quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

 144) Oeste da América do Sul (Parte I)

Foram "exageradas" vezes que afirmei minha predileção por viagens terrestres. Entretanto em abril de 2002, me juntei aos meus amigos Luiggi e Jardim, para um interessante percurso da Região Andina, que para facilitar e otimizar o tempo, fizemos um programa rodo aéreo, começando em voo até a capital boliviana, La Paz. São 3.640 metros acima do nível do mar, que apesar de alguns medicamentos tomados na véspera, ainda no aeroporto de São Paulo, me ocorreram sintomas curiosos quando ao sair da aeronave caminhando pelo “finger”, senti o rigor dos primeiros sinais da falta de oxigênio. Tontura, nada demais mas já com prenúncio de dor de cabeça, que veio mais tarde um tanto vigorosa! A adaptação às grandes altitudes não se dão rapidamente, entretanto, seguindo recomendação local mascando algumas folhas de Coca – que se encontram em qualquer esquina da cidade - arrefecem esse sintoma muito chato, mas tolerável!


Nessa primeira parada, a sequência foi iniciando viagem com uma “van”, nas cercanias da Capital. Primeiro a interessante Tiwanaku, ou Tiahuanacu, sítio arqueológico pré-colombiano, um dos maiores da América do Sul, com estruturas monumentais em blocos megalíticos. Os restos de superfície cobrem cerca de 4 km. quadrados e incluem curiosas cerâmicas decoradas!

Na sequência, em direção ao Peru visitamos à cidade de Copacabana - ainda na Bolívia - banhada pelo lago Titicaca, que ninguém afirma convicto se esse nome foi herdado do conhecido bairro Carioca, ou ao contrário, no entanto a curvatura do lago que banha a cidade lembra muito claramente o bairro do nosso Rio de Janeiro! Cidade considerada como a mais bonita do País!


Depois, 150 km. adiante rumo ao Norte, ultrapassando a fronteira com o Peru chegamos a outro ponto importante: O Lago Titicaca. Esse, é o lago navegável mais alto do mundo – junto ao altiplano da Cordilheira dos Andes – a quase 4.000 metros acima do nível do mar com seus 8.300 quilômetros quadrados de área alagada. Aqui próximo a cidade de Puno - mas dentro do lago - se encontra o ponto mais interessante do percurso, “las Islas Flotantes de Uros”! O Povo de Uros, aproximadamente 2.000 habitantes, construíram suas ilhas utilizando Totora, planta aquática nativa da Região,  base da ilha flutuante e composta de um conjunto de camadas sobrepostas que se deterioram a cada quinze anos e serão novamente sobrepostas em novas camadas quando as inferiores se desintegram .

 

Ao caminhar sobre a “ilha de palha”, casas da mesma palha que boiam no Lago, se sente a instabilidade típica de algo enorme e flutuante. Entretanto  o povo vive harmonicamente com sua curiosa realidade. Reservam entre as casas – construídas, como disse, da mesma vegetação - até espaços semelhantes a pequenas praças, onde vimos meninos jogando futebol na maior alegria do mundo. Alimentação é composta pela pesca e aves com seus ovos que coabitam em sua ilha! Pesquisadores afirmam que se trata de um povo ainda mais antigo do que os Incas.

Antes do relato da segunda fase dessa vigem, respondo um questionamento que sempre fica no ar, é de como a gente se alimenta nessa região. Pois bem, sempre ficará devendo e muito aos passeios aos restaurantes do Uruguai e Argentina. Claro, lá são países em que se come as melhores carnes de gado do mundo, não dá para comparar com mais ninguém... Mas nessa Região também tem mesa farta. Como sou de origem alemã, não dispenso a tal de batata inglesa em nenhum prato. Seja a batata frita, puré e assim por diante. O curioso é que na verdade, a “batata inglesa”, não tem nada de inglesa a não ser o mérito de sua divulgação e tornado como um dos tubérculos mais consumidos no mundo! A batata é daqui, ela é peruana... Pois a batata foi descoberta aqui e levada para a Inglaterra e de lá para o resto do Planeta. O alho, que eu detesto, felizmente não tem por aqui seu uso tão costumeiro!

Próximo destino será a Capital Peruana, Lima. Onde alocaremos expedição a ser tomada em Cusco, direção a Machu Picchu. Luiggi tomará outra direção, Nazca, ficando a aventura de “Los Caminos Inkas” por conta do Jardim e eu, para contar um pouco mais na semana que vem!

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

 143) Os Duzentos Anos da Imigração Alemã ao Brasil!

Dois Séculos da Imigração Alemã é motivo e razão de celebração! Rio Grande do Sul é onde tudo começa. A miscigenação de raças do nosso Brasil, é resultado de tantos desafios ocorridos pelo Mundo a fora, que em busca do Novo Mundo, a Alemanha nos traz esse rico legado e é graças a ele, que cá estou a viver com profundas raízes e a que tudo devo!

A razão dessas imigrações notáveis, sempre se deram por conta de alguma necessidade de expansão territorial. Também a provocação sempre existente no “Inquieto Animal”, o Ser Humano! Já no Antigo Testamento, a Bíblia bem como no Torá (Pentateuco), lemos registros da primeira grande movimentação humana conduzida por Moisés – o Êxodo – na busca da Terra Prometida. Não somente lá, são muitas as dificuldades que até hoje reinam agressivamente, quando assistimos entristecidos, as sangrentas disputas por mais um “palmo de terra”, seja pelo solo ou subsolo!

Brasil, Terra Farta de dimensão continental, afinal de contas detém 7% das terras continentais do planeta, sempre foi um atraente território a ser trabalhado, as vezes explorado gigantescamente na busca de meios de sobrevivência ou cumprimento de ambições vorazes por riquezas de grande valor material. Na Terra “onde tudo o que se planta, dá”, sempre será atraente a todos os Povos do Planeta!

“Agora”, no Século Vinte, 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru, nos trouxe ao porto de Santos, 781 laboriosos japoneses a trabalhar em São Paulo, focados na cultura do café. Vieram de um País de escassos recursos territoriais. Japão, é quase um conjunto de ilhas cujo solo nada promete, quando perto de 80% de seu território, é desertificado onde a agricultura é impraticável! Resultado disso, é que temos no Brasil a maior população japonesa ou de origem japonesa, fora do Japão. Assim a História foi e continuará sendo ao longo de nossos dias.

Antes dos japoneses, mas prioritariamente a agricultura, aconteceu em 1874 com o navio La Sofia, nos brindando com os Italianos. Próximo 21 de fevereiro celebraremos o “Dia Nacional do Imigrante Italiano” uma referência bem como uma merecida “reverência” aos laços estabelecidos entre os dois Países, ao longo do tempo!

Assim segue a História das imigrações na quinta maior extensão territorial do Mundo, com seus 8.514.876 Km quadrados, recebendo Africanos, Venezuelanos, Uruguaios etc... A impressão é muito clara de que sempre estamos de braços abertos – como nosso Cristo Redentor do Rio de Janeiro – a todos os que aqui querem viver, onde existe a melhor e mais barata comida do mundo. Aqui tem o melhor churrasco no mundo, também o melhor sushi, o melhor espaguete, o melhor eisbein com chucrute, o melhor quibe, o melhor hambúrguer e o melhor cachorro-quente! Bom. Aceito pacificamente a alcunha de bairrista... Ah! E a melhor cerveja! 


 

Já que lembrei da cerveja, voltemos ao título da crônica: Os Alemães. “Familien deutscher abstammung in Rio Grande do Sul!” Sim, Famílias de origem alemã no RS, onde aconteceu a grande concentração dessa vigorosa imigração europeia. No livro com o título acima no idioma de origem, escreve a Doutora em História, Dalva Reinheimer:

 – “Ao migrarem da Europa, início do século XIX, com a missão de colonizarem o RS, trouxeram parcos recursos financeiros, mas trouxeram bens culturais e valores que representaram um patrimônio inestimável e legaram às gerações futuras. A preservação da memória é uma herança para várias gerações, como um bem que carrega consigo a História de um grupo de pessoas, suas lembranças e sua identidade...”

Particularmente venho da Família Diefenbach (tradução: Arroio profundo) e foi Philipp Diefenbach – meu bisavô – neto do imigrante Johannes Diefenbach, vindo em 15 de outubro de 1825 partindo de Amsterdã, que para mim, tudo começa. Vieram para a Região do Vale dos Sinos e bem depois, meu avô Jakob Leopold Diefenbach foi quem veio para Jaguari, de quem certamente herdei injustamente a acusação de ser “teimoso e cabeça dura”, tradição peculiar mas convicta dos alemães, entretanto, no meu caso, suavemente atenuado pelo sangue materno, o sangue italiano herdado dos Marchiori!

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

 142) Aquele Salto de Paraquedas em Sinimbu!

Há alguns anos, acontece toda vez que escrevo sobre o paraquedismo, acabo comentando sobre o salto no Estádio Olímpico do Grêmio, em 12 de setembro de 1999, quando me tive grave acidente, no entanto não foi letal e aqui estou mais de uma vez a contá-lo e celebrando que foram sérias fraturas, mas de "apenas" 22 dias hospitalizado e poucas coisas além. Significa sem sequelas, mas com uma bagagem de Vida e belas histórias a contar!

O salto que conto agora, de Sinimbu, não foi do fatídico acidente porque num determinado momento da nossa experiência em voos por essas nuvens afora, percebemos e valorizamos o belo e festivo visual que ilustra festas e celebrações, com o colorido dos velames abertos no Céu azul, que provoca sentimento de forte alegria não só para quem assiste, mas honestamente, no coração do atleta também! A queda-livre é inebriante, mas a súbita alegria de comandar a abertura do paraquedas e ele ABRIR MESMO, limpo e sem intercorrências, dá até vontade de aplaudir! Só não se aplaude porque as duas mãos estão ocupadas a segurar os batoques para executar as manobras  exigidas naquele momento!


Os convites para celebrar essa “Festa nos Ares”, através do Lasiê, que comandava Escola de Paraquedismo foram crescendo e fui assumindo parte dessas contratações, ao ponto em que a Escola não tinha mais como prosseguir, já que exigia, para que um salto fosse promovido uma série de atividades administrativas e de logística. Desde a busca de NOTAN (Notificação de Tráfego Aéreo Nacional) junto a Infraero, a adequação ao local de pouso etc.

Como sempre estive envolvido em atividade ligadas a vendas e negociação, formei parceria com Marco Pizzamiglio, para que promovêssemos essa atividade pelos municípios do RS, literalmente “vendendo” demonstrações em suas datas festivas. Marco conseguiu listagem de telefone de todas Prefeituras do Estado e eu me pus a fazer “tele vendas”, aos quase quinhentos municípios do Rio Grande do Sul! 

Foi um sucesso e a receptividade festiva de todas Prefeituras. Assim voamos por esse interior por muitas vezes. As atividades da parceria ficaram bem claras, Marco providenciava documentação, alocação de aeronave – ainda através do Lasiê -  e vistoria dos locais de pouso. A mim, o que eu julgava melhor na atividade: Organizar o Time que iria voar, convidando três paraquedistas e junto comigo, saltar!

De todas as demonstrações, a mais curiosa aconteceu no Município de Agudo-RS, cidade muito próxima ao centro do Estado, na Região produtora de fumo. Acontecia um Encontro Nativista, com rodeio, doma de cavalos, laço, etc. Era uma bela área aberta de um excelente campo gramado, perfeito para pousos! Tudo acertado, horário estabelecido, Marco posicionado no local de pouso para colocação de “biruta” - que orienta direção dos ventos - e mais detalhes para um pouso seguro. Decolamos de Sapiranga. Comandante André, roncou motor de seu Cessna 210 e voamos  até a localidade programada, num voo sereno e calmo!


Éramos quatro e optei ser o último a sair da aeronave. Céu azul e limpo voando a 5.000 pés. "Saída" com rápida queda-livre de uns cinco segundos para cair mil pés e comandei abertura do meu Velame “Sabre 150“. Abertura limpa, velame aberto com perfeição! Ótima navegação tomando um ar gelado e perfumado de Eucaliptos - mato que sobrevoava no final do voo. Preparo para o pouso, momento delicado e ao alinhar a rampa final de 500 pés, quando avistei Marco a fazer gestos escandalosos e desesperados anunciando "alguma coisa irregular," que naquelas alturas do voo, pouca coisa ainda dava para fazer. Primeiro, tinha que entender aquele indecifrável sinal de alerta...

Quem um dia não foi a uma festa no interior, em que além de todas barraquinhas a oferecer amendoim torrado, algodão doce e quitutes da Região, também tem sua tradicional decoração, geralmente composta de balões coloridos e aquelas pequenas bandeirolas de papel crepom ao vento!

O fato: - Os organizadores da festa capricharam! Visual lindo mesmo. Pois justo naquela faixa de gramado, reservada para o pouso, colocaram um extenso arame de aço com aquelas malditas bandeirolas coloridas! Minúsculas para serem percebidas durante a rampa final de pouso! O arame dividia o terreno ao meio! Se há coisa mais assustadora para um de paraquedas, são os tais odiados arames, ameaçadores como navalhas fatais ao velame e os tirantes do equipamento!

Não fechei os olhos, pois eu os sentia bem arregalados! Em fração de segundos passei “lambendo” as bandeirolas ao erguer as pernas evitando o choque e pousei incrivelmente bem! O com batimento cardíaco "lá em cima"! 

Foi nesse momento que me certifiquei aceitando a severa exigência da Confederação Brasileira de Paraquedismo, que obriga renovação de licença anual do atleta, mediante - dentre outras coisas - o atestado de regularidade cardíaca, emitida logicamente por um Cardiologista. Sim. O batimento cardíaco vai a uma frequência e vigor, que se sente o músculo cardíaco a pulsar no pescoço! Consideração final irrigado de muita sorte nesse dia: Demonstração linda, festiva, alegre, perfeita!

Não havendo nenhuma intercorrência, com “susto zero” em todos saltos, ele, o salto seria demasiadamente perigoso, porque o maior risco é quando a paraquedista perde o medo! Raramente um paraquedista novato – que está se mijando de medo – se acidenta. O atleta “experiente” perde o medo, o respeito e a consequência sé o acidente!

Aprendi essa “teoria” com meu amigo Cezar Augusto Marson da Silva, mas com relação a outro esporte ameaçador: - Motociclismo. Pratiquei por mais de trinta anos Foi dele, do Cezar, que adquiri minha primeira moto e os primeiros ensinamentos a pilotar, afirmando do alto de sua Sabedoria: “Quando perderes o medo de pilotar, vais morrer!" Naquele dia, engoli seco com o maior ensinamento de preservação da Vida que tive resumido numa frase tão singela, curta e grossaO que valeu para pilotar a moto, valido fortemente ao paraquedismo, por óbvio!