quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

141) Se Fui Assaltado? Claro, né!

Constante pergunta que nos fazem e na década de oitenta, período em que morei no Rio de Janeiro, relatava “minha ex” que sempre tinha uma nova história para contar trazida de suas visitas aos familiares e amigos da época. Todos tinham uma dessas desagradáveis abordagens do “amigo do alheio” para contar. Parecia uma disputa de quem tinha tido o mais interessante evento em questão! E essa pergunta muito doida, era o “tema de abertura” dessas gloriosas reuniões! Pauta obrigatória!

Pois passei ileso pelos três anos que por lá morei, sem assistir a um assalto sequer, daí minha convicção de continuar chamando minha morada passageira, de Cidade Maravilhosa! Em todos os sentidos a antiga Capital da República me acolheu de forma absolutamente maravilhosa, a ponto de guardar saudade sincera até hoje! Para mim, “O Rio de Janeiro continua lindo!”

Pouco tempo depois do meu retorno a Porto Alegre, tive uma imperdível oportunidade de me atualizar e me auto incluir nessa estatística até então ignorada: - Era Verão e eu já estava em processo de separação da esposa, a Mth. Marcamos um encontro a noite, para discutir e acertar detalhes materiais da separação, já que nessas alturas, era consensual. Depois de algumas discussões ásperas próprias no trato do delicado assunto separação, foi possível o trato “civilizado” entre as partes e os acertos foram concluídos de forma razoável...

Já tarde daquela noite, assunto encerrando e voltando ao local onde deixara meu carro estacionado, rua próximo ao Parque da Redenção em Porto Alegre e como gentileza eu dirigia o carro dela. Ao estacionar, em local, reconheço nada recomendado, em meio a escuridão e acontecia os últimos detalhes de conversa. Demoramos um pouco, tanto que por duas vezes senti uma estranha sensação de pânico passageiro, tipo um “arrepio na espinha", pois era tarde e o local de fato parecia ameaçador! Mais um minuto de conversa, foi quando abruptamente bateram forte nas janelas - na minha e da carona - e bateram com o cano de seus revolveres, dois criminosos, rosto limpo sem máscaras, sincronizados e com precisão. Quase quebraram os vidros, gesto propositadamente ameaçador, como manda  o “protocolo dos assaltantes"!

Portas abertas e em ação muito rápida nos jogaram para o banco de trás do Escort e adentrou um terceiro assaltante, todos portando suas armas de fogo. Ao meu lado, um com o cano pressionado na minha axila; o bandido do banco do carona a frente, com um dos revólveres no meu pescoço e o outro na cabeça da Mth. Ordem aos gritos histéricos para nos abaixarmos e “calar a boca” e o carro zarpou cantando pneus!

Não consegui é ficar calado. Eles, em um nervosismo impressionante – afinal um tinha recém feito dezoito anos – e foi esse mais jovem que me “assediava a axila”, quem engatilhou sua arma me provocando um "novo calafrio no corpo inteiro, mas curiosamente e nem sei como, mantive a calma e falei compassada e cautelosamente:

- Muita calma pessoal, o assalto de vocês já foi um sucesso! (Quando contei isso aos amigos, riram questionando se àquela hora era adequada para "Palestra de Motivação!")

- Cala a boca!

Resolvi concordar pacientemente e me manter no silêncio! Foi quando começaram as ordens do me dá a carteira, tira relógio, joias... Mth desesperada chorava de cabeça baixa. Esperta, habilidosamente tirava seus anéis, correntes, medalhas de ouro, etc. despejando tudo dentro de seu sutiã,  salvando gloriosamente suas joias!

Eu portava pouco dinheiro, mas tinha como “moeda de sorte” uma nota de vinte dólares e um relógio que agradou muito! Pouco mais de uns dez quarteirões após, pararam o carro e graças ao meu Anjo da Guarda, nos enxotaram para fora!:

 - Vaza, vaza!

"Vazamos"! Meio tonto, zumbido profundo na cabeça mas com uma grande sensação de alívio, garanto, nunca antes experimentado! Tentando me localizar, pois tudo estava turvo em minha mente, mas que depois de alguma aspiração profunda percebi que estava abandonado próximo ao Planetário da Universidade, bem perto da Central de Polícia. Recomposto, fomos até lá “dar queixa” e acionar amigos para nosso resgate...

O carro roubado,  localizado no dia seguinte próximo de onde tudo aconteceu. Quase nem rodaram. Passado um mês, fomos chamados para tentativa de identificação de um dos suspeitos na mesma Delegacia. Mth cheia de “má vontade” com a identificação antecipou, que não falaria nada. Ao chegarmos diante do vidro espelhado com o menino sentado lá dentro, gritou:

- É ele!!!

Alegou na sequência que não tinha intenção de identificar o indivíduo, "porque de não adianta nada", mas levou um susto reconhecendo a cara do guri e percebeu que a "coisa" era real! Estava diante do jovem bandido! Daí soubemos de sua tão precoce idade: Dezoito aninhos! Realidade cruel de nossos dias em que o crime tende a tomar o desgraçado rumo de que "vale a pena transgredir"! 

Como tudo na Vida, foi muito ruim, mas passou! Tudo passa! E a valiosa aprendizagem ficou por conta de que devemos acreditar em um certo tipo de aviso, como o meu "arrepio premonitório"! É, tenho tido em importantes momentos da minha vida, essa chamada premonição! Sim. Foram dois avisos em que tive o tal de “arrepio” e não dei o merecido crédito. Não dei a importância ao Aviso daquele meu Anjo da Guarda, que por menor que seja nossa Fé, “Eles” existem! Ah, existem sim! Creiam!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

 

140) Caçar ou Pescar? Eis a questão!     

Na crônica n. 106 escrevi da minha predileção clara às caçadas em detrimento às pescarias, primeiro que sempre gostei das armas de fogo e segundo, por ser “um pouco ansioso”, sem paciência a esperar que um peixe dê preferência à minha isca e vir justamente ao encontro do meu anzol, a premiar minha cruel e egoísta conquista! Claro. Sempre terá um amigo ou parceiro da pesca ao lado, a concorrer com a sua isca...

Esse tipo de escolha entre pescar ou caçar, ou ainda, ambos, costumeiramente vem de berço, herda-se dos pais, irmãos e parentes mais próximos. O mesmo ocorre com qual time de futebol torcerá... Raros são os casos em que o herdeiro opta, talvez por contestação ou “birra” de filho rebelde, que torcerá para o  rival do papai! Mais lógico, harmônico é “acompanhar o velho”!

Pois foi meu sentimento de lealdade ao meu pai e irmãos, que me tornei adepto às caçadas de perdiz, (não é caçada de perdizes não, é perdiz mesmo, no singular pois eu abatia uma peça e ERRAVA todos outros tiros!). Mesmo assim, sem interesse às pescarias. “Ressalva parcial”: Enquanto adolescente e até meus vinte anos, morando em Jaguari, eu e meus amigos mais próximos – pertencentes ao The Crasies Club – fazíamos frequentes “pescarias” numa colônia, propriedade do meu velho, no meio do mato e à beira do rio que dá o nome a minha cidade, sem, no entanto, levar nenhum aparato de pescaria! Quando o Cauby, único pescador do grupo, levava vara de pescar e outras coisas de pesca, a gente escondia...

Só o curtir da “vida na selva”. Fumando cigarro de palha, dormindo sobre pelegos em barraca, fogo de chão com panela e chaleira de ferro e banhos de rio! Ainda hoje sonho acordado sentindo o cheiro da fumaça e o crepitar da lenha de angico ao fogo de chão!

Entretanto, muitos anos depois, o único pescador daquele grupo, Cauby Scolari, me convidou a uma “mega pescaria” no rio Paraná em Ituzaingó na Argentina. Local à beira do caudaloso rio, com infraestrutura primorosa para acampamento, cabanas com luz elétrica, água encanada, banho quente etc., além de instalações completas – ainda que ao ar livre – para atividades de cozinha e churrascaria! Com conforto e segurança, o grupo com cinco pescadores, todos acompanhados de suas esposas! Evidentemente aceitei o destacado convite e me incorporei à “trupe”! Os quatro pescadores – exclui minha responsabilidade – levavam o assunto de pescar muito a sério. Equipamentos completos com lancha de motor potente e até um sonar a bordo que com uma pequena tela mostrava os cardumes abaixo da embarcação. Muita sofisticação! Pesca de caniço como permite o licenciamento local. Claro que tomei um emprestado, pois nada tenho nessa área esportiva!


Instalação perfeita, ajustada e aconteceu o primeiro dia de pescaria. Levantamos cedo, contratado um profissional argentino a rastrear os cardumes e lá subimos alguns quilômetros rio acima. Pescamos o dia todo, com resultado de quatro peixes pescados: Um pequeno surubi, uma pequena Piava, outra Piava de bom tamanho e um Dourado de 48 cm. Quem pescou o que? Os dois últimos peixes e de maior tamanho foi o Pescador aqui, que agora escreve essas linhas... Sim, fui eu! Evidente que todos muito magoados, frustrados  com seus desempenhos, vociferavam em alto e bom tom sem nenhum pudor de me jogar na cara:

- Sorte de um principiante de merda!

A gozação correu solta e não me deixavam falar, sob pena de vetarem minha participação na cerveja! Diante de tal risco, evidente que me calei!

A retirada do tal Dourado da água durou meia hora, sob gritaria de todos, dando as mais diversas orientações, mas sempre aos berros de total histeria! Aquele momento, de mais de trinta minutos, foi algo absurdamente excitante! Tinha visto num filme com Brad Pitt de como se tirava o peixe da água: "Puxa o caniço que se enverga e se solta para acionar a carretilha encurtando a linha!" Os apupos de toda torcida foram delirantes! Claro que todos param tudo para ver aquele momento espetacular do parceiro que fisgou o peixe! Depois de uma luta incrível de um peixe com muita força, o enorme "animal" de cor que lhe dá o nome, salta para fora d'água reluzindo seu belo visual, que emociona a todos! O "sussurro, é de um gol em estádio cheio!" O batimento cardíaco vai lá em cima, suor, boca seca e a emoção tão forte, que depois eu comparava com eles no acampamento, ao de “sair da aeronave”, num salto de paraquedas! Simplesmente glorioso! Emocionante demais!


Nos dois dias seguintes “eles” pescaram alguma coisa, que nem me cabe mais comentar! Mixaria! Prefiro ficar apenas com a orgulhosa glória do primeiro dia!

Por consequência, fiquei muito entusiasmado ao novo esporte que me considerei incluído! Na sequência algum tempo depois, voltei com Cauby ao mesmo lugar na Argentina e o resultado decepcionante foi de zero absoluto. Junto se foi meu entusiasmo água abaixo, somado a julgar a grande distância percorrida de 1.536 km (ida e volta) e adequação de tempo, final de semana, feriado para todo esse deslocamento e investimento. Não voltei mais a pescar!

Com a caça proibida em todo Território Nacional, volto a me manter sossegado, quieto e focado às viagens e incursões a cidades e centros urbanos preferencialmente sem mosquitos, para minha plena diversão!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

139) Afinal, e o Dia do Professor?

Quando se comemora o Dia do Professor? Não sei mesmo quando se comemora, parece que cada País tem um dia específico, outros nem comemoram. Mas cá para nós, todos os dias deveríamos celebrar a presença “deles” em nossas vidas! Seja lá na Escolinha onde fomos alfabetizados e até o último degrau de um Pós-Doutorado. Eles nos transferem informações que se convertem em conhecimento e na evolução disso tudo, um pouco de Sabedoria! Merecendo uma ressalva que li recentemente, na verdade um sinal de alerta em uma frase que diz: “A forma arrogante como algumas pessoas estudadas tratam pessoas que não estudaram, demonstra que estudar não garante educação!” De fato Educação, essa vem do berço!

Todos nós temos alguns Mestres que marcaram passagem em nossos bancos escolares, que a gente lembra o nome e muitas vezes lembrará para sempre, por uma ou algumas razões, fatos positivos e não vamos ser cínicos, alguns marcam com pontos negativos também! Claro. Há também dias em que “a casa cai”, como disse o poeta!

Dos nomes que ficaram gravados na minha memória, cito primeiro os cinco que já se foram para o Oriente Eterno, os que ainda estão no nosso Plano, prefiro reduzir nominata pois sem licença adequada corro risco de expô-los gratuitamente. Alguns deles “até leem” minhas crônicas!

Mas a Irmã Romualda, no Ginásio São José, de Jaguari, foi quem me alfabetizou; no Primário Daili Machado; a boa matemática com Ernesto Azevedo, depois Dr. Eudo Giacomelli; Contabilidade Davi Machado; Economia Astor Hexsel. Ainda mais três Professores que merecem meu reconhecimento, felizmente vivos: Nas Artes Marciais Takeo Suzuki e Nelson Guimarães e no paraquedismo Lasiê Pacheco! Teria pelo menos mais alguns  milhares a somar que me ensinaram muito, precisamente enquanto fui  Professor, lógico, os meus alunos! Na Diretoria de Educação da IBM, Sebrae, PUCRS, FGV, Academia de Polícia dentre tantas outras Instituições onde tive a enriquecedora e grata Atividade de Ensinar!



Sim, lecionar ou fazer uma simples palestra exige muita leitura, pesquisa, estudo, dedicação! Me parece justo afirmar que ser Pai/Mãe tem forte semelhança ao Magistério, mas seguramente bem mais complicado, oneroso, sofrido, que por conclusão, se trata de uma preparação infinita e de resultados incalculáveis e imprevisíveis! Às vezes surpreendentes pela excelência ou até mesmo pelo rotundo fracasso. É nesse ponto que as semelhanças se aproximam ainda mais, onde a única convicção restante é de que não sabemos como será o resultado final de todo esforço aplicado!


Contar com reconhecimento? Bom. Aí fica bem mais difícil. Quantas vezes lembrei - como filho - de fazer pelo menos um agradecimento ao meu velho, mas que não fiz na hora devida? Pois me dei conta do Mérito depois de sua Última Despedida! Tarde demais e o remorso corrói por dentro sem cessar e para sempre! Mereço essa "punição" do remorso, afinal de contas qual foi a razão de não tê-los cumprimentado, agradecido no momento certo? Apenas me descuidei imaginando os, eternos!

Fui plenamente agraciado por reconhecimento de forma coletiva dos meu alunos do passado, ao ser convidado para suas cerimônias de formatura como Professor Homenageado e uma vez Paraninfo! Nesse quesito, fiquei milionário, vaidades enriquecidas principalmente no período de dez anos em atividade na PUCRS!


Curiosamente recebi a mais curiosa homenagem, de uma forma simples, mas de um ineditismo que merece nota: Professor Suzuki - quando visitei-o no Japão - me conduziu a um restaurante de comida caseira para um almoço em Tóquio, local que era seu consultório de acupuntura, até o meio dia, depois se convertia em restaurante. Lá é assim, carência de espaço físico, aproveitam tudo... Pois me apresentou ao proprietário, seu amigo, como Professor numa Faculdade no Brasil! Proprietário expressou entusiasmada emoção com seus gestos de reverência que nunca vi. Na sequência trouxe sorrindo, um frasco e em um cálice de aço inoxidável brilhando, previamente gelado e serve, segundo garantiu, o melhor saquê do Japão! Foi glorioso! Espetacular! 

De fato um gesto sem exageros protocolares, que me pegou fundo e lá se vão quase trinta anos e não esqueço sua alegria e minha felicidade com suas honrosas mesuras! Conclusão: No Japão, Professor é muito respeitado!!!


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

138) La Carretera Pan-americana!

Em julho de 1974, aproveitando as férias da Faculdade de Administração, me matriculei na Academia Kidokan em Porto Alegre, para treinar karatê, estilo Wadô. Tive a oportunidade de participar da "Aula Inaugural" do Mestre Mutô Takeo Suzuki, que recém voltara do Japão para o Brasil para Ministrar seu Budô -  Metafilosofia do Zen Budista,  Jornada de Iluminação Espiritual – associada às Artes Marciais. A intenção na minha ingenuidade, ou ignorância sobre o assunto, era o de que em um mês aprenderia a lutar karatê e pronto! Não fazia ideia de que a Senda a ser Ensinada pelo Monge Budista, era longa e completamente distante da minha ideia idiota e malformada!

Percebi a realidade e despertado extremo interesse, me mantive treinando com Suzuki por cinco anos, até 1979! Parei por um tempo, quando aconteceu minha mudança, por razões profissionais, ao Rio de Janeiro, onde permaneci por três anos. Voltando a Porto Alegre, só retomei o karatê, em 1994 a treinar na academia do seu Discípulo, já que ele voltara ao Japão, seu melhor aluno, Professor (Sensei) Nelson Guimarães e com ele por mais cinco anos até o acidente no paraquedismo que me prejudicou severamente os "movimentos" e na sequência, preguiçosamente “relaxar”, guardar o Kimono e minha honrosa Faixa Preta!!

Diante disso, passei a praticar somente dos programas anuais de Encontros – esses Ministrados pelo Mestre Suzuki, vindo do Japão exclusivamente para esses eventos – denominados Gasshuku! (Significa todos sob o mesmo teto!) Onde é ricamente feito treinamento intensivo com a prática de “Zazen”,  exercício da difícil concentração a esvaziar a mente. Os treinamentos de karatê, pelos três dias inteiros, acontecem numa convivência fraterna onde o aprimoramento técnico e mental é muito eficiente.

 A cada ano muda o lugar onde o Mestre já esteve e tenha deixado um de seus Discípulos preparados. No Brasil, foram alguns em Gramado, Nova Petrópolis (RS), Ouro Preto, Brasília, Jundiaí e Ribeirão Preto. No entanto, o mais “curioso” Gasshuku que participei - pelo ineditismo do local - foi em 2003 no Equador, em um Mosteiro na pequena Montalvo, localidade retirada do meio urbano em meio às montanhas, pré-cordilheira dos Andes de uma cerrada selva tropical, distante 105 km de Guayaquil!


Nesse Gasshuku, sob responsabilidade do Professor Raúl Aveiga, estive a convite do Mestre Suzuki, a ajuda-lo com meu “espanhol ruim” na comunicação com os dedicados Equatorianos. Experiência única!

Ainda no Brasil, foi minha primeira dificuldade em como chegar a Guayaquil e em especial, a que cu$to! Aproveitei um saldo do programa de milhas da VARIG que me levaram até Lima, no Peru. Dali em diante, o melhor desafio: Ônibus até Guayaquil! Poderia até parecer um sacrifício imenso transitar por 1.465 km, durante quase vinte e quatro horas! Creiam-me, não foi.

A empresa de transportes local, "Linea de Los Andes" possui uma frota de ônibus leito novos, carroceria brasileira, a  Marcopolo, poltronas totalmente reclináveis (180 graus!) que se repousa com muito conforto, apesar da longa distância. Creio firmemente que o trânsito nessa estrada foi uma das coisas mais interessantes da viagem, pois avião é tudo igual, mesmo sendo na saudosa VARIG!

A Carretera Oficial Pan-americana no percurso da América do Sul, se inicia em Valparaíso, no sul do Chile e se estende até a cidade Panamá, no Panamá, por óbvio. Construção primorosa de excelente asfalto e trânsito por paisagens que valem a pena, algumas de semelhança a "paisagem lunar"! Não só beleza, mas coisas curiosas que glorificam a viagem e nos chamam atenção!

Cerca de 50% dessa rodovia - eu creio - passa pelo meio do nada. Transcorre em paralelo a duzentos metros do Oceano Pacífico, e a paisagem a Leste, nos reserva uma cor parda, sem vegetação, sem água, córregos ou rios. Dá-se a impressão de que ali não sobrevive nem lagartixa! Entretanto se passa por alguns vilarejos de absurda pobreza: Existe Humanos vivendo por lá! Durante o amanhecer, me chamou atenção que aquela região ainda meio desertificada, tinha pontos coloridos, multicores. Foquei e a percepção de que a intensidade do estranho colorido, não eram absolutamente flores, que aumentava rapidamente sua intensidade até seu abrupto ápice de cores! Era um "crime", nada mais nada menos do que uma montanha de uns dez metros (um edifício de três andares!) de milhares, milhões de frascos plásticos jogados fora. Copos, "pets" de refrigerante, bebidas, detergente, etc... Lixo, sem chance, sem mecanismo ou programa  de reciclagem! Lamentável!


Na sequência, uma parada em um pequeno vilarejo de controle aduaneiro. Estávamos saindo do Peru e entrando no Equador. Todos desembarcam portando seus passaportes para identificação e trâmites burocráticos regular entre Nações. Descendo do ônibus, ao pisar no solo, um ”ruído crocante”, de quem pisa sobre mais e mais vasilhames de plástico já esmagados pelos veículos e transeuntes. Uma grossa camada de “pets” reveste o solo numa quantidade de lixo assustadora. Aquele cheiro nauseante de plástico aquecido ou sendo derretido pelo rigor dos fortes raios solares sobre o asfalto. Dá dó de quem vive em tal situação intoxicada, constrangedora!

Quem viaja deve se preparar para encantos das paisagens bem como interpretar as mensagens de alerta e aos perigos de oque estamos fazendo com o nosso Planeta! Se não der para fazer nada, e não dá, por falta de força política, econômica ou qual seja, que pelo menos tentemos conscientizar os que nos cercam. É de fato triste ver que alguns setores da nossa sociedade parecem especializados em destruir nossa própria Casa! É a realidade dos nossos dias! 

Vivi, como resultado desse belo passeio, vigorosa aventura cheia de enriquecimento cultural com aprendizado que solidifica e me dá autoridade de chamar atenção a todos os que me leem, que viajar além de muito gratificante, é oportunidade viva de desenvolvimento pessoal e profundo aculturamento!  


quarta-feira, 22 de novembro de 2023

 137) Escute os mais Velhos![F1] 

Escutar os mais Velhos? Será legítima essa chamada do título, com tantos avanços que a tecnologia nos traz e aparentemente acessível com exclusividade aos jovens? É através da tão laureada Inteligência Artificial, recursos via WEB o resultado dos milhões investidos no desenvolvimento de equipamentos e ferramentas para facilitar nossa vida e assim por diante? São os jovens - melhor - os BEM jovens os que nos dão um verdadeiro banho no manuseio dos equipamentos de hoje. Seja o aparelho da TV, o painel do automóvel, o aparelho celular etc... Parece que os "maduros de hoje" estão condenados à margem desses estupidamente velozes avanços tecnológicos... Pode até ser triste, mas muito real, no entanto  uma saída prática se já tivermos um neto/neta! Peça socorro a eles...

Enquanto criança e ainda adolescente, ouvia isso com muita frequência de meus pais, tios, avós, enfim. Será que estavam todos somente tentando valorizar suas palavras e exigir seu minuto atenção? É. Provavelmente um pouco disso compunha suas campanhas para fazer valer suas opiniões com base em experiência anterior!

E hoje? Agora sou eu com meus 75 aninhos quem fica pensando que pode ensinar! Que ironia!

Semana passada postei nesse blog uma crônica me lamuriando da saudade da vovó, pai e mãe que se já foram! Cínico! Depois que “se foram” não adianta mais nenhum padrão de reverência! Mas será agora tão tarde assim? Talvez não. Meu sentido de ouvir os mais velhos agora, fica mais aguçado ainda e sorvo com sincero prazer a curtir passagens que nos trazem e despertam com seu conteúdo cheio de pura Sabedoria. Sabedoria que não é somente o sinônimo de acumular informações, habilidades diversas e conhecimento geral. Sabedoria é a habilidade que desenvolve ou não, de aproveitar esses conhecimentos convertendo-os em uma melhora inteligente de nós mesmos e de tudo e todos que nos circundam e que também, nem sempre querem nos ouvir ativamente... Tipo, isso é “coisa de véio”!

Hoje tenho a “cara de pau” de me considerar um bom ouvinte, que na realidade é resultado do quanto aprecio degustar palavras dos antigos! Como isso nos ajuda no crescimento pessoal a acumular nosso estoque de boas histórias na memória, afinal, muito parecido ao resultado da leitura de um bom livro! Não é exatamente isso? Unanimemente reconhecemos que a leitura de um bom livro é essencial para todos os passos de nosso crescimento intelectual, profissional, sentimental e até a confirmação de nossa Fé no Criador!

Adoro ouvir idosos com suas alegrias e convivo muito bem com suas tristezas. Assim procedo na Vida Real bem como ao de mergulhar nos livros e muito mais ainda, nos filmes! Sim, os filmes nos mostram e ilustram as Histórias e Estórias com muita riqueza de detalhes. Ah, como vale assistir a uma produção de um Mestre como o Cineasta Stanley Kubrick e todo seu percurso filmográfico! As comédias também encantam!

Reservo hoje o direito de registrar um desses relatos que divertem, pelo ineditismo do fato: - Outro dia, conversava com antigo amigo do bairro, que no mês passado chegou aos seus novena e seis anos de idade. Não me enganei não. Essa idade mesmo e ele, com uma lucides invejável. Contou-me uma interessante passagem profissional da década de cinquenta, que nos faz refletir de como o Brasil já foi tão bom e confiável: Hoje, é aposentado do BB, teve em uma de suas missões a de recarregar o caixa da filial do banco na cidade de Santiago-RS, trazendo esse aporte financeiro de Santa Maria, distante por uns 150 km.

Esse transporte de dinheiro vivo era feito por um funcionário de extrema confiança, viajando em um trem de passageiros comum, existente até meados da década de setenta. Teve designado um colega seu para acompanha-lo com a importante e valorosa carga, afinal de contas, carregava um enorme pacote, pasmem, enrolado em papel comum com alguns milhares de Cruzeiros – moeda brasileira da época – sem nenhuma a proteção especial, tipo pasta ou mala com chaves. Um pacotão simples mesmo!


Apesar da relativa curta distância - para os dias de hoje - esse percurso era feito por umas seis horas, não só pela lentidão dos trens “Maria Fumaça”, (Nem sei o que eu daria hoje, para sentir aquele cheiro da queima de carvão!), como também retardo por tantas paradas em minúsculas estações para embarque e desembarque de passageiros, algumas pequenas cargas, mais abastecimento de água nas caldeiras. Pior: Não havia linha de ônibus que unisse essas duas cidades.


Os dois zelosos funcionários sempre muito atentos ao valoroso invólucro que portavam! Numa determinada parada, meu amigo falou que iria desembarcar naquela estação para tomar um café, enquanto seu colega supostamente o aguardaria. Entretanto num dado momento esse colega foi ao seu encontro na lanchonete puxando um assunto qualquer, mas desesperadamente interpelado:

-  O que tu tá fazendo aqui vivente? E o “nosso pacote”?

- Fica tranquilo. Deixei no vagão marcando nosso lugar!

Pânico!  Voltaram em disparada ao vagão mas felizmente nada tinha se alterado. Lá estava o valoroso pacote intacto, reservando cuidadosamente seus preciosos lugares!

Como é bom escutar os mais velhos com suas histórias peculiares, tão  ricas! Daí minha exclamação convicta de que “o Brasil já foi tão bom e confiável!” Que saudades!


 [F1]

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

 136) Quando fecha a Porta da Casa da Vovó!

Vi hoje um texto encantador sobre esse assunto, “Quando fecha a Porta da Casa da Vovó!” Não recordo autoria, mas me deixou bastante pensativo pela profundidade que atinge. Faz-nos pensar da tamanha tristeza que se alonga por tantos anos da ausência dos pais de nossos pais. De quão acolhedora era a casa deles, de quanta alegria lá vivenciamos com aquele acolhimento da cozinha com delicioso cheiro de bolo, cheiro de canela em pó, de baunilha! E o bolinho de chuva? Ah, que delícia! Certamente éramos crianças e unânimes em reconhecer que foi a época da nossa mais expressiva alegria de viver.

Enquanto crianças, queríamos ser adolescentes, talvez adultos, mas não imaginávamos que ao amanhecer dessas idades futuras, viriam as tarefas, obrigação de ir à escola, as responsabilidades, as preocupações e bem mais adiante o ameaçador envelhecimento.

Em contrapartida a essa ameaça de ficar velho, li uma resposta lapidar dado a um reporte qualquer, que jocosamente questiona Michael Caine, ator inglês que apareceu em 160 filmes ao longo de sete décadas. Homem bonitão, alto, forte, elegante e com marcante sotaque de seu inglês bem britânico, na ocasião de seu aniversário em 14 de março desse ano (2023,) ao completar noventa anos:

- Como o senhor se sente ao ficar velho?

- Considerando a “outra alternativa”, me sinto ótimo!

É, ficar velho é até muito bom! Quantos amigos nos deixaram sem essa gloriosa oportunidade de ficar velho?!

Minhas perdas no caso da vovó, se vão quase sessenta anos e era a minha última avó, que tristemente se foi antes dos seus setenta anos! Curti o carinho da vovó Felícia até meus quinze anos e foi a única, pois, a primeira avó, Henriqueta se foi antes de eu nascer. O mesmo ocorreu com meus vovôs!

A expectativa posterior sempre será a dos nossos pais e esses também um dia nos deixarão rumo ao Oriente Eterno. Essa segunda defecção, perder os pais, tive como um choque violento ao perde-los em apenas oito dias. Sim, mãe se foi e praticamente uma semana depois meu velho, convalescente, também nos deixou sem sequer saber ou ter consciência de que estava viúvo. Decidimos preservar nosso Velho, ocultando a má notícia a poupá-lo, pois seu óbito era esperado para muito breve e foi. Sem dúvida, foi a semana mais pesada de toda minha vida e não seria diferente a ninguém!

O consolo, se é que se pode legitimá-lo, é que tudo isso passa, menos a saudade, é claro! E como toda a dor, basta surgir uma nova, para suplantar a primeira e assim os avós ficam na saudade mais distante para sofrermos a ‘ida” da mamãe e do papai! Entretanto, ”não temos o direito” à vitimização, como muitos procedem e mergulham em depressão profunda, abandonando todas oportunidades de voltar à vida e redescobrir alegria de viver com o que temos e com quem está ao nosso redor!

O mergulhar “chão a dentro” vai se cavando e a vida que já é curta, se torna sem graça, inválida, descartável. Pois essa depressão ainda que motivada, é atitude gerada pelo egoísmo de todos nós. Fui muito severo? Creiam-me que não!  Quem lembrou de ter em nossos avós, que nos davam tanta alegria, eles ficavam choramingando ou fazendo para nós, cara de abandonados pela perda de seus pais? Nossas bisavós – e isso que foram quatro casais - sequer soubemos ou lembramos seus nomes, pelo menos de todos eles. Certamente também deixaram saudades por um período e... Tudo passa! Cabe apenas orarmos por nossos antepassados para que encontrem uma Paz Verdadeira, onde quer que estiverem e sigamos em frente!

Então valorizemos o nosso hoje, como recomendou o poeta italiano Horácio (23 a.C.) em sua expressão latina “Carpe Diem”! Pois também somos ou seremos pais, depois avós e os nossos netos criarão expectativa de sermos vida ativa, alegre e com a firme promessa de “nunca morrer”! Construa-se um lastro de boas lembranças aos amados que herdarem nossos nomes. Desenvolvam habilidade para ter convicção de que pelo menos a longo prazo, iremos deixar boas lembranças, pois são mais importantes do que patrimônio material vultoso!

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

 135) Mi Buenos Aires Querido!

Vamos hoje a mais uma crônica de assunto mais brando e que definitivamente é de minha plena predileção: As viagens que fiz: - Mi Buenos Aires Querido! Coloque esse título no Google e ouvirás Carlos Gardel interpretando uma das canções mais icônicas do Tango Argentino, reverenciando sua bela e até um "pouco europeia" Capital!

Já postei aqui nesse blog, a admiração que tenho pelo rico território da Nação Argentina com seus lagos, sua fatia nos Andes, sua proximidade da Antártida e o que dizer de Buenos Aires e seu porto, que por consequência dá o codinome de “Portenho” aqueles que ali vivem? Buenos Aires é demais! Alguns amigos me dizem que chega ao absurdo o fato de eu já ter ido lá por dezenove vezes!

Foram tantos motivos! Duas vezes apenas por interesses profissionais via IBM, um show de Michel Jackson, encontros da Maçonaria, final da Taça Libertadores da América e simplesmente a passeio, diletantismo, muita diversão, enfim, turismo ! Vale o simples caminhar pela “Calle Florida” e visitar o shopping Atlantico. Reservar um domingo pela manhã para ir até San Telmo onde não são os artesãos que roubam a cena, mas pequenas apresentações do belo dançar tango. Até visitar Cemitério – o Recoleta – é visita obrigatória. É nele que estão depositados os restos mortais da adorada, endeusada Eva Peron!

Um capítulo à parte às casas de espetáculo e teatros. No tetro Colón, reserve um tempo ao seu Museu, onde guardam, dentre tantas preciosidades,  pelo menos uns sete violinos Stradivarius! Que no Mundo, desde 1666 foram fabricados apenas 1.116 unidades e são avaliados entre oito a vinte milhões de dólares americanos cada um!

Shows de tango são apresentados em dezenas de belíssimas e maravilhosas casas nas mais variadas pompas e preços. Com ou sem jantar! Com ou sem seu valoroso vinho! Até no famoso Café Tortoni, com seus 165 anos, tem que ser visitado. No seu subsolo acontecem espetáculos todos dias, que por ser de pequenos palcos, seu preço é bem conveniente... São muitos outros cafés e restaurantes que valem a pena! Mas o Tortoni...


 


Opções de lazer, cultura, excelente gastronomia, passeios em jardins e praças públicas são de uma riqueza invejável. Aqui justifico tantas vezes que visitei essa “europeia” cidade latino-americana. HOJE 2023, dado à série crise econômica reinante, com preços até convidativos!

E o Jardim Zoológico? Completíssimo, mas jamais voltarei e a nenhum outro! Lá, eu vi um “senhor” preso por mais de cinquenta anos, em uma cela de uns dez metros quadrados! Uma plaquinha dizia que era um gorila, mas estou convencido que era um Homem peludo e nu! Seu olhar – daqueles que fazem dentro dos nossos olhos – era de uma tristeza profunda, comovente! Contido por uma parede de vidro onde ele, no olhar, parece questionar a razão de sua prisão perpétua! Dói o coração! Hoje, passados quinze anos que o visitei, não esqueço sua profunda tristeza! Inesquecível! Não vá lá, a menos que possa ajudá-lo...

Ainda nos resta visitar a Casa Rosada, Palácio Presidencial que aos domingos, abre suas portas à visitação pública. O mais curioso está na sua coloração, que lhe dá o nome, "Rosada"! Trata-se do resultado de acordo entre os principais partidos políticos do País, partido Branco e o Partido Vermelho (Blanco & Rojo), pois toda vez que um Presidente era eleito, pintava o Palácio de sua cor... A negociação inteligente e econômica misturou as duas cores e a deu sua coloração definitiva!


Em agosto de 2019 estive por lá e selei, tristemente, a última vez! Se eu ia todos os anos, porque há quatro não volto mais e defini como derradeira visita? De fato triste, mas nessa data constatei convicto de que acabou o encanto! Decadência visível. Os shows com suas tradicionais “típicas” compostas com violoncelo, piano, bandoneón, contrabaixo, um casal de bailarinos e um bom cantor, hoje é substituído por um CD player e um rosto triste de um dançarino magro e solitário! Onde haviam as grandes orquestras, hoje apenas uma "típica" com aqueles cinco componentes!

Decadência da Nação de “los Hermanos” é visível, deprimente, monstruosa! Quando em 1960 Argentina produzia 37.9% do PIB gerado na América do Sul, em 2022 é de 15.5%, enquanto o Brasil foi de 26.4% para 50.4%! (Fonte: World Bank - FMI).

A pobreza reinante, que não me cabe avaliar sua razão definitiva, que o Mundo Inteiro conhece suas origens e seus motivos, faz com que a atração tão efervescente do passado, passa a compor apenas um sentimento de saudade imensa. Daquele clima de progresso, júbilo e alegria constante! “Mi Buenos Aires Querido”, hoje me angustias, me dá pena! Adeus!