106) Caçando Perdizes pelas Fazendas das Missões!
Sempre tive uma especial atração por arma de fogo. Sou filho de caçador e tive três de meus irmãos que também caçavam perdizes. Ainda adolescente acompanhava meu pai, seu Waldemar, em atividade nos campos no interior de Jaguari, Santiago, Tupanciretã, São Vicente, São Francisco e arredores. No campo, a ordem era a de ficar ligeiramente atrás do “velho” para não atrapalhar sua ação no momento do disparo. Quando o cão de caça – os tais perdigueiros – localizam a perdiz e a “amarram”, é o momento da gloriosa emoção. O cachorro perdigueiro através de seu instinto e faro aguçado, identifica o rastro que a caça deixou e paralisa; literalmente. Fica imóvel, aguardando o comando do seu Chefe, o Caçador. Às vezes seu rabo é estirado e o corpo trêmulo. Algo sensacional de como o animal leva a sério seu trabalho!
O caçador se prepara e com significativa injeção de adrenalina, se aproxima e dá um sutil toque com o joelho na bunda do cachorro. Esse, avança em rápidos e pequenos estágios até que a aproximação atinge o limite em que a perdiz levanta voo com seu silvo característico a executar voo rasante em fuga, de alta velocidade. Segue-se o estampido do disparo da arma, talvez um segundo pois a chance de ser abatida no primeiro é alta – estou relatando caçadores experientes - e para alegria do caçador e o sucesso do trabalho canino, que ainda acompanha em disparada a fuga da caça. Abatida, ela cai e o amigo cão a recolhe trazendo até “seu caçador”, alguma carícia no animal e guarda a caça no pendurico.
A relação cachorro caçador é fantástica, de um comprometimento inigualável. O animal recebe nesse momento um terno carinho e retribui sua alegria com abano frenético do rabo. Intensifica-se naquele momento uma relação de amizade, empatia e fidelidade única! Até onde vai meu senso de observação, esse é a de maior identidade que já vi entre um Humano e um Animal.
Nas caçadas, que no passado eram permitidas, aconteciam aos domingos, no período de Inverno. Os amigos caçadores, reunidos saiam cedo da cidade em direção à fazenda onde tinham permissão prévia para a caça. No campo, cada um tomava sua direções atendendo aos chamados de seus cães, e isso acontece por toda a manhã, pois enquanto frio, a atividade canina permite acompanhamento com relativo cansaço ainda suportável, para os mais jovens...
Horário do almoço, juntam-se todos caçadores do grupo, sob alguma árvore de boa sombra ou nos chamados galpões da fazenda. Nada de churrasco ou comida que tome algum tempo a fazer, nem para comer. Tudo rápido e objetivo. Naturalmente algum vinho e a cachaça que não podem faltar. Intervalo não deve ser longo e todos voltam ao campo!
Entretanto, nesse intervalo durante o almoço, meu pai permitia que eu fizesse um giro ao redor do acampamento com sua arma (Boito, cano duplo paralelo, calibre 16, chumbo 8 e pólvora preta) para dar alguns tiros! Foi numa dessas incursões que obtive minha primeira perdiz – jamais esquecerei – eu tinha uns quatorze anos de idade e já tinha errado muitos tiros, até então!
Eu estava com o “Guri”, um perdigueiro branco de manchas marrons, muito louco e corredor, que dificultava acompanhamento – essa era a mais severa crítica do meu pai sobre ele – mas tinha comigo um entendimento de “amizade” extraordinária, especial como nunca tive com outro cachorro! Um caso de amor canino admirável!
Eu estava no “corredor”, estrada de chão, quando o Guri deu sinal de perdiz acima do barranco, já no campo de capim alto e seco, subi às pressas e ao tentar passar a cerca de arame, o Guri afobado como sempre, fez a perdiz levantar voo em linha reta (Há “decolagens” em que a caça pende tanto à esquerda ou à direita obviamente, o que sempre dificulta o tiro.) Atirei. Tiro certeiro e o Guri me trouxe solenemente a caça abatida minha na mão! Tive a clara sensação de que o animal entendera minha emoção. Parecia que até sorria para mim!
Exultante Troféu! Que glória! Que orgulho! Que alegria! Fiz uma gritaria enlouquecida! Fato gravado ainda em minha mente por mais de seis décadas. Momento Único da Vida em que se exagera, mas por uma razão plenamente justificável. É alegria pura que só quem um dia caçou e/ou pescou um peixe grande poderá entender sua dimensão!
De volta ao acampamento ainda eufórico, vi no sorriso amplo do seu Waldemar aprovando o resultado:
- Ouvi o tiro. Hoje achei que tinhas acertado!
- Exagerei um pouco na gritaria né Papito! Até o “Guri” se assustou!
- Mas valeu a pena. Agora me dá a arma...
Eu não estava tão perto para
meu pai ouvir o tiro, é que o fato do velho usar a tal “pólvora preta”, dava um
estouro imenso, eu diria uma explosão escandalosa! Ouvia-se a muitos de metros
e a nuvem de fumaça preta com o forte cheiro dessa pólvora, fazia com que os
demais caçadores reconheciam que “seu Waldemar” deu um tiro!!!
Excelente! Parabéns, meu amigo.
ResponderExcluirBoa história Fausto.
ResponderExcluirGostei da pólvora negra.
Fazia também uma baita sujeira no cano!
Tinha que limpa-lo bem com água e sabão e depois passar o óleo.
Adivinha amigo Ivan, a quem "sobrava" para lavar a arma na segunda-feira! Era uma tinta preta a espalhar pelo tanque. Vareta com bucha de palha de milho, detergente e muita água fervente... Mas valia a pena!
ExcluirParabéns pela bela caçada amigo como vc falou só quem já caçou sabe
ResponderExcluirTida.
ResponderExcluirImagino o quanto aumentou essa façanha para teus amigos kkkk
Que lembrança, tens na memória!!!
ResponderExcluirAventura inesquecível ! Muito boa !
ResponderExcluirUma caçada e tanto ! Para nunca esquecer !SDiefenbach
ResponderExcluirEita aventura hem? Imagino a emoção.! A minha lembrança é a melhor parte... Comer as perdizes...
ResponderExcluirQue aventura inesquecível e lembrança maravilhosa!! Como sempre vc faz a gente viver a emoção tamanha é a maravilha da sua narrativa! Adorei!
ResponderExcluirQue história bacana Fausto,me fez voltar no tempo, nào como caçador, mas como assistente de caçador, e a melhor parte para mim era hora da comilança: perdiz com polenta e queijo colonial e como sobremesa rapadura de amendoim🤣🤣👏👏👏
ResponderExcluirBela narrativa! Em especial quando nos leva a um fato real!
ResponderExcluirMuito legal essa história. Nessas caçadas participei em diversas, mas só como ajudante, mero expectador.
ResponderExcluirQue belas lembranças meu amigo! Às vezes vou no Uruguai caçar perdizes, mas vou só acompanhando, não atiro de arma longa. Abraço grande.
ResponderExcluirBela história! Eu também tenho guardada na lembrança , só que não a caçada , e sim a comilança à noite! Que delicia! Perdizadas com polenta! ❤️❤️❤️❤️❤️
ResponderExcluirOlha Fausto, nem gosto de caçadas, mas entendo nossos costumes. E como não gostar de uma bela história, onde o cachorro admirável, companheiro e incansável, ajuda um garoto de 14 anos em sua caçada, e assim a se firmar perante os adultos.
ResponderExcluirMe trouxe a lembrança quando ia no caminhão do Sr.Pizzuti e seu filho Beto, transportar arroz das lavouras e entre idas e vindas, observava sua caçada, da parte de cima do caminhão. A emoção tambem era grande amigo Faudto!
ResponderExcluirO Fausto, além de uma memória admirável, tem no sague o espírito aventureiro. Criado nos morros do Chapão, do Obelisco e outros adjacentes a Jaguari, cultua o dom da escrita, para transformar lembranças da infância em crônicas, como muitas vezes foram feitas pelo destacado Sérgio Faraco com crônicas do seu Alegrete.
ResponderExcluirNunca gostei de armas de fogo, tão pouco, pelo que sei, meu pai gostava. Bem provável por isso não entendo de calibre 16 e de chumbo 8, bem como a tal de pólvora preta. Nem sabia que ela tinha cor, mas o Fausto sabe tudo e narra estas passagens com uma propriedade que chego enxergar os campos e lavouras de Jaguari com o caçador acompanhado de seu cão. Parabéns, meu amigo.
Grande lembrança!
ResponderExcluirTambém saia para caçar com meu pai. Foram poucas. Não era ambiente para meninas. Kkk
Nunca fiz uma caçada mas deve ser emocionante. E mais em equipe com seu cachorro.
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