quarta-feira, 28 de abril de 2021

51) Ovo cozido de um minuto!

 

51) Ovo cozido de um minuto!

 Toda e qualquer Arte que queiramos desenvolver, é mandatório que se queira com todo entusiasmo. A frase é surrada, o que pode torna-la ainda mais verdadeira. Quem diz que não gosta de fritar um ovo, ao frita-lo, rompe a gema, gruda na frigideira, a clara fica líquida, enfim, um desastre de ovo frito, tão fácil de faze-lo!

Na cozinha tenho minhas manias o que me torna um cozinheiro categoria mediana. Faço tudo com medidas certas e tempo contado no cronômetro de pulso, que nunca abandono enquanto à frente do forno, fogão ou churrasqueira! André, meu sobrinho, diz que tenho “toque”! Que seja. Continuarei assim. Daí que faço um ovo cozido que fica com a clara sólida e a gema totalmente líquida para comer na casca, como minha mãe fazia! Segredo? Coloco em água fria e ao ferver por precisos 60 segundos, está no ponto, perfeito. Um choque com água fria  para a casca ficar solta e se deliciar!

Inverno de 1981 voltava de uma Convenção da IBM – num daqueles prêmios já contados em proza e verso nesse canal – e tinha a parceria do Bicaco novamente, só que dessa vez ele aproveitava a viagem para fazer sua Lua de Mel, recém-casado com Lili!

Voltávamos das Ilhas Bermudas. Nosso roteiro de retorno passava por San Andress – ilha colombiana no Caribe, muito próxima à Nicarágua – onde ficamos uma semana hospedados no maravilhoso Hotel Aquários, de “poucas estrelas”, mas curiosamente com todas suas acomodações em quartos sobre palafitas mar adentro, que exibia em suas águas cristalinas, cardumes das mais variadas espécies, multicolores! Amanhecer naquele ambiente com ruído das ondas e o cheiro do mar, é indescritível! Fizemos mergulhos espetaculares em meio àquela fauna colorida! Daí o nome do Hotel Aquários!

De volta para casa, planejamos uma parada de duas noites em Manaus, para conhecer um pedaço do Brasil que provavelmente não passaria mais por um local tão distante de casa, mas não menos atraente!

Entretanto na saída da Ilha, destino a Bogotá – onde faríamos conexão em voo da Varig – voamos pela Colombiana Avianca, que atrasou muito e perdemos a Varig. Fiquei furioso e demonstrei isso claramente no balcão da Companhia, a ponto de chamar atenção de um “Agente do Governo”, trabalhando em nome do turismo que me abordou questionou meu grau de insatisfação. Disse que eu deveria “gritar mais alto” que ele estaria ao meu lado, até que Avianca resolvesse minha contrariedade! E resolveu muito bem: 

Mandou-nos para um hotel, manhã seguinte nos trouxe de volta para o aeroporto e nos levou até o Panamá, onde esperamos por dois dias outro voo Varig que finalmente nos levaria a Manaus!

Nessa espera na cidade Panamá, capital do Panamá conhecemos o curioso Canal que une Oceano Atlântico ao Pacífico e curtimos enfim um belo passeio, com tudo “free”, pensão completa!

O hotel reservado ficava fora da cidade, quase um sítio. Tinha tudo para o lazer: Campos de golfe, futebol, tênis, piscina e tudo que um turista exigente quer. Café da manhã numa área campestre a beira da piscina, com um “break fast” que inundava a área com o gostoso cheiro de café colombiano! Serviço ao estilo americano que não pergunta se você quer ovos, perguntam como quer! Se “broiled, scramble, omelete ou up and down”, isto é, cozido na casca, mexido, omelete ou frito! 

Garçom pergunta como quero meu ovo cozido e pedi de um minuto! Ele retruca se eu quis dizer três minutos? Não, falei um minuto. Confesso que minha afirmação foi com convicção aguda, quase assusto o gentil garçom. Ele assentiu com a cabeça e foi providenciar. Volta com o pedido na bandeja, coloca a minha frente e fica me olhando com um sorrisinho debochado no rosto, aguardando, “não sei oque”!? Depois fiquei sabendo...

- Detalhamento com informação culinária: - O ovo que faço em casa de um minuto tem processo lento, e obviamente inviável em um restaurante ou hotel. Lá, eles não têm um profissional na cozinha que possa colocar aquele ovo na água fria e ficar sentado esperando até ferve-lo para daí então contar um minuto, ora bolas! 

Para atender tantos pedidos diferentes, é óbvio que já tem um recipiente com água fervendo; é colocá-lo ali, só que em vez de um minuto, são três de espera e está pronto. O resultado é idêntico!

Voltando ao sorrisinho do garçom: Abro o ovo parcimoniosamente com uma pequena colher, removendo os pequenos cacos da casca - e o FDP me olhando - eis que o ovo está evidentemente cru! Cheiro forte de ovo cru, nada apetitoso! O garçom ainda mais sorridente, desafiador pergunta:

- É assim que o senhor gosta?

Debochado. Deu vontade de jogar na cara dele. "Depois", pedir humildemente outro ovo como só ele sabia fazer... Mas o orgulho do Escorpião que sou, não se deu por vencido, muito menos a alegrar aquele garçom antipático que disputava comigo o domínio da requintada, complicada, apurada técnica de cozinhar um ovo! Mas não me dei por vencido:

- Está perfeito! Excelente meu jovem! Exatamente como eu gosto! Muito obrigado!


Hoje em dia, aprendi com o Duda a comer ovos crus de fato. Só tirar da casca, colocar em um copo e engolir. Com algumas gotas de molho inglês, fica ótimo, creiam-me! Lembram do filme “Os Filhos do Francisco”? O pai fazia Luciano e Zezé de Camargo engolir um ovo cru para melhorarem suas vozes!

Mas naquele dia lá no Panamá, lembro até agora, comi o tal de ovo quase lacrimando! Renovo um adágio popular que diz “o apressado como cru” para: “O orgulhoso metido a besta, é quem come cru”, no caso eu mesmo! 

Tudo é aprendizado!!! 

 

quinta-feira, 22 de abril de 2021

50) Fuso horário entre São Fco. e NYC é de cinco horas.

50) O fuso horário entre Frisco & NYC é de cinco horas!

Minhas memórias me elevam a autoestima, sempre que lembro o ano de 1978 como Profissional de Vendas de uma Multinacional Americana em que trabalhava! Nesse ano, conquistei pela segunda vez o prêmio a participar do Clube 100% em Acapulco, no México.

O “complemento” desse valioso prêmio, é esticar a viagem por mais umas duas semanas ou mais na Região, nesse caso, aos EUA!

Nessa oportunidade, dois colegas de trabalho, o Cel. Bicaco e Rugg celebravam o mesmo resultado. Surge a ideia de nos agruparmos e fazer um tour pelo Oeste Americano, topei a parceria desde que se incluísse NYC, que ainda não conhecia. Eles também toparam e lá fomos nós. No México, outros dois colegas de São Paulo, Mariano e outro que não lembro seu nome, se juntaram a nós.

A primeira parte curiosa da viagem corre por conta da travessia “cost to cost”, São Francisco a New York. Voo direto que leva cinco horas. Saímos da Califórnia próximo ao meio dia e a “melhor parte” foi almoço a bordo... Meu Deus, nós brasileiros nessa época,  éramos acostumados a viajar, pela lamentavelmente extinta Varig, com um serviço de bordo inesquecível, lautos jantares, almoços cobertos de vinhos à vontade e até “poire” e “cointreau” após a sobremesa! Copos, desconfio que alguns até de cristal, e quantos desses, após as viagens acabaram vindo direto para minha casa... 

Pois a TWA – também já extinta – servia apenas algum biscoito seco com opção de escolher o que beber, entre água sem gás e Coca-Cola, em copos plásticos, bem mixuruca. Logo após aquele almoço, eu já estava com fome!

O que vale é que meu sonho estava se realizando: - Conhecer a “Cidade que Nunca Dorme”, NYC! Na chegada, descendo da aeronave no pátio, um choque ao respirar aquele ar morno com cheiro de querosene que as aeronaves exalam. Zumbido estonteante das muitas turbinas operando. A chegada ao imenso Aeroporto Kennedy, fiquei perplexo, encanado, envolvido em tanta emoção. Tudo muito novo, desafiador o que reforçava meu encantamento!

A chegada ao hotel com “horário biológico” de umas 17:00hs, no entanto na realidade já eram 22:00hs. pelo fuso horário Até sair para jantar, eu mantinha aquela fome gerada pelo “almoço danado” tido a bordo!

Até agrupar com os quatro colegas e sair à rua, levou mais um tempo considerável. E eu com fome. Caminhar a noite na cidade com tantas luzes e luminosos coloridos, é algo que vale a viagem a NYC, tamanho leque de opções. Mas a “Cidade que nunca dorme”, dorme sim! Fui ficando impacientado, em meio aquele cheiro gostoso no ar, de amendoim torrado no chocolate provocando ainda mais a minha gula!

Lugar para comer que mais se via naquela hora, eram pequenas pizzarias, que servem um pedaço envolto em um triangulo de papelão e sair comendo pela rua mesmo. Isso deixou o Rugg entusiasmado, porque como um “bom paulista” a alternativa era ótima! Eu não, eu estava com uma verdadeira fome!

Mas a caminhada da maioria de nosso pequeno grupo, inebriada com as fantásticas vitrines, mas com lojas fechadas pelo horário eram "sem compras". Essas, expunham em suas vitrines as potentes câmeras fotográficas Cannon, Konica etc. com preços extremamente convidativos. (Nessa época era o produto importado mais cobiçado por nós, os homens).  

E a comitiva só se arrastava pelas ruas com algum elemento sempre ficando para trás. Nada de falarem em jantar, só o Rugg que repetia seu desejo por pizza. E eu com fome. Em um dado momento entramos num bar qualquer para usar o banheiro. Lá, sem o burburinho da rua, apenas aquele cheiro forte de naftalina jogada nos mictórios, resolvi tomar a palavra, na verdade não foi só “tomar a palavra”, tive um “piti”! É, uma crise com furor gastro intestinal, mais conhecido por louco de fome! Sim, essa loucura realmente existe. Paguei uma bronca geral. ROSNEI em alto e bom tom:

- Eu tô com fome! Vocês podem deixar para amanhã as compras e o olhar vitrine? 


Eu quero 
jantar! Aquele almocinho de merda já está lá no garrão!

Rugg, que era nosso líder, conhecia melhor a cidade, contemporizou para acalmar os ânimos:

- OK. Vamos dar uma paradinha sim. Vamos comer uma pizza. O alemão está com fome e faminto ele fica brabo!

Todos riram! E uma coisa que me deixa brabo, é alguém dizer que estou brabo, aí sim eu fico brabo! Surtei:

- Puta-que-pariu! Eu não quero comer pizza. Pizza é lanche. Eu quero comer comida de verdade! Sentar num restaurante e jantar! Quero comer algo que faça bosta, entenderam?

Incrível, com aquele show ninguém riu. Silêncio no banheiro só interrompido pelo ruído de uma descarga de algum vaso sanitário. Deixei todos constrangidos pela fúria espontâneo e nos dirigimos a um restaurante chinês! Lá, comi como um apenado ao voltar pra casa!

Com a barriga cheia, voltei a sorrir e conversar como se fosse um menino bem-educado! E assim a viagem transcorreu maravilhosamente, sempre respeitando a fome do cara...

quarta-feira, 14 de abril de 2021

49) Um Bom Porre Define seu Honroso “Status”!

49) Um Bom Porre define seu "Honroso Status"!

 

Enquanto vivi meus primeiros gloriosos anos de "pré-adulto" ainda em Jaguari, tinha com meus amigos mais próximos uma competição de quem tivesse o melhor e/ou maior porre/pileque! Obtinha-se com isso um "status" de que já tinha se tornado um Homem! Que orgulho! Tive tudo para me consagrar um autêntico gambá, entretanto minha mudança para Porto Alegre travou esse "progresso", pois a necessidade de trabalhar e estudar com grana curta, a verba para bebidas alcoólicas ficou zerada. Mais: Nem refrigerante!

Pois naquela época dos primeiros momentos de Glória Etílica, foram iniciadas com batida de limão no café do "seu Roberto." Pouco antes do meio dia nos alegres e ensolarados domingos, reuniam-se em mais de dez mesas uma imensa galera naquele café. Dentre elas, tinha uma mesa maior, de mármore branco, única em forma oval próxima à janela da rua, de nossa preferência para beber e falar sobre o jogo de futebol de salão. Esse que invariavelmente ocorria aos domingos na quadra "atrás da Igreja"!.

Ao chegar lá, já se sentia aquele cheiro de bebida alcoólica misturado com cheiro de fumaça de cigarro, muito convidativo a se juntar aos “dois tóxicos”! Juntávamo-nos após o tal jogo de futebol e bebia a saborosa batida de limão, única! Jamais encontrei em outra cidade. Fórmula nem tão mágica composta de 25% suco de limão, 25% de calda de açúcar com canela e cravo e 50% de cachaça!

Só de pensar me vem à mente e às papilas gustativas aquela delícia! Por se tratar de bebida “docinha”, é imperceptível a ação rápida do álcool, até que se sente tonto, já era tarde...

Depois veio o “Samba”: Cachaça com Pepsi-Cola. A evolução correu por conta da “Cuba Libre” que era Rum Merino com Pepsi-Cola! Mas isso já era um “trago” para as noites de bailes e reuniões dançantes.

Já contei alguns pileques em crônicas anteriores que marcaram a alegria artificial da “cana brava” e o surgimento das primeiras dores de cabeça por lá criadas!

Ao publicar a minha crônica 46, “Eu tinha uma botinha do Roberto Carlos”, provocou resposta de um sobrinho lá da minha terra, o Meme que me contou um fato de um amigo, que se notabilizou, ficou famoso na Terrinha pelo invejável e fulgurante porre!

Pois meu conterrâneo voltava de uma noitada na boate do clube, em avançado estado de embriaguez, isto é, “prá lá de Marrakesh”! Chega em casa, cai na cama e dorme instantaneamente mas logo acorda, ainda anestesiado, muito tonto, levanta meio dormindo e vai ao banheiro urinar. Erra a porta e entra no quarto de costuras de sua mãe, derrubando tudo pelo caminho, fazendo a maior barulheira. A mãe acorda e vai verificar o que está ocorrendo e se depara com o rico filho mijando dentro de uma das gavetinhas da máquina de costuras!

- O que é isso meu filho? O que tu faz ai guri?


O filho então, ainda bêbado autoconfiante, cheio de razão e firmeza responde com grande autoridade:

- E o que a senhora, minha mãe, faz o que no banheiro dos homens a essa hora?!

A sequência de fato inusitado, fica por conta de cada leitor, todos têm esse Direito! O fato é bem conhecido na cidade e é relativamente recente, deixei seu nome fora para poupá-lo, como habitualmente escrevo. Mas que ele merece nossos sinceros cumprimentos, ah merece! Parabéns pela determinação meu conterrâneo!

quarta-feira, 7 de abril de 2021

48) Bom Humor vale a pena, sempre!

 48) Bom humor vale a pena, sempre!

 

Quando iniciei a escrever o “Contos de um RIdículo” que há um ano lancei nesse blog, priorizei a alegria e o prazer de provocar pelo menos um sorriso aos meus Leitores, por conta disso escrevi RIdículo com as duas primeiras letras em “caixa alta”, por que rir é o melhor remédio!


Li essa semana o Emmet Fox que escreve em seu livro “Dia a Dia”, algo extremamente inteligente sobre o assunto, que reforça minha tese de provocar riso: “A maioria das pessoas sente, intuitivamente, que as coisas mais simples da Vida são as mais importantes, ou se preferirem, que as coisas mais importantes na Vida são as mais simples.

O sorriso é bastante importante. Um sorriso afeta seu corpo inteiro, desde a pele até o esqueleto, incluindo todos vasos sanguíneos, nervos e músculos. Afeta o funcionamento de todos órgãos. Influencia todas as glândulas. Um sorriso relaxa músculos e quando isso se torna um hábito, você verá como o efeito aumentará. Os sorrisos do ano passado estão lhe pagando dividendos até hoje. Ele desarma suspeitas, afasta o medo e a raiva e faz brotar o que há de melhor na outra pessoa – que passa imediatamente a dar a você esse melhor. Um sorriso é para os contatos pessoais o que é o óleo para as máquinas – e nenhum maquinista inteligente negligencia a lubrificação! ”

Hoje me faz rir até uma bobagem, como uma situação quando estava em família na casa de praia num domingo e ao organizar o almoço, minha cunhada, a Anfitriã faz uma enquete para compor seu almoço à la minuta!

Uma de suas netas, embora pós adolescente é muito dedicada, quase inveterada à leitura. Devora três, quatro livros na semana, até onde sei, sobre os mais variados temas. Uma qualidade notável, num mundo em que meninas na idade dela procuram outras alternativas de entretenimento bem menos intelectual. Quando está mergulhada em um texto, sua concentração é bárbara, absoluta!

Voltamos à balbúrdia do horário de almoço na praia. Alguns recém-chegados do Mar, ainda em trajes de banho, com o lombo vermelho e ardido pelo excesso de Sol, mas já com a “caipirinha” na mão! A conversa em mais de dez pessoas começa a ter volume que se ouve do outro lado da rua. Todos falam, alguns até ouvem, riem e se alegram por tudo que um final de semana ensolarado propicia.

Mas também tem ranço, pudera, em meio àquela aglomeração (era uma época sem Covid-19), tendo criança ou adolescente sempre rola uma bola de futebol molhada e cheia de areia onde não devia, isto é, RECÉM foi passado um pano limpo!

Na cozinha, onde fica a maior concentração, dá para se sentir o cheiro da salada de cebolas com tomates e pepinos cortados. Chiado de fritura também está presente e seu cheiro exala em todo o recinto. As preferências gastronômicas do prato já escolhido, toma um rumo, há os que preferem diminuir as frituras outros a duplicidade de carbo-hidratos, se “come arroz não come batatas”, e assim vai...


Na enquete em andamento, chega a vez da vovó suprimir um pouco a batata-frita, que cá para nós que cozinhamos, é a parte chata do “à La Minuta”. Aproxima-se da neta, que mesmo diante de toda aquela pantomima está incrivelmente lendo, como já sabem, absurdamente concentrada. Chega sua avó e chama:

- E aí minha netinha, vais querer batatas fritas?

Ela baixa lentamente seu livro, dirige um olhar de extrema indignação por ter sido interrompida, afinal um inoportuno questionamento, sobrancelhas em desnível coroando o descabimento daquela pergunta “nessa hora” e lasca:

- Como assim batata frita?

Por alguns segundos cai um silêncio geral! Trocamos olhares e na sequência a percepção de total isolamento social da “Nossa Intelectual”, caímos em merecida gargalhada e seguimos todos tomando nossa caipirinha!


quinta-feira, 1 de abril de 2021

47) E eu nunca mais fiz “Raiz Quadrada”!

47) Eu nunca mais fiz "Raiz Quadrada"!

 

Final de 1960 o General Duílio Lena Berni, criou o Colégio Comercial de Jaguari, curso noturno para Ginásio Técnico e Curso Técnico de Contabilidade gratuitos, inédito para a cidade, já que o equivalente hoje ao segundo grau, não existia. Interessados em se manter estudando, obrigatoriamente tinham que deixar nossa cidade e buscar estudo em Santa Maria ou até mesmo na Capital. Ele, o General e mais alguns bravos Jaguarienses arregaçaram suas mangas e trabalharam intensamente para fundar, registrar no MEC e negociar o uso de salas de aula do colégio estadual da cidade, para então, vitoriosamente iniciar a primeira turma em março de 1961! Orgulhosamente fiz parte dessa “Turma Inaugural”!

Pois essa turma, por conta de ser curso noturno, foi garimpada naqueles que deixaram estudos no passado e tinham ali uma oportunidade única de retornar às salas-de-aulas evoluindo sua Cultura e talvez até proporcionando novas carreiras profissionais, o que ocorreu com muitos deles. Por essa característica, foram atraídos pelos menos umas trinta Jaguarienses adultos, de idade “madura”, de até com quarenta anos de idade.  Sérgio, meu irmão mais velho retomou estudos nessa ocasião, era portanto, meu colega de aula. Duas exceções, eu e o Xé, eu com doze, ele quatorze anos. Todos nos viam como as crianças do grupo, tratados com muito carinho, alguns “cascudos” na cabeça, mas enfim, Nobres Colegas!

O prédio da escola está lá até hoje. Final da Rua Sete de Setembro, próximo à estação ferroviária. Ponto da cidade com movimentação zero durante a noite. O silêncio na sala-de-aulas também era total, típico de sala com adultos que estavam ali para verdadeiramente apreender, se desenvolver.

Fui matriculado lá, por duas razões: Tinha rodado no Exame de Admissão no Ginásio São



José, e em especial por ser gratuito!

No Primário nunca fui um aluno de notas em destaques. Nunca “rodei”, mas passava “arranhando” e consegui completar o ginásio, nos cinco anos previsto no curriculum.

Numa noite de inverno com garoa, lá pelas 21:00 hs. estávamos em aula de matemática proferida pelo Dr. (?) melhor não citar seu nome... Mais um dos abnegados Professores, que não tinha salário algum e entusiasmadamente renunciavam suas noites com a Família em nosso benefício. Esse Professor, era profissionalmente da Área da Saúde Bucomaxilofacial!

Nessa época era comum o Mestre chamar um de seus alunos a ir ao quadro negro fazer algum exercício na presença de todos. Nessa noite inquieto, fui por essa razão, cumprir uma dose de “castigo pedagógico” convocado ao desafio do quadro-negro, que era verde! Giz branco, ao usar aquele apagador de madeira e um lado com um centímetro de feltro, produzia quase uma nuvem de pó branco no ar.

Óbvio que provocava risinhos silenciosos nem tão silenciosos no ar dos cavalheiros em sala, que sabiam ser o convite uma punição à inquietação do adolescente delinquente... Lá fui eu:

Exercício:

- Raiz Quadrada! Ora, se passei arranhando no primário, está na cara que aquele exercício iria fundir minha cabeça e não deu outra. Evoluí até um ponto inicial do problema e TRAVEI!

Já estava encabulado pelo fato de ser um guri diante todos aqueles Respeitáveis Senhores da Sociedade Jaguariense mais o olhar com “sorriso oculto” do Mestre! Dado ao silêncio já mencionado, eu ouvia aqueles discretos “sorrisos guturais” dos meus queridos colegas e a coisa só piorava à medida em que o tempo inexoravelmente passava.

O prédio da escola era cercado por um pátio composto de terra batida e gramado. A garoa provocava aquele cheiro gostoso de terá molhada tornando o momento único e inesquecível!

Era muito comum que animais de tração eram ali colocados para o pernoite e sua pastagem num local razoavelmente público, isto é, quase uma terra de ninguém.

Para minha desgraça se tornar plena e realmente inesquecível, justo naquele momento em que meu cérebro enfrentava um “branco” intelectual, um jumento filho-da-puta, começa a zurrar. Burro desgraçado não podia escolher pior momento para inundar nossa sala-de-aulas com aquele som que só eles emitem. O sorriso gutural na sala aumentou e o Professor que tinha fala mansa e bem compassada, diz em bom tom:

- Fausto! O teu coleguinha a lá fora está te chamando!

A sala explodiu em gargalhada retumbante! O pessoal nunca tinha se soltado tanto, nem em filmes do Gordo e o Magro! A risada se manteve por alguns segundos, que para mim eram sentidos como por horas a fio! Mantive-me cabeça baixa e os punhos serrados esmagando o giz, até que:

- Pode sentar, Fausto!

Obviamente não sentei, saí porta afora grunhindo para me rasgar em choro convulsivo no banheiro. Resultado nefasto – que para alguns foi hilário - nunca mais consegui fazer um cálculo com base nessa maldita Raiz Quadrada! Pior: - Tão fundamental que é a disciplina de matemática, conquistou minha antipatia, lamentavelmente.

Quanto à Raiz Quadrada, ainda bem que nunca precisei e se precisasse, usaria hoje as máquinas de calcular!

Tem professores que a gente jamais esquece!