Foi por volta de 1960 que surgiu a Pepsi-Cola no Rio Grande do Sul e por consequência na minha Jaguari. Diziam que era um refrigerante brasileiro, pois era produzida em Porto Alegre. Eu acreditei nisso! Até então, conhecia apenas três tipos de refrigerantes do título dessa crônica, que eu gostava demais, mas não tinha acesso comum, só em aniversários e para piorar, no meu “niver”, se servia chá!
Num final de tarde na nossa “Prainha”, numa das mesas do bar estava o Camotin com uma Pepsi a sua frente. Sentei junto a ele e o assunto foi sobre aquele refrigerante preto, que não tinha cheiro algum. Meu amigo fazia cara de quem não tinha gostado nem um pouquinho! Nem se comparava ao “bouquet” do guaraná, que se harmoniza com algo que... Desconheço... Talvez não harmonize com nada! Mas tem seu cheiro particular! Pois Camotin não conseguiu beber sequer a metade do tal refrigerante sem cheiro algum!
Qué toma essa "pépis"?
- Claro que eu quero!
Imaginem se eu ia perder a oportunidade de conhecer aquela novidade. Me acomodei da maneira mais confortável e de boa postura na cadeira, procurando fazer um semblante sério, formal e iniciei a degustar aquele curioso refrigerante sem um gosto definido! De fato, um sabor tão insonso quando seu inexistente perfume. Refrigerante, genericamente, eu não tinha acesso regular, então esse em especial e em meio a uma tarde sem qualquer celebração, se tornou único! Sorvi-o até seu final com muita pompa & circunstância!
O tempo passa e a maldição americana toma conta de nossos gostos e preferência. Quando inventaram a “Cuba Libre” então, com o resultado da mistura da tal Pepsi com Rum, a perdição se completou marcando um dos mais importantes “tragos encorajadores" às aventuras, como a dançar por exemplo. Em bailes e reuniões dançantes da época, era a glória!
Com algumas crises financeiras, muito presente nessa fase da minha vida, a galera inventou o “Samba”, versão brasileira da mistura de Pepsi com cachaça! Não menos cobiçada do que a Cuba, mais barata e que produzia efeitos semelhantes! Convenhamos, em época de economia compulsória, o samba veio à calhar! E o prestígio da Pepsi, em alta!
Nessas alturas, guaraná etc., já tinham sido abandonadas, até porque veio outro refrigerante – esse sim americano – de nome Coca-Cola, para concorrer com a “gaúcha” Pepsi! Que ingenuidade!
A minha Pepsi inesquecível aconteceu numa viagem de ônibus da empresa Planalto a Porto Alegre, num dia quente do Verão. Evidente que os ônibus da época não atinham ar condicionado. Se entrasse pouca poeira dentro do veículo, já estava no lucro!
Dinheiro curtíssimo - que coisa mais recorrente - quando UMA GARRAFA desse refrigerante tinha, ao meu bolso, um valor expressivo! Ônibus fez uma parada numa estação rodoviária próxima à Capital. O motorista foi ao balcão pediu uma Pepsi, e tomou quase que a um único gole! Eu assisti aquela cena dantesca calado a engolir saliva. Esperança que a sede aliviasse por mágica! Não aliviou! O desejo? Só aumentou!
Fiquei alguns dias na Capital para retornar, com aquela cena que não me saia da cabeça (perceberam que a mantenho até hoje). Finalmente o retorno e o firme propósito de que alguns trocos poupados foram reservados para matar aquele desejo contido, a inundar minhas papilas gustativas com a espumante Pepsi! O propósito ditava que tinha que ser no mesmo local da vinda, para bem valorizar o sonho acalentado por tantos dias!
Como eu esperava, o ônibus fez sua partida e aguardei, acho que até sorrindo, o momento de chegar ao destino onde materializaria aquele sonho de gula plena! Chegamos: - Fui ao balcão e fiz garboso e orgulho a pedida! Peguei a garrafa com a mão firme, olhei para ela sorrindo e tomei o primeiro gole no bico da garrafa com tamanho entusiasmo, que saiu um pouco pelo nariz, fazendo-me arregalar os olhos! Imediatamente ouço o motorista que havia apenas pego um envelope no mesmo balcão, que vociferou:
- Bora! Parada só para pegar documentação! Vem logo guri!
Quase às lágrimas, devolvi
a garrafa cheia no balcão e embarquei profundamente triste, sob risco de perder a
viagem... Até hoje, quando passo por aquele local, fico com vontade de chegar para
perguntar o que fizeram, há sessenta anos, com TODA aquela minha Pepsi-Cola gelada, que por aqui abandonei com
tanto dó e dor no coração?!
CYRILINHA SIM!ERA ÓTIMO REFRIGERANTE.
ResponderExcluirKKKKK.
Maravilhoso! 😂😂😂
ResponderExcluirTida
Sensacional,como todas as anteriores.
ResponderExcluirSensacional! Pepsi, de Jaguari para o mundo!!!
ResponderExcluirBons tempos aqueles onde tomar um refrigerante era uma festa. Éramos tão felizes!..
ResponderExcluirNão sabia que a Pepsi era do RS. Lá em casa refrigerante somente em datas festivas. Realmente era muito bom ! Muito legal!!
ResponderExcluirFausto, bela história, me diz retornar há 60 anos. 👏
ResponderExcluirNão sou do refrigerante mas tem vez que tenho voltade de tomar um copo bem gelado.
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