45) Nem sempre o gago é bem entendido...
Véspera do meu aniversário dos dezoito anos quase não dormi. De manhã cedo, bem antes da Delegacia de Polícias abrir, eu já estava lá na porta para solicitar uma “licença especial para dirigir”, até a obtenção da CNH. Hoje, essa tolerância não existe mais!
Pois tenho um grande amigo, o Décio que dirigia, não da puberdade, mas ainda criança!
Nem sempre o gago é bem entendido...
A crônica de hoje, trata precisamente do trabalho desse meu amigo quando solicitado pelo sr. Little War a acompanhá-lo numa incursão pelo interior da nossa cidade. São estradas difíceis pela topografia e a má qualidade do piso, que evidentemente, sem asfalto. “Estrada de chão”, como chamávamos, exigia perícia apurada a evitar pedras cortantes aos pneus, pregos salientes nas rudimentares pontes de madeira que por lá existiam. Estradas estreitas e sem manutenção alguma, reservava ainda a surpresa de se deparar com algum animal solto na estrada, ou até um rebanho inteiro.
O sr. Little War tinha um problema de dicção. Fala de forma entrecortada, repetindo ou prolongando sílabas ou sons. O Google chama também de “tardíloquo”, Gago mesmo, se é que me entendem...
Pois dessa feita, Décio dirigia cheio de satisfação e orgulho, enquanto o proprietário do carro, uma caminhonete Ford F1, ano 1951, de três marchas com a palanca de mudanças junto ao eixo do volante, curtia aqueles momentos como um passeio, pois acompanhado de seu filho com uns quatro a cinco nos de idade, tudo era alegria! Para o “pimpolho” era novidade a cada quilômetro rodado e as paisagens de rica vegetação, pequenos montes verdejantes, riachos e pitorescas vilas a cruzar, tornavam quase uma aula de geografia regional recheadas de puro encanto!
Em um dado momento, “papai” ao observar um rancho rodeado por frondosas árvores de Eucalipto, exalando sua fragrância peculiar, coberto de “Capim Santa Fé”, provavelmente adaptada a ser uma cocheira com uma vaca pastando e seu terneiro a mamar. Ávido de passar novas instruções ao seu pequeno herdeiro lhe chama atenção:
- O olha lá me meu fi-filhinho: Uma vaqui-quinha dando de ma-mamá!
- Onde a vaqui-quinha, pai!
- Nã-não é vaqui-quinha! É vaqui-qui-qui-quinha!!!
- Sim, pai. É uma vaqui-qui...
- CALA A BOCA!
Silêncio sepulcral dentro da cabine. Se foi a alegria da pitoresca viagem. Meu amigo Décio, para se manter sério teve que morder a língua, assobiar, pensar em coisas ruins para se segurar... Afirma até hoje que foi uma viagem muito difícil!, longa!
(*) Informação técnica: "Caixa seca": - Nos veículos mais antigos, as marchas não eram sincronizadas e fazer câmbio exigia habilidade mais apurada, senão as mudanças "raspavam". Para dirigir adequadamente, tinha um procedimento que era o pisar na embreagem, trazer a palanca para o ponto morto, pisar na embreagem novamente e daí então colocar a marcha escolhida. Ex: - Estou em primeira marcha, acelero o quanto achar conveniente, piso na embreagem e ponho a palanca no ponto-morto, piso novamente na embreagem e coloco a palanca na segunda e assim sucessivamente! Entendido? Eu e o Décio podemos dar aula de direção, é só nos chamar... Hehehehe...
É vero,quantas saudades daquele tempo,nada era difícil,tudo era possível.Abreijão.
ResponderExcluirQuerido amigo e Irmão de Ordem Fausto, você não poderia em seu dar nome abrir os personagens da história, mas eu como seu leitor posso: segundo eu lembro o pai era o Acelino ...
ResponderExcluirBom dia D. Fausto, mas esta viagem deveria ser para a Florida, terra natal do nosso glorioso Ché.
ResponderExcluirTuas histórias renderiam um livro!!!
ResponderExcluirMe transportei pra Jaguari. Andei junto de caixa-seca e me diverti muito, só ao ler tua crônica!
ResponderExcluirLembro do Xé! Era muito metido! Adorei a história! Kkkk
ResponderExcluirCaixa seca. Aquela que necessitava, a dupla pedalada de embreagem!
ResponderExcluirVai longe isso. Mas era bom!
Novos éramos, e tudo era festa.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDesculpe-me Fausto.
ResponderExcluirPubliquei duas vezes.
" Não mais jovem" kkkk.
Muito andei nessas estradas de chão com meu pai por isso viajei junto com os personagens e me diverti com o sr Little WAr.
ResponderExcluirSaudades da nissa infância nas estradas de Jaguarí, muitas simples "corredores".
ResponderExcluirSuas crônicas são sempre muito boas!! Vc podia colocá-las em um livro de Contos da minha Juventude!
ResponderExcluiro “Blog do Fausto Diefenbach,” com a coleção de crônicas e contos traçados com humor, escritos pelo detentor do domínio, com a habilidade nata de um narrador, traz ao leitor um encontro que vai ao passado, quando o tema são recordações, e um sonho, ao se tratar de uma nova realidade ao aparecer ficções de um mundo ainda não vivido. Sinto em cada linha, cada parágrafo um aconchego de palavras que nos levam, como simples leitores, vibrar com aventuras de seus personagens, ora imaginários, ora reais. Gostei, tanto que li mais de uma vez.
ResponderExcluir"Congratulations my brother"
Grande Fausto. Gostei muito da explicação da "caixa seca". Suas crônicas são muito boas. Abraço!
ResponderExcluirAté hoje o Fausto gosta de andar no ponto morto. Mas adora cambio Automativo e piloto.
ResponderExcluirDom Fausto, suas histórias são absolutamente fantástica que nos faz retomar a infância. Brilhante. Abs
ResponderExcluirSempre “viajo” junto nessas histórias da nossa terrinha! Essa muito divertida! Bjossss ❤️❤️❤️
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