104) O Esporte Salva!
É verdade que o esporte salva, propõe mudança, coloca - em especial a Juventude - no caminho correto, afasta do vício e de tantas coisas e propostas que deslumbram, encantam e desviam nossos jovens. Entretanto como tudo na vida, tem preço e risco de posições extremas e fanatismo idiota, que se exacerbado, se desvia completamente de seus propósitos iniciais e da conduta madura.
Pois essa semana, conheci Elias de Lima Teixeira, jovem nascido em 13/fev/1988 em Porto Alegre, pai de Yarlei Torres Nascimento, que trabalhou em obra na minha casa. Gremista que aos 16 anos se associou à “Garra”, Torcida Organizada do Tricolor.
Em 15/mai/2001, teve um Grenal – que ficou no 0X0 – e a “Garra” caminhou em grupo, escoltada pela Brigada Militar do Estádio Olímpico até as proximidades de seu portão de acesso, no pátio do Beira Rio. Elias, em meio à galera, recorda que ao chegar no estádio, ouviu um estouro muito forte, como se uma bomba estivesse explodida próximo à sua orelha esquerda e tombou no chão! Não foi uma bomba. Foi uma pedra, basalto irregular de uns 6 kg (estavam sendo usadas para o calçamento do passeio na área) que lhe quebra a cabeça. Na sequência, tonto e com a cabeça ensanguentada, foi enxugado com sua própria camisa e levado as pressas a ser socorrido no “portão 7” onde teve atendimento de enfermaria, semiconsciente, depois disso, escuridão total! Coma!
Acordou três dias depois, no Pronto Socorro Municipal com 16 pontos internos, outros 16 externos e com dois coágulos no cérebro, resultado de uma fratura craniana grave. Médicos advertiram sua Família que sobrevivendo, teria sérias lesões permanentes, mas que a boa notícia é que estava vivo... Sobreviveu e vitoriosamente sem sequelas! Nunca mais voltou a frequentar estádios de futebol!
O tempo passa, as cicatrizes embora permanentes, remendam nossos ferimentos e suavizam traumas. Hoje, passados vinte e dois anos, é um jovem vigoroso, sorridente e trabalhador, sem maiores traumas. Para sua alegria, no domingo de 04 de março 2023, Grenal 438, tomei a iniciativa de levá-lo de volta a um campo de futebol! Vivenciou as emoções que só entende quem realmente gosta do "Esporte Bretão", sim, levei-o comigo na Arena do Grêmio!
A história é real, verdadeira e nos comove quando se trata de uma recuperação. No entanto são muitas as histórias que não tem esse final feliz e retratam a violência fora de controle entre nós, os Humanos. “Agressão gratuita” chamaria atenção até de outros animais, tidos como irracionais.
Essa postura ignorante não é exclusividade do Terceiro Mundo! Não é verdade que somente a educação latino-americana decadente, ser responsável por essa vergonhosa degradação dos Costumes. Não é apenas a nossa educação, pasmem que os “Educados Europeus” promovem nas torcidas de futebol selvagerias da pior espécie a ponto de produzir vergonhosos resultados inclusive com óbitos, em nome de um fanatismo clubístico burro, injustificável.
Chama-me atenção de que aqui no Rio Grande do Sul, em março de 2015, foi criado a “torcida mista” para assistir aos Genais. Belo exemplo para todo o País e por alguns Estados copiado. Entretanto, passados apenas cinco anos, essa bela medida enfraqueceu, acabou. Talvez por conta da pandemia a procura perdeu expressão e foi condenada ao fim definitivo, a se lamentar.
Para nossa reflexão, temos uma correção de rumo a fazer, pois o esporte já foi muito bem respeitado e se conta na História de num passado não tão distantes, de que as guerras eram interrompidas para a execução das Olimpíadas e nos dá hoje um excelente exemplo de algo a se trazer de volta.
A
responsabilidade não é só do desportista ou de sua fanática torcida, é de todos
nós que possamos influenciar, liderar uma postura de que o esporte
definitivamente é criado para tantas finalidades e jamais para acentuar
diferenças naturais ou inventadas entre nós que compomos uma Sociedade Civilizada. Aí sim,
poderemos validar o título dessa crônica, “O Esporte Salva! ”