67) Será sestear em jejum não faz mal?
Meu avô, músico que dominava o bandoneón, tanto ao teclar e obter a boa música como consertá-los. É. Tinha uma oficina para diversos instrumentos, graças à sua imensa habilidade manual. Tocava nos bailes, no entanto não permitia a presença de suas filhas, mesmo sendo no “melhor clube da Cidade”, o Clube União! Coisas de um pai muito severo que via no dançar algo promiscuo! Permitia, só depois de noivar! O velho Andrea – registrado no Brasil como André – também comercializava acordeom, foi um dos primeiros clientes/vendedores da marca gaúcha Todeschini, que hoje pode custar até uns R$ 6.000,00!Sobre o balcão o baleiro, com diversos compartimentos em vidro e tampa de alumínio com seu multicolorido de balas, sem a higiênica embalagem que conhecemos hoje. Parece que era um mundo mais simples e despoluído! Mas nada dessa aparente fartura estava à disposição e boca livre dos filhos. Nada disso. Tudo era mercadoria para ser vendida.
Ah! Tinha também uma tulha com rapaduras. Eram duas chapas envoltas em palha de milho seca e amarradas com uma fina tirinha do mesmo material, a palha. Nem nas rapaduras – mais baratas que os “caramelos” daquele vidro – eram distribuídos gratuitamente na Família. Somente na eventualidade de ter alguma quebrada! Minha mãe cotava que seu único irmão, o Fidélis às vezes era flagrado meio acocado junto a essa inusitada tulha, com
- Mãe, posso pegar rapadura?
- Se tiver quebrada, sim!
Alguns discretos estalos eram produzidas as “quebraduras” e livre ingestão, como mandava a Mamãe, de rapaduras QUEBRADAS entre as irmãs! Alegria e fartura reinante!
Muitos dos bons clientes vinham do interior da cidade. Povoados e Vilas que pertenciam à Jaguary, (Sim. Nessa época com “Y”) para um abastecimento das Famílias da Região. Eram vendas expressivas, carregadas em carroças ou cavalos; transporte dominante na época. Esses clientes vinham de madrugada para a sede da Cidade e ali envolvidos em compras, passavam o dia todo, alguns até dormiam por lá naquele dia.
Pois meu avô era contrariado com um cliente "malandro" que passava cedo por lá e seguia em frente às compras em outras lojas, voltando muito próximo ao meio dia, para estrategicamente “filar” o almoço e disso fez um hábito regular e certo. Nada demais, pois numa Família enorme, como diziam, “um a mais, não faz diferença”! Acontece que ele aceitava o convite para o almoço, comia bem, patilava os dentes ruidosamente, aproveitava uma cama para dar uma sesteada e nada de compra. Assim na cara de pau ia embora com suas compras na concorrência!
Vovô André viu a sua chegada a cavalo na cidade um certo dia e como bom Italiano preparou uma estratégia para se vingar:
- Hoje, almoço será cedo, bem cedo!
Mais tarde, todos bem alimentados quando chega o “dito cujo”, puxaram e esticaram o papo, que sempre se inicia sobre a meteorologia, temperatura etc., no entanto sem o esperado convite de “vamos passar”. Que significava vamos almoçar! Lá pelas tantas, meu avô na intenção de sua tradicional dormidinha da tarde convida-o:
- E então! Queres dar uma descansada, vamos sestear? A cama está pronta, como sempre!
- Pois, não sei seu Andrea. Será que dormir assim, de tarde e em jejum, não faz mal???
Meu avô lhe
garantiu ser absolutamente seguro, no que ele declinou e se foi
embora para nunca mais voltor a achacar seu almoço!
O que fez muito bem!
ResponderExcluirTeu avô. Eu
Seu Andrea sapecou o picareta. Conheci um cara assim. Sempre q programava uma visitinha para minha mãe, o fazia na hora do almoço.Faltou a ela a sabedoria do seu Andrea.
ResponderExcluirHistória fofa!
ResponderExcluirO colono espertalhão se deu mal ! Boa lição !
ResponderExcluirMaravilhoso texto Fausto. Conta mais! Vou tentar compartilhar no grupo dos Marchiori.
ResponderExcluirTempos distantes... me lembrou da mercearia que ía com minha mãe na infância...
ResponderExcluirSensacional! Adorei o conto,teu avô ágio certo! Kkkk
ResponderExcluirComo bom italiano, seu avô soube se livrar do malandro. Essas mercearias também chamadas de quitanda aqui no Rio, faziam sucesso. Bons tempos!!
ResponderExcluirEra comum nas cidades do interior.Esse levou,hehe.
ResponderExcluirQue bem feito pra esse malandro. Bem fez o vô André.
ResponderExcluirBem que fez ! Neste dia o malandro não ganhou nada.
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