Quanto aos argentinos, posso surpreender a muitos. Sempre que tive contato, foram ricos em cordialidade e gentileza. Confesso, muitos surpreendentes! Numa vinda de Bariloche de carro, parei num posto de gasolina para abastecer, já na entrada da cidade foi quando pedi informação para chegar a região do hotel. O cara pensou um pouco e disse que era meio complicado e falou: - Me segue, pegou seu carro e se foi. Era longe. Pois me levou até lá, sinalizou, me abanou e se foi adiante. Nem me deu oportunidade de agradecer ou remunerar... Fiquei positivamente pasmado!
Nas duas últimas estadas, dezembro de 2017 e agosto de 2019 a tristeza de ver a situação de decadência reinante, passei a considerar que deveria ir me despedindo. Na sequência com o Covid19, essas viagens que fazia todos os anos, já seriam naturalmente suspensas. Dói muito ver uma cidade tão pujante, elegante, orgulhosa e alegre, que conheci na Páscoa de 1971, com seus restaurantes, casas de show e teatros espetaculares em vertiginosa decadência!
Abandonando por um momento o lado triste dessa época que estamos passando, vamos lembrar o que é bom, alegre e que nos traz a felicidade de viajar! Mas atenção, lá, gostoso é ir no Inverno! Verão se torna uma cidade muito quente, nada acolhedora:
A despeito de lojas e restaurantes fechados, espetáculos reduzidos, quero exaltar o que eu
No entanto, hoje a destacar o Bellini Casa de Tango, de pequeno porte que aproveita o prédio de um antigo cinema com ótimo jantar, mas o melhor de tudo é que eu participei do show naquela noite, de forma involuntária, inesperada mas marcante, quase célebre!
Antes, relato uma questão particular de saúde. Tenho alguns tipos de alergia - grande desafio da Ciência Médica para o Século XXI - e minha dificuldade de respirar pelo nariz já me fez dependente químico severo de conta-gotas com medicamento vasoconstritor, por anos. Consegui, a caro custo, me livrar deles há algum tempo, mas mantenho tratamento à base de antialérgicos tradicionais. A “onda moderna” da minha alergia, seja ela rinite, sinusite ou sei lá o que, é de espirrar! Espirro! Mas espirro com um vigor italiano!
Voltemos ao Bellini Casa de Tango. Jantar, como disse foi ótimo. O espetáculo estava por começar. Garçons com o mínimo de ruído possível, retiram pratos e talheres do lauto jantar produzindo aquele ruído típico de limpar mesas. A expectativa provoca tensão!
Coceirinha no nariz. Passo as costas da mão vigorosamente tentando diminuir aquele desconforto. Não adiantou nada, veio um contido espirro que vibrou meu corpo inteiro. Só um espirro! Só que não. Veio outro que não consegui segurar com a mesma determinação anterior. Umas dez pessoas olharam para trás. Fiz um gesto com a cabeça assumindo o torturante momento. Veio mais um e aí TODOS olharam para trás. Então contei com a gentil contribuição da Elaine me dizendo em tom baixo, mas com os dentes serrados:
- Vá ao banheiro, agora!
- Dão sei si cunsigu sein esbirar até lá... Beu dariz está bein intupidu...
É.
A gente fala fanhoso quando está sob ataque dessa merda de rinite
alérgica! Preciso soar o nariz fortemente para aliviar. Minha resistência maior
para ir ao banheiro, é que tinha de subir um andar, em uma escada aberta ao salão principal
– onde todos nós estávamos – e seria visto durante todo o percurso que quis
evitar, caso tivesse continuação da crise de espirros. Expliquei isso a Elaine,
mas por sorte não obtive sua permissão para me manter à mesa!
Levantei e fui. Aí desabou o Mundo. A escada tinha uns 30 degraus e eu dava um espirro a cada dois degraus! Os espirros se assemelhavam ao "Kiai" do Bruce Lee em seus filmes de Karatê. Agudos e de altíssimo volume. No banheiro soei o nariz por diversas vezes com toda a força o que me aliviou um pouco, depois de diversas tentativas. Recomposto, voltei a mesa para então ouvir sobre a repercussão, com um "suave" tom de repreensão dela...
- Parabéns! Conseguiu chamar atenção de toda plateia! Ninguém ficou alheio aos teus vigorosos espirros, até aos músicos alguns até riram! Argentino é tímido, senão teriam te aplaudido por roubares o show! Quanto o som de soar o nariz, pensei que era a saída de um navio no porto!
Meu orgulho derreteu mesmo reconhecendo que me tornara conhecido em Buenos Aires. Muitos haviam acenado com a cabeça, num cordial e simpático sorriso. Fou muito legal saber do reconhecimento e admiração de todos, eu suponho!!!
Tive um pigarro,muito constrangedor.
ResponderExcluirQue aventura, para a qual você não podia fazer mais nada! Foi otimo relembrar Buenos Aires nas suas reminiscencias... Pena que você deve ter perdido um dos melhores conjuntos humoristicos do mundo: Les Luthiers. Absolutamente incriveis. Musicos de primeira misturados com humor bem calibrado!
ResponderExcluirSó você! rsss
ResponderExcluirUm agradavel conto tragicômico recheado de impagáveis dicas de Buenos Aires.
ResponderExcluirBoa!
VIDEO AIR
Morri de rir kkkkkk. Eu já passei por isso em plena pandemia,tive alergia à máscara em pleno voo. Só vc pra me fazer dar boas gargalhadas. Adoro as suas crônicas!!
ResponderExcluir😂😂😂😂😂😂😂 que „micón“!!!!
ResponderExcluirSó contigo mesmo!!!!
Legal, muitíssimo pensam que os argentinos são grossos,mas são extremamente gentis e educados.
ResponderExcluirVerdade José Nelson. Eu mantive essa falsa impressão por anos. É que a gente analisa - geralmente - por posturas em partidas de futebol, onde todos ficam um pouco loucos e TOTALMENTE irresponsável.
ExcluirHahaha sensacional!!!
ResponderExcluirFoi um micón para quem ficou na mesa.
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