184) Uma Viagem Tumultuada a Buenos Aires!
Minha primeira viagem ao Exterior, não precisava ser de tanta
dificuldade. Talvez por falta de um planejamento adequado ou a vontade
insaciável de aventura, de enfrentamento de dificuldades de toda ordem, mais a
falta de experiência mesmo com o ímpeto da improvisação, própria da juventude
vivida naquela Época! Sim, muito jovem. Estou falando na Páscoa de 1973!
Domingus, Ernani e eu todos na casa dos vinte e cinco anos, éramos colegas
de trabalho em um Banco de Investimentos Gaúcho. Nosso programa era aproveitar
o feriado da Páscoa e de carro, viajar a Buenos Aires. Decidimos por conta
própria do tal feriado se iniciaria ao meio dia de quinta-feira. Sem
necessariamente com consentimento do nosso Chefe...
Todos possuíam automóvel, no entanto o Karmann-Ghia do Ernani, tinha um
motor adaptado para grande potência, isso nos permitiria, em tese, encurtar o
tempo de viagem, aproveitando uma época sem controle de velocidade nas nossas
estradas, de recente construção com ótimo asfalto e principalmente sem
movimento algum! Caminhões a emperrar o trânsito, quase inexistentes. Então era
“andar” no limite da potência daquele poderoso motor de 1600cc., com dupla
carburação! O problema: Coexistir com o tamanho da cabine de apenas dois bancos!
Éramos três adultos de porte médio!
Essa notável dificuldade seria suportada com a alternância no volante e
da vítima acomodada sobre a palanca do freio de mão, cuidadosamente acolchoado
com alguma toalha velha!
Viagem sem grandes alterações até próximo de Chuy, no Uruguai com o
primeiro pneu furado. Sem problemas, deixamos numa borracharia – difícil foi
entender o termo “gomerinero”, profissional a nos atender – e fomos jantar calmamente,
até altas horas provocando ao retornar, encontro do estabelecimento fechado!
Simples: Arrombamos o cadeado do velho e decrépito portão de tábuas – crime já
prescrito - e resgatar a peça em conserto e seguir vigem. Agora em um traçado de
estrada não tão moderna como nossa BR 290. Percurso sinuoso, mas de uma curiosa
compensação de declínio compensatório em suas acentuadas curvas.
Chegada a Colônia, último ponto no Uruguai, no meio da madrugada para então
aguardar o “ferry boat”, e somente ao amanhecer, seguir a travessia de cinco
horas, pelo “Mar del Plata” até Buenos Aires. Essa noite de espera foi
torturante naquela já mencionada minúscula cabine onde os três dormiram...
Dormiram? Noite muito difícil!
Ao meio dia aportamos na Capital Argentina. Hospedado num hotel barato, saímos a rodar alucinadamente em
suas largas avenidas de desconhecidos, até então, semáforos de
acionamento progressivo. Foi o primeiro encanto a tão bela, elegante e bem
organizada Capital Argentina! Fiquei seu fã, me motivando voltar lá por mais
dezoito vezes, ao longo dos últimos cinquenta e um anos! Os restaurantes, bares,
cafés com lustres de cristal, casas de espetáculo com preços convidativos num período de nossa moeda brasileira “valer muito”! Isso fez tudo
mais admirado e aplaudido!
O “zum-zum” do Povo Argentino desses dias, anunciava aproximação do esperado
retorno do ex-Presidente Peron ao País! Era um “frisson” constante. Não conseguíamos
avaliar a extensão política daquela excitada expectativa argentina... Mas
perceptível a hipótese do retorno de uma Administração Populista
recuperadora! E Peron voltou. O resultado político, econômico e Social, deixo para analistas especializados...
Chegou o Domingo de Páscoa, dia de voltarmos para casa. Iniciamos pela manhã o exaustivo retorno a Porto Alegre com os três jovens já bem cansados. Durante a travessia de barco, nos aproximamos de um brasileiro, médico, solitário retornando a Porto Alegre com sua mudança, num IMENSO automóvel Opala! Dele combinamos e o convencemos da conveniência de dar carona a um de nós e o eleito foi Domingus. Na estrada, acertamos encontro na entrada de Montevideo. Largamos naquele padrão de velocidade, a dar inveja a Emerson Fittipaldi! No ponto combinado, a espera foi de quase uma hora. Domingus estava enlouquecido:
- Não vou mais com
esse desgraçado! Não passa nunca dos oitenta por hora. Uma lesma! Quando
batuquei uma música do rádio com os dedos no painel, disse para eu parar, pois ia
afrouxar os instrumentos do carro! Louco. Neurótico, filho da puta!
Diante de tamanha convicção do parceiro, Inventamos uma desculpa
qualquer, combinando novo encontro na entrada de Piriápolis[F1] e FUGIMOS em alta velocidade para "nunca mais" vê-lo...
Adiante, altas horas da noite, a enorme dificuldade foi controlar o sono estonteante! Já no Brasil, parada obrigatória em Pelotas, tomamos um forte café com lauto jantar, onde novamente à espera, dessa feita de uma substituição de pneu rasgado. A façanha foi comigo ao volante – os dois dormindo - ao descer a rampa da ponte sobre o rio São Gonçalo, quando na última curva bati roda traseira numa pedra enorme na via. Capotagem só não aconteceu porque... Não sei o porquê!!!
Após o jantar, segui dirigindo até o destino final, Porto Alegre, sempre no limite da
potência daquele MOTORZÃO Volkswagen e eles dormindo profundamente! Chegamos a Capital lá pelas quatro da madrugada!
Agora todos acordados para chegarmos felizes em casa! Na entrada da cidade,
Avenida Castelo Branco totalmente vazia, após mil e cem quilômetros rodados, quem
ultrapassei solitário na pista? Sim. Aquele metódico médico, irritantemente comedido com seu
Opala sempre na mesma “lerdeza” dos oitenta km por hora, ironicamente, chegando
junto ao “trio veloz” no despachado Karmann-Ghia branco, do seu potente motor de
dupla carburação!
Alguém lembra, há de mais de sessenta anos, os educativos quadrinhos: “O Jaboti Moloide?! Pois é Jaboti chegou junto com o Coelho em sua competitiva corrida!
Bela partilha meu amigo. Bom recordar. Abs
ResponderExcluirMuito boa a aventura desse trio aventureiro! Belo texto. Parabéns! Fui inúmeras vezes à Argentina, mas nunca dirigindo. Ainda bem. Bidart
ResponderExcluirBeleza essa história...também fiz algo parecido para BA...mas não tão divertido assim.... parabéns....
ResponderExcluirÓtima história Fausto!parabéns. Ivan.
ResponderExcluirMuito bom, prezado Fausto. Me lembro só Karmann-Ghia, meu rio tinha um, quando eu era o saindo. Lombas tipo Lucas de Oliveira, não sei Bia de jeito nenhum. Cinto de segurança, nada. Interessante foi o médico estar ainda na frente de vocês, permitindo a ultrapassagem. Ninguém perguntou o nome dele? Seria legal compartilhada essa história com ele.
ResponderExcluirTentei corrigir palavras erradas mas não consegui. Publiquei assim mesmo e corrijo aqui: “me lembro do Karmann-Ghia. Meu tio tinha um”
ResponderExcluirFico só imaginando o possante 1600 empurrando o bólido pelas estradas....
ResponderExcluirRecordar essas aventuras é tudo de bom! Viajar essa kilometragem num Karmann-Ghia foi uma loucura, ainda mais com três adultos de porte médio. Sempre divertido ler as suas crônicas. Parabéns!
ResponderExcluirGrande e legítima "aventura" Fausto.
ResponderExcluirBuenos Aires é maravilhosa e tudo de bom, mas parece que a viagem de vocês, além de "apertada" foi um pouco cansativa. Coisas muito importantes para 3 jovens aventureiros de 25 anos.
Parabéns pela bela história.
Esqueci de identificar
ResponderExcluirVerdade, Fausto, o que seria da vida sem os feitos das aventuras com suas emoções que justificam o risco que corremos.
ResponderExcluirTudo isso agora pode ser compartilhado conosco em tuas crônicas, mexendo com nossas emoções também.
Abraço!
Tida!
ResponderExcluirMaravilha! A juventude nos permite essas aventuras incríveis.
Maravilhosa história 👏👏👏👏
ResponderExcluirSempre gostamos de ir a Buenos Aries já fui com Faustinho 7 vezes mas na última vez perdeu um pouco do charme devido a ecomonia deles.
ResponderExcluirQue aventura!
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