quarta-feira, 7 de outubro de 2020

23) Gazelas na África

Meus amigos,

Na minha infância, adolescência e mesmo na fase adulta e por muitos anos, com o propósito de xingar algum amigo (?), chamávamos de viado! (*) "Ofensa" que era respondida com mil impropérios! Quanto mais antiga a época, maior era considerado o insulto, dando inclusive motivo suficiente para sair no tapa, socos e pontapés!

O mundo foi mudando e as comunidades gays dentro de seus Direitos foram defendendo a decisão como legítima e honrada através de passeatas, publicidades divulgando "quem era", especialmente alguns famosos e encantadores de mulheres e assim por diante, até nos acostumarmos com a ideia e aderir aqueles que julgam ser uma postura normal e simplesmente aceitá-la. Ponto final. 

Mais "modernamente", até criminalizaram a qualquer  manifestação jocosa dessa opção sexual: Homo fóbico. O nome até ficou elegante!

Durante a época crítica da crônica a seguir, eu sinceramente ficava muito incomodado se alguém me visse como homossexual, principalmente não sendo, né!

Vamos ao conto, sem absolutamente nenhum preconceito aqueles que... Sei que vocês entenderam! Mais, reconheço do risco que corro tão logo publique essa crônica, de "alguns sobrinhos" (HBJ, ASD + NCD) estarão forçando alguma "confissão libidinosa de tendências afrescalhativas"! Nada disso. Sabem que sou macho e não me encham o sapato...


(*) Está escrito corretamente sim. A pecha do "fresco" sendo chamado de "viado", não é nenhuma homenagem ao animalzinho semelhante ao cervo, que se denomina Veado e sim a uma música de Carnaval dos anos sessenta que insinuava que a "bicha", era um "transviado"! Adotado portanto o sufixo "viado" àqueles que "deram asas ao vilipêndio sexual entre masculinos"...



23) Gazelas na África.


Anabol, um amigo que fiz no paraquedismo, jovem com a metade da minha idade, muito alegre e divertido. Acompanhou-me à Flórida em novembro de 1997, para um Curso Prático de Aperfeiçoamento de Voo em  “Queda-livre” no Paraquedismo. 
Completamos treinamento feito em perfeita harmonia com extremo desafio. Tudo nesse esporte é radical. Entretanto quase no final, um grave incidente em sua Família fez com que antecipasse seu retorno ao Brasil em dois dias. Entendi que tínhamos composto uma parceria para aquela viagem e  antecipei meu retorno, acompanhando-o e encerrando tão vibrante programa. Isso, lhe impôs – em seu exclusivo juízo - um débito comigo pela abrupta interrupção ainda que no final, a um intenso, caríssimo e sensacional programa!

Passado quase dois anos, agosto de 1999, Anabol alegou que eu tinha perdido boa parte daquele programa de PQD e me presenteou com um "baita" pacote turístico em viagem à cinco regiões da África do Sul! 

Lá fomos nós. Agora cabe um relato - mote dessa crônica - que inicialmente curioso, mas real é de que hoje em dia há uma enorme a  frequência de “casais alternativos”, gays que viajam pelo mundo afora e chamam atenção, pela quantidade e pelas divertidas frescuras partilhadas, o que definitivamente não era nosso caso!

Em muitos momentos nos sentimos constrangidos pelos olhares que nos dirigiam, afinal, no Século Passado “esse tipo de dupla”, não era ainda tão comum. 

Um ponto importante da viagem foi a visita ao National Kruger Park a fazermos o tão cobiçado Safari Fotográfico. Fotográfico sim, não se atira em nenhum animal, por razões óbvias! Graças a identificação transmitida da dupla que compúnhamos pela agência de turismo, propiciou um “mal entendido”, gerando um mau começo! Na chegada a um rústico aeroporto em meio Savana, eu ainda com meu inglês meio turvo na mente, cometi a primeira gafe ao responder rapidamente ao guia que foi nos buscar quando ele, inferindo se tratar de casal, pergunta:

- Where is she?

Imaginando certamente que minha esposa estivesse por perto. Sem me dar conta, que “she” significa “ela” e não “he” que significaria “ele”, apontei imediatamente para o Anabol que se aproximava de nós já com sua bagagem de mão.

- Here is!

Senti o choque que o profissional levou, quando me dei conta que havia perguntado por “ela”, já era tarde... Ao perceber minha mancada, encabulei. Envaretado, meu vocabulário americano me traiu e não soube como reverter imediatamente o equívoco... Também nem disse ao Anabol  da minha comprometedora gafe.

A situação se agrava ao ocuparmos a cabana, com seu golpe fatal: Cama de casal! Pior: Havia carta de boas vindas para cada um de nós. Meu nome constava “senhora Diefenbach”... Aí não aguentei:

Com a voz mais grossa que pude, ordenei ao funcionário do hotel, fazendo cara de muito brabo, ofendido:

- Separa a cama, não somos “gays”!!!

- 

Yes of course!


Imediatamente atendido. No “louge”, padrão cinco estrelas não havia nenhum outro hóspede. Uns trinta funcionários que compunham a estrutura do excelente hotel, estavam exclusivos a nós, talvez em função da baixa temporada! Uma área verde espetacular contrastava em meio ao bege queimado das Savanas. Onde íamos sempre alguém a nos cuidar e servir na bandeja com lenços humedecidos e água para refrescar. O calor era forte e seco! Era até chato, não ficávamos à vontade nunca! Toda vez que percebíamos estarmos sendo vigiados. Já com medo de preconceitos sexuais, falávamos com a voz grossa, rouca. Frequentemente uma escandalosa coçada no saco e uma escarrada vigorosa no chão para ficar muito clara a masculinidade e grossura da dupla! Vai que lá na África, fundão de savana, desconfiem de alguma “viadice” da gente! Nem pensar. Seria essa postura uma discriminação sexual? Certamente sim, inconscientemente, mas sim. Medo de ser confundido com gay em primeiro momento procura-se  demonstrar claramente o "eu não sou, eu não sou"...

Num momento, o merda do Anabol inventa uma brincadeira chata: Vendo-me distraído, pisava no meu calcanhar descalçando o tênis. Repetida a idiotice, incomodado e cheio de razão rancei:

- Para com essa brincadeira idiota, seu bosta!

Isso só o estimulou! Ameacei-o. Só ria e repetia. Após um lauto e sofisticado jantar ao ar livre, fogo de chão e à luz de tochas, encerramos a noite e nos dirigimos a cabana para repousar. Dia seguinte madrugaríamos para nova sequência de Safari.  

Curioso silêncio de todos do restaurante a nos observar é claro, o procedimento protocolar combinado:  - Uma tossida com escarrada, caminhar de pernas abertas, tipo Klint Estwood ou John Wayne, bem macho. Num último momento da curta caminhada, o sacana repete a brincadeira do tênis. Perdi a paciência e lhe dei um soco forte – para machucar mesmo – ele se esquiva, quase vou ao chão desequilibrado e ele solta um fino e sonoro:

- Húúúúúúúiii!

Pula um arbusto rindo! Furioso, tentei um segundo golpe, ele esquiva novamente pulando mais arbustos dando mais gritinhos... Fiquei cada vez mais brabo aumentando o escândalo e a correria... Fim da brincadeira!

Vexame! Que encerramento de dia mais imbecil. Completamente destruída uma imagem tão bem elaborada de "Macho Raiz"! Os que assistiam se divertiram muito com aquele show! Lacônico! Que merda!

6 comentários:

  1. Só rindo,he he he.Se não o conhecesse,tava bem afrescalhada a aventura turística.Abreijão.

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  2. Kkkkkk... Cenas hilárias... Os africanos devem ter se divertido mto com os 2 machões.. Abraço primo talentoso. Adoro tuas crônicas.

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  3. Ri muito!!! Nada mais embaraçoso do que ter que provar que não é gay, parece que tudo conspira ao contrário. Muito divertido!!

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  4. Kátia disse tudo: Se tiver que PROVAR que não é gay, tudo conspira contra...

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  5. Muito engraçada. mas admito embaraçosa essa situação kkkkkkk

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