quarta-feira, 14 de julho de 2021

63) Vamos rir da Sogra!

63) Vamos rir da Sogra!

Início da Década de oitenta, Luiz Emílio - o Gordo - e eu éramos muito próximos e nossas namoradas também, ou melhor, no caso dele era esposa Ana e eu noivo. Nossos encontros aos finais de semana eram compulsórios, não falhava um sábado ou domingo com jantar, churrasco e outras diversões gastronômicas e etílicas! Só não viajávamos por impedimento deles, que pouco tempo depois do seu casamento, já tinham três ricos filhos... Então geograficamente ficávamos contidos à Capital, Porto Alegre. Passeios de carro pela Zona Sul em Ipanema, as ilhas e morros eram constantes com aparatos para chimarrão, mas o Gordo, para honrar seu apelido, sempre tinha que culminar com uma boa mesa, “Glutão Juramentado”, que sempre foi! Impossível contrariá-lo, porque com seu bom humor marcante e constante, tornava qualquer jornada muito divertida!


Nessa época havia no subsolo do Teatro Leopoldina, hoje Teatro da OSPA na Avenida Independência, um salão enorme onde foi criado o “Le Club” para shows musicais e dança! Consegui levar o Gordo uma única vez. Contestava – isso que ele dançava muito bem – que dançar não tinha graça nenhuma, se não tivesse no programa um lauto jantar! Como já afirmei, era glutão para toda hora! Gostava de qualquer coisa que exigisse mastigação, qualquer coisa! Prato preferido: O prato cheio!

Passado algum tempo esse divertido clube foi fechado e no local instalado um salão para patinação. A novidade na cidade atraia muita gente, tínhamos que chegar e esperar algum tempo para obter uma vaga. Alugava-se os patins e por meia hora ou mais pelo seu uso. Não tinha Orientador, Professor, só os seguranças e controladores do tempo de uso da pista. Cada um calçava seu equipamento e ficava lá se divertindo livremente. Na única vez em que fomos, minha sogra fez questão de nos acompanhar, confesso que concordei sem sequer pensar em cometer suicídio...

Lá fomos nós. As meninas e sogra optaram por observar eu e o Gordo calçávamos pela primeira vez na vida, os tais patins! Piso de parquet, rodeado por corrimão de segurança aos principiantes e uma rede de proteção de fios de algodão, similar as que se vê nas goleiras do   esporte bretão, o futebol.

Eu sempre gostei de desafios e risco. Nesse dia, eu certamente seria incluído gloriosamente no “Guinness Book of Record” pela quantidade de tombos ridículos, feios e desastrosas por minuto que tive! Já o Gordo, para não copiar meu vexame, foi cheio de cautela. Usou seus trinta minutos caminhando em círculo e lentamente, segurando o corrimão com muita firmeza.

Encerrado os trinta minutos, na saída da pista eu estava todo esfolado, suado, mas alegre e faceiro! Gordo veio com ar triunfal rindo “gordamente” de mim, soltou o corrimão dando por encerrado o período de risco de tombo e falou para todos ouvirem:

- Viu como se patina? Não levei um tombo sequer! E tu caiu umas...

Som de uma explosão ecoou no salão! Ele tinha soltado o corrimão caminhando em minha direção esquecendo que ainda estava calçando patins... Suas duas pernas levantaram voo vertical. Caiu de lombo no chão com tanta força que levantou pó! Seus pés jogados para cima, ficaram presos na rede de proteção, deixando-o dependurado como uma roupa secando ao sol... Cordões enleados às rodas dos patins, tivemos que chamar os seguranças para afastar as pessoas que o rodearam às gargalhadas e para desenredar o peixe, ou melhor, o Gordo! Rimos por anos!

Satisfeitos com tanta proeza, pensando em encerrar o domingo, eis que a sogra timidamente falou que queria experimentar! Aprovei imediatamente dando glória ao passeio, pois chegava a hora do maior, o grande e inesperado divertimento!

- Vamos rir da sogra! Coitada. Vai pagar um mico extraordinário!

Sentamos confortavelmente preparados para rir, agora por conta da sogra! Minha noiva ficou furiosa ao perceber nossos discretos sorrisos e trocas de olhares com indisfarçável  expressão de "Sadismo Medieval!" 

Pois então a sogra calça os patins languidamente, entra na pista, dá um forte impulso com o corpo e desliza veloz pela pista com extrema delicadeza. Faz um giro de 360 graus, levanta os braços e flutua com um único pé no chão, parecia uma pássaro suave dando um show de elegância e pleno domínio da patinação. Chamou atenção de todos presentes! A danadinha patinava desde criança, mas nunca nos revelou. Gordo me olha sem graça e dispara:

- Tinha que apoiar tua sogra, tinha? E ainda por cima pagar para ela nos humilhar desse jeito?!

- Gordo, estou muito arrependido, decepcionado. Quando ela voltar, não vamos falar nada sobre patinação! Bico calado!

- Pior: Nem olha para a cara das gurias, estão nos observando com aquele sorriso debochado, desafiador. Muito antipáticas!


Assim encerramos o domingo no mais profundo silêncio sobre tudo o que se passou naquela tarde. Mas o clima de desdém estava no ar. Eu sentia isso claramente a ponto de não esquecer até hoje. Agora escrevendo, meu trauma parece que se acentua vigorosamente. Preciso tratamento psiquiátrico imediato. Talvez me ajude a superar esse trauma doloroso!

7 comentários:

  1. Fausto.
    Cumprimentos à sogra,
    Pois quem sabe, sabe!
    Chapeau !

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  2. Kkkk as pessoas surpreendem! Quem diria que logo A Sogra iria fazer bonito.

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  3. KKKKK... sogras são assim mesmo... quando podem, dão uma gozada no genro...

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  4. Adorei! Imagino a cara de espanto de vcs!Sogras nos surpreendem. Kkkk

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  5. Lembro do gordo, culinária era com ele mesmo.

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