138) La Carretera Pan-americana!
Em julho de 1974, aproveitando as férias da Faculdade de Administração, me matriculei na Academia Kidokan em Porto Alegre, para treinar karatê, estilo Wadô. Tive a oportunidade de participar da "Aula Inaugural" do Mestre Mutô Takeo Suzuki, que recém voltara do Japão para o Brasil para Ministrar seu Budô - Metafilosofia do Zen Budista, Jornada de Iluminação Espiritual – associada às Artes Marciais. A intenção na minha ingenuidade, ou ignorância sobre o assunto, era o de que em um mês aprenderia a lutar karatê e pronto! Não fazia ideia de que a Senda a ser Ensinada pelo Monge Budista, era longa e completamente distante da minha ideia idiota e malformada!
Percebi a realidade e despertado extremo interesse, me mantive treinando com Suzuki por cinco anos, até 1979! Parei por um tempo, quando aconteceu minha mudança, por razões profissionais, ao Rio de Janeiro, onde permaneci por três anos. Voltando a Porto Alegre, só retomei o karatê, em 1994 a treinar na academia do seu Discípulo, já que ele voltara ao Japão, seu melhor aluno, Professor (Sensei) Nelson Guimarães e com ele por mais cinco anos até o acidente no paraquedismo que me prejudicou severamente os "movimentos" e na sequência, preguiçosamente “relaxar”, guardar o Kimono e minha honrosa Faixa Preta!!
Diante disso, passei a praticar somente dos programas anuais de Encontros – esses Ministrados pelo Mestre Suzuki, vindo do Japão exclusivamente para esses eventos – denominados Gasshuku! (Significa todos sob o mesmo teto!) Onde é ricamente feito treinamento intensivo com a prática de “Zazen”, exercício da difícil concentração a esvaziar a mente. Os treinamentos de karatê, pelos três dias inteiros, acontecem numa convivência fraterna onde o aprimoramento técnico e mental é muito eficiente.
A cada ano muda o lugar onde o Mestre já esteve e tenha deixado um de seus Discípulos preparados. No Brasil, foram alguns em Gramado, Nova Petrópolis (RS), Ouro Preto, Brasília, Jundiaí e Ribeirão Preto. No entanto, o mais “curioso” Gasshuku que participei - pelo ineditismo do local - foi em 2003 no Equador, em um Mosteiro na pequena Montalvo, localidade retirada do meio urbano em meio às montanhas, pré-cordilheira dos Andes de uma cerrada selva tropical, distante 105 km de Guayaquil!
Ainda no Brasil, foi minha primeira dificuldade em como chegar a Guayaquil e em especial, a que cu$to! Aproveitei um saldo do programa de milhas da VARIG que me levaram até Lima, no Peru. Dali em diante, o melhor desafio: Ônibus até Guayaquil! Poderia até parecer um sacrifício imenso transitar por 1.465 km, durante quase vinte e quatro horas! Creiam-me, não foi.
A empresa de transportes local, "Linea de Los Andes" possui uma frota de ônibus leito novos, carroceria brasileira, a Marcopolo, poltronas totalmente reclináveis (180 graus!) que se repousa com muito conforto, apesar da longa distância. Creio firmemente que o trânsito nessa estrada foi uma das coisas mais interessantes da viagem, pois avião é tudo igual, mesmo sendo na saudosa VARIG!
A Carretera Oficial Pan-americana no percurso da América do Sul, se inicia em Valparaíso, no sul do Chile e se estende até a cidade Panamá, no Panamá, por óbvio. Construção primorosa de excelente asfalto e trânsito por paisagens que valem a pena, algumas de semelhança a "paisagem lunar"! Não só beleza, mas coisas curiosas que glorificam a viagem e nos chamam atenção!
Cerca de 50% dessa rodovia - eu creio - passa pelo meio do nada. Transcorre em paralelo a duzentos metros do Oceano Pacífico, e a paisagem a Leste, nos reserva uma cor parda, sem vegetação, sem água, córregos ou rios. Dá-se a impressão de que ali não sobrevive nem lagartixa! Entretanto se passa por alguns vilarejos de absurda pobreza: Existe Humanos vivendo por lá! Durante o amanhecer, me chamou atenção que aquela região ainda meio desertificada, tinha pontos coloridos, multicores. Foquei e a percepção de que a intensidade do estranho colorido, não eram absolutamente flores, que aumentava rapidamente sua intensidade até seu abrupto ápice de cores! Era um "crime", nada mais nada menos do que uma montanha de uns dez metros (um edifício de três andares!) de milhares, milhões de frascos plásticos jogados fora. Copos, "pets" de refrigerante, bebidas, detergente, etc... Lixo, sem chance, sem mecanismo ou programa de reciclagem! Lamentável!
Na sequência, uma parada em um pequeno vilarejo de controle aduaneiro. Estávamos saindo do Peru e entrando no Equador. Todos desembarcam portando seus passaportes para identificação e trâmites burocráticos regular entre Nações. Descendo do ônibus, ao pisar no solo, um ”ruído crocante”, de quem pisa sobre mais e mais vasilhames de plástico já esmagados pelos veículos e transeuntes. Uma grossa camada de “pets” reveste o solo numa quantidade de lixo assustadora. Aquele cheiro nauseante de plástico aquecido ou sendo derretido pelo rigor dos fortes raios solares sobre o asfalto. Dá dó de quem vive em tal situação intoxicada, constrangedora!
Quem viaja deve se preparar para encantos das paisagens bem como interpretar as mensagens de alerta e aos perigos de oque estamos fazendo com o nosso Planeta! Se não der para fazer nada, e não dá, por falta de força política, econômica ou qual seja, que pelo menos tentemos conscientizar os que nos cercam. É de fato triste ver que alguns setores da nossa sociedade parecem especializados em destruir nossa própria Casa! É a realidade dos nossos dias!
Vivi, como resultado desse belo passeio, vigorosa aventura cheia de enriquecimento cultural com aprendizado que solidifica e me dá autoridade de chamar atenção a todos os que me leem, que viajar além de muito gratificante, é oportunidade viva de desenvolvimento pessoal e profundo aculturamento!