quinta-feira, 28 de maio de 2020

04) - A Namorada.


04) - A Namorada.                                               

 

Inspiração, romantismo, inocência, sonho livre quem não teve? Nessa semana ao ouvir uma Canção de Charles Aznavour onde ele canta um verso: “Quand J’avais vingt ans” me levou a pelo menos pensar “Quand J’avais size ans!” Pois busquei esse meu conto:

 Tudo aconteceu na doce era de meus dezesseis anos recém feitos. Fui muito tímido. Abordar uma menina para namorar era um tremendo desafio. Exigia uma coragem Hercúlea! No entanto para abordar visando namoro a tática era desenvolvida ao dançar. Então nos bailes e reuniões dançantes que promovíamos era o momento. Tornava-se viável, mas ainda difícil. A viabilidade se propiciava, pois, a cábula se ocultava ao falar ao pé do ouvido, com o delicioso rosto colado sem olhos nos olhos. Mais, um adicional de coragem

adquirida após uma, ou mais de uma “Cuba Libre”. Meio tonto, subia à cabeça uma boa dose de autoconfiança e a timidez ia pelo ralo.... Não devia exagerar, uma dose mais forte de rum com Coca-Cola, podia se converter em arrogância, comum nos bêbados.
Figura da Internet

 

Nessa época conheci uma “guria” de cidade vizinha, que passava suas férias escolares em Jaguari e o encantamento foi imediato, espontâneo, arrebatador! Num sábado fui a uma reunião dançante na praia e lá estava ela! Linda, cabelos e olhos claros, sorriso meigo e um “tímido olhar morno”! Tomei aquele trago infalível e fui dançar. Fiquei dançando por mais de duas horas ininterruptas! Ainda tímido, apesar do estímulo etílico, permaneci quase todo tempo calado. Silêncio sepulcral. Com “ozóios” fechados, me inebriei de deliciosa paixão adolescente! Dançando lentamente nada falei das minhas intenções de namorar e como eu queria!


Hoje em dia é tudo mais fácil - me parece -  o ficar simplificou tudo. Na época, era namorar mesmo. O apelo era mais forte, comprometedor e a chance de ouvir um não coexistia de fato! Que horror! Que maravilha!

Mantive-me tradicionalmente calado até que a reunião acabou e ela se despediu, sem ouvir minha declaração que pulsava no num coração sincero.

Agora vem a parte mais difícil. Eu precisava declarar que queria namorá-la e deixei escapar o momento oportuno. Como fui idiota. Precisava criar um novo encontro para declarar meu desejo. Pior, naqueles noventa dias, cumpria ritualística de luto pela minha avó. Tinha participado daquela reunião dançante na praia de “forma irregular”... Participar de um baile ou festa era vetado pela Família. Luto, eis o impasse.

Como disse, ela morava em cidade vizinha e tinha um período curto das férias de verão na minha cidade, havia prazo, não podia perder tempo, tinha que agir.

Num domingo à noite vi a saída e tomei a decisão: Será hoje no cinema. Lá fui eu: Cine Teatro Ideal
Cine Teatro Ideal - Jaguari/RS
e o filme vai começar. Bem, não precisa ser agora na entrada. Tem muita gente ao redor, estão todos olhando o que estou fazendo, ou ainda farei nos próximos cem anos. Que droga de gente bisbilhoteira. Quando então? Durante o filme ora, no escuro. Resolvido! Oba, ela deixou um lugar vago ao seu lado, ou foi acidental? Dúvida cruel. Ao sentar naquela poltrona, ela pode resistir ou nem mesmo me dar assunto! Seria um vexame horroroso! Melhor então ao terminar o filme, já que para cada um ir para suas casas, o itinerário coincide por três quarteirões.

Terminou o filme e eu nem me dei conta que tinha começado. Meu Deus como é difícil! É agora, TEM que ser agora. Sai alguns passos à sua frente. Ela acompanhada de uma amiga conversando, rindo e feliz! O tempo encurtando. Que angústia. Felizmente lembrei que sobriedade é inimiga da audácia, sóbrio as coisas são mais difíceis ainda. O tempo passando tenho que agir rápido, incrível mas falta apenas meio quarteirão e a oportunidade se vai. Nova tática veio à minha mente criativa, quase genial: Tenho ainda 30 metros e vou me embriagar. Resolvido: Acendi um cigarro - na época sem filtro -  e sabia que dando uma série de fortes tragadas, ficaria tonto, embriagado!

Bingo. Foi o que fiz. Não deu outra! Fiquei tonto, melhor, muito tonto cambaleando, quase caindo. Só não cai porque continuei caminhando apoiado na parede das casas e naquela posição ridícula continuei caminhando, lixando a parede com o ombro e a perna fazendo poeira até chegar à mudança de nossos rumos sem uma palavra proferida! Roupa suja da tinta das paredes, sem cumprimento do objetivo da tão desafiadora missão: Falar com a ela! Que desastre, o pileque de cigarro (pior de todos) era tamanho que não sairia palavra conectada com nada. Nada
resolvido, concretização de namoro adiada! Como é difícil ser adolescente!



POA 28/maio/2020.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

03 - Tá Boa as Pitangas?!


03 - Tá boa as pitanga?

Estava meu “Velho Amigo” acompanhado do Bosnser, no campinho de futebol próximo ao morro “O Belisco” em Jaguari, aguardando a chegada de mais alguns guris - todos na faixa dos quatorze anos - para uma “pelada” após o almoço. Este campo era circundado por mata nativa, típico da Região.
Eis que surgem duas meninas – talvez mesma idade – a colher pitangas. Os dois se olham cheio de maldade se questionam: “Vâmo comê elas?! Vâmo!” Concorda o outro!

Começa a planejamento. A situação exige apurada tática: Bosnser, apesar de menino, tinha uma voz rouca, grossa como a de um homem feito. Aliás, era característica de sua família; suas duas irmãs, eram lindas, mas a mesma voz do irmão: Brochante!  Pois bem, Bosnser chamou para si a responsabilidade de “cantar” as duas prezas. Por que? Ora, tinha um curriculum invejável na arte de conquistar as damas. Toda essa habilidade desenvolvida, vinha do fato de ter estado em Porto Alegre por QUASE UMA SEMANA no ano passado! Quase um Don Juan. Isso lhe dava garantia suficiente de experiência. "Status" para assegurar sucesso na abordagem. Voltou da Capital seguramente formado com Diploma de Malandro! Meu Amigo concordou imediatamente dessa que teoricamente seria a pior parte de todo o enredo. O comodismo de receber uma guria “já cantada” era ótimo, mesmo porque, não tinha a menor ideia de como agir naquela situação, afinal não era um “malandro de Porto Alegre”...

Nessas alturas, as duas estavam - com perdão da má palavra - “trepadas” no pé de pitangas. Tudo combinado se aproximaram com a recomendação do Bosnser de “deixa que eu falo” e assim se iniciou a romântica abordagem:

- Óh! Aquele vozeirão rouco de assustar as crianças!
- Hãã? - Resposta seca. Receptividade zero.
- Tá boa as pitanga? - Diz o Bosnser, que era baixinho, com o peito estufado para fora e tentando ser o mais alto possível. Tinha que ser forte, elegante, vigoroso, possessivo, um touro voraz!
- Tá e daí?! O que que tu qué guri?  - Continuam em tom áspero.
- Então me dá a BU...

Minha nossa! Ele disse “aquela palavra” de péssima sonorização. Não tenho coragem de escrever aqui, o nome da “perseguida” que se refere à área de interesse libidinoso do macho!
Péssima repercussão, horrível. Furiosas xingando cobras e lagartos, deram a pior resposta. Foi um corre-corre danado com elas descendo da árvore a catar e jogar tudo o que tinham pela frente, pedras, chinelos, pedaços de pau, esterco de vaca...
Don Juan e Casa Blanca disparam campo afora em fuga frenética de alta velocidade! 

Conclusão: Tenham certeza, a cantada não foi das melhores...

POA, 21/maio/2020.



quarta-feira, 13 de maio de 2020

02 - Minhas Férias em Capão da Canoa

02 - Minhas Férias em Capão da Canoa
Foi no verão de 1973, tirei minhas férias, do Banco em que trabalhava. Meu carro era um Ford Corcel, preto, ano 72, direção esporte e rodas largas, aliás, ”tala larga”. Uma graça de carro. “Muito magal”, diziam na época. Chamava atenção das gatinhas às diaristas... Em meu julgamento um sucesso visual absoluto! Pelo menos com “mulher-gasolina”, comum na época e que funcionava muito bem!
Fiquei hospedado por uma semana na casa da tia Pila, em Capão da Canoa. A casa era atrás de um Supermercado da. Num determinado dia, decidi curtir a praia de Atlântida - que me contaram - estava “assim” de gurias... De fato, era riquíssimo no “recurso” de belas e ricas meninas! Passarei o dia todo lá. Peguei emprestado um guarda-sol enorme e uma esteira de palhas; todos estes aparatos estavam guardados há um ano, num quarto lá dos fundos da casa. Equipado, fui ao Éden sem medo de ser feliz!  
Chegando ao Paraíso, rodei de carro pela da praia – na época era permitido rodar e estacionar na areia – localizei onde estava o grupinho das mais belas, parei o carro, desci, dei uma olhada para o mar, como quem não está nem aí para elas. Estufei o peito, tirei os óculos e joguei-o com ar de desprezo para dentro do carro, acendi um cigarro, um pouco mais de volume no rádio, que com uma melodia qualquer me acompanhava num ar romântico, sedutor, à moda Roberto Carlos. Elas nem disfarçavam em olhar a “figura”, afinal, era um cara de uns 23 anos, com carro bonito, disponível, e no meio da semana que convenhamos, na falta de um bofe melhor...
Abri o porta-malas, tirei o guarda-sol e a esteira jogando-os “coincidentemente” na direção delas. Apanhei a carteira de cigarros e fui estender a esteira bem perto delas. No que fiz isso, dentro desta esteira maldita, desgraçada, fedida e daquele guarda-sol filho-da-puta, velho, desbotado, podre e embolorado, abandonados num canto úmido há um ano, saem dentro deles correndo, umas 50 baratas enormes que pareciam ameixas pretas, gordas, lustras pernas esticadas – por causa da areia – que lhes aumentava mais o tamanho! Essas baratas nojentas nunca haviam corrido na areia é óbvio, ameaçadas, correram em direção às tais gurias, para a minha vergonha e o horror delas que aos gritos fugiam abandonando seus pertences na areia, aos berros pedindo socorro desesperadas. Histeria total em fuga daquela imundice asquerosa! Um escândalo! Eu me atirei para dentro do carro – nem lembro se deu tempo de abrir a porta - roxo de vergonha. Na pressa, perdi um pé de chinelos e o boné, deixei cigarro e isqueiro para trás e voltei voando para Capão da Canoa sem olhar para o retrovisor. Até hoje não sei se Atlântida ainda está lá, se está, nem quero saber... Lá, não volto nunca mais!
POA, 14/maio/2020.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

01 - O 490 e poucos da Rua dos Andradas

Olá meus amigos,

Como prometido, estou enviando agora meu primeiro Conto de uma série que pretendo fazê-lo todas as quintas-feiras.

Minha proposta de hoje é um fato real, verdadeiro vivido por mim há quase cinquenta anos, um ano e pouco da minha vinda de Jaguari-RS para a capital Porto Alegre, na conhecida migração gaúcha em busca do Curso Superior, a almejada Faculdade!

Na próxima semana estarei contando das minhas primeiras "Férias Profissionais na Praia de Capão da Canoa"!



01 - O 490 e poucos da Rua dos Andradas

Durante alguns anos morei no modesto apartamento 902 de um quarto e sala na Rua da Praia em Porto Alegre. Início da década de 70, dividia o custo com   “Ike” e JED. O edifício até era novo. Quinze andares com vinte apartamentos por andar. Era quase uma cidade. Apenas uma Família morava no prédio: Dona Helly, uma senhora respeitável e seus três filhos. O resto do edifício solteiros. Predominava moças da difícil “vida fácil”, trabalhadoras em boates na Av.. Farrapos e adjacências, putas mesmo. O sexto e sétimo andares eram exclusivos para viados, lésbicas, frescos, sapatões, travestis, bichas e outras opções sexuais, que respeito muito pela coragem e força ao superarem o preconceito comum, o que agora não vem ao caso. Sem dúvida, o edifício era maravilhoso, honrava seu apelido de “Balança, Mas Não Cai”, uma alegre, jovial e divertida espelunca...

Um dia Ike e eu, aguardando o elevador, surge no do corredor de uns trinta metros – chão molhado - uma bicha enorme. Coitado, quando a desgraça é pouca, nem vale a pena! Imaginem duas características: Feio e pobre! Vinha cantarolando uma musiqueta qualquer sem letra, só um:

“Lá-lá-lá”! 

Sua voz fininha e delicada. Percebe-se quando uma mulher é exageradamente feminina, na cara que é traveco! "Ela" percebendo que a observávamos com o canto dos olhos, reforçou sua vaidade no seu viés feminino e cheia de graça, sensualidade, contrapondo com seus grossos e largos ombros de atleta halterofilista. Braços de estivador, 1,90 m. de altura, biotipo certo para segurança de deputado nordestino, comandante de milícia ou dono de boca de fumo! Calça de brim suja, surrada e desfiada ao meio da canela. Delicada blusinha branca transparente minúscula para aquele corpanzil atlético, mostrando seus sutiens cor de rosa de adolescente, cabelos amarelos desfiados, maltratados e amarrados com borrachinha de dinheiro, tipo “rabo de cavalo”. Os pés, ah os pés! Uns 44 imundos em chinelo de dedos de borracha bem vagabundos comprados em loja barata da Rua Voluntários da Pátria e em “fase terminal” de tão gastos. Os dedões enormes, unhas pintadas em  vermelho, ficavam fora do chinelo arrastando no chão molhado.

Ao chegar próximo de nós, que o observávamos em silêncio, a luz do corredor - acionada no sistema “minuteiro” - se apagou ao que ele, ou ela, delicadamente levou sua enorme mão a acendê-lo novamente. 

- ÂÂÂÂÂIII!!!

Azar: Interruptor quebrado, fio elétrico solto: Um puta choque elétrico que quase lhe arranca a mão. A “mocinha” berrou uma vigorosa, manifestação! Vozeirão de trovoada a tremer parede. Foi-se a farsa! Entramos no elevador mudos. Engolimos a risada cheios de medo daquele Hercules contemporâneo em cor de rosa!

sábado, 2 de maio de 2020

Por que ter um “blog”? 

Fiz essa pergunta a mim mesmo diversas vezes e “parece” que hoje encontro resposta com algum sentido. Vejamos, durante algum tempo pensei em escrever, não minhas memórias, porque nem possuo tantas, mas em forma de um relato coloquial, lembrar algumas passagens pitorescas de minha vida, algumas aventuras ou algumas épocas que ficaram marcadas pelo lado humorado às vezes ridículo em que vivi. Amigos me incentivaram a iniciar. Afirmei que ninguém vai ler, como garantiram pelo menos uma leitura, encorajado, iniciei. Decidi me valer de um adágio popular italiano, que traduzido, diz mais ou menos o seguinte: “Aquele que não sabe contar sua história, não merece tê-la vivido. Aquele que não tem história para contar, não merece ter nascido”!

Meu objetivo primário é rir, daí o nome da “Crônicas de um Ridículo”! Comecei faz tempo e na medida em que me lembrava ia escrevendo, sem pretensão de ter cuidados com sintaxe, concordância verbal, fazer uma peça humorística, nada. Apenas uma narrativa, que pode ser engraçada ou simplesmente ridícula. Sem censura, nenhuma crítica literária, sem vigilância ao vernáculo, da pureza de estilo, da fala na boca dos analfabetos. Preservo a autenticidade, pois palavra “chula” não soa como palavrão de mau gosto. Soaria falso sim, se escrevesse ânus, quando o povo diz Cu. Tentando evitar a mentira, vou manter a fidelidade dos fatos e principalmente dos diálogos, para preservar o mais importante: A autenticidade!

Uma coisa importante que apreendi ao longo de minhas experiências, é o quanto é chato o “gozador”, visto por alguns, como um cara alegre. Em verdade é um bobo, porque procura fazer graça com a desgraça dos outros, logo, não passa de um arrogante cuja soberba lhe invadiu a inteligência, convertendo-o num antipático qualquer, o verdadeiro chato! Imagine estar longe de casa e um destes percebe seu sotaque, ou até a cor da sua pele e conta uma gracinha – geralmente antiga – de alguém de sua origem... 

Pois estas linhas me provaram o quanto é gostoso – experimentem - fazer uma piada ou um relato autêntico, como a maioria destes, caracterizando auto gozação. É realmente a glória! 

Escolhi alguns títulos, que por alguma razão se relaciona com o fato. Diversas vezes contei, hoje escrevo e brevemente divulgarei nesse canal.