quarta-feira, 20 de outubro de 2021

76) Diante de uma cordial e boa argumentação...

 

76) Diante de uma boa argumentação...


Já fui consultado diversas vezes por jovens cuja idade se aproximava ao cumprimento de seu Serviço Militar Obrigatório, de como se livrar dele, se isso é possível. Na verdade, nos dias atuais isso não requer nenhum esforço, pelo contrário, jovens, como meu neto William Diefenbach fazem questão de vivenciar essa experiência na Caserna e acabam sendo dispensados por excesso de contingente. Isso os frustra e entristece muito e eu lamento sinceramente!

Lamento porque esse Serviço representa o Grande Rito de Passagem na idade do Homem, que migra definitivamente da Puberdade à Idade Adulta! A razão dessa metamorfose está no fato de que enquanto vivemos com nossos Pais, na maioria das Famílias, o Mundo Externo é blindado, somos protegidos. Ainda há alguns jovens que julgam essa Primeira Etapa da Vida, como período sofrido em que nada podem decidir. São sempre “nossos Progenitores Vilões”, os carrascos impondo suas Cruéis Ditaduras (risos)! Então Quartel é uma oportunidade real de fuga e de sua ditatorial e rigorosa dependência.

Servir às Forças Armadas portanto, destrói esse primeiro mito da "Escravidão Infantil"! Daí é que recomendo entusiasmadamente aos meninos que enfrentam essa dúvida cruel: - Aproveite que está a sua disposição a real forma de independência materna da sua existência! "Custa caro", mas é real, efetiva!

Sei que todos aqueles meninos que me ouviram, já na primeira semana de caserna, me odiaram! Trocaram sua doce mamãe - se dá conta quando isso já é tarde - por um Sargento que pune mesmo... Mudanças de um terno “não faça isso, meu filho” por um padrão de contestação, semelhante a porrada no meio da testa!

Agora te tratam como um homem, não uma criança mimada. Ficou clara a diferença? Pois é, mamãe não tinha percebido, ou não queria perceber aquilo que o Sargento vê: - "Agora, és um homem e como tal será tratado!"

É chegado o momento de viver toda dificuldade que se apresenta na vida, não transfere mais aos pais. Assume-se!  Do tipo, te vira...

Em meu período de Soldado, a tarefa diária de limpar os cavalos, recolher seus dejetos,


cuidá-los carinhosamente é obrigação. Ajudar no adestramento também e depois, muito tempo depois, montá-los! Creiam-me, o animal é amado, reverenciado por toda a Tropa, muito mais que ao "pobre Soldado". Entretanto, desenvolve-se uma relação de afeto e carinho entre o homem e o animal, inimaginável!

Minha primeira experiência em montaria no lombo de Sua Majestade, o meigo cavalo, foi em marcha noturna de umas sete horas montado em animal “encilhado”, pronto para esse fim. Atividade é muito tranquila, calma! Mas não é a mais desafiante de todas. O desafio, foi levar os animais a um banho dado no rebanho em que cada “milico” vestindo apenas um calção de brim, tipo bermudas, uma corda enlaçada no focinho do cavalo e a montagem “em pelo” no animal, a cavalgar por longos cinco quilômetros!

Éramos cento e poucos Soldados sob o Comando de um Sargento e observação de alguns Cabos. Lá fomos nós ao banho dos animais em uma reserva de água um pouco afastada da cidade de Santiago. Tratava-se de um córrego mixto de água limpa com um dos esgotos da cidade... Não descrevo seu odor, para evitar que meus leitores interrompam suas leituras aqui!

Meu cavalo vinha como os demais, num trote forte, fazendo com que sua espinha dorsal, que é saliente por uns dez centímetros, martelasse impiedosamente os fundilhos da vítima, ou melhor, minhas partes íntimas. Imaginem o resultado dessa artilharia constante para quem sem experiência, que fica literalmente sentado no osso do lombo daquele animal desgraçado! A pele humana que reveste a região superior de onde se encontram as duas cochas, é vagarosa mas persistentemente e impiedosamente removida ao atrito da aspereza, do duro lixamento do seu lombo em mim, resultando um rego depauperado, pelado a levar dias e mais dias para recuperação, cicatrização. Dói por muitos dias, "apenas" para caminhar, sentar, montar ou se deitar. Resumindo, desconforto enquanto acordado! Acabou meu amor e admiração pelo equino! A partir daquele dia, nunca mais consegui olhar nos olhos de um cavalo com alguma simpatia... Cavalos, vão a merda!

Curiosamente nessa trilha, uns trinta metros antes do primeiro córrego daquela “água espetacular”, o meu matungo filho-da-puta se assusta, não imagino com o que e dispara e desabalada corrida rumo ao nada. Flutuei ao longo do dorso em desespero crítico. Escorregava do lombo ao pescoço sem cair e nem imaginar o que poderia fazer. Avistei adiante um volume de água na trilha, que supus, pelo choque térmico iria pará-lo ou pelo menos diminuir a alucinante velocidade galopava e então me mantive ainda corajosamente montado, segurando pelas orelhas, mordendo a crina e gritando por socorro!

Pois o danado bate na água e renova seu ímpeto com maior velocidade ainda! Sem pestanejar, convicto empurrei-o para baixo, isto é, com impulso das mãos saltei para cima, ele passa e me enterrei de cara no barro!


Cem metros adiante o animal foi contido e trazido de volta  pelo Sargento que me olhava com cara de nojo, como se tivesse me extraído de seu próprio nariz!

- Monta!

- Ah não monto! Mas não monto nem a pau! Esse desgraçado enlouq...

- MONTA AGORA ou eu te coloco na montaria a relho?!

Diante dessa cordial, compreensiva, meiga e amiga argumentação, me convenci de que de fato que era uma ótima ideia! Então montei novamente e seguimos em frente! Há uma sentença militar que diz: "Superior nunca se engana, raramente erra e quando erra, é por culpa do subordinado!" Acho linda, empolgante e humilde afirmação!

Final do dia todos exaustos de volta ao alojamento onde como resultado daquele dia fatídico, permaneci por umas três semanas caminhando meio de pernas abertas, a dar liberdade às partes púdicas em não ter contato direto com a dolorosa e agressiva cueca!

Quanto sofrimento, no entanto foi o ano em que mais ri de toda minha vida!  Havia um colega Aimoré dos Santos Peixoto, que ao seu lado era impossível se manter sério, nunca! Amadureci muito e sem "pagar com envelhecimento", pois incorporei um jovem e ainda jovem dei baixa mas com uma carga de Sabedoria e tolerância adquirida extremamente rica! Que saudades!


6 comentários:

  1. Hehe,mas é verdade,muito bom servir a pátria amada,aprende-se, para tornar um bom cidadão.

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  2. EXCELENTE!
    TODO O JOVEM DEVERIA
    FAZER O SERVIÇO MILITAR. NÃO É SÓ SERVIR A PÁTRIA.
    MAS É COMO BEM EXPUSESTES. O MARCO
    DEFINITIVO QUE SEPARA OS MENINOS DOS HOMENS. MUITO BOM!

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  3. Sem duvidas a questão da "passagem".
    . E quem disse que ser adulto é facil? Servi a Pátria e até hoje lembro dos bons e maus momentos. Ora aprendendo com amor, ora com a dor... mesmo assim, VALEU !!!

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  4. Muito bom!! Realmente creio ser um marco mesmo, essa passagem de jovem para adulto. Vi isso no meu filho. Durante o período do serviço militar se passa por muitos apertos, mas depois acha-se até graça.

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