182) O Espetáculo é o Ator! A Natureza Completa o Show!
Na Crônica número setenta e dois, título “Quando Cantei uma Ópera do Exterior” de uns três anos passados – ainda disponível nesse blog – fiz do título uma brincadeira de quando reuni coragem extra ao tomar um banho ultra gelado, ao final da tarde em meio aos Andes, durante "El Camino Inka”, no Peru. O “chuveiro”, naquela crônica, era na verdade apenas um orifício onde supostamente houve ali no passado um cano, nos restos da parede de uma casa em escombros, abandonada que jorrava abundante água do degelo. É, a água não causava apenas frio cortante, mas causava dor onde batia cada gota d'água! Foi sem dúvidas um "banho heroico!"
Faço propaganda, estimulo a quem se propõe a essa Trilha Histórica no Peru, de árdua caminhada, de um dia juntar coragem, preparo físico e fazê-la. É de tamanha grandeza, um desafio sem ímpar. O ano foi de 2003, final do Verão quando dividi a aventura com meu querido amigo Jardim. Foi das maiores aventuras vividas ao ar livre. (Sim, existem "outras" vivias no interior da cabine de uma aeronave, que como paraquedista, conto outra hora...) A dificuldade e o enfrentamento de situações nunca pensadas, pautam cada um dos quatro dias de sua desafiadora e longa duração. (quatro dias, duas noites!).
Mesmo afirmando dos encantamentos a cada passo dado no percurso, faço
uma ressalva advertido do amigo Padado, que me apoiou, "deu forças" para fazer a trilha. Problema foi o comentário feito após eu
contratar e pagar o pacote turístico completo:
- Vai sim, Fausto! Bom que decidiste. Fiz a trilha e recomendo! É
inesquecível, único. Entretanto no segundo dia, é o de trilha mais íngreme,
vais me odiar por eu ter te recomendado...
E odiei mesmo. Muito. Não toda caminhada, mas especificamente nesse segundo dia! Foi demais, um exagero de dificuldades impostas! Como é feita a nossa Vida, composta de picos e vales. Entretanto nesses dezesseis quilômetros, é só de subida. Todos os milhares de degraus são ascendentes, talvez uns quatro ou cinco de descida em todo o dia! A dor nos músculos da perna e o pior, a asfixiante e Natural falta de oxigênio em seus doze mil pés acima do nível do mar! Uma parada para respirar, enche-se o pulmão mas não satisfaz! Olha para trás, faz duvidar da própria capacidade em percorrer tamanha subida. É um escalar constante! Observa-se grupos lentamente subindo a nos seguir, parecerem pequenos insetos - tamanha a distância - em meio ao desafiador pedregulho da trilha!
A cada dia se apresenta um novo e variável desafio. Desde o primeiro dia por se tratar do “debut” com suas primeiras adaptações de esforço físico, respiratório e mental! Depois vem o pior, o mais longo e difícil, na sequência o mais perigoso e o último, mais ameaçador feito a noite e acabar na madrugada, coroado com revigorante chegada aguardando o amanhecer, o inesperado e surpreendente nascer do Sol e destino final do místico Machu Picchu! Exuberante Sítio Arqueológico, final da caminhada, sem dar menos valor aos outros tantos Sítios Arqueológicos a encantar cada passo dado, a cada gota de suor escorrido e discretamente algumas lágrimas provenientes do emocionante sentimento de vitoriosa conquista !
Nesse ponto final da Trilha, são algumas horas de "relax" sorvendo o banho de endorfina a nos encantar e o sereno contemplar a Grande Obra dos Inkas. Sua Engenharia e Arquitetura são invejáveis merecendo um olhar de extrema admiração provocada em todos participantes da aventura. Depois desse período, se iniciam os preparativos para voltar a Cusco, encerrando o programa, no entanto, ainda existe um trecho a fechar com chave de ouro toda aventura: Será feito, convenientemente de ônibus a poupar os músculos exaustos. São quatro quilômetros de acentuada descida até ao vilarejo Águas Calientes, ou Machu Picchu Pueblo, às margens do rio Urubamba, onde se toma o trem rumo a Ollantaytambo, no Vale Sagrado dos Inkas e depois por sessenta quilômetros de ônibus até Cusco, de volta pra casa, melhor, de volta para o hotel!
A surpresa: Trata-se de uma descida numa precária rodovia de quatorze curvas
de cento e oitenta graus, numa formação de estrada de chão batido - os rípios - a se formar um curioso caracol em meio a vegetação nativa e pedregulho.
Aí estará o grande Espetáculo Humano: - Na largada do ônibus, se apresenta a sua porta, um menino de seus dez anos, esquálido, pouco mais de um metro de altura e seus quarenta quilos, abdômen a exibir apenas costelas sem nenhum músculo, magérrimo. Veste "Guerreiro Inka", rosto pintado em tinta vermelha e branca, lança em punho e "pronto para a guerra". Grita em sua Língua Mãe - Quéchua – algum impropério não traduzido, e o inesquecível Ator desembarca e o ônibus parte! Um grave ponto de interrogação em nossas mentes! O que foi isso tudo?
Pois o Guerreiro também parte se lançando em desabalada corrida em linha reta montanha abaixo. Sua corrida atalha o curso cheio de curvas do ônibus nessa única linha, depois de longos minutos sua chegada acontece junto ao ônibus no final dessa deslumbrante descida! Novamente entra no ônibus e repete, ofegante seu esganiçado grito de guerra! Olhar frenético a espera de uma resposta, no caso, "una propina"! (Gorjeta). Emocionei-me profundamente! Pão duro como sou, mesmo assim, enfiei a mão no bolso e lhe alcancei com reverência e extremo respeito, uma nota de vinte dólares, a remunerar parte da emoção vivida! Não foi nenhuma fortuna, mas de visível repercussão! Seu sorriso de gratidão, valeu cada centavo doado, e fomos pouquíssimos a lhe alcançar alguma cédula...
Um suspiro de pulmão cheio a oxigenar forte emoção e assim se encerrou aquele Maravilhoso Espetáculo!
ESPETACULAR.
ResponderExcluirQue legal Fausto, não tem dinheiro que paga essas experiências, obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirTranquilo
ExcluirSensacional !
ResponderExcluirFelicitações Fausto!
Ivan.
Forte abraço meu amigo desbravador. Flávio Soares
ResponderExcluirQue experiência maravilhosa!! Confesso que não tenho essa coragem, não me sinto bem com locais muito acima do nível do mar. Quanto ao jovem, a gratidão pela doação é impagável.
ResponderExcluirBravo, vizinho Fausto, essas aventuras acontecem quando associamos vontade e coragem, que parece não lhe faltarem.
ResponderExcluirCalculo que depois disso deve surgir a satisfação de que não há nada mais além!
Abraço!
Eu acompanhei sua preparação para fazer este passeio e neste momento Fausto lhe deu Alta. E seu grave acidente e finalizando sua recuperação.
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