quarta-feira, 25 de agosto de 2021

68) Os Truques e as Maravilhas da Culinária Japonesa!



Fui iniciado na Culinária Japonesa, graças a influência do meu Mestre Takeo Suzuki, Professor de Karatê estilo Wado-Ryu, em 1974, quando comecei a praticar Artes Marciais. Para comer suas iguarias sempre foram, logicamente em restaurantes típicos. Só fui elaborar alguns poucos pratos, bem mais adiante, com o trabalhoso Sukiaki, que é quase um fondue Japonês, feito com diversos legumes, brotos de feijão, cogumelos shitake, folhas, queijo tofu e filé mignon na manteiga! Detalhe, sempre comia com garfo e faca...

 Já os peixes, não me atraiam nada. Revoltava o estômago só de pensar em comê-los crus, pois seu cheiro não é nada inspirador!

Em 1994 iniciei um Projeto de  Desenvolvimento de Pessoal, em parceria com ex-colega e amigo da IBM, o Patrô. O trabalho de montar módulos para salas-de-aulas sempre era feito em São Paulo e dali partíamos para aplicar em diversas capitais do País. Os períodos em São Paulo eram sempre celebrados em restaurantes japoneses e foi num desses jantares que fui convencido a experimentar um “rolinho” de algas com arroz e pepino. Gostei. Na sequência, a troca do recheio de pepinos por um fino filete de salmão e daí em diante virei fã! Hoje sorvo "de joelhos", um bom combinado de sushi, sashimi, temaki, huramaki etc. iniciando com um missoshiru! Ah! O interessante é que minha evolução foi inclusive com abandono do tradicional garfo & faca em troca dos tais de “pauzinhos”, que eles chamam de “hashi”!

 Hoje quase todas cidades de porte médio se encontram facilmente esse tipo de restaurante


no entanto, com valores nada baixos. Mas a Arte desenvolvida, é de uma dedicação extrema e de apetitosa beleza pelo seu colorido e criatividade nas montagens.


Consegui convencer Elaine de provar tal iguaria e a aceitação foi imediata, na ocasião do aniversário do Professor Nelson Guimarães, onde ele próprio incorporou o fino de um autêntico “Sushiman”!

Na origem dessa arte, não é tolerada a entrada das damas nessa atividade. Entretanto, fora do Japão, já surge a figura da “Sushiwoman”! Machismo Oriental? Sim. Pode apostar.

Vou me concentrar nas experiências da Elaine, que não valida necessariamente, ser um tipo de prato que conquiste unanimidade. Minha irmã Eleonora por exemplo, não admite sequer experimentar. Na verdade, nem pensar. 

Elaine é a maior fã de meus mais diversos pratos, pois gosto de cozinhar. Gosto muito de  pilotar panelas, forno e churrasqueira. Ela acha tudo muito bom. Já lhe apelidei carinhosamente de “come-come”! Desconfio que é GOLPE, que resulta ser sempre eu o titular da cozinha... Assim sendo, sobre mim, mais um agravante: Sempre condenado culpado, quando vai à balança e vê números que não lhe agradam...

Contou-me que ainda criança, ela e sua Família visitavam um casal de amigos para um almoço de domingo! A esposa desse casal era de origem italiana, o marido origem japonesa. O almoço à moda italiana com sua tradicional fartura, foi muito bem recebida por todos. Do Japão foi servido somente a sobremesa que ao ser anunciada, provocou muita expectativa! 

- Aceitam uma sobremesa japonesa?

 - Siiimmm! (Todos, uníssonos!)

Então veio o serviço em uma ampla bandeja com "Brigadeiros”, que no Sul são chamados de “Negrinhos”! Eles eram enormes, lindos, tamanho de uma laranja - tamanho um tanto exagerado, eu concordo -  como falei, a fartura imperando em todos detalhes daquele lauto almoço! A “Come-come”, atraída pelo visual daquela maravilha achocolatada, foi a primeira a se servir é claro, como toda criança que por doce, pega o primeiro e já de olho no segundo e com a necessária velocidade ainda dará tempo para um terceiro, ou...

Uma gulosa dentada e a triste constatação que a cobertura do doce, era mesmo com aquelas partículas de chocolate, entretanto seu conteúdo – lembre, do tamanho de uma laranja – era feito de feijão preto amassado, salgado... Na primeira generosa dentada que lhe encheu a boca, o conteúdo girava e girava na boca mas não descia... Com muito custo foi engolida a provocar lágrimas... Esperou sorrateiramente que sua tia que acompanhava na visita se distraísse, para colocar em seu prato a enorme parte rejeitada. Essa ao perceber a tática aplicada pela sobrinha, rosnou entre os dentes:

 - Eu te mato!

 Afinal de contas, sobrar no prato e principalmente depois de uma dentada, era considerada uma falta de educação imperdoável, logo, a pobre titia foi obrigada a comer o seu negrinho, mais aquela "sobra de guerra"  traiçoeiramente depositada em seu prato. Na sequência fez o almoço tomar contornos de encerramento e todos voltaram às casas, deixando como inesquecível aquele “fake” de Brigadeiro/Negrinho!

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

67) Será que sestear não faz mal?

67) Será sestear em jejum não faz mal?

Família Andrea Marchiori
Meus avós maternos vieram do Norte da Itália ainda crianças e seus pais se estabeleceram em Jaguari, ainda Colônia. O destino os uniu em casamento e dessa união, um filho e sete filhas mulheres, uma delas minha mãe, dona Olga!

Meu avô, músico que dominava o bandoneón, tanto ao teclar e obter a boa música como consertá-los. É. Tinha uma oficina para diversos instrumentos, graças à sua imensa habilidade manual. Tocava nos bailes, no entanto não permitia a presença de suas filhas, mesmo sendo no “melhor clube da Cidade”, o Clube União! Coisas de um pai muito severo que via no dançar algo promiscuo! Permitia, só depois de noivar! O velho Andrea – registrado no Brasil como André – também comercializava acordeom, foi um dos primeiros clientes/vendedores da marca  gaúcha Todeschini, que hoje pode custar até uns R$ 6.000,00!Sobre o balcão o baleiro, com diversos compartimentos em vidro e tampa de alumínio com seu multicolorido de balas, sem a higiênica embalagem que conhecemos hoje. Parece que era um mundo mais simples e despoluído! Mas nada dessa aparente fartura estava à disposição e boca livre dos filhos. Nada disso. Tudo era mercadoria para ser vendida.

Mas não vivia só disso, era mais um “hobby”! Seu sustento familiar vinha de seu armazém, junto a sua própria residência, que na primeira metade do Século XX era muito comum. Lá se encontrava praticamente tudo para o Lar. Grandes tulhas sob o balcão para venda a granel onde se punha o milho, canjica, arroz, feijão, açúcar e farinhas. Uma balança rudimentar, com pesos em ferro e chumbo, aferiam o peso da mercadoria, que eram servidas com uma concha formato em cone, de alumínio, que em folhas de papel pardo após o peso eram habilmente fechadas.

Ah! Tinha também uma tulha com rapaduras. Eram duas chapas envoltas em palha de milho seca e amarradas com uma fina tirinha do mesmo material, a palha. Nem nas rapaduras – mais baratas que os “caramelos” daquele vidro – eram distribuídos gratuitamente na Família. Somente na eventualidade de ter alguma quebrada! Minha mãe cotava que seu único irmão, o Fidélis às vezes era flagrado meio acocado junto a essa inusitada tulha, com

 expressão de comprometimento com uma veia na testa dilatada e o rosto vermelho... Ia acontecer distribuição de rapaduras. Então ele bradava vitorioso, sempre num dialeto italiano:

- Mãe, posso pegar rapadura?

- Se tiver quebrada, sim!

Alguns discretos estalos eram produzidas as “quebraduras” e livre ingestão, como mandava a Mamãe, de rapaduras QUEBRADAS entre as irmãs! Alegria e fartura reinante!

Muitos dos bons clientes vinham do interior da cidade. Povoados e Vilas que pertenciam à Jaguary, (Sim. Nessa época com “Y”) para um abastecimento das Famílias da Região. Eram vendas expressivas, carregadas em carroças ou cavalos; transporte dominante na época. Esses clientes vinham de madrugada para a sede da Cidade e ali envolvidos em compras, passavam o dia todo, alguns até dormiam por lá naquele dia.

Pois meu avô era contrariado com um cliente "malandro" que passava cedo por lá e seguia em frente às compras em outras lojas, voltando muito próximo ao meio dia, para estrategicamente “filar” o almoço e disso fez um hábito regular e certo. Nada demais, pois numa Família enorme, como diziam, “um a mais, não faz diferença”! Acontece que ele aceitava o convite para o almoço, comia bem, patilava os dentes ruidosamente, aproveitava uma cama para dar uma sesteada e nada de compra. Assim na cara de pau ia embora com suas compras na concorrência!

Vovô André viu a sua chegada a cavalo na cidade um certo dia e como bom Italiano preparou uma estratégia para se vingar:

- Hoje, almoço será cedo, bem cedo!

Mais tarde, todos bem alimentados quando chega o “dito cujo”, puxaram e esticaram o papo, que sempre se inicia sobre a meteorologia, temperatura etc., no entanto sem o esperado convite de “vamos passar”. Que significava vamos almoçar! Lá pelas tantas, meu avô na intenção de sua tradicional dormidinha da tarde convida-o:

- E então! Queres dar uma descansada, vamos sestear? A cama está pronta, como sempre!

- Pois, não sei seu Andrea. Será que dormir assim, de tarde e em jejum, não faz mal???

Meu avô lhe garantiu ser absolutamente seguro, no que ele declinou e se foi embora para nunca mais voltor a achacar seu almoço!

 

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

66) Será que o Brasileiro é o Maior Malandro?

66) Será que o Brasileiro é o Maior Malandro?

Minhas crônicas contam com fatos verdadeiros por mim vividos, onde sem querer provocar a paciência de meus queridos Leitores, relato momentos de emoção e principalmente riso, alegria! Escrevo também com o propósito de passear mentalmente por tantos lugares em que estive, especialmente como turista revivendo uma das coisas que mais gosto de fazer: Viajar! Hoje farei uma combinação de tudo isso e uma reflexão que o título se propõe provocar. 

Novembro de 2018, fui celebrar meus setenta anos a bordo de um cruzeiro pelo Caribe, com o "Music da MSC" que é um navio notável! Para quem tem curiosidade e algum receio do balançar da navegação, esqueça qualquer desconforto, não existe “enjoar”, passar mal porque está navegando. A  estabilidade é plena, verdadeira, mesmo com mar bravio. É um dos modos de turismo mais seguros e confortáveis que conheço. Dorme-se maravilhosamente bem sim, as camas são do tamanho queen, com espaço abundante como um excelente hotel em terra firme. Fiz por sete noites e essa é a segunda vez que opto por esse modelo de viagem. Não há um minuto sequer de desperdício de tempo. Sempre tem algo atraente a fazer, seja na piscina, cassino, áreas de lazer, teatro, pistas de dança, diversos estilo de música “ao vivo” e é claro, para quem gosta de um bom prato, os restaurantes disponíveis para todas refeições, que são nota dez!

O plano de viagem dessa vez, foi saindo e voltando por Miami. A navegação é predominante noturna e atracagem sempre ao amanhecer em uma das quatro belíssimas ilhas do Caribe: Ilhas Caimãs, Cozzumel, Jamaica e Bahamas. Em terra, passa-se o dia todo para conhecer, ainda que rapidamente, a cada local e ao entardecer o navio deixa o porto a flutuar novamente ao destino seguinte.

Nessa viagem, nos aproximamos casualmente a um grupo de cinco casais do interior de São Paulo, que em primeiro lugar e como fazem tradicionalmente conosco, os Gaúchos, contaram algumas piadas de "opção sexual curiosa" do nosso Povo Sul Rio-Grandense. Inventei algumas para “retribuir” e ficou tudo na alegre troca de gargalhadas!

Na Jamaica foi onde tivemos algumas das mais expressivas surpresas e não foi com o interessante legado de Bob Marley e sim ao contato com alguns “corretores”. Eu e Elaine nos afastamos um pouco da orla a passear livremente e sem foco algum, nos arredores da praia. Na maior “cara dura” vendedores nos abordaram oferecendo maconha, até aí tudo bem, pois “garantiam” que turistas tinham Direito ao uso do entorpecente. Alguns caem nessa lorota! O mais curioso foi  
  
um outro corretor que ofertava meninas de quatorze ou quinze anos para fazer sexo à três, afirmando também, que não dava cadeia... Era plenamente permitido! Diante dessa última oferta, encerramos a incursão para dentro da Ilha e voltamos "correndo" a praia, onde ficamos por alguns minutos e nos recolhemos ao navio.

Antes dessa incursão independente, acompanhamos por algum tempo aquele grupo de alegres e divertidos paulistas. Entretanto, eles optaram para ir mais para dentro da ilha. Contrataram um tour pelo interior, em um veículo para os cinco casais. Pagaram cem dólares americanos por casal. Apreciaram muito o passeio e encerraram o dia na praia e é na praia é que assistimos o inusitado, que felizmente ficamos de fora por não os acompanhar.

Felizes pelo passeio, curtiam em plena areia da praia,  o burburinho e o gostoso cheiro de mar. Pois foram abordados pelo guia do tour que acabaram de fazer, esse com um sorriso de visível deboche, acompanhado por um militar impecavelmente fardado e fala (tradução independente):

- Oh brasileiros. Sinto muito, mas trouxe de volta as cinco notas de cem dólares que me deram, para substituir por notas verdadeiras. Essas, todas são falsas!

- Que absurdo! Você está louco! Eu devia...

- Não é absurdo e nem estou louco. Sei que é comum outros países acharem que aqui na Jamaica é fácil desovar notas falsas como essas! Vocês trocam agora ou resolvemos isso no gabinete da polícia? O Sr. Oficial que está comigo, veio para acompanhá-los!

Todos tínhamos uma hora limite para voltar ao navio e faltava pouco menos de uma hora para o último embarque. Suados, trêmulos coletaram cinco novas notas de cem dólares em troca daquelas grosseiramente falsificadas. Pareciam reles "xerox". Acabou a alegria. Depois disso, só a natural  raiva!

Voltemos ao título dessa crônica – hoje um pouco pesada – mas podemos afirmar com todas as letras, que o brasileiro não é o mais malandro de todos! Em terra alheia não se pode sequer reclamar com muita veemência! Então a "dica" é maximizar os cuidados, quando estamos longe de casa! 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

65) Show de Tango em Buenos Aires


Sou fã de muitas coisas que existem na Argentina. Das dezenove vezes que estive por lá, quatro foram ao encerrar o “Circuito Andino”, de carro e uma ao Ushuaia, de ônibus. No entanto nessas incursões ao território de “los Ermanos”, todas, dispensei alguns dias na encantadora Buenos Aires. Fui só duas vezes a trabalho, para receber curso da IBM, nas demais, só passeio!

Quanto aos argentinos, posso surpreender a muitos. Sempre que tive contato, foram ricos em cordialidade e gentileza. Confesso, muitos surpreendentes! Numa vinda de Bariloche de carro, parei num posto de gasolina para abastecer, já na entrada da cidade foi quando pedi informação para chegar a região do hotel. O cara pensou um pouco e disse que era meio complicado e falou: - Me segue, pegou seu carro e se foi. Era longe. Pois me levou até lá, sinalizou, me abanou e se foi adiante. Nem me deu oportunidade de agradecer ou remunerar... Fiquei positivamente pasmado!

Nas duas últimas estadas, dezembro de 2017 e agosto de 2019 a tristeza de ver a situação de decadência reinante, passei a considerar que deveria ir me despedindo.  Na sequência com o Covid19, essas viagens que fazia todos os anos, já seriam naturalmente suspensas. Dói muito ver uma cidade tão pujante, elegante, orgulhosa e alegre, que conheci na Páscoa de 1971, com seus restaurantes, casas de show e teatros espetaculares em vertiginosa decadência!

Abandonando por um momento o lado triste dessa época que estamos passando, vamos lembrar o que é bom, alegre e que nos traz a felicidade de viajar! Mas atenção, lá, gostoso é ir no Inverno! Verão se torna uma cidade muito quente, nada acolhedora:

O espetáculo de Balet Clássico no Teatro Colon. O chá da tarde ou na noite com show no Café Tortoni, (existe desde 1858), Calle Florida para caminhar à toa. Bife de chorizzo (corte retirado do miolo do contrafilé) no Palácio de Las Papas com sua inigualável "papa suflê" (batatas corte chips que ao fritar incham se tornando formato bolas de ping-pong). Requintado Shopping Atlântico para algumas comprinhas. Casa Rosada esticando até San Telmo para visitar a praça e muitas e variadas lojas de quinquilharias, brechós e cristais valiosos.
Cemitério Recoleta com os restos mortais de Eva Peron e seus túmulos abertos sob singela janela de vidro. O “dolce far niente” na Praça San Martin sob suas gigantescas Figueiras, transmitem uma Paz Inebriante! Conhecer a “Boca” e seu curioso estádio de futebol do Boca Juniors. No Estádio do River Plate já assisti a um magnífico show de Michael Jackson (que descanse em Paz!). Puerto Madero e seus luxuosos restaurantes e dali um passeio pelo Rio Tigre! Zoológico, é dentro da cidade. 
Na Cidade Porteña, pode-se ir de carro e rodar livremente pois o trânsito – considerando o tamanho da cidade – é ótimo! Tudo isso valia a pena ir diversas vezes aquela rica cidade! Valia. Parece que não vale mais. Todo esse show de encantamentos, é coisa de um passado recente. Não existe mais aquele charme e brilho. Agora tudo é deprimente, o que era brilhante, agora se ofusca.

A despeito de lojas e restaurantes fechados, espetáculos reduzidos, quero exaltar o que eu

mais recomendava, a começar pelas casas de Tango: - Señor Tango, Tango Porteño o maior, La Ventana, El Viejo Almacén, Madero Tango, Piazzolla Tango, são os que considerava fantásticos!

No entanto, hoje a destacar o Bellini Casa de Tango, de pequeno porte que aproveita o prédio de um antigo cinema com ótimo jantar, mas o melhor de tudo é que eu participei do show naquela noite, de forma involuntária, inesperada mas marcante, quase célebre!

Antes, relato uma questão particular de saúde. Tenho alguns tipos de alergia - grande desafio da Ciência Médica para o Século XXI - e minha dificuldade de respirar pelo nariz já me fez dependente químico severo de conta-gotas com medicamento vasoconstritor, por anos. Consegui, a caro custo, me livrar deles há algum tempo, mas mantenho tratamento à base de antialérgicos tradicionais. A “onda moderna” da minha alergia, seja ela rinite, sinusite  ou sei lá o que, é de espirrar! Espirro! Mas espirro com um vigor italiano!

Voltemos ao Bellini Casa de Tango. Jantar, como disse foi ótimo. O espetáculo estava por começar. Garçons com o mínimo de ruído possível, retiram pratos e talheres do lauto jantar produzindo aquele ruído típico de limpar mesas. A expectativa provoca tensão!

O respeitoso silêncio de uma plateia bem-educada, já se fazia presente dando um ar solene que é  como tratam o Tango. Quase sagrado!

Coceirinha no nariz. Passo as costas da mão vigorosamente tentando diminuir aquele desconforto. Não adiantou nada, veio um contido espirro que vibrou meu corpo inteiro. Só um espirro! Só que não. Veio outro que não consegui segurar com a mesma determinação anterior. Umas dez pessoas olharam para trás. Fiz um gesto com a cabeça assumindo o torturante momento. Veio mais um e aí TODOS olharam para trás. Então contei com a gentil contribuição da Elaine me dizendo em tom baixo, mas com os dentes serrados:

- Vá ao banheiro, agora!

- Dão sei si cunsigu sein esbirar até lá... Beu dariz está bein intupidu...

É. A gente fala fanhoso quando está sob ataque dessa merda de rinite alérgica! Preciso soar o nariz fortemente para aliviar. Minha resistência maior para ir ao banheiro, é que tinha de subir um andar, em uma escada aberta ao salão principal – onde todos nós estávamos – e seria visto durante todo o percurso que quis evitar, caso tivesse continuação da crise de espirros. Expliquei isso a Elaine, mas por sorte não obtive sua permissão para me manter à mesa!

Levantei e fui. Aí desabou o Mundo. A escada tinha uns 30 degraus e eu dava um espirro a cada dois degraus! Os espirros se assemelhavam ao "Kiai" do Bruce Lee em seus filmes de Karatê. Agudos e de altíssimo volume. No banheiro soei o nariz por diversas vezes com toda a força o que me aliviou um pouco, depois de diversas tentativas. Recomposto, voltei a mesa para então ouvir sobre a repercussão, com um "suave" tom de repreensão dela...

- Parabéns! Conseguiu chamar atenção de toda plateia! Ninguém ficou alheio aos teus vigorosos espirros, até aos músicos alguns até riram! Argentino é tímido, senão teriam te aplaudido por roubares o show! Quanto  o som de soar o nariz, pensei que era a saída de um navio no porto!

Meu orgulho derreteu mesmo reconhecendo que me tornara conhecido em Buenos Aires. Muitos haviam acenado com a cabeça, num cordial e simpático sorriso. Fou muito legal saber do reconhecimento e admiração de todos, eu suponho!!!