- Até a saída da adolescência, parece que tudo conspira na contramão dos anseios do menino. O cabelo não se ajeita de acordo com o desejo. Há sempre um redemoinho ou uma região que ele fica espetado como se fosse um paliteiro e não há gel, creme ou banha de capivara que ajuste de acordo com aquilo que queria ver no espelho.
Para mim foi piorado pois meu pai é quem determinava o comprimento dos fios. Um dia ao retornar do barbeiro, meu velho me mandou de volta para CORTAR o cabelo... Estatura? Sou baixinho, (quando adulto atingi 1,81m, nada de “baixinho”, mas...) queria tanto dançar com a filha sr. Fulano, mas ela é mais alta que eu e aí fica ridículo! A pele? Que raiva, como é difícil fazer desaparecer as espinhas, mesmo que sejam poucas, dão um aspecto horrendo, jamais poderei por exemplo, dançar de rosto colado, tão romântico e conquistador!
Essa idade parece que só conspira desgraça. Autoconfiança, abaixo de zero! Ainda bem que nesse período da minha vida, os Psiquiatras não tinham ainda "inventado" a tal depressão! Não precisávamos de Prosac ou outro antidepressivo qualquer!
A transição da adolescência de tanta infelicidade acontece como a movimentação de um elástico: A insegurança estica até seu limite quando subitamente se solta e ela retorna aquém do bom senso, isto é, à soberba! Difícil reconhecer, ou sequer aceitar, mas de adolescente para “jovem” a prepotência explode, domina! Agora sabemos tudo, dominamos absolutamente tudo, somos conquistadores irresistíveis, sabemos tudo sobre a vida mais do que qualquer adulto formado! Arrogante? Não, Sábio mesmo! (Pelo menos até o primeiro tombo, geralmente, primeiro chifre!) Então nesse período antes do tombo, pensamos muito em “ter”! Ter um carro, ter grana no bolso e em especial, ter uma (s) “gata (s)”! A qualidade não é relevante, a quantidade sim! Qualquer sinalização para aumentar o “rol de conquistas”, está legitimado! Pois a crônica a seguir, trata de um fato ocorrido precisamente nessa fase em que visava em qualquer conquista amorosa, um troféu para brilhar na prateleira!
A Primeira “tanga” nas praias do RS.
Verão de 1971: Jornal Zero Hora faz uma ampla matéria exibindo fotos na
primeira página da inusitada e arrojada “tanga” na praia de Tramandaí. Praia de maior
movimentação e mais badalada do RS. Chamou atenção uma dupla de moças –
daí a reportagem – pela beleza plástica de uma e a “generosa fartura” em todas
as formas da outra.
O mais importante era indumentária de ambas: A mais bela ostentava uma tanga – que na verdade a moda não aderiu – cujo “tapa sexo” era apenas um lencinho semelhante aos que se vê nos filmes em que aparecem as Tribos Indígenas pelo mundo afora. Aquele “paninho” pendurado estrategicamente, cobria miseravelmente a área de interesse gineco-obstetra, local no corpo da mulher considerado de interesse geral da galera assumidamente masculina. O modelito se assemelhava aos costumes “Apaches” para alegria de muitos e desconforto das namoradas ciumentas...
Nessa época eu
dividia apartamento com meu conterrâneo, o JED, já identificado no primeiro conto da Andradas.
Eu havia recentemente comprado meu primeiro fusca, o primeiro sonho material! Tendo carro, eleva-se o status bem como se torna alvo de bons e de diversos convites ao
entretenimento. Num domingo, duas semanas após o escândalo do jornal ZH, meu amigo JED me convidou a ir num
riacho recentemente descoberto para um banho de rio em águas limpas e frescas,
onde havia também uma cascata! Era no município Novo Hamburgo, em meio a
mata nativa. Natureza pura e bela!
- Fausto, vâmo dá um passeio numa prainha, no interior de Novo Hamburgo? Dizem ter uma prainha de rio, sensacional. Eu convido umas amigas para irem conosco!
– Legal, vamos sim. Mas quem são elas?
– Umas amigas!
Assim tão bem explicado pelo amigo, aceitei de imediato. Como combinado, numa manhã de domingo e nos encontramos com as vistosas amigas, moradoras do mesmo prédio da gente, e pegamos estrada em total alegria juvenil!
Nunca soube sequer o nome delas, também não tinha a menor importância detalhes de nome, perfil etc... Uma delas era linda e eu cobrei do JED ao pé do ouvido, que "aquela" sentaria ao meu lado por óbvio. A outra, bem, a outra era opulenta e de beleza plástica, “intermediária”! Fomos alegres e contentes como combinado rodando por uns 50 km da BR 116. Afinal eu era livre e desimpedido e principalmente, eu tinha um carro, o que me fazia – dentro da minha imaginação presunçosa e egoísta - um “cara interessante”!
Lá fomos nós a passear! Por pouco mais de uma hora, chegamos ao local que era de fato lindo, natural, um pouco selvagem sem nenhuma estrutura turística. Frequentado, naquele dia, por mais de vinte Famílias de pessoas simples, do interior com crianças, adolescentes etc... Fizemos um churrasco com fogo de chão e algumas cervejas não muito geladas, afinal de contas, caixa com isolamento térmico não era do “nosso bico”! Após o almoço fomos nos banhar no riacho que vinha da cascata em meio aquele vasto grupo de pessoas da região. Coloquei a sunga e elas foram a um modesto barraco, “se trocar”! Minutos depois vieram elas no mais belo desfile de modas em meio a selva!
Alarme geral e para minha surpresa, "elas", eram exatamente aquelas duas moças que em um domingo anterior causaram tanto tumulto, escândalo e indignação em Tramandaí. Ao vê-las, quase engoli a língua! O reboliço foi danado. Fiquei roxo de vergonha e nadei em fuga para o outro lado do rio e lá fiquei escondido dentro d'água, só com o nariz para fora... Definitivamente abandonei JED sozinho com as duas beldades!
Deu um corre-corre danado, algumas mulheres gritavam, outras arrastavam desesperadas suas crianças, nos xingavam com diversos tipos de acusação, tapavam olhos dos maridos, esses com olhar derretido sorriam e babavam ao mesmo tempo. Peças de cozinha e roupas deixadas para trás. Pior que um tufão, muito mais devastador. Deixaram um saldo de ciclone letal! Em poucos minutos o local que antes tinha muita gente, ficou num vazio silencioso com vento jogando guardanapos usados e alguns panos de pratos velhos pela paisagem, agora desoladamente deserta
Escândalo extinto,
voltei calmamente ao convívio com a tríade que eu abandonara e demos por
encerrado o domingo. Voltamos para casa em silêncio. Não “aproveitamos” nada da
tão fulgurante companhia!
Magníficos detalhes desta proeza! Que momento hahaha
ResponderExcluirCada uma....kkkkkkkkkk
ResponderExcluirA adolescência daquela época,era formidável, hahaha.
ResponderExcluirPior Décio, é que eu não era mais um adolescente, isto é com uns 24 anos!!!
ExcluirQuantas coisas boas, aconteceram na adolescência! Kkkk valeu.
ResponderExcluirBoa!
ResponderExcluirHilária proeza. Amei o texto.
ResponderExcluirMe deliciei com essa crônica! A riqueza dos detalhes e a narrativa estão maravilhosas!! Muito divertido esse episódio, que façanha!
ResponderExcluirkkkkk, depois do tufão , poderiam ter aproveitado mais a beleza do lugar.
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