um investimento de US$ 100.00 mais bem pagos de toda viagem!

Eu só dormia com uma porrada, chamada de “Dormonid”, mesmo assim, não era um sono reparador. Numa noite ouvimos em plena madrugada, uma trovoada longa e forte que nos acordou com tremor de nossas “camas”, isso mesmo, tremeu o chão... Assustou de verdade! Chuva? Se acontecesse seria a pior coisa para uma caminhada ao ar livre de longa duração como aquela. Só nos “tranquilizamos” quando alguém do acampamento gritou em alto e bom tom:

- Sismo!!!

Nem precisou tradutor! Só de imaginar um terremoto, já torcia por chuva, por razões mais do que óbvias... Depois nos contaram ser comum essas acomodações de placas naquela Região. Mesmo diante de "falsa tranquilidade," voltamos a dormir, dado ao cansaço da caminhada!

A cada dia dos quatro na trilha, tinha um desafio peculiar, como já contei na Crônica  72) Quando Cantei uma Ópera no Exterior, que pode ser lida agora, basta clicar o cursor a descer...

Todo sacrifício era amplamente recompensado a cada momento, a cada desafio superado, mas necessariamente acompanhado de reforço através de pílulas para altitude - compra-se facilmente em qualquer farmácia em La Paz -  pastilhas de hidrostern para purificar água,  remédios para enjoo e dores musculares, chocolates, balas de limão, folhas de coca para mastigar, essas,  fartamente distribuidas pelos porteadores!

São tantas Belezas Naturais de um encantamento pleno, emocionante. Isso que não sou fã de caminhadas, na verdade prefiro deitar em uma rede, bebendo água de coco apreciando coqueiros nas praias do Nordeste! Mas pisar em um solo que é História da América Latina, é revigorante!

Cabe uma referência toda especial ao Ministério do Turismo Peruano pela organização dos eventos na Região. As caravanas de uns vinte turistas cada, com ajustado protocolo de acompanhamento por profissionais muito bem preparados. As partidas são liberadas  de forma escalonada. Assim, não acontece invasões de um grupo no outro. Tudo transcorre na mais perfeita harmonia, inclusive nos cuidados de higiene e proteção ambiental. Não se deixa lixo para trás, nem um palito de fósforo. Também nada se leva. Nem aquela "pedrinha bonitinha” de lembrança...


No final do quarto e último dia, é quando se encerra a caminhada. Curte-se livremente o destino final, a intrigante Cidade de Machu Pichu. Depois o encerramento se inicia com retorno em descida íngreme, - em ônibus - para uma localidade próxima, Águas Callientes. Ali, como diz o nome da localidade, pode se tomar um banho em vertentes de água muito aquecida, vinda do subsolo! Acho que para impressionar, chamam de "Águas Vulcânicas"!

É aqui a estação de trem, em  que se aguarda a nos levar de volta a Ollantaytambo, de onde seguiremos a Quito, destino final, em ônibus já contratados no programa. É um percurso interessante costeando o correntoso rio Urubamba por umas três horas. É atualmente considerado o verdadeiro início do Rio Amazonas, e aí sim, o rio mais longo e de maior volume de água do Planeta com seus 6.436 km de extensão, 140 mais que o Rio Nilo no Egito!

A viagem de trem é muito curiosa. Uns oito vagões lotados onde se ouve as mais diversas línguas e dialetos do mundo. Até “Quéchua” dos Nativos Inkas se ouve em profusão, idioma falado pelos porteadores e guias das Caminhadas! A propósito, os Guias da nossa expedição nos ensinaram algumas palavras e nos induziam a falar em voz alta, para depois sabermos que se tratavam de frase “autodepreciativas”, só para fazê-los rir de quão imbecis fomos. Caimos na brincadeira deles para descontrair! Com o mesmo propósito, ensinamos algumas palavras do "bom português"...

A chegada desse trem ao seu destino, se deu lá pelas 22:00hs em uma estação completamente às escuras, com seu expediente encerrado. Ali a confusão latina foi estonteante. Os diversos ônibus que deveriam estar a nossa espera com seu respectivo guia turístico, a nos conduzir de volta ao hotel em Cusco, simplesmente sumiram. Verdadeiro caos. O que tinha de sobra, eram os “agenciadores de táxi” aos berros contribuindo para a confusão e gritaria generalizada. Berravam não ter ônibus nenhum... Ficamos perdido, alguns passageiros desesperados! Éramos uns duzentos turistas tontos! A corrida de táxi até Quito, com mais de cem quilômetros, custaria uma fortuna!

Achei que era golpe. Apostei provocar uma provável rivalidade com seu país lindeiro ao Sul: Subi num tonel a ficar mais alto e gritei à plenos pulmões, diretamente aos “agenciadores”, num espanhol razoável que dava para entender:

- Calma pessoal! Não estamos na Bolívia! Estamos seguros! Aqui é o Peru! Um País sério onde turista é respeitado!

Silêncio e perplexidade! A surpresa "doeu" e o vigaristas líder, com o seu amor próprio lá nas nuvens e comInvejável Orgulho de Ser Peruano”, peito estufado falou para mim e para todos ouvirem:

- Seguramente senhor! Os ônibus estão logo aqui ao lado num grande estacionamento, aguardando a todos!

E explicou claramente onde era o bem iluminado estacionamento com os ônibus a nos aguardar e conduzir confortavelmente até Quito! Garden me falou ao pé do ouvido:

- Que jogada de marketing hein Fausto?! Frase típica de um grande puxa-saco!

De volta ao hotel para o merecido e bom banho quente, uma CAMA REAL, e um sono reparador por umas dez horas a nos recuperar e continuar nosso programa do dia seguinte!


Com todo esse envolvimento físico da caminhada, atingi meu "objetivo oculto" da caminhada: - Gerar superação e reforçar autoconfiança para voltar a saltar de para-quedas! Me dei alta! Minhas limitações e sequelas do acidente de para-quedas, ocorrido três anos antes, iam ficando para trás. Reabilitado e apto a voar e saltar, me senti recuperado, em especial o lado psicológico. Na sequência escrevi um relato completo do acidente e chamei-o de "A Paixão de um Paraquedista”, contando do acidente e toda difícil recuperação física dos membros inferiores com multi fraturas! Esses escritos, a pedidos e sugestão de alguns amigos e familiares, poderão se tornar – eu acho, quem sabe - um Livro a ser publicado!

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

80) Como o Brasil é Grande!


Brasil, um País de Dimensões Continentais! Quantas vezes vimos e estudamos essa afirmativa verdadeira. Seu tamanho coloca-o como a Quinta Nação no Planeta em extensão. Não é só imenso, mas de uma diversidade no amplo sentido da palavra. De norte a sul, o Chile é quase do mesmo “comprimento”, basta uma olhadela no Mapa Mundi para comprovar, no entanto, de leste a oeste, temos esse admirável tamanho!

Povos, biodiversidade e em tantas outras coisas somos enormes! Temos a maior Colônia Japonesa do Mundo, fora do Japão. Imagine que só não temos mais japoneses do que na Terra do Sol Nascente, o próprio Japão! Somos multirraciais, negros, brancos, caucasianos, amarelos de “zóinho puxado”, com porte físico tão variado quanto as Raças que nossa Pátria generosamente acolhe!

Los “Hermanos Argentinos”, sempre criando algum assunto para fazer uma piada sobre o


nós, dizem que não existe “Raça Genuinamente Brasileira”! De certa forma, estão corretos basta verificar o sobrenome da maioria dos nossos conterrâneos...

Felizmente nossos mais de duzentos e doze milhões de almas que vivem por aqui, conversam, com algum sotaque, mas se entendem claramente. Nem os 4.174 quilômetros que separam o Oiapoque do Chuí são suficientes para que nossos diversos sotaques impeçam um entendimento claro entre as Regiões. Algumas palavras mudam sim. Eu chamo meu tubérculo preferido de mandioca, lá para cima o chamam macaxera, outros de aipim e por ai vai... Mas no final todos nós entendemos muito bem obrigado! A mandioca, basta “cozinha-la” bem, que para o meu gosto é o melhor acompanhamento de um churrasco, especialmente se for de uma costela gorda!!!

Lá em Jaguari – apenas para variar de cidade – eu tinha um colega no Colégio Comercial de nome Plínio que por alguma necessidade profissional, teve que viajar a Santa Maria, pouco mais de cem quilômetros de distância, mas percurso demorado pela má qualidade da estrada sem asfalto. “Em compensação” cheia de buracos, pedras, pontes de madeira como pregos viçosos à exposição a furar pneus à vontade! O trecho é bonito pelos verdes campos e a deliciosa fragrância que as flores silvestres perfumam e decoram a estrada na Primavera!

O pai do Plínio tinha um armazém, daqueles que lá tudo se encontrava. Do feijão na tulha, enlatados, mortadela pendurada num barbante, bebidas e até sorvete! Esse último, tinha um feito de ameixas pretas, inesquecível! Não sei o porquê, era chamado de “Creme Russo”! Com nome adequado ou não, era de comer ajoelhado com os olhos fechados. Eu devorava até a “casquinha”, onde serviam aquela guloseima!

Nesse local, sempre se juntavam alguns clientes que iam ficando por ali durante horas. Desocupados ou não a sombra de um cinamomo em frente, era um convite irresistível ao ócio! Dentre os ociosos, tinha o Adão Martins de Sousa, que só trabalhava no horário do trem que vinha de Santa Maria ou de Santiago no sentido oposto, a carregar malas de quem chegava. Táxi tinha só o do seu Moneiro que também fazia uma corrida por vez.

Voltemos à viagem do Plínio: Como iria de carro próprio voltando no mesmo dia e para não ir sozinho, convidou o Adão para essa empreitada, no que foi aceito imediatamente coberto de alegria viva!

- Vamos sair amanhã cedo!

Mas não disse o horário com precisão. Assim encerrou seu dia e mais tarde foi dormir como de costume. Dado ao “silêncio sepulcral” da noite jaguariense, Plínio ouviu lá pelas duas da fria madrugada, uma tosse reincidente próxima à janela de seu quarto. Não deu bola. Quando amanheceu, dia claro lá pelas sete da manhã Plínio se levanta e vê que aquela tosse da noite pertencia ao ansioso Adão, que para não perder o horário da sonhada viagem, nem dormiu! Ficou acordado a noite inteira, fumou uma carteira de cigarros a conter sua angustiante espera!

Enfim, se dá o início da jornada. Ronca o motor, ou melhor, “gagueja o motor” de sua Ford 1929 e lá se foram estrada afora. Primeiros minutos de viagem, Plínio puxou conversa, mas sem retorno algum. Adão estava calado, mudo a olhar fixo na estrada. Mais de meia hora depois, percorrido uns vinte quilômetros, se avistava a cidade vizinha, General Vargas, depois São Vicente do Sul.

- Olha lá Adão. Estamos quase chegando em General Vargas!

- Mas bah, seu Plínio! Como esse Brasil é Grande!


Depois disso, Adão volta a ficar mudo e a observar o tamanho do Brasil. Só relaxou horas depois. Dado a noite em claro e com a injeção de adrenalina, depois endorfina no seu organismo, adormeceu profundamente só acordando na chegada em Santa Maria, onde novas e extravagantes novidades o mantiveram em sua contagiante alegria! 

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

79) Um Bom Restaurante de Caxias do Sul


Perdizes! Ah perdizes, se nunca comeu, eu lamento muito pois se trata de um dos pratos mais saborosos de uma origem que nem imagino sua origem, só sei que é espetacular! Perdizes ao molho de tomates, cebolas e cheiro verde, acompanhadas de polenta mole coberta de queijo parmesão ralado e salada verde de radiche com rúcula, é um “Prato Divino”! O vinho? Esse tem que ser tinto e seco! Não me venham com um “vinho tinto maravilhoso com cheiro de uva"! Esse joga fora!

Como já escrevi diversas vezes, vivi em Jaguari até meus vinte anos e desde criança acompanhava meu pai e irmãos às caçadas no interior, em fazenda de amigos e conhecidos. Nas caçadas, durante o período de almoço, em que todos caçadores paravam para almoçar e “tomar uns tragos”, eu pegava o cachorro o meu pai emprestado e sua arma, uma italiana, "Trochados Damasco" calibre 28 de dois canos e dava uma volta ao redor do acampamento. Meu velho usava em seus cartuchos, por ele mesmo carregados - ou um de nós, seus filhos - “pólvora preta” cujo tiro deixava todos meio surdos ao seu redor! Sobre vinha uma nuvem branca de fumaça com seu cheiro peculiar! Eu gostava, alguns odiavam! A sorte é que tínhamos cães bem adestrados para buscar a caça abatida, senão não veríamos onde caiu, graças aquela nuvem...

Já tem muitos anos que a caça é proibida, no entanto minha memória tem registro com incrível nitidez quando da primeira vez, abatendo uma perdiz em pleno voo! Via de regra, os principiantes fazem seu debut com uma “perdiz no pio”, que é quando ela sai da toca onde se escondia e corre a preparar para alçar voo. Decolando, se torna presa difícil de acertar. Aí é reservado para os bons caçadores! Nesse dia do meu primeiro sucesso, fiz uma “gritaria” festiva de assustar os bois que pastavam por perto!

Depois dessa proibição alguns criadores passaram a cultivar a Codorna, uma espécie muito semelhante, um pouco menor e sabor mais suave! Já que falamos em mais suave, é hora de dar glória novamente e com ênfase ao que significa um jantar com esse quitute! É de fato justificável comer “de joelhos”!

Mesmo depois de me mudar para a Capital dos Gaúchos e até mesmo ao Rio de Janeiro, nos meses de inverno costumava ir até Jaguari e geralmente acompanhado do Cauby, revivia as fortes emoções de uma caçada! Sempre dei larga preferência por exemplo, às pescarias. A adrenalina que é derramada no sistema quando o cachorro perdigueiro dá sinal de localização da caça, é impressionante. Quanto menos se pratica – meu caso era na melhor das hipóteses uma vez por ano – mais forte é a emoção. Lembro de sentir o batimento cardíaco na garganta, e a boca seca... A adrenalina nos envolve, nos enche de alegria quando o cachorro trás o "troféu" até a mão do Caçador. A interação e troca de carinhos "entre os dois", é fantástica! Aí é a vez da endorfina nos encher da sensação de um prazer indescritível!

Quando trazia para casa o resultado, se iniciava a programação para um lauto e festivo jantar! Evidentemente apreendi a preparar com "Dona Olga", minha mãe!  Jamais jantei acompanhado unicamente da esposa, sempre julguei "esse um evento fora da curva!"  Convidava algum amigo a partilhar da iguaria!

Qualquer tipo de caça, é terminantemente proibido servi-la em restaurantes e o rigor na fiscalização, merece todo o respeito, porque esse crime tem pena bem pesada. Restaurantes com habilidade a esses pratos exóticos usam, no caso da perdiz, sua “versão genérica” já apresentada em linhas acima, a tal de codorna. Alguns supermercados mais sofisticados, é possível encontra-las.

Lá por meados 1975 eu estava trabalhando na cidade de Caxias do Sul onde me indicaram um bom restaurante que dispunha em seu cardápio a tão venerada ave. Fui jantar lá e encontrei o disputado prato – embora com preço bem “salgado” - mas que sabia de antemão, valer a pena! O perfume de manjerona, louro e outros cheiros verdes invadiram o restaurante!

Por outro lado, não faço ideia de onde tirei a ideia esperta, inteligente, com demonstração clara do domínio em conhecimento e sabedoria culinária, ao chamar o garçom, usando de um olhar de criança que surpreendeu o titio mais velho e lasquei, "insinuando crime":

- Essa codorna é caçada?

- Não, absolutamente senhor! Trata-se de “perdiz japonesa” ou codorna como diz na embalagem. Uma novidade na cidade que somente nós servimos!

Ah é? Podes me dizer como foi parar esse chumbinho caça na sua carne! Será que o supermercado abate à tiros?

Garçom empalideceu pegou meu prato com a “prova do crime” e não voltou mais. Até a conta foi cobrada por outro profissional! Sai do restaurante com ar de superioridade e olhar desafiador, pensando: Humilhei o cara, dei um show de conhecimento de caça & pesca! A soberba tomou conta do meu ego inflado!

Passados alguns dias, um mês talvez, voltei à cidade e retornei ao restaurante para pedir aquela delícia única! Com ar superior, solicitei a codorna, eis que o garçom com uma cara de ar superior à minha até então cheia de soberba e disse:

- Lamento senhor. O prato ainda está no cardápio sim - já antigo - mas não servimos mais codornas!

"Punto e basta!"! Frustrado, pedi um espaguete à bolonhesa, bem “mais ou menos” e voltei ao hotel puto da cara comigo mesmo... Paguei caro aquela minha insolência, prepotência idiota! Custou-me a pena de nunca mais comer codorna naquele resstaurante e em nenhum outro que oferecesse aquela delícia. Como diz um adágio popular, “O que a boca fala o outro padece”... É. como dizem também, aquele que fala demais...

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

78) O Cambista Milionário, ou não!


 

A moda masculina mundial até metade da década de sessenta, exigia do cavalheiro bem vestido, uso de chapéu! Recepções, eventos sociais, eventos políticos e até mesmo o trânsito de pedestres indo a Bancos ou até mesmo um passeio menos comprometido nas mais charmosas avenidas do Mundo, os homens, sempre de chapéu. Até hoje, os chapéus “Pelo de Lebre”, se encontram no Mercado Livre por mais de mil reais, mas rarissimamente se vê alguém usando. Na melhor das hipóteses, um boné para proteger das agressões do sol direto na cabeça ou na “careca”!

Essa moda – muito duradoura – foi derrubada por John F. Kennedy, Presidente da República Americana, assassinado em 22 de novembro de 1963. Jovem Político, homem charmoso transbordando carisma aparecia no meio da massa cheio de sorrisos, esbanjando simpatia, geralmente ao lado de sua esposa Jakie, mas ele, SEM CHAPÉU! Há até uma piada, provável brincadeira de que fora assassinado a mando de fabricantes do então indispensável adereço masculino, o chapéu! Mesmo sendo brincadeira, sabe-se lá, por de trás delas, as brincadeiras, pode-se sempre encontrar algum fundo de verdade.

Pois na Minha Terra, Jaguari, essa moda era tão reinante como em qualquer outra cidade, tanto prova, que o principal clube local, à exemplo de outros tantos clubes e casas de espetáculo em todo o Planeta, tinham à disposição dos cavalheiros uma sala especial, denominada “Chapelaria”, onde alguém recebia a tal cobertura para guardá-la cuidadosamente, até o encerramento da atividade.


Tive um conterrâneo, de Família bem numerosa, homem “atarracado” de baixa estatura física, pouco mais de um metro e meio de altura, proprietário de uma modesta fruteira cuja atividade profissional complementar, era a de vender loteria nas ruas da cidade, o chamado cambista. Economicamente hoje, seria qualificado como cidadão de baixa renda. Não lhe era dado oportunidade a participar da Sociedade de Classe Média para cima! Em função de sua primeira atividade profissional, a fruteira, que  a bem da verdade não se encontrava por lá, nada alem de algumas laranjas, sendo seu forte, as bananas daí seu apelido “João Banana”! Conhecido por toda a população da cidade sempre com esse apelido fortemente ligado à sua pessoa. Homem de limitada capacidade intelectual, mas honesto e correto na condução de sua vida.

Sabemos que loteria nunca foi um produto de fácil comercialização dado a sua especificidade, no entanto, João Banana era o único fornecedor local. Comprar loteria, só dele. Num período qualquer, não conseguiu comercializar todo seu estoque, o que era razoavelmente comum e frequente, entretanto nessa a que me refiro, um bilhete de seu estoque foi premiado! Não foi para João Banana ficar rico, mas teve inteligência rara e suficiente para aplicar aquele recurso na compra da sua casa própria! Comunidade inteira o elogiou e passou a lhe dedicar um pouco mais de respeito, afinal construiu merecido crédito para tanto!

O tempo passa a atividade continua e novamente um novo “bilhete premiado” em seu estoque de rejeitados! Toda cidade se alegrou e vangloriou sua sorte, embora dessa feita não o foi com o volume do prêmio tão generoso como o anterior, mas deu para mexer com sua vaidade pessoal. Comprou algumas roupas novas, um chinelo e um chapéu novo!

 Praticamente vizinho do tio Reginatto, em apenas um dia depois de fazer suas compras e de seu elegante chapéu, voltou à loja para falar sobre a cor e qualidade de seu “adereço particular”:


 
- Seu José, quero ver outra cor de chapéu!

- Claro, seu João. Quer trocar por outro de cor diferente?

- Não, quero comprar outro de cor diferente! Preciso ter dois chapéus!

 E fez sua nova compra. No dia subsequente voltou a loja para comprar mais um chapéu no que foi satisfeito plenamente, pelo menos é o que parecia, no entanto volta no quarto dia para compra do quarto chapéu!

Tio José, homem de ilibado caráter percebeu que tinha alguma coisa errada com aquele desejo compulsivo e o aconselhou moderação, já que com a quarta compra, seu guarda-roupas estava em alto estilo, a ponto de ser reconhecido pelo Lojista como a melhor coleção da Cidade. João Banana não aceitou a recusa e bradou severamente, ainda que sempre fora um indivíduo tímido e contido:

 - Quero comprar um chapéu! O senhor me vende ou procuro em outra loja!

- Mas seu João, o senhor já comprou tantos...

Procurou outra loja. Lá, encontrou alguém disposto a vender quantos chapéus ele desejava, pelo menos enquanto tinha dinheiro no bolso, mesmo reconhecendo seu insano desejo irrefreável! Mais um e muitos outros até esgotar seus recursos financeiros advindo da “Sorte Grande”! Na sequência, ficou pelado e pobre como sempre foi. Sua coleção de chapéus das mais diversas cores, tecidos e formatos ficaram ocultos em algum armário da casa. Nunca mais foram vistos!

 Hoje, creio que nessa época ele estava disposto a salvar a moda decadente ou talvez, quem sabe, desafiar e enfrentar John Fritzgerald Kennedy que solitário e autoritariamente dispensou o uso de tão importante “enfeite masculino”!