Nessa viagem, fui acompanhado de três colegas: Rugg, Bicaco e Mariano, o último, colega de São Paulo. Esse, dominava o idioma inglês e tendo trabalhado no Metrô de São Paulo, tornava-o muito hábil no seu uso, que considero o melhor e mais barato meio de transporte metropolitano disponível. Isso facilitava e agilizava nossas idas e vindas para todo o lado.
Mariano sugeriu fazer um tour de helicóptero que só eu topei. Rugg e Bicaco decidiram naquele dia ir às compras. Então nos dirigimos até a doca chamada de Island Helicopter, localizada à margem do East River onde se contrata esse passeio sensacional, que recomendo com suprema ênfase.
Para fazer esse encantador reconhecimento aéreo da cidade, são disponibilizadas quatro alternativas de voo, cada uma com seu preço. Plano de voo: Imagine um desenho de um “trevo de quatro folhas” sobre o mapa de toda a Manhattan e adjacências. Cada pétala cobre um percurso de dez minutos no ar. O voo é feito em aeronave de porte médio, daquelas que se vê nos filmes de guerra do Vietname. A cabine é central do helicóptero, é composta dois bancos frente a frente, quatro passageiros em cada um deles. Metade, portanto, é privilegiada em voar com a porta aberta ao seu lado e é só se deixar inebriar com a beleza e peculiaridade da viagem. Os outros quatro ficam ao centro com visão um pouco limitada, mas não menos desafiadora! O voo é realizado a uma altura de uns dois mil pés.
Dado à natural e reconhecida escassez de dólares em nossos bolsos, compramos, eu e Mariano, uma única pétala do voo – dez minutos - que nos daria o prazer de conhecer um voo em aeronave jamais experimentada e de um visual esplêndido! Enquanto somente nós dois aguardávamos o momento de embarque, outro grupo de sete passageiros a nossa frente, faziam seu “check in” para viagem de três pétalas, os trinta minutos.
Surpreendentemente o "manager" do heliponto veio falar conosco e dizendo algo, que com o barulho do motor e das pás do helicóptero roncando, soprando aquele cheiro forte de gasolina de aviação, não entendi nada, entretanto o rápido Mariano, sai em disparada em direção à aeronave, há uns quarenta metros de nós. Corri atrás dele como um cão perdido do seu dono, meio bobo sem saber o que ocorria, e assim me mantive vendo-o embarcar e com sorriso de orelha a orelha e se acomodar no último acento central disponível. Pronto, lotou! Quem embarcou irá voar...
A realidade é de que é muito mais econômico para a administradora do heliponto, colocar um passageiro que pagou dez minutos, em uma vaga sobrando no de trinta minutos, do que fazer uma decolagem especial de dez minutos só para dois “pobres latino americanos”, que pagaram dez minutos. Até aí, o óbvio!
Eu era um poço de dúvidas, me mantive com postura de menino abandonado na FEBEM, talvez com cara de choro quando o tal "manager" me aborda e fala um pouco mais lento e pergunta se eu não me importo de ir naquele voo já lotado, na sobra de um acento na cabine junto ao Comandante, já que naquele voo não exigia Copiloto!
Oh Senhor! Respondi com o YES mais definitivo do século! Para terem ideia da minha alegria nessa inusitada e impensável experiência, a cabine do Piloto é como uma bolha de vidro, onde até o assoalho é todo de vidro, cuja visibilidade de quem está ali embarcado é global, total, glorioso! Inacreditável voo
Pousamos de volta extenuados e é encerrado o tour. Fora da aeronave sente-se aliviado, uma grande alegria e a sensação muito confortável de estar com os dois pés no chão, solo firme! Olhei para o Mariano, que tinha visto muito menos que eu e dessa vez o sorriso de orelha a orelha era meu, então perguntei debochado:
- Tsc, tsc, tsc! O que eu tinha de sair correndo! Tua lentidão, foi privilegiada! Hehehehe...