quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 133) Estive a margem do Vulcão Villarica!

Sim. Eu estive na “boca” de um vulcão ativo, o Villarica em Pucón, no Chile. Mas antes de descrevê-lo, afirmo que foi uma experiência real em que vivi e descreverei onde fica e como cheguei até lá, voltando tão carregado de fortes emoções por um contato direto com a Natureza. Na verdade, Natureza Furiosa, Bravia, Indomável!

Dezembro de 1997, a bordo do Honda Civic, ano 1992, quatro portas, fiz meu segundo “Circuito Andino” completo, que por algumas vezes comentei aqui nesse blog, de outras tantas idas pelos Andes, de carro, para melhor curtir as belíssimas paisagens que se descortinam nessa bela travessia. Já enfatizei minha fanática admiração pela Região dos Lagos em especial aos lagos andinos.

Roteiro de saída sempre fiz encurtando bons duzentos quilômetros, para entrar na Argentina, cortando o oeste uruguaio desde Rivera até Paysandu e ali então adentrar no trecho mais longo em direção inicialmente a Mendoza. Mendoza é parada obrigatória para um bom e restaurador repouso depois de 1994 km rodados. Lá, duas ou três noites são muito bem aproveitadas pelo que a cidade oferece, desde o bom restaurante, suas “Caves” (aproveite para comprar 16 garrafas de vinho por CPF) e ter a vista do maior “papel de parede” do mundo, com a paisagem deslumbrante da "grisalha" Cordilheira dos Andes.

Na sequência, desafiante travessia de 360 km dessa respeitável Cordilheira onde se cruza a fronteira pelo Túnel Del Cristo Redentor – de quase três quilômetros – e se toma, já em território chileno a descida de trinta quilômetros no curioso “Los Caracoles” e suas 23 curvas de 180 graus! Honestamente, até aqui, já valeu a viagem!



No ponto de inspeção e controle da fronteira, o essencial é estar com seguro em dia, a "Carta Verde”, que se adquire no Brasil, cobrindo precisamente os dias em viagem no exterior, para não sair tão caro... Outras coisinhas como ter dois triângulos de advertência para eventual troca de pneus, etc. É bom verificar alguns dias antes da partida, esses detalhes. Talvez por sorte, em quatro dessas minhas incursões ao Circuito Andino, fui “mordido” apenas uma vez na Argentina na busca de uma safada “propina”... Lá se foram US$ 20.00!

Uma vez no chile – todos pedágios pagáveis através de cartão de crédito – o destino do dia é Pucón, em estradas de ótima qualidade, tanto que se passa praticamente dentro da capital, Santiago sem tráfego urbano. São viadutos e túneis que nos permitem passar a cidade a 110km por hora sem retardo nem preocupação. Serão nesse trecho, 1.138 km até o destino que se faz em 12hs30min. Como sempre fiz esse trecho a passeio, a pressa não viaja comigo! Então um pernoite em Talca ou arredores é bem conveniente!

Na bucólica Pucón recomendo ir com reserva de hotel – bom fazê-lo em todas paradas, é claro - muitas pousadas com pensão completa ou apenas com café da manhã incluso. A cidade por si só, é uma graça. Arquitetura colonial de procedência alemã, bem mais bonita e elegante do que a tão badalada Bariloche na Argentina, quase quatrocentos quilômetros à frente!

Pucón é uma localidade que podemos reservar quatro a cinco noites de estada, tamanho cardápio de atrações existentes. Rafting, riachos de águas quentes, vertentes de pequenos rios, enfim! Mas a mais desafiante aventura está em escalar o Villarica!



A escalada exige um bom preparo físico. Trata-se de um “trekking” muito bem acompanhado por agências que fornecem todo material necessário e guias bem treinados. São umas cinco horas de subida e recomendo fazer durante o Verão, para que fique apenas uns 25% sobre a neve pesada. Maior parte em pedregulho áspero, mas ainda mais leve do que caminhar sobre sobre a neve fofa, podem apostar!

Chega-se ao cume exausto. São 2.847 metros acima do nível do mar e a falta oxigênio é muito marcante. O ar rarefeito produz uma falta de ar massacrante. Na chegada ao cume a euforia coletiva é indescritível. Uma “injeção de endorfina no sistema” leva a Alma a uma alegria e um espírito de vitória impressionante! Apesar da subida ser orientada por profissionais do ramo, tive uma surpresa negativa com um susto real na sequência. Os diversos grupos que por lá chegaram, tomados de cansaço, se jogaram ao chão e deitados, relaxam a contemplar a vista espetacular da cidade! Sensação de estar a bordo de uma aeronave.


O susto: Pois minha curiosidade me levou adiante. Segui a buscar a origem daquela nuvem de fumaça – na verdade um vapor com forte cheiro de enxofre – e me deparei sem nenhum aviso, nenhuma plaquinha de advertência sequer e eu estava diante de um buraco de duzentos metros de diâmetro e um penhasco aos meus pés assustador em solo de puro gelo. Ali, uma cratera com 100 metros de profundidade, de pura brasa e um “resmungar de voz grossa” com estalos de eletricidade terríveis! Trovoadas como os raios em tempestade severa vindas com aquela fumaça entorpecedora! A fúria de um vulcão, nos faz sentir minúsculos diante de tamanha força, tamanha energia! Uma das minhas mais incríveis experiências! Aventura imperdível!

Ainda voltei a Pucón anos depois, dezembro de 2005 com Elaine, mas sem tornar a escalar, que curiosamente dez anos mais adiante - março de 2015 - teve sua última e perigosa erupção! Todo aquele mar de fogo, a magma, assim que atinge a superfície e se derrama pelos lados da montanha (passa a se chamar de "lava"!), essa, quanto mais distante, melhor!

terça-feira, 17 de outubro de 2023

 

132) O Mundo chora. Eu choro!

Em 21 de setembro último, publiquei uma crônica nesse meu "blog", comentando de que gostava muito de viajar, mas Israel... Fiz questão de iniciar minhas linhas com uma chamada que levantasse suspeita de que viajar ao Oriente Médio e em especial a Israel deixaria alguma dúvida de sua validade, para no texto declarar claramente do meu entusiasmo a uma das viagens mais interessantes que fiz, graças a riqueza da História gravada em cada pedra daquela desertificada Pátria Israelense.

Toda Israel é muito legítima como Sagrada para pelo menos três Religiões. São os Judeus, Cristãos e Muçulmanos as Religiões, em especial a Capital, Jerusalém. Mesmo que eu tenha apenas uma breve imersão de uma semana por lá, voltei mais rico na Fé sinceramente renovada! São tantos motivos para encantamento que mesmo que eu escrevesse um imenso número de crônicas, não cobriria o suficiente sobre tudo aquilo que se vê, sente e vivencia naquela Terra Santa!

Lembro das dificuldades e do forte controle na entrada do País. Comentei com alguns parceiros de viagem, de quão necessário aquilo se fazia existir, pois estávamos entrando no País mais ameaçado do Planeta! Por outro lado, a sensação tão confortável de transitar pela bela Tel Aviv – cidade com quase meio milhão de habitantes onde 74,3%  são Judeus - com a sensação de plena segurança, mesmo que tarde da noite em algumas de suas ruas desertas ou ainda à beira mar. Policiamento constante exercido por meninas do Exército que caminham em meio ao Povo, sempre portando um fuzil transversal às suas costas, na maior serenidade do Mundo!



Pois estamos a quase duas semanas, estupefatos pela violência reinante. Assistimos nos diversos canais de comunicação tudo aquilo que não se imaginava possível ser proveniente de algum Humano contra seu semelhante, não em mente sadia! São atos que ficam muito além do razoável mesmo em Estado de Guerra! O revide já acontece e não se tem ideia de até quando isso vai perdurar. Também nem se imagina a sua extensão e de quantas Nações ainda se envolverão nesse tsunami de sangue.

Muito triste e não há a quem apelar. A ONU que no próximo 24 de outubro, celebra seus setenta e oito anos de criação, comemora como o “Dia das Nações Unidas” e tem sua Prioridade Absoluta na manutenção da Paz Mundial, mas não logra o êxito que mereça aplauso ou sequer atenda nossas expectativas! Há que negociar sim, mas logo vem o questionamento maior, negociar como em meio de tanto ódio?

Aceitem minhas escusas se caio no “lugar comum”, batendo na surrada tecla tão exaustivamente tocada nos últimos dias. Acontece que fica muito difícil escrever alguma coisa fora desse nosso momento, desse contexto de desesperança e medo!

Que possamos reestabelecer a esperança de uma Paz Verdadeira que um dia teremos que resgatar, trilhando a senda do amor, ainda que com divergências naturais, mas negociáveis. Que a lembrança amarga possa de fato ser deixada para trás, através da ação do tempo, que todos sabemos que será lenta, dolorosa, mas inevitável de ser vivida, antes da condenação final da nossa Raça Humana.

Que todos os Sacerdotes do Mundo consigam levar seus liderados a uma atmosfera de Oração e Súplicas ao Eterno para um cessar hostilidades que tanto nos sangram, tanto nos fazem chorar! Mas que lamentavelmente identifico como hipótese viável somente em poesia, tal qual “Imagine” de John Lennon!

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

 131) Onde Buscar Forças para Voltar ao Paraquedismo?

Pois foi mês passado, 12 de setembro de 2023, a data que há vinte e quatro anos, tive um sério acidente de paraquedismo, com fraturas e muito próximo do óbito! Sorte, Proteção Divina ou talvez, não havia chegado a Minha Hora de partir! O Eterno, fez com que eu continuasse por aqui mais um pouco! O acidente já contei outras vezes nesse canal, mas agora vou adiante nas consequências e a vontade de voltar a saltar! Haviam traumas naturais do evento, no entanto eu "me prometia" superar e um dia voltaria ao aeroporto a voar com minhas próprias asas, ou melhor, com meu próprio velame!

RBS TV fez uma matéria de cinco minutos sobre esse acidente, que ainda pode ser visto aqui:  https://globoplay.globo.com/v/11631366/ 

Ainda hospitalizado, praticamente imóvel em uma cama, era carinhosamente visitado e recebendo pessoas queridas além de amados parentes, que me ajudaram na plena recuperação e literalmente me puseram em pé novamente. Ouvia, com justa razão, aquilo que se espera de quem nos ama de verdade:

- Muito bem Fausto! Agora chega, né! Paraquedismo é passado!

- Nada disso. Lamento contrariá-los! Voltarei a saltar sim!

Meu mano Percy, com seu humor refinado, em uma de suas visitas que me fazia diariamente, trouxe uma piada, que nunca esqueci:

- Tenho duas novidades, uma boa e outra ruim!

- Fala; começa pela ruim!

- A notícia ruim é que terás uma perna amputada e a boa é que já tenho cliente prá comprar tuas botas!!!

Segundos de um silêncio sepulcral e caímos todos em gostosa gargalhada! Essa foi a melhor no período de hospitalização! Visitar um paciente com "cara feia", ajuda em nada, só assusta. Aposto, "rir é o melhor remédio"!

Pois nem as dores e o reconhecimento de tão grave que foi tudo aquilo, em nenhum momento pensei em deixar o esporte para trás, por mais louco e arriscado que é, não o abandonaria! Uma séria ameaça nublava minha recuperação e a Equipe Médica. Até ao décimo quinto dia de internação, a fratura exposta do fêmur esquerdo, me mantinha com febre alta principalmente ao entardecer.

Isso valia dizer, revelado mais tarde, de que de fato, a amputação estava em uma das hipóteses do tratamento. No dia que estabilizou essa temperatura, deu correria no meu atendimento. Correria festiva! Na madrugada, transferido ao centro cirúrgico para finalmente cuidar aquele ferimento. Implante de haste de aço cirúrgico com 48 cm. intra-femural. Pleno êxito, graças a habilidade de dois grandes Traumatologistas, de Porto Alegre: - Dr. João Ellera Gomes e Dr. Luiz Roberto Marczyk. Os melhores do Brasil!

Cuidei meu tratamento, em especial à fisioterapia, por um período de dezoito meses, de forma séria, quase “doentia” tamanha disciplina auto imposta. As dores para recuperar articulação e alongamento dos músculos das pernas foi muito penosos! Três vezes na semana, lá estava a gemer e contorcer fazendo todos movimentos orientados com garra, coragem, força e muita vontade.

Cumpri meu primeiro “alvo”: Ficar em pé, abandonei cadeira de rodas e veio o de caminhar, na sequência, correr. Esse último, eu visava exatamente a voltar a saltar! Acontece que no momento do pouso se exige uma “corridinha”! Durante três anos, dois meses e três dias, essa foi minha fixação mental. Precisava agora criar um fato que materializasse esse momento, marcando minha melhora definitiva e me "dar alta", apto ao PQD. Veio a ideia de fazer a trilha “El Camino Inka” no Peru. Teste severo de quatro dias, a decretar finalmente meu retorno, pondo um coroamento bem-sucedido de minha recuperação! E assim foi feito! E lá fui eu!

 


Acompanhado dos amigos Luiggi C. e P. C. Jardim a percorrer o interior do Peru e enfrentar o grande desafio dos Andes, com a desafiadora trilha até Machu Picchu. Um absurdo o que aquela aventura exige de nossos músculos, paciência e perseverança. Gloriosamente vencido todos osbstáculos – em especial aos que atormentam nossa mente traumatizada por acidente envolvendo membros inferiores – veio a feliz conclusão de que eu superara tudo e me punha apto a voltar ao paraquedismo!

Parte física recuperada. Parte técnica: O esporte se assemelha a outro, mais perigoso de todos esportes, do ponto de vista “letalidade”, embora ignorado por muitos, o ciclismo! Sim, a bicicleta mata mais, muito mais! No entanto, a referida parte técnica responde de quem aprende a pedalar que jamais esquece suas nuances, então eu estava novamente pronto a saltar!

Novembro de 2002, juntei-me a um grupo de paraquedistas para o “Booguie Internacional” em Salto no Uruguai. Juntos, brasileiros, argentinos e paraguaios, além dos anfitriões! Uma grande aeronave – motores turboélices - transportava até vinte atletas subindo rapidamente aos 14.000 pés e lá em cima, o ponto de saída!



Mãos suadas, mas sob confiante planejamento a uma queda livre até os 4.000 pés, executando movimentos previamente combinados para um “two-way” com Álvaro Duarte, o Vídeo! Amigo que me acompanhou desde o acidente até  novo “debut”! 

O ronco dos motores emociona e na altura prevista esse ronco corta, silencia, diminui a velocidade acende a luz verde. É o Ponto de Saída.  Batimento cardíaco sobe absurdamente. Abre-se a porta, ar gelado entra ruidoso e violento na cabine. Os parceiros se olham sem uma palavra sequer, todos tomados de muita seriedade. Grupos acertados tomam a saída e despencam. Cada saída, se ouve um som forte de deslocamento de ar. Um som surdo com o tomar de um soco de ar de mais de 200 km/h.

Agora toda tensão nervosa naquele misto de pavor, adrenalina em nível quase insuportável se acaba como num passe de mágica no instante que se toma o vento na cara, da queda livre. Esvai-se o medo na velocidade da luz e como num raio nossa mente se inunda de endorfina com glória e uma alegria indescritível! Não há palavra que traduza o que se sente nesse momento espetacular! Só “indo lá e encarando”, para entender e reconhecer o que todo sacrifício e medo são tão ricamente compensados em larga margem!

Todos apreciam assistir ao paraquedismo através de fotos, filmes com seu belo colorido dos velames abertos, mas é na queda livre a grande emoção do paraquedista. Sentimento de endeusamento temporário que toma conta da alma e espírito de todo atleta! 

Voar não é exclusividade dos pássaros. Ícaro, filho de Dédalo já tinha experimentado, conta a Mitologia Grega, mas muitos duvidam desse glorioso prazer, que é real!

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

 130) Meu Primeiro Sonho: “O Meu Carro!”


Lá pelos meus quinze anos de idade, grudado no volante, fiz minhas primeiras “mudanças” de câmbio no caminhãozinho de quatro marchas de "caixa seca" do meu pai. Um Opel 1951, verde com para-lamas pretos. Foi o Percy, meu Maninho, que me entregou pela vez primeira a direção desse veículo a iniciar o encantador aprendizado de dirigir! Na sequência, Danilo e por aí fui me habilitando até obter a primeira Carteira de Motorista Profissional, patrocinada pelo Exército. Fiz os exames como Cabo, a Serviço das Forças Armadas, numa DKW Vemaget do cunhado Rainer! Agora eu podia dirigir, sem me esconder da fiscalização de trânsito da cidade!

Desde os primeiros metros a dirigir, me apaixonei pela arte da direção. Eu sentia no sangue o poder da máquina, a movimentar tamanho peso de um veículo no simples pressionar de um pedal, chamado acelerador! Era algo – ainda o é – impressionante ao mesmo tempo emocionante o domínio sobre rodas. Fazia-me sentir tão poderoso!

 


Ouvir o ronco da máquina, até hoje me seduz, em especial dos grandes motores. Fico babando quando uma moto de quatro cilindros acelera e faz seus câmbios em boa velocidade! Quando guri, gostava de ouvir um ônibus da Planalto que passava pela minha Cidade, que ao partir da rodoviária, eu acompanhava-o a ouvir a música que seu motor produzia, cortando o silêncio do “tarde da noite” de Jaguari!

No meu último ano “em casa”, 1968, passei a sonhar que um dia – quem sabe – teria meu próprio carro, que certamente seria o cobiçado “Fusca”! Passei esse período do ano todo, ouvindo na Escola, a chegada do Professor de Química, um Médico que tinha um Fusca azul, que ao se aproximar do prédio, reduzia a terceira marcha para uma segunda, e estourava aquele “potente motor”, um 1.200 cc, até a esquina e fazer o retorno. Aquilo era a glória de dirigir! A inveja quase perfurava meu estômago!

Ano seguinte vim morar na Capital, a perseguir o tal de obrigatório Curso Superior, senão, segundo minha Mãe, nunca seria ninguém!

Óbvio que o primeiro passo era arrumar um emprego! Três semanas morando na Capital e estava empregado, trabalhando. No primeiro salário e todos os outros, um pesado percentual era destacado à compra de uma Letra Imobiliária para no futuro – que seriam muitos e muitos anos à frente – comprar tão o sonhado carro. Quinze meses depois, buscando oportunidade de melhor salário num banco e lá fui eu cada vez mais obstinado em atingir o grande alvo!

Mais um ano nesse novo trabalho, um Banco de Investimento, surge o convite a ser Assessor de Operações com responsabilidade em venda de financiamentos, entretanto, o banco exigia ter o próprio veículo e facilitava generosamente com financiamento para sua aquisição e lá estava eu, 1971 comprando o Fusca branco usado, mas do mesmo ano, 1970 realizando tão sonhado alvo! “Aquilo” que parecia tão distante se realizou tão rápido que nas primeiras noites, como “proprietário de um carro”, não conseguia dormir!

A atividade profissional consistia em visitar empresas, indicadas por um banco comercial gaúcho – sócio do bando de investimento em que eu trabalhava – levando projeto para grandes investimentos em construção de indústrias através de suas fábricas, metalúrgicas, etc. Época de fomento muito forte a esse tipo de recurso. Trabalho prazeroso, isto é, também realizando sonho de empresários em seus empreendimentos!

Coberto as visitas agendadas para o Vale dos Sinos, chegou a vez de subir a Serra e a primeira cidade focada, Farroupilha. Eu estava há 45 dias na atividade e viajar, dirigir o MEU CARRO, era algo glorioso. Nesse dia preparei-o para viagem com verificação de óleo, calibrar pneus, abastecer e pegar estrada e quase sem me dar conta, eu fazia isso cantando! É. Na verdade não tinha rádio a bordo! Aquilo ainda era um luxo!

Viajando, em São Sebastião do Caí, na travessia da cidade o piso asfáltico  era esburacado, no entanto, logo na sequência, estrada nova de ótima qualidade. Logo ao entrar nessa nova pista, onde havia um posto de gasolina de onde sai, as pressas um Jeep da polícia, com “Zé Taioga” ao volante. Entra “a moda louca” na pista principal e me bate. Choca seu para-choques no para-lamas traseiro arrancando-o, desequilibrando a direção, fez capotar por quatro vezes, segundo testemunhas. Fiquei só com o susto! Minha ação prática, nem deu para frear ao prever o choque. Simplesmente pressionei fortemente o volante para me manter no banco e a “coisa rolou”! Não tive um arranhão sequer, mas meu fusca, destruído!



Levaram-me para o hospital contra minha vontade, para lá se confirmar que eu escapara ileso! Voltando ao local do acidente, o Jeep agressor tinha desaparecido e minha “sucata” esperando remoção. Soube mais tarde, que tudo foi feito às pressas por que o tal motorista tinha no almoço, ”comido muito churrasco”... Em outras palavras: Bêbado!!!Era para ser assim, carro, apenas um sonho! 

Nada disso! Bons sonhos devem ser preservados, não a qualquer preço, mas qualquer esforço. Numa época em que seguro de carro não era do cotidiano – óbvio que eu não tinha – mas contando com a boa vontade do meu empregador, novo financiamento, de novo com juros próximos a zero, lá estava eu um mês depois, com um novo fusca, dessa vez um 1970 “modelo” 1971, azul clarinho. Esse sim, só me deu alegria e o seguimento de um trabalho, viajando quase 5.000 km a cada mês, por todo o Rio Grande!

Assim foram os dois anos seguintes com muita estrada, muito pneu furado e muitos passeios até vir o carro seguinte, um Corcel preto me encorajando a viagens maiores e com o prazer de dirigir mantido até hoje!