quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

141) Se Fui Assaltado? Claro, né!

Constante pergunta que nos fazem e na década de oitenta, período em que morei no Rio de Janeiro, relatava “minha ex” que sempre tinha uma nova história para contar trazida de suas visitas aos familiares e amigos da época. Todos tinham uma dessas desagradáveis abordagens do “amigo do alheio” para contar. Parecia uma disputa de quem tinha tido o mais interessante evento em questão! E essa pergunta muito doida, era o “tema de abertura” dessas gloriosas reuniões! Pauta obrigatória!

Pois passei ileso pelos três anos que por lá morei, sem assistir a um assalto sequer, daí minha convicção de continuar chamando minha morada passageira, de Cidade Maravilhosa! Em todos os sentidos a antiga Capital da República me acolheu de forma absolutamente maravilhosa, a ponto de guardar saudade sincera até hoje! Para mim, “O Rio de Janeiro continua lindo!”

Pouco tempo depois do meu retorno a Porto Alegre, tive uma imperdível oportunidade de me atualizar e me auto incluir nessa estatística até então ignorada: - Era Verão e eu já estava em processo de separação da esposa, a Mth. Marcamos um encontro a noite, para discutir e acertar detalhes materiais da separação, já que nessas alturas, era consensual. Depois de algumas discussões ásperas próprias no trato do delicado assunto separação, foi possível o trato “civilizado” entre as partes e os acertos foram concluídos de forma razoável...

Já tarde daquela noite, assunto encerrando e voltando ao local onde deixara meu carro estacionado, rua próximo ao Parque da Redenção em Porto Alegre e como gentileza eu dirigia o carro dela. Ao estacionar, em local, reconheço nada recomendado, em meio a escuridão e acontecia os últimos detalhes de conversa. Demoramos um pouco, tanto que por duas vezes senti uma estranha sensação de pânico passageiro, tipo um “arrepio na espinha", pois era tarde e o local de fato parecia ameaçador! Mais um minuto de conversa, foi quando abruptamente bateram forte nas janelas - na minha e da carona - e bateram com o cano de seus revolveres, dois criminosos, rosto limpo sem máscaras, sincronizados e com precisão. Quase quebraram os vidros, gesto propositadamente ameaçador, como manda  o “protocolo dos assaltantes"!

Portas abertas e em ação muito rápida nos jogaram para o banco de trás do Escort e adentrou um terceiro assaltante, todos portando suas armas de fogo. Ao meu lado, um com o cano pressionado na minha axila; o bandido do banco do carona a frente, com um dos revólveres no meu pescoço e o outro na cabeça da Mth. Ordem aos gritos histéricos para nos abaixarmos e “calar a boca” e o carro zarpou cantando pneus!

Não consegui é ficar calado. Eles, em um nervosismo impressionante – afinal um tinha recém feito dezoito anos – e foi esse mais jovem que me “assediava a axila”, quem engatilhou sua arma me provocando um "novo calafrio no corpo inteiro, mas curiosamente e nem sei como, mantive a calma e falei compassada e cautelosamente:

- Muita calma pessoal, o assalto de vocês já foi um sucesso! (Quando contei isso aos amigos, riram questionando se àquela hora era adequada para "Palestra de Motivação!")

- Cala a boca!

Resolvi concordar pacientemente e me manter no silêncio! Foi quando começaram as ordens do me dá a carteira, tira relógio, joias... Mth desesperada chorava de cabeça baixa. Esperta, habilidosamente tirava seus anéis, correntes, medalhas de ouro, etc. despejando tudo dentro de seu sutiã,  salvando gloriosamente suas joias!

Eu portava pouco dinheiro, mas tinha como “moeda de sorte” uma nota de vinte dólares e um relógio que agradou muito! Pouco mais de uns dez quarteirões após, pararam o carro e graças ao meu Anjo da Guarda, nos enxotaram para fora!:

 - Vaza, vaza!

"Vazamos"! Meio tonto, zumbido profundo na cabeça mas com uma grande sensação de alívio, garanto, nunca antes experimentado! Tentando me localizar, pois tudo estava turvo em minha mente, mas que depois de alguma aspiração profunda percebi que estava abandonado próximo ao Planetário da Universidade, bem perto da Central de Polícia. Recomposto, fomos até lá “dar queixa” e acionar amigos para nosso resgate...

O carro roubado,  localizado no dia seguinte próximo de onde tudo aconteceu. Quase nem rodaram. Passado um mês, fomos chamados para tentativa de identificação de um dos suspeitos na mesma Delegacia. Mth cheia de “má vontade” com a identificação antecipou, que não falaria nada. Ao chegarmos diante do vidro espelhado com o menino sentado lá dentro, gritou:

- É ele!!!

Alegou na sequência que não tinha intenção de identificar o indivíduo, "porque de não adianta nada", mas levou um susto reconhecendo a cara do guri e percebeu que a "coisa" era real! Estava diante do jovem bandido! Daí soubemos de sua tão precoce idade: Dezoito aninhos! Realidade cruel de nossos dias em que o crime tende a tomar o desgraçado rumo de que "vale a pena transgredir"! 

Como tudo na Vida, foi muito ruim, mas passou! Tudo passa! E a valiosa aprendizagem ficou por conta de que devemos acreditar em um certo tipo de aviso, como o meu "arrepio premonitório"! É, tenho tido em importantes momentos da minha vida, essa chamada premonição! Sim. Foram dois avisos em que tive o tal de “arrepio” e não dei o merecido crédito. Não dei a importância ao Aviso daquele meu Anjo da Guarda, que por menor que seja nossa Fé, “Eles” existem! Ah, existem sim! Creiam!

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

 

140) Caçar ou Pescar? Eis a questão!     

Na crônica n. 106 escrevi da minha predileção clara às caçadas em detrimento às pescarias, primeiro que sempre gostei das armas de fogo e segundo, por ser “um pouco ansioso”, sem paciência a esperar que um peixe dê preferência à minha isca e vir justamente ao encontro do meu anzol, a premiar minha cruel e egoísta conquista! Claro. Sempre terá um amigo ou parceiro da pesca ao lado, a concorrer com a sua isca...

Esse tipo de escolha entre pescar ou caçar, ou ainda, ambos, costumeiramente vem de berço, herda-se dos pais, irmãos e parentes mais próximos. O mesmo ocorre com qual time de futebol torcerá... Raros são os casos em que o herdeiro opta, talvez por contestação ou “birra” de filho rebelde, que torcerá para o  rival do papai! Mais lógico, harmônico é “acompanhar o velho”!

Pois foi meu sentimento de lealdade ao meu pai e irmãos, que me tornei adepto às caçadas de perdiz, (não é caçada de perdizes não, é perdiz mesmo, no singular pois eu abatia uma peça e ERRAVA todos outros tiros!). Mesmo assim, sem interesse às pescarias. “Ressalva parcial”: Enquanto adolescente e até meus vinte anos, morando em Jaguari, eu e meus amigos mais próximos – pertencentes ao The Crasies Club – fazíamos frequentes “pescarias” numa colônia, propriedade do meu velho, no meio do mato e à beira do rio que dá o nome a minha cidade, sem, no entanto, levar nenhum aparato de pescaria! Quando o Cauby, único pescador do grupo, levava vara de pescar e outras coisas de pesca, a gente escondia...

Só o curtir da “vida na selva”. Fumando cigarro de palha, dormindo sobre pelegos em barraca, fogo de chão com panela e chaleira de ferro e banhos de rio! Ainda hoje sonho acordado sentindo o cheiro da fumaça e o crepitar da lenha de angico ao fogo de chão!

Entretanto, muitos anos depois, o único pescador daquele grupo, Cauby Scolari, me convidou a uma “mega pescaria” no rio Paraná em Ituzaingó na Argentina. Local à beira do caudaloso rio, com infraestrutura primorosa para acampamento, cabanas com luz elétrica, água encanada, banho quente etc., além de instalações completas – ainda que ao ar livre – para atividades de cozinha e churrascaria! Com conforto e segurança, o grupo com cinco pescadores, todos acompanhados de suas esposas! Evidentemente aceitei o destacado convite e me incorporei à “trupe”! Os quatro pescadores – exclui minha responsabilidade – levavam o assunto de pescar muito a sério. Equipamentos completos com lancha de motor potente e até um sonar a bordo que com uma pequena tela mostrava os cardumes abaixo da embarcação. Muita sofisticação! Pesca de caniço como permite o licenciamento local. Claro que tomei um emprestado, pois nada tenho nessa área esportiva!


Instalação perfeita, ajustada e aconteceu o primeiro dia de pescaria. Levantamos cedo, contratado um profissional argentino a rastrear os cardumes e lá subimos alguns quilômetros rio acima. Pescamos o dia todo, com resultado de quatro peixes pescados: Um pequeno surubi, uma pequena Piava, outra Piava de bom tamanho e um Dourado de 48 cm. Quem pescou o que? Os dois últimos peixes e de maior tamanho foi o Pescador aqui, que agora escreve essas linhas... Sim, fui eu! Evidente que todos muito magoados, frustrados  com seus desempenhos, vociferavam em alto e bom tom sem nenhum pudor de me jogar na cara:

- Sorte de um principiante de merda!

A gozação correu solta e não me deixavam falar, sob pena de vetarem minha participação na cerveja! Diante de tal risco, evidente que me calei!

A retirada do tal Dourado da água durou meia hora, sob gritaria de todos, dando as mais diversas orientações, mas sempre aos berros de total histeria! Aquele momento, de mais de trinta minutos, foi algo absurdamente excitante! Tinha visto num filme com Brad Pitt de como se tirava o peixe da água: "Puxa o caniço que se enverga e se solta para acionar a carretilha encurtando a linha!" Os apupos de toda torcida foram delirantes! Claro que todos param tudo para ver aquele momento espetacular do parceiro que fisgou o peixe! Depois de uma luta incrível de um peixe com muita força, o enorme "animal" de cor que lhe dá o nome, salta para fora d'água reluzindo seu belo visual, que emociona a todos! O "sussurro, é de um gol em estádio cheio!" O batimento cardíaco vai lá em cima, suor, boca seca e a emoção tão forte, que depois eu comparava com eles no acampamento, ao de “sair da aeronave”, num salto de paraquedas! Simplesmente glorioso! Emocionante demais!


Nos dois dias seguintes “eles” pescaram alguma coisa, que nem me cabe mais comentar! Mixaria! Prefiro ficar apenas com a orgulhosa glória do primeiro dia!

Por consequência, fiquei muito entusiasmado ao novo esporte que me considerei incluído! Na sequência algum tempo depois, voltei com Cauby ao mesmo lugar na Argentina e o resultado decepcionante foi de zero absoluto. Junto se foi meu entusiasmo água abaixo, somado a julgar a grande distância percorrida de 1.536 km (ida e volta) e adequação de tempo, final de semana, feriado para todo esse deslocamento e investimento. Não voltei mais a pescar!

Com a caça proibida em todo Território Nacional, volto a me manter sossegado, quieto e focado às viagens e incursões a cidades e centros urbanos preferencialmente sem mosquitos, para minha plena diversão!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

139) Afinal, e o Dia do Professor?

Quando se comemora o Dia do Professor? Não sei mesmo quando se comemora, parece que cada País tem um dia específico, outros nem comemoram. Mas cá para nós, todos os dias deveríamos celebrar a presença “deles” em nossas vidas! Seja lá na Escolinha onde fomos alfabetizados e até o último degrau de um Pós-Doutorado. Eles nos transferem informações que se convertem em conhecimento e na evolução disso tudo, um pouco de Sabedoria! Merecendo uma ressalva que li recentemente, na verdade um sinal de alerta em uma frase que diz: “A forma arrogante como algumas pessoas estudadas tratam pessoas que não estudaram, demonstra que estudar não garante educação!” De fato Educação, essa vem do berço!

Todos nós temos alguns Mestres que marcaram passagem em nossos bancos escolares, que a gente lembra o nome e muitas vezes lembrará para sempre, por uma ou algumas razões, fatos positivos e não vamos ser cínicos, alguns marcam com pontos negativos também! Claro. Há também dias em que “a casa cai”, como disse o poeta!

Dos nomes que ficaram gravados na minha memória, cito primeiro os cinco que já se foram para o Oriente Eterno, os que ainda estão no nosso Plano, prefiro reduzir nominata pois sem licença adequada corro risco de expô-los gratuitamente. Alguns deles “até leem” minhas crônicas!

Mas a Irmã Romualda, no Ginásio São José, de Jaguari, foi quem me alfabetizou; no Primário Daili Machado; a boa matemática com Ernesto Azevedo, depois Dr. Eudo Giacomelli; Contabilidade Davi Machado; Economia Astor Hexsel. Ainda mais três Professores que merecem meu reconhecimento, felizmente vivos: Nas Artes Marciais Takeo Suzuki e Nelson Guimarães e no paraquedismo Lasiê Pacheco! Teria pelo menos mais alguns  milhares a somar que me ensinaram muito, precisamente enquanto fui  Professor, lógico, os meus alunos! Na Diretoria de Educação da IBM, Sebrae, PUCRS, FGV, Academia de Polícia dentre tantas outras Instituições onde tive a enriquecedora e grata Atividade de Ensinar!



Sim, lecionar ou fazer uma simples palestra exige muita leitura, pesquisa, estudo, dedicação! Me parece justo afirmar que ser Pai/Mãe tem forte semelhança ao Magistério, mas seguramente bem mais complicado, oneroso, sofrido, que por conclusão, se trata de uma preparação infinita e de resultados incalculáveis e imprevisíveis! Às vezes surpreendentes pela excelência ou até mesmo pelo rotundo fracasso. É nesse ponto que as semelhanças se aproximam ainda mais, onde a única convicção restante é de que não sabemos como será o resultado final de todo esforço aplicado!


Contar com reconhecimento? Bom. Aí fica bem mais difícil. Quantas vezes lembrei - como filho - de fazer pelo menos um agradecimento ao meu velho, mas que não fiz na hora devida? Pois me dei conta do Mérito depois de sua Última Despedida! Tarde demais e o remorso corrói por dentro sem cessar e para sempre! Mereço essa "punição" do remorso, afinal de contas qual foi a razão de não tê-los cumprimentado, agradecido no momento certo? Apenas me descuidei imaginando os, eternos!

Fui plenamente agraciado por reconhecimento de forma coletiva dos meu alunos do passado, ao ser convidado para suas cerimônias de formatura como Professor Homenageado e uma vez Paraninfo! Nesse quesito, fiquei milionário, vaidades enriquecidas principalmente no período de dez anos em atividade na PUCRS!


Curiosamente recebi a mais curiosa homenagem, de uma forma simples, mas de um ineditismo que merece nota: Professor Suzuki - quando visitei-o no Japão - me conduziu a um restaurante de comida caseira para um almoço em Tóquio, local que era seu consultório de acupuntura, até o meio dia, depois se convertia em restaurante. Lá é assim, carência de espaço físico, aproveitam tudo... Pois me apresentou ao proprietário, seu amigo, como Professor numa Faculdade no Brasil! Proprietário expressou entusiasmada emoção com seus gestos de reverência que nunca vi. Na sequência trouxe sorrindo, um frasco e em um cálice de aço inoxidável brilhando, previamente gelado e serve, segundo garantiu, o melhor saquê do Japão! Foi glorioso! Espetacular! 

De fato um gesto sem exageros protocolares, que me pegou fundo e lá se vão quase trinta anos e não esqueço sua alegria e minha felicidade com suas honrosas mesuras! Conclusão: No Japão, Professor é muito respeitado!!!