37) Dificuldade com troco.
Meus amigos,
A Crônica de hoje relata algo acontecido há quase meio Século. Custei a ter coragem de escrevê-lo, pois em virtude do “ perfil ignorante”, procurei ocultá-lo.
Hoje me revelo, tenham paciência comigo e me desculpem pela grosseria perpetrada contra um cobrador de ônibus!
O que pode
suavizar minhas crônicas, é a exposição de figuras que ilustram de forma inteligente – agora posso elogiar porque não sou eu que as produzo – com a
criatividade de Dirceo Stona, que desde a primeira crônica esteve me estimulando,
incentivando e garimpando as figuras que ilustram tão bem as histórias!
Obrigado meu amigo, amizade de mais de sessenta anos!
- Dificuldade com troco.
Certo dia saquei 100,00 para pagamento de uma conta no dia seguinte. A nota de “enorme valor” ficou na carteira. Ao ir para a Faculdade, pegava ônibus na Praça XV no centro de Porto Alegre. Antes de embarcar tomei uma “batida de morangos”! Ao pagar, verifiquei que tinha exato o valor daquele lanche e me restou aquela única nota para o ônibus, que custava centavos, nem chegava a um cruzeiro. Fiquei preocupado com a reação que o cobrador teria diante da dificuldade com o troco da época. Pior, preocupação crescente!
Li casos em colunas policiais de jornais, sobre brigas com final trágico nessa situação. Não tenho alternativa diante de sua tamanha falta de educação. Terei que “engrossar” – sei que a melhor defesa é o ataque - para que não perceba que estou com medo. Respirei fundo e botei o peito para cima para mostrar musculatura (inexistente) e fui para a roleta. Larguei aquela maldita nota disfarçando a mão trêmula de medo no que, como esperado, ele retruca:
- Não tem nota menor?
Eu sabia que ele ia implicar comigo, me provocar para depois justificar sua ação tão violenta! Vou determinado e não vou mostrar medo, é assim que devo agir:
- CLARO QUE NÃO, PORRA! Não tá vendo que só tenho essa nota? Se tivesse é óbvio que não usaria, né?! Tem cada pergunta!
Eu nunca tinha dado um “pataço” tão perfeito, tão forte! Cavalo nenhum me superaria! Pudera, eu tinha que ser forte diante de tamanha ameaça que aquele perigoso cobrador representava! Sem exagerar nem um pouco, o cara podia até me matar!
- Sem problema. Arrumo troco!
Surpreendentemente falou bem baixinho e baixou-se para pegar “algo”. Desconfiei. Fiquei preparado, pois há casos de cobradores usarem uma chave-de-fendas como se fosse estilete que produz perfurações letais no abdômen de seu oponente! Um horror! Assassinos frios e cruéis! Entretanto, ainda que me parecesse falso, tomou de uma sacola cheia de dinheiro e pegou um pacote com 100 notas de um Cruzeiro, tirou uma nota para descontar o valor da passagem e ainda apanhou as moedas para completar o troco corretamente.
Notas velhas formam um “bolo de grana” que não cabe em nenhuma carteira, joguei tudo na pasta sem contar, ainda furioso e passei a roleta. Ao passar, uma moça que sentava ao lado do cobrador, se levantou e disse :
- Sente-se aqui, que vou desembarcar!
Está tudo dando certo, pois até essa menina ficou com medo de mim, entretanto era tudo o que eu NÃO queria: - Sentar ao lado do cobrador.
Mas com cautela e com o canto dos olhos fiquei cuidando o cara e notei - eu estava muito esperto, alerta - que ele me olhava a toda hora. Estava me observando. Continuo me sentindo ameaçado, mas prevenido. Finalmente cheguei ao destino. Levantei pensando em não mostrar medo nem ficar muito de costas para ele. Fiz-lhe ainda um olhar ameaçador de muito brabo e sai. Dois passos e ele fala:
- Boa aula, seu Fausto!
Parei. Olhei para
trás e o moreno estava com um largo sorriso, estampando uma bela dentadura alva e
uma simpatia inigualável! Derreti! Senti que até minhas orelhas murcharam! Vontade de olhara no espelho e dizer: "Seu idiota!"
Nesse momento, se
deu um fenômeno interessante em toda a pele que cobre o meu rosto, além de
quente, sentia nitidamente meu batimento cardíaco! Interessante, né?!
A dúvida que fica: - Será que ele me achou ignorante? Talvez não! Apenas um grosso mal-humorado!
Eu nunca soube
quem era aquela “Graça de Pessoa” e nem de onde me conhecia! Por sorte nunca mais
peguei viagem com ele. Fiquei devendo para sempre um pedido de desculpas ajoelhado!
Que vergonha. Sentir-se um animal é o pior dos sentimentos de "auto estima”!
Muito bom como sempre Fausto! Não consegui te imaginar assim tão grosso e ignorante. Esse não era tu..... Abração!
ResponderExcluirHehehe,algum conterrâneo,que não quiz se identificar.
ResponderExcluirFiquei imaginando o “demonstrar dos músculos (inexistentes)”. Hahaha. Ah, se o Mestre Suzuki estivesse vendo isso no ônibus!!!!
ResponderExcluirKkkk esse não é o Fausto que conheço!
ResponderExcluirMuito Bom!! Ele te desarmou.
ResponderExcluirKkkkk
Fausto, com certeza não era tu esse cara, foi o medo que te fez macho no momento..kkkk..abs e obrigado por compartilhar historias para alegrar meu dia..
ResponderExcluirFausto, essas memórias de coisas que fazemos e dizemos , nos acompanham, pode ter certeza que não és o único. Mas o cobrador tinha estilo hein?????
ResponderExcluirMarco Aurélio já dizia: "A maior parte das coisas que falamos ou dizemos não e necessária, quem as eliminar da própria vida será mais tranquilo e sereno"
Fiquei curiosa.... será que o cobrador era de Jaguari? Não duvido....😂😂😂😂😂😂
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