quarta-feira, 5 de julho de 2023

 118) Escotismo: “Seu Waldemar” Orientava!

Não é tão difícil fugir da depressão – mal do Século XXI, tão presente na nossa Sociedade atual – isso se mantivermos o firme propósito nessa direção. Sim, ainda tem o reforço da Indústria Farmacêutica que fatura milhões em medicamentos antidepressivos e não é evitando-os, que nos safaremos desses ataques que a mente insiste em nos surpreender. Muito raro encontrar alguém que um dia não foi atacado por uma profunda tristeza justificada ou ainda pior, tristeza “não justificada”! 

São coisas guiadas pelos nossos pensamentos involuntários e eles são autônomos, não os controlamos. Já estou me contradizendo quando escrevi “não é tão difícil fugir da depressão!” É difícil sim, e muito.  Assim são algumas as partes do nosso Organismo que nos dão um banho de autoritarismo. Lembro uma observação da Renata, minha sobrinha Dentista, de quando se tem uma fratura de um dente e esse fica com uma face “afiada”, até que se busque socorro ao dentista, ficamos com a língua a desafiar aquele “fio de navalha” a nos agredir. O que fazer para sossegar essa língua atrevida? Nada. Aí que Renata afirma: “Não adianta, a língua tem vida própria”! Procure imediatamente um Dentista de sua confiança!

Pois saibam, que minha decisão de publicar  essas crônicas, há uns três anos, se iniciaram na sequência de pensamentos dos bons e divertidos momentos vividos no passado. Experimentem substituir pensamentos negativos pelos bons, agradáveis. Escrevê-los é ainda mais eficiente, isso posso garantir, mesmo sem trabalhar na Área da Saúde! Povoando nossa mente com as lembranças dos momentos divertidos da nossa Vida, é seguramente o melhor de todos os caminhos!

Pois hoje pensava numa passagem da minha doce juventude em Jaguari, com o “The Crasies Club”! Já contei, cidade pequena e de poucas opções para diversão e sem os recursos de tecnologia de hoje, o viver momentos no meio do mato, era uma das melhores e mais divertidas atividades!

Meu velho tinha uns cem hectares de mata nativa, um pouco de campo e principalmente banhado pelo rio que empresta o nome à cidade, Jaguari. Chamávamos aquelas terras de “Colônia”! Acampar em barraca rudimentar no meio do mato de angicos e outras árvores, era a gloria para todos nós! Lá acontecia o fogo de chão com lenhas colhidas no mato – cheiro de fumaça que não me sai da memória - com panelas e chaleira de ferro, eram as melhores refeições de todos os anos. Quando calor, o banho no rio profundo e saltos das árvores nos barrancos, faziam o lado aventureiro dessas incursões!

Num final de semana nos programamos acampar por lá. Viajar logo após o almoço do sábado para voltar no domingo à tardinha, afinal eu trabalhava até esse horário. Lá pelas 13hs os guris começaram a chegar a minha casa, onde partiríamos usando o ”caminhãozinho” da Família, um Opel verde, ano 1951 com carroceria de madeira e rodado duplo na tração traseira. Acontece que a meteorologia se mostrava contrária ao nosso passeio. Vigorosa formação de nuvens ameaçadoras e prenúncio convincentes de temporal! Atração só aumentava pelo desejo do desafio!

Dona Olga, minha mãe, sempre foi absurdamente zelosa e prevenida aos riscos que qualquer um de seus cinco filhos poderiam se expor... Se ela percebesse esse perigo eminente, era certo o súbito cancelamento de tudo! Veto da minha mãe era real e poderoso! Cauby, foi o primeiro a chegar, afoito e nervoso me chamou atenção:

- “Pelamordedeus”, vâmo saí logo que tá vindo um baita temporal lá do Chapadão, se a dona Olga vier aqui, e enxergar aquelas nuvens pretas, tá tudo cancelado!

Logo chegaram os demais parceiros e a correria foi estabelecida e o dispositivo para aquela pequena viagem – não mais que 6 km – estava pronto! Entretanto e sempre tem um entretanto, dona Olga que eu supunha ainda nas lides do "pós almoço", surge calma e serena a nossa frente para o terror de todos. Olha para o céu com aquelas grossas nuvens negras, (cumuloninbus ou plumbum) em ameaçadora movimentação e determina com exuberante autoridade:

- Podem descarregar o caminhão. Nada de Colônia! Com esse temporal, mas nem pensar em acampamento! Fica para outro dia...

A tristeza tomou conta de todos! Ombros caídos, pálpebras se derretendo foi geral! Só não teve lágrimas porque todos acreditavam no adágio popular da época:“Homem não chora”! Eis que para nossa salvação, veio o seu Waldemar, meu pai, que nós o chamávamos de “Papito”, quando minha mãe sentenciou direto:

- Wáldema: (era assim que ela chamava meu velho) Olha a loucura que esses guris ESTAVAM querendo fazer!

- É? E o que que tem? Por causa da chuva? Bobagem. Não tem problema. É só eles montarem a barraca afastada de algum angico seco, para evitar raio. Cavem uma valeta ao redor da barraca para não entrar água. Mantenham o fogo aceso e pronto!

E assim meu querido Velho seguiu dando instruções de como obter lenha e gravetos secos, mesmo durante a chuva, como acender o fogo usando um único palito de fósforo, onde deixar o lampião a querosene aceso, reservar uma garrafa de cachaça "a mão" para desinfetar eventual picada de inseto ou réptil, dentre tantas outras recomendações extremamente úteis, que guardo até hoje! Uma aula de sobrevivência na selva!

Pobrezinha da minha mãe querida. Foi desautorizada em público, que a chateou muito. Virou as costas e voltou para dentro de casa muito contrariada! A gurizada voltou a sorrir feliz, o acampamento estava garantido, vai acontecer e aconteceu! Meu velho tinha muita Sabedoria Acumulada. Quando jovem, foi responsável por um Grupo de Escoteiros e essas lidas de campo e mato, era Mestre e entusiasmado motivador!

 

Caminhãozinho pronto e lá fomos nós! De todas incursões à Colônia, e foram muitas, essa foi a mais divertida, agitada e francamente inesquecível. Por óbvio, no meio da madrugada baixou um “puta temporal” com raios, ventania, quebra de galhos e muita chuva! Tomamos um invejável banho de chuva cavando a tal valeta recomendada pelo Velho Escoteiro, mas renegada no seu devido tempo, o que tornou tudo, absolutamente tudo mais interessante e a convicção de que valeu a pena! Sem arrependimento algum, muito antes pelo contrário! Se não acontecesse aquela tormenta, não teria sido tão legal! Diria, que fora um acampamento comum, até meio sem graça...

12 comentários:

  1. Muito bom, meu amigo! Bela descrição de momentos marcantes. Parabéns! Bida

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  2. Quando, na juventude, até temporal faz parte do programa! Me faz lembrar os acampamentos militares que participei ! Sempre chovia é tida noite!! Eram as mesmas instruções do Sr Valdemar!!

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  3. Obrigada pela homenagem ao meu saber sobre a vida das línguas! Kkkkk
    Para a gurizada, quanto mais perrengue melhor!

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  4. Que loucura!!!!Loucura marsvilhosa! Bons tempos de uma juventude sadia e feliz!

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  5. Parece que estou vendo a cara de contrariada da dona Olga .Muito boa tua descrição!

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  6. Que maravilha de história!! Realmente escrever e lembrar dessas aventuras divertidas é uma excelente terapia!! Parabéns e que privilégio de uma adolescência tão marcada por vivências incríveis e quanta sabedoria do seu pai. Amei!!

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  7. História maravilhosa

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  8. Muito bom e ainda da para fazer algo parecido com os amigos.

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  9. São coisas simples com amigos e com quem amamos que vale apena.

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  10. Sempre foi um belo desafio fazer um acampamento. Muito boa lembrança.

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  11. Exatamente história

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