Meus amigos leitores,
Tanto falo no Serviço Militar e seu sacrifício que já contei lembrando, que no meu caso, foi o ano que mais sofri as agruras de
trabalho pesado e sacrificado, entretanto 1967 foi o ano em que mais ri em toda
vida! Tinha no meu Esquadrão, o Aymoré Peixoto, que bastava seu olhar, que já provocava risos!
O que ocorre, se assemelha ao nascimento, onde o ambiente
de conforto, temperatura e luminosidades perfeitas de um lugar sereno e seguro
que o ventre de nossas Mães nos dá, mas que muda bruscamente ao nascemos: - A temperatura
é desafiadora, desconfortos gastrointestinais e respiratórios, pois se não
fizermos um berreiro, sequer respiramos!
Incorporar nas Forças Armadas é assim estressante,
dolorido pois deixamos de ser a criança ou adolescente – onde quase tudo nos é
permitido – para pagarmos o preço de ser homem! Em apenas um ano isso VAI
ACONTECER! Trabalho pesado, rigor hierárquico até então desconhecido, enfrentamento
de más condições climáticas entre outas coisas!
Logo, o dia em que se “dá baixa”, volta-se para casa
com o orgulho de ter Cumprido o Dever! Que alívio! Dia de celebração pois
voltamos à liberdade parcial que a vida de adulto nos impõe!
12) - Tu jantou né seu
bosta!
No glorioso dia em que dei baixa do Exército e voltei para
casa, 08/dez/1967, em minha cidade Jaguari, se comemorava o dia da Nossa
Senhora da Conceição – a Padroeira da Cidade – com a tradicional Festa da
Igreja. Como em toda a quermesse, havia música, comidas típicas e outras nem
tão típicas, bebidas, jogos e muita alegria!
O jogo de arremessar bolas de meias para derrubar uma
pirâmide de latinhas chamou atenção do amigo Gordo, pois premiava com um
garrafãozinho empalhado com um litro de vinho branco produzido na cidade.
Kolvinko, Nandinho, Gordo e eu juntamos nosso dinheiro
para competir e ganhamos o tal garrafãozinho e eu e Kolvinko o bebemos
imediatamente. Já sem dinheiro, não podíamos voltar a competir.
O Gordo, muito experto se postou ao lado do Alexandre,
um grande vencedor daquele jogo, e por ele torcia entusiasmadamente, no
entanto, com o cabo de seu guarda-chuvas enganchou e fez subir às suas mãos um
dos mais de dez litros colocados no chão, que o Alexandre tinha ganho.
Consolidado o furto, novamente nós dois bebemos o segundo litro da noite! Já tonto,
Kolvinko faz se diz em meio jejum:
- Não jantei,
vô pará de bebê prá não ficá bêbado!
- Também não
jantei! Vamos parar...
Nandinho – que não bebia - se despediu. Gordo só
assistia rindo da nossa cara! Mas a farra continuou pois veio a gloriosa ideia
de que agora nosso pequeno grupo não tinha mais menores de idade! Só homens!
- Vamos
continuar bebendo! E Kolvinko novamente:
- Mas tô de
estômago vazio. Não jantei!
Mas continuava
bebendo! Era um grande parceiro, não me deixaria só. Mas estando sem dinheiro, tínhamos
que encerrar. Foi a criatividade do Gordo que resolveu nossa carência de recursos
financeiros, numa ideia brilhante:
- Vou encher o
garrafão de água e trocar na copa por um vinho tinto e depois destroco por
vinho branco!
Dito e feito. Cheio de água, recoloca a rolha e
massageia a cera que protegia a tampa, para parecer virgem e foi feita a troca.
Bebemos o terceiro litro. Nestas alturas os dois “maiores de idade” estão muito
bêbados. Hora de o Gordo ir embora e foi.
- Como o Gordo
é legal! Vai nos fazer falta!
- Por que?
- Quero levar
este garrafãozinho de lembrança deste dia! Mas queria cheio para guardar!
- Podexá que
eu faço!
Repetida a operação. Ao acariciar o vinho vi a marca
na rolha de seu rompimento anterior! Tinha sido adulterada!
- Não
acredito! Nosso garrafãozinho voltou...
O feitiço voltou contra o feiticeiro! Rimos de sentar
no chão! Bom, já que voltou o garrafão com água, vou despejá-lo fora. Abri-o empurrando
a rolha com a ponta do guarda-chuva como nas vezes anteriores, (saca-rolhas, coisa
rara que não dispúnhamos) e ao escorrê-lo, pelo cheiro percebi o engano: - Era vinho!
- Bom, não dá
mais para guardar. Vamos ter que beber só nós dois!
- Mas eu não
jantei! Resmungou novamente...
- Nem eu amigo véio, vamos em frente!
E fomos em frente, ou melhor, bebemos! Aí o porre
ficou descontrolado. Hora de ir embora. No caminho com uma inspiração etílica
de Arte, resolvemos dar uma serenata ao Nandinho. Iniciamos nossa alegre canção,
sem nenhum instrumento e nada afinados! Subitamente Nandinho abriu uma fresta na
janela e bravejou:
- Para com essa
gritaria, seus merda! Pai tá doente. Se arranquem daqui!
Escorraçados por um amigo, ficamos desolados!
- Nem agradeceu! Maleducado!
Aos trancos e barrancos nos arrastamos à exaustão por mais
dois quarteirões. Na Igreja Protestante deitados contra o muro. Um escorava o outro
e o mundo começou a girar. Odeio isso! Não tem coisa que repugne mais do que o
mundo girando à toa e cada vez mais rápido... Ainda tive tempo de avisar ao
Kolvinko:
- Tô passando
mal. Acho que eu vou vomit... Huuuuââââ!!!
Felizmente fiz “aquilo” pelo lado oposto ao
companheiro, no entanto, ele percebeu um som diferente do vinho sendo
“despejado” na calçada. Não era só líquido. Meteu as mãos em meio ao produto e
inspecionou seu conteúdo, percebendo fragmentos sólidos, catou um pedaço maior.
Era batata frita. Com esse pedaço entre os dedos, me olhou severo e meio vesgo,
furioso, traído e sentenciou:
- Tu jantou
né, seu bosta!
Flagrado com uma peça de prova material da “mentira solidária
de jejum”, balbuciei minha defesa:
- É. Mas eu comi só
meio pratinho de batata-frita com o Carlinhos!
Assunto encerrado. O resto dessa noitada, eu não faço
a menor ideia do que ainda aconteceu nem como cheguei em casa! Tão inesquecível também foi a dor-de-cabeça da manhã seguinte!
pura verdade,hehe.
ResponderExcluirAdorei,o conto!Época boa aquela,deu prá dar umas kkkkk.
ResponderExcluirGenial como sempre.... to rindo aqui só imaginando a cena!!
ResponderExcluirQue farra boa, muito legal recordar essas memórias sempre muito divertidas!
ResponderExcluirQue coisa boa Recordar!
ResponderExcluirKkkkkkkkk que maximo!!! Eu vi a cena, que barbaridade....tempo bom! Bjo
ResponderExcluirEcaaaaa.....
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