quinta-feira, 7 de maio de 2020

01 - O 490 e poucos da Rua dos Andradas

Olá meus amigos,

Como prometido, estou enviando agora meu primeiro Conto de uma série que pretendo fazê-lo todas as quintas-feiras.

Minha proposta de hoje é um fato real, verdadeiro vivido por mim há quase cinquenta anos, um ano e pouco da minha vinda de Jaguari-RS para a capital Porto Alegre, na conhecida migração gaúcha em busca do Curso Superior, a almejada Faculdade!

Na próxima semana estarei contando das minhas primeiras "Férias Profissionais na Praia de Capão da Canoa"!



01 - O 490 e poucos da Rua dos Andradas

Durante alguns anos morei no modesto apartamento 902 de um quarto e sala na Rua da Praia em Porto Alegre. Início da década de 70, dividia o custo com   “Ike” e JED. O edifício até era novo. Quinze andares com vinte apartamentos por andar. Era quase uma cidade. Apenas uma Família morava no prédio: Dona Helly, uma senhora respeitável e seus três filhos. O resto do edifício solteiros. Predominava moças da difícil “vida fácil”, trabalhadoras em boates na Av.. Farrapos e adjacências, putas mesmo. O sexto e sétimo andares eram exclusivos para viados, lésbicas, frescos, sapatões, travestis, bichas e outras opções sexuais, que respeito muito pela coragem e força ao superarem o preconceito comum, o que agora não vem ao caso. Sem dúvida, o edifício era maravilhoso, honrava seu apelido de “Balança, Mas Não Cai”, uma alegre, jovial e divertida espelunca...

Um dia Ike e eu, aguardando o elevador, surge no do corredor de uns trinta metros – chão molhado - uma bicha enorme. Coitado, quando a desgraça é pouca, nem vale a pena! Imaginem duas características: Feio e pobre! Vinha cantarolando uma musiqueta qualquer sem letra, só um:

“Lá-lá-lá”! 

Sua voz fininha e delicada. Percebe-se quando uma mulher é exageradamente feminina, na cara que é traveco! "Ela" percebendo que a observávamos com o canto dos olhos, reforçou sua vaidade no seu viés feminino e cheia de graça, sensualidade, contrapondo com seus grossos e largos ombros de atleta halterofilista. Braços de estivador, 1,90 m. de altura, biotipo certo para segurança de deputado nordestino, comandante de milícia ou dono de boca de fumo! Calça de brim suja, surrada e desfiada ao meio da canela. Delicada blusinha branca transparente minúscula para aquele corpanzil atlético, mostrando seus sutiens cor de rosa de adolescente, cabelos amarelos desfiados, maltratados e amarrados com borrachinha de dinheiro, tipo “rabo de cavalo”. Os pés, ah os pés! Uns 44 imundos em chinelo de dedos de borracha bem vagabundos comprados em loja barata da Rua Voluntários da Pátria e em “fase terminal” de tão gastos. Os dedões enormes, unhas pintadas em  vermelho, ficavam fora do chinelo arrastando no chão molhado.

Ao chegar próximo de nós, que o observávamos em silêncio, a luz do corredor - acionada no sistema “minuteiro” - se apagou ao que ele, ou ela, delicadamente levou sua enorme mão a acendê-lo novamente. 

- ÂÂÂÂÂIII!!!

Azar: Interruptor quebrado, fio elétrico solto: Um puta choque elétrico que quase lhe arranca a mão. A “mocinha” berrou uma vigorosa, manifestação! Vozeirão de trovoada a tremer parede. Foi-se a farsa! Entramos no elevador mudos. Engolimos a risada cheios de medo daquele Hercules contemporâneo em cor de rosa!

11 comentários:

  1. Sim a Rua dos Andrada foi palco de muitas aventuras

    ResponderExcluir
  2. Muito legal o teu texto e eu nem sabia que tinhas essa grande habilidade. Parabéns. Manda mais. Abs

    ResponderExcluir
  3. Boa! Sou fã do Autor, conheço todos e garanto que a próxima vcs vão gostar.

    ResponderExcluir
  4. Parabéns Fausto. Excelente texto. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  5. Respostas
    1. Próxima quinta-feira, dia 14/maio teremos mais e assim repetirei por algum tempo!

      Excluir
  6. Dei muita risada imaginando vc nessa cena e a sua cara segurando o riso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado. Pena que o blog não identificou teu nome... Amanhã estarei postando o segundo "Conto!"

      Excluir
  7. Fausto, fiquei imagindo essa cena e a cena do chinelo,me lembra aquela máxima que diz- "colocar Porto Algre dentro de Viamão".ecreva mais meu caro amigo. Estou adorando.

    ResponderExcluir
  8. Bem escrito. Fausto.
    Aguardando o próximo.

    ResponderExcluir