quinta-feira, 27 de abril de 2023


108) A Valiosa Caneta “Mont Blanc”!

No chamado “Mundo dos Negócios” há um infindável rol de rituais para enriquecer e elevar as relações nos tantos momentos de definição, desde seu início com o “chamar atenção” do negociador, “despertar interesse”, “provocar o desejo” e finalmente “ação”! Que consiste no fechamento da negociação! Parabéns, foi um sucesso!

Nem sempre é assim, óbvio. Então dentro de cada etapa desse circuito algumas imposições fazem sentido, uma delas que quero focar hoje, é a chamada Primeira Impressão, essa muitas vezes, definitiva. A credibilidade poderá existir graças à uma marca reconhecida, experiência anterior bem-sucedida, enfim. Pois nessa primeira impressão, o aspecto físico e indumentária pesam significativamente, a ponto de pequenos detalhes influírem na mente, por consequência na decisão das pessoas.

Na mais importante entrevista que fiz para admissão em um novo Trabalho em Vendas, de uma multinacional americana, meu entrevistador, sr. Feijó – posteriormente meu Gerente -  solicitou que eu lhe vendesse alguma coisa. Qualquer coisa. Vi sob sua mesa, que ele usava uma caneta Cross Ouro, na época era única, que coincidentemente eu tinha uma idêntica.

Apostei minha narrativa ao fato de que aquela caneta diferenciada indicar um “status” diferenciado que elevaria o nível da negociação e mais algumas coisinhas. Após a teatralização, quando eu usava sua caneta e em com gesto de fechamento de negócio, abri meu o paletó e mostrei a “outra” presa no bolso interno. Trocamos um significativo sorriso – nossos gostos coincidiam - eu estava admitido!

Passados muitos anos, surge uma nova onda em que inteligentes fabricantes conseguem conciliar uma simples – nem tão simples – caneta em uma joia de desejo comum. Surge a caneta Mont Blanc! Vaidoso, passei a deseja-la como um simples mortal!

Álvaro, amigo e colega de paraquedismo, ainda muito jovem tomou rumo do empreendedorismo e se iniciou no Mercado de Capitais. Dado a sua juventude e talvez falta de experiência, se interessou por Desenvolvimento Pessoal e me procurou, já que eu militava em sala-de-aulas precisamente na “Área de Negócios”! Assistiu alguns módulos em que eu lecionava e quis me remunerar!

-  Ora, amigo a gente não cobra!

Pois me surpreendeu com aquele valioso presente: Uma caneta Mont Blanc! Anos mais tarde, estava no interior do RS trabalhando em curso pelo Sebrae e durante uma folga me dedicava a leituras diversas. Nessa ocasião, lia “Anjos & Demônios” de Dan Brown, historiando a primeira aventura de Robert Langdon envolvido com a morte do Papa! Fazia anotações em trechos que me chamavam atenção. Cumprindo recomendação dada pessoalmente por Mário Quintana, na única vez com que falei com nosso Poetinha, que disse com sua brilhante visão de marketing:

 - "Ao comprar um livro, compre sempre três unidades, uma para ler e rabiscar, outra para deixar limpo em sua biblioteca e o terceiro para dar a um amigo!”

Evidente que minhas anotações eram feitas com “aquela caneta”! Num dado momento de reflexão sobre o que lia, parei, tomei segundos a meditar e minhas mãos desmontavam a caneta. Percebi algo curioso de que a linda, desejada caneta tinha no seu interior, um odor muito desagradável. Cheiro ruim mesmo. Não faço a menor ideia da razão desse mau cheiro! Resolvi: Acionei meu frasco de perfume predileto, o “Tsar” e borrifei fartamente 

seu interior perfumando-a graciosamente e prossegui a leitura. Ao fazer nova anotação, o prendedor da caneta folhado a ouro, se soltou ao chão. Juntei-o rápido, afinal se trata de uma pequena peça em ouro! Mas por que a danadinha se soltou? A tampa estava misteriosamente partida! Indignado, larguei o livro e tomei o corpo da caneta e sua parte principal que encobre a capsula de tinta, se partia fora a fora no sentido longitudinal... Fui tomado de uma tristeza material indescritível! Destruí, perdi, estraguei minha preciosa Mont Blanc! O dano foi total, irreversível e definitivo daquela joia tão preciosa! O ignorante que agora escreve, eu no caso, desconhecia a fragilidade da caneta, por um lado, ou o poder de corrosão de um maravilhoso - ainda meu predileto - mas “Safado Perfume Francês! ”

Aprendi: Não tente melhorar algo se não domina sua origem, construção ou imagem!

 

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 

107) A Potência de um Rossi Calibre 32!

Como relatei na crônica da semana passada, desde menino tive uma especial atração por armas de fogo, sua potência, sua letalidade, seu poder!

Meu mano Sérgio – o mais velho em quatorze anos – fez uma aposta em resultado de eleição municipal de Jaguari, que lhe resultou ganho e a aquisição de um revólver Rossi calibre 32. Eu era muito bem iniciado nos manuseios e tiros com arma calibre dezesseis do meu pai. Confesso que o ingresso daquele revolver no nosso quarto - eis que eu o dividia com esse mano – me causava aguda curiosidade.

Numa tarde quente de Verão, pai em sua habitual sesta de apenas uma hora, mãe em lidas na cozinha, silêncio típico de cidade pequena na “hora do descanso vespertino”, meu mano fora, sei lá onde, eu me recolhi ao quarto aproveitando particular privacidade e me pus a manusear tão novo equipamento de fogo. Desmontei-o, tirei todas as balas, montei-o de volta e deixei o tambor vazio.

Lembrei da loucura que alguns estúpidos aventureiros fazem com um revolver, a chamada “Roleta Russa”, que consiste em colocar uma única bala dentro do tambor e girá-lo aleatoriamente e num movimento lateral fazer com que o tambor, agora municiado com uma unidade, voltasse para a câmara de explosão, engatilhar, isso faz um giro no tambor colocando a bala em posição de disparo e apertar o gatilho com o cano, de novo, estupidamente dirigido à cabeça. É algo muito louco que já ceifou algumas vidas no passado com essa disputa e/ou brincadeira isenta de qualquer responsabilidade ou bom senso, é logico!

Apenas para movimentar a arma, iniciei esse processo, colocando uma bala, fiz o giro e fechei a arma. Então verifiquei externamente onde ficara a bala. Pois ela estava à esquerda da câmara de explosão o cano! Sabe-se que ao engatilhar, o tambor gira e coloca o espaço seguinte na famigerada câmara. Percebi, estupefato que naquela experiência eu teria me matado! Ufa!

Abri a arma e repeti a brincadeira, evidentemente sem a menor intenção de “fazê-la completa”, afinal de contas na primeira tentativa eu teria sucumbido a morte!

No giro que fiz dessa vez, a bala não ficou naquele posicionamento anterior, que dispararia. Então, agora sem risco, engatilhei novamente e fiz o gesto tradicional da Roleta Russa. Num lapso de tempo lembrei uma frase do meu velho pai, com Sabedoria dizia:

- O diabo mora no cano de uma arma!

Então tirei o cano da cabeça que o colocara entre o olho e o ouvido, que segundo um veterinário, quando se quer fazer a eutanásia de algum animal, é ali que se dá o tiro, pois a morte é tão instantânea, brincava o profissional, que “ele nem ouvirá o tiro!” Então coloquei no joelho, afinal ali, não me mataria. Mais um recado mental do meu velho: “É no cano de uma...” Apontei-o contra o guarda-roupas e acionei o gatilho: BAMM!!!

Sim. Eu teria suicidado! Nem posso dizer inocentemente, mas burramente! Pois o giro do tambor que descrevi naquele primeiro movimento que suspeitei teria me matado, teria não, pois o giro do tambor é no sentido anti-horário, então naquela situação anterior a bala teria se afastado da câmara. Nesse fatídico segundo momento, a bala ficara logo a DIREITA da câmara, que não percebi, ao engatilhar, se coloca em situação de disparo, e disparou!

Pois a potência de um revólver calibre 32, hoje em total desuso pela sua relativa baixa letalidade teria feito um estrago monumental, seja no joelho ou na cabeça desse idiota aqui... Perdão, “quase idiota” pois não cheguei a disparar!

Reflexão derradeira: É de fato no cano da arma que “ele” mora. Brincar com arma de fogo, arma branca, arma de pressão ou qualquer outro instrumento dessa famigerada família, não faça nunca!

quinta-feira, 13 de abril de 2023

 


106) Caçando Perdizes pelas Fazendas das Missões!

Sempre tive uma especial atração por arma de fogo. Sou filho de caçador e tive três de meus irmãos que também caçavam perdizes. Ainda adolescente acompanhava meu pai, seu Waldemar, em atividade nos campos no interior de Jaguari, Santiago, Tupanciretã, São Vicente, São Francisco e arredores. No campo, a ordem era a de ficar ligeiramente atrás do “velho” para não atrapalhar sua ação no momento do disparo. Quando o cão de caça – os tais perdigueiros – localizam a perdiz e a “amarram”, é o momento da gloriosa emoção. O cachorro perdigueiro através de seu instinto e faro aguçado, identifica o rastro que a caça deixou e paralisa; literalmente. Fica imóvel, aguardando o comando do seu Chefe, o Caçador. Às vezes seu rabo é estirado e o corpo trêmulo. Algo sensacional de como o animal leva a sério seu trabalho!

O caçador se prepara e com significativa injeção de adrenalina, se aproxima e dá um sutil toque com o joelho na bunda do cachorro. Esse, avança em rápidos e pequenos estágios até que a aproximação atinge o limite em que a perdiz levanta voo com seu silvo característico a executar voo rasante em fuga, de alta velocidade. Segue-se o estampido do disparo da arma, talvez um segundo pois a chance de ser abatida no primeiro é alta – estou relatando caçadores experientes - e para alegria do caçador e o sucesso do trabalho canino, que ainda acompanha em disparada a fuga da caça. Abatida, ela cai e o amigo cão a recolhe trazendo até “seu caçador”, alguma carícia no animal e guarda a caça no pendurico.

A relação cachorro caçador é fantástica, de um comprometimento inigualável. O animal recebe nesse momento um terno carinho e retribui sua alegria com abano frenético do rabo. Intensifica-se naquele momento uma relação de amizade, empatia e fidelidade única! Até onde vai meu senso de observação, esse é a de maior identidade que já vi entre um Humano e um Animal.

Nas caçadas, que no passado eram permitidas, aconteciam aos domingos, no período de Inverno. Os amigos caçadores, reunidos saiam cedo da cidade em direção à fazenda onde tinham permissão prévia para a caça. No campo, cada um tomava sua direções atendendo aos chamados de seus cães, e isso acontece por toda a manhã, pois enquanto frio, a atividade canina permite acompanhamento com relativo cansaço ainda suportável, para os mais jovens...

Horário do almoço, juntam-se todos caçadores do grupo, sob alguma árvore de boa sombra ou nos chamados galpões da fazenda. Nada de churrasco ou comida que tome algum tempo a fazer, nem para comer. Tudo rápido e objetivo.  Naturalmente algum vinho e a cachaça que não podem faltar. Intervalo não deve ser longo e todos voltam ao campo!

Entretanto, nesse intervalo durante o almoço, meu pai permitia que eu fizesse um giro ao redor do acampamento com sua arma (Boito, cano duplo paralelo, calibre 16, chumbo 8 e pólvora preta) para dar alguns tiros! Foi numa dessas incursões que obtive minha primeira perdiz – jamais esquecerei – eu tinha uns quatorze anos de idade e já tinha errado muitos tiros, até então!

Eu estava com o “Guri”, um perdigueiro branco de manchas marrons, muito louco e corredor, que dificultava acompanhamento – essa era a mais severa crítica do meu pai sobre ele – mas tinha comigo um entendimento de “amizade” extraordinária, especial como nunca tive com outro cachorro! Um caso de amor canino admirável!

Eu estava no “corredor”, estrada de chão, quando o Guri deu sinal de perdiz acima do barranco, já no campo de capim alto e seco, subi às pressas e ao tentar passar a cerca de arame, o Guri afobado como sempre, fez a perdiz levantar voo em linha reta (Há “decolagens” em que a caça pende tanto à esquerda ou à direita obviamente, o que sempre dificulta o tiro.) Atirei. Tiro certeiro e o Guri me trouxe solenemente a caça abatida minha na mão! Tive a clara sensação de que o animal entendera minha emoção. Parecia que até sorria para mim!

Exultante Troféu! Que glória! Que orgulho! Que alegria! Fiz uma gritaria enlouquecida! Fato gravado ainda em minha mente por mais de seis décadas. Momento Único da Vida em que se exagera, mas por uma razão plenamente justificável. É alegria pura que só quem um dia caçou e/ou pescou um peixe grande poderá entender sua dimensão!

De volta ao acampamento ainda eufórico, vi no sorriso amplo do seu Waldemar aprovando o resultado:

- Ouvi o tiro. Hoje achei que tinhas acertado!

- Exagerei um pouco na gritaria né Papito! Até o “Guri” se assustou!

- Mas valeu a pena. Agora me dá a arma...

Eu não estava tão perto para meu pai ouvir o tiro, é que o fato do velho usar a tal “pólvora preta”, dava um estouro imenso, eu diria uma explosão escandalosa! Ouvia-se a muitos de metros e a nuvem de fumaça preta com o forte cheiro dessa pólvora, fazia com que os demais caçadores reconheciam que “seu Waldemar” deu um tiro!!!

 

quarta-feira, 5 de abril de 2023

 

105) Uma Celebração Ruidosa

Na Crônica há duas semanas, relatei da fundação e composição do “The Crasies Club” e de suas reuniões a celebrar alegria, onde cada um dos componentes fazia um prato, (churrasco só no encerramento) cumprindo um desafio de quem melhor representasse à classe dos “Bons Maridos Cozinheiros”!

Num desses encontros realizado no sítio em Viamão, Fiorello, o anfitrião da vez, estava com “namorada nova”, usaria aquela oportunidade para apresentar ao Clube, dando motivo para uma celebração ainda mais ruidosa e festiva!  Foi um final de semana inteiro.

Todos hospedados, instalados e ele foi buscar a Moça! O restante do grupo, sempre com “espírito de porco”, lembrando de algumas das traquitanas feitas na puberdade, que consistia na explosão de rojões, desses das festas juninas soltas ao chão, mas de grande barulho! Diria, exagerada e ensurdecedora explosão!

Camotim opinou que deveríamos testar pelo menos um, para na hora da chegada, não haver risco de algum desses velhos rojões falharem! E assim fizemos! Nossa! Estouro maravilhoso que gerou uma fumaceira imensa, o que nos levou a uma gloriosa euforia e entusiasmados aplausos! 

Dissipada a nuvem de fumaça, nos cumprimentamos antecipadamente pelo sucesso que seria a calorosa recepção. Naquele dia éramos cinco participantes dos Crasies e todos com alguma descendência italiana, que adora fogos de artifício principalmente os mais ruidosos! Esse, em especial era muito forte, daqueles que deixam marca de queimado na calçada! Um sucesso absoluto! - Vai ser lindo! Todos concordam!

Logo mais, ouvimos o ruído da aproximação de um carro, de fácil percepção, já que a rua é silenciosa, de discreto movimento. Deve ser o Fiorello que estava finalmente chegando com a sua Princesa! Corremos ao pátio lateral da casa, eu a frente e o Camotim que já acionava o esperado rojão, às minhas costas! Chegando ao local desse pátio interno, lamentavelmente não se tratava da chegada do anfitrião com “ela”, mas do veículo da segurança do condomínio, que atendia reclamação dos moradores, da explosão na área! Estava ali para investigar e coibir a irresponsável, perturbadora e perigosa ação!

- Foi daqui que soltaram foguete?

Fiquei paralisado, pasmo, sem resposta imediata! Nas minhas costas o artefato já acionado, chiando seu estopim e eu emudecido aguardando os fatos claramente previsíveis!

- BUUM!!!

Enorme estrondo e eu encoberto por espessa fumaça branca e seu tradicional cheiro de pólvora, a me denunciar.  Me restava apenas abanar o rosto com a mão para que o vigia conseguisse ver minha cara, em meio àquela festiva e linda nuvem artificial!

- É. Foi daqui! Mas lhe garanto, esse foi definitivamente o último! Prometo!

- Sim, por favor acontece que seus vizinhos estão nervosos e ...

- Sim, sim! Eu já entendi e como disse: - Acabou! Aceite minhas sinceras desculpas!

Engoli seco, virei as costas e me juntei aos demais Crasies e caímos em silêncio sepulcral até a chegada do tão esperado ”casal de pombinhos”. Daí a festa retomou seu ritmo inconfundível! Fartura, alegria, vinho, música – não muito alta – mais a gritaria nada discreta e celebração fazendo de cada minuto de nosso encontro, como se fosse o último! Todos os integrantes passados dos sessenta aninhos, sabíamos claramente que um dia seria de fato, o último! Lembrando e confirmando a lapidar frase de Grande Sabedoria  de Barão de Itararé: - "Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta!"