Perdizes! Ah perdizes, se nunca comeu, eu lamento muito pois se trata de um dos pratos mais saborosos de uma origem que nem imagino sua origem, só sei que é espetacular! Perdizes ao molho de tomates, cebolas e cheiro verde, acompanhadas de polenta mole coberta de queijo parmesão ralado e salada verde de radiche com rúcula, é um “Prato Divino”! O vinho? Esse tem que ser tinto e seco! Não me venham com um “vinho tinto maravilhoso com cheiro de uva"! Esse joga fora!
Como já escrevi diversas vezes, vivi em Jaguari até meus vinte anos e desde criança acompanhava meu pai e irmãos às caçadas no interior, em fazenda de amigos e conhecidos. Nas caçadas, durante o período de almoço, em que todos caçadores paravam para almoçar e “tomar uns tragos”, eu pegava o cachorro o meu pai emprestado e sua arma, uma italiana, "Trochados Damasco" calibre 28 de dois canos e dava uma volta ao redor do acampamento. Meu velho usava em seus cartuchos, por ele mesmo carregados - ou um de nós, seus filhos - “pólvora preta” cujo tiro deixava todos meio surdos ao seu redor! Sobre vinha uma nuvem branca de fumaça com seu cheiro peculiar! Eu gostava, alguns odiavam! A sorte é que tínhamos cães bem adestrados para buscar a caça abatida, senão não veríamos onde caiu, graças aquela nuvem...
Depois dessa proibição alguns criadores passaram a cultivar a Codorna, uma espécie muito semelhante, um pouco menor e sabor mais suave! Já que falamos em mais suave, é hora de dar glória novamente e com ênfase ao que significa um jantar com esse quitute! É de fato justificável comer “de joelhos”!
Quando trazia para casa o resultado, se iniciava a programação para um lauto e festivo jantar! Evidentemente apreendi a preparar com "Dona Olga", minha mãe! Jamais jantei acompanhado unicamente da esposa, sempre julguei "esse um evento fora da curva!" Convidava algum amigo a partilhar da iguaria!
Qualquer tipo de caça, é terminantemente proibido servi-la em restaurantes e o rigor na fiscalização, merece todo o respeito, porque esse crime tem pena bem pesada. Restaurantes com habilidade a esses pratos exóticos usam, no caso da perdiz, sua “versão genérica” já apresentada em linhas acima, a tal de codorna. Alguns supermercados mais sofisticados, é possível encontra-las.
Lá por meados 1975 eu estava trabalhando na cidade de Caxias do Sul onde me indicaram um bom restaurante que dispunha em seu cardápio a tão venerada ave. Fui jantar lá e encontrei o disputado prato – embora com preço bem “salgado” - mas que sabia de antemão, valer a pena! O perfume de manjerona, louro e outros cheiros verdes invadiram o restaurante!
Por outro lado, não faço ideia de onde tirei a ideia esperta, inteligente, com demonstração clara do domínio em conhecimento e sabedoria culinária, ao chamar o garçom, usando de um olhar de criança que surpreendeu o titio mais velho e lasquei, "insinuando crime":
- Essa codorna é caçada?
- Não, absolutamente senhor! Trata-se de “perdiz japonesa” ou codorna como diz na embalagem. Uma novidade na cidade que somente nós servimos!
Ah é? Podes me dizer como foi parar esse chumbinho caça na sua carne! Será que o supermercado abate à tiros?
Garçom empalideceu pegou meu prato com a “prova do crime” e não voltou mais. Até a conta foi cobrada por outro profissional! Sai do restaurante com ar de superioridade e olhar desafiador, pensando: Humilhei o cara, dei um show de conhecimento de caça & pesca! A soberba tomou conta do meu ego inflado!
Passados alguns dias, um mês talvez, voltei à cidade e retornei ao restaurante para pedir aquela delícia única! Com ar superior, solicitei a codorna, eis que o garçom com uma cara de ar superior à minha até então cheia de soberba e disse:
- Lamento senhor. O prato ainda está no cardápio sim - já antigo - mas não servimos mais codornas!
Fausto adoro este prato que faz com codorna.
ResponderExcluirInfelizmente não tive oportunidade de comer o que a sogra fazia.
ResponderExcluirInfelizmente nunca comi essa iguaria. O seu relato me deu água na boca. Excelente narrativa, bons tempos e boas recordações!
ResponderExcluirEscabeche,sem igual.
ResponderExcluirA perdiz, me traz a lembrança as minhas idas as plantações de arroz no caminhão do Seu Pizutti e no caminho eram caçadas algumas. Só algumas dizia ele, senão vai acBar, já com um pensamento levemente ecológico.
ResponderExcluirCrônica genial como sempre! Gostinho nostálgico de saudades. Boas memórias de infância.
ResponderExcluirBela crônica amigo.
ResponderExcluirMe fez lembrar de meus tempos de caçadas de perdiz em Jaguari, exatanente como descreveste, principalmente no que se refere às emoções e degustação.
A mesma receita, feita com codornas é saborosa também, mas, na minha opinião, fica muito aquém das deliciosas perdizes.
ResponderExcluirAté algum tempo atrás a "Perdigão" vendia a "perdiz européia", também chamada de "Chukar", parecida com o nosso perdigão que encontrávamos raramente nas caçadas em Jaguari. Era muito bom, mas pararam de produzir.
A perdizada feita pela dona Olga era especialíssima. A polenta feita na panela com fundo redondo na boca do fogão à lenha, um gostinho maravilhoso.Bateu uma saudade
ResponderExcluirBom dia! Assine seu comentário, por favor, para eu aproveitar melhor seus comentários! Abraço.
ExcluirFausto, você fez eu lembrar da minha infância, meu pai caçador inveterado, ia caçar perdiz nas fazendas de amigos com um cachorro perdigueiro que eu ficava pasmo de tamanha inteligência e destreza nas caçadas pelo campo. Muito boa a tua crônica amigo, fez eu viajar no túnel do tempo.
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