47) Eu nunca mais fiz "Raiz Quadrada"!
Pois essa turma, por conta de ser curso noturno, foi garimpada naqueles que deixaram estudos no passado e tinham ali uma oportunidade única de retornar às salas-de-aulas evoluindo sua Cultura e talvez até proporcionando novas carreiras profissionais, o que ocorreu com muitos deles. Por essa característica, foram atraídos pelos menos umas trinta Jaguarienses adultos, de idade “madura”, de até com quarenta anos de idade. Sérgio, meu irmão mais velho retomou estudos nessa ocasião, era portanto, meu colega de aula. Duas exceções, eu e o Xé, eu com doze, ele quatorze anos. Todos nos viam como as crianças do grupo, tratados com muito carinho, alguns “cascudos” na cabeça, mas enfim, Nobres Colegas!
O
prédio da escola está lá até hoje. Final da Rua Sete de Setembro, próximo à estação
ferroviária. Ponto da cidade com movimentação zero durante a noite. O silêncio na
sala-de-aulas também era total, típico de sala com adultos que estavam ali para
verdadeiramente apreender, se desenvolver.
Fui matriculado lá, por duas razões: Tinha rodado no Exame de Admissão no Ginásio São
José, e em especial por ser gratuito!
No Primário nunca fui um aluno de notas em destaques. Nunca “rodei”, mas passava “arranhando” e consegui completar o ginásio, nos cinco anos previsto no curriculum.
Numa noite de inverno com garoa, lá pelas 21:00 hs. estávamos em aula de matemática proferida pelo Dr. (?) melhor não citar seu nome... Mais um dos abnegados Professores, que não tinha salário algum e entusiasmadamente renunciavam suas noites com a Família em nosso benefício. Esse Professor, era profissionalmente da Área da Saúde Bucomaxilofacial!
Nessa época era comum o Mestre chamar um de seus alunos a ir ao quadro negro fazer algum exercício na presença de todos. Nessa noite inquieto, fui por essa razão, cumprir uma dose de “castigo pedagógico” convocado ao desafio do quadro-negro, que era verde! Giz branco, ao usar aquele apagador de madeira e um lado com um centímetro de feltro, produzia quase uma nuvem de pó branco no ar.
Óbvio que provocava risinhos silenciosos nem tão silenciosos no ar dos cavalheiros em sala, que sabiam ser o convite uma punição à inquietação do adolescente delinquente... Lá fui eu:
Exercício:
- Raiz Quadrada! Ora, se passei arranhando no primário, está na cara que aquele exercício iria fundir minha cabeça e não deu outra. Evoluí até um ponto inicial do problema e TRAVEI!
Já estava encabulado pelo fato de ser um guri diante todos aqueles Respeitáveis Senhores da Sociedade Jaguariense mais o olhar com “sorriso oculto” do Mestre! Dado ao silêncio já mencionado, eu ouvia aqueles discretos “sorrisos guturais” dos meus queridos colegas e a coisa só piorava à medida em que o tempo inexoravelmente passava.
O
prédio da escola era cercado por um pátio composto de terra batida e gramado. A
garoa provocava aquele cheiro gostoso de terá molhada tornando o momento único
e inesquecível!
Era
muito comum que animais de tração eram ali colocados para o pernoite e sua pastagem
num local razoavelmente público, isto é, quase uma terra de ninguém.
Para minha desgraça se tornar plena e realmente inesquecível, justo naquele momento em que meu cérebro enfrentava um “branco” intelectual, um jumento filho-da-puta, começa a zurrar. Burro desgraçado não podia escolher pior momento para inundar nossa sala-de-aulas com aquele som que só eles emitem. O sorriso gutural na sala aumentou e o Professor que tinha fala mansa e bem compassada, diz em bom tom:
- Fausto! O teu coleguinha a lá fora está te chamando!
A sala explodiu em gargalhada retumbante! O pessoal nunca tinha se soltado tanto, nem em filmes do Gordo e o Magro! A risada se manteve por alguns segundos, que para mim eram sentidos como por horas a fio! Mantive-me cabeça baixa e os punhos serrados esmagando o giz, até que:
- Pode sentar, Fausto!
Obviamente não sentei, saí porta afora grunhindo para me rasgar em choro convulsivo no banheiro. Resultado nefasto – que para alguns foi hilário - nunca mais consegui fazer um cálculo com base nessa maldita Raiz Quadrada! Pior: - Tão fundamental que é a disciplina de matemática, conquistou minha antipatia, lamentavelmente.
Quanto à Raiz Quadrada, ainda bem que nunca precisei e se precisasse, usaria hoje as máquinas de calcular!
Tem professores que a gente jamais esquece!
A gente tem saudades até desses incidentes de aulas.
ResponderExcluirQue história!!! As coisas não eram fáceis naquela época! E os professores achavam que estavam ensinando...acho legal esses tempos ficarem mesmo nas crônicas! Evolução é tudo! Bjos primooo
ResponderExcluirHilária a história. Se não fosse o jumento, talvez você nem se lembrasse disso. Ri muito.
ResponderExcluirDividi o texto com minha esposa que riu bastante.
ResponderExcluirHoje a criança reclama e os profesdores que tem medo, tudo mudou.
ResponderExcluirImagino que foi muito constrangedor pra vc, mas não deixa de ser engraçado. Os alunos, não importa a idade, adoram um motivo para cair na gargalhada.
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