quinta-feira, 11 de maio de 2023

 


110) O Tiro de uma “Flouber” é Inofensivo!


O Flouber, Flaubé ou ainda Floube é nome que se dá ao calibre 22 de uma arma de fogo. O formato é de revólver, pistola ou até rifle. É o menor projétil em uso como “bala” em uma arma de fogo. Munição, pelo seu reduzido tamanho e menor valor, muito útil para economia, tanto que em algumas escolas de tiro, para exercício com "desperdício de munição", usam revolver desenho e formato do calibre 38, entretanto com câmara e cano de calibre 22. Para atirar à vontade com custo menor! Lembrando também que a pequena carga de explosivo, produz um estampido mais discreto...

Trata-se de um equipamento bélico não usado mais em combate ou equipes de segurança, em virtude ao pouco impacto causado ao seu alvo. Tratado, talvez ingenuamente, de baixa letalidade. É também verdade, que para um tiro de defesa com um alvo ameaçador, perigoso usá-lo...

Há munição com a ponta oca, popularmente chamada de bala “dum-dum”, concebida para se expandir no momento do impacto, diminui penetração mais profunda mas produz um impacto bem maior pelo aumento do seu diâmetro de ação. Essa ponta oca, é usada comumente em caça e em raros departamentos de polícia, mas proibidos em guerra!

Meu pai, ainda jovem, lá por 1928 comprou um revólver Smith & Wesson do tal calibre 22, fabricado pela American Outdoor Brands - fundada em 1852 - e hoje ainda a maior fabricante de armas de fogo dos EUA. Nessa época portar uma arma de fogo era algo regular, praticamente livre.

Em Jaguari aos domingos pela manhã, a rapaziada se reunia defronte à Catedral Católica da Cidade, para apreciar o movimento da saída quando do encerramento da Missa Sagrada. Ali se formava uma galera defronte ao Templo para o divertido encontro entre os conterrâneos. Conversa boa, conversa fiada, flertar, namorar, exibir roupa nova e enfim, participar do encontro social mais significativo da semana na Cidade. A ida ao bar vinha depois. O bar na verdade era o "Café" provavelmente de Guilherme Diefenbach e bem depois de Roberto Marcom!  Era único. Frequentado para aquela “batida de limão”, até hoje imperdível na cidade!

Só não ia para a frente da Igreja, se estivesse doente. Muito doente. Vale dizer que a comunidade jovem estava lá. Vinham também os jovens do interior que muitas vezes cavalgavam longamente para estar lá naquela hora, o melhor momento da semana! Automóvel? Claro que não. Estou falando de 1928, quando nem o famoso 1929 fora fabricado ainda, por óbvio.

Meu pai, estava lá todo exibido diante dos rapazes, pelo fato de carregar o tal Smith & Wesson! Que convenhamos era uma preciosidade – já comentada acima, fabricada em Springfield Massachusetts nos EUA - um pequeno revolver para seis munições, que cabia discretamente até no bolso! Uma verdadeira joia cobiçada por muitos.

Acontece, que sempre que tem uma junção de jovens, um “engraçadinho” se destaca e apronta alguma brincadeira, gozação e também os dispostos a desfazer de algo, que na verdade pode ser um objeto secretamente de seu "desejo oculto!" A tal de inveja! Não sei se por essa razão, havia um dos colonos - o gozador - vindo de uma das vilas distantes da Cidade montado em sua mula, ou burro e vendo o comentado revólver, fez cara de pouco caso e debochou:

 - Isso aí não vale nada Waldemar. Uma balinha de merda. Não faz nem cócegas na gente! Vai, pode me dá um tiro com essa porcaria! Vamos tchê aqui no peito! A bala nem entra...

 - Nem pensar! Arma  é sempre perigosa. Não brinco com isso!

 - Bobagem. Eu não tenho medo!

 - Não é uma questão de medo, é que...

 - Então dá um tiro no meu burro! Vai!

 - Não, eu já disse que...

 - Então me dá aqui esse teu brinquedinho que eu mesmo atiro!

Tomou o revólver da mão do meu pai e disparou contra o burro. Foi um “Péf”, seguido de um leve cheirinho de pólvora que de fato foi um “tirinho” mixuruca, até mesmo discreto na paleta do animal que nem deu bola... Vibrou o coro como para espantar uma mosca! A gargalhada foi geral e o achincalhamento do agora, nada cobiçado flouber foi hilária!

Comentários e aconselhamentos ao portador da arma foram muitos, "se tiver que usar é melhor dar todos os tiros de uma vez só, pois só um tiro não faz absolutamente nada... É atirar e fugir para não apanhar... Nem cócegas!" Diziam em divertido coro! Meu velho ficou desenxabido, envergonhado de fato! Alvo de muita gozação e risada solta. Encabulado com o resultado pífio de seu até então valioso revólver!

Ainda em meio à diversão geral do domingo, e a gozação com o pobre Waldemar, o burro deu como um grande suspiro, dobrou os joelhos e se deitou no chão, morto! Certamente uma hemorragia interna abateu o pobre e inocente animal. Seu dono idiota, um assassino indignado caiu em choro convulsivo. Ninguém mais ria. Todos espantados com o triste desfecho se quedaram em silêncio. Não havia uma palavra suficiente para diminuir a dor daquele bobo alegre, imbecil que agora perdera sua montaria, pois seu valioso animal de tão útil transporte, jazia no chão! Acabou a alegria do domingo!

Alguns de nós, pagamos caro pela “Escola da Vida”! Soberba, arrogância onera severamente aos imbecis, cobra sempre uma “taxa extra” ainda mais quando aprendem com um sofrimento que podia ser evitado. Armas de fogo ou arma branca, repito, não foram fabricadas para brincar, nem mesmo sendo a "Inofensiva Flauber!"

18 comentários:

  1. Fausto. Bom dia.
    O colono além de haver faltado muito a escola. Um axioma para burro.
    Atirou no " colega burro ".
    Que nada lhe fez.
    Logo bom caboclo não era ou não é se vivo...

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    1. Caro Ivan, desta feita o "menos burro" foi quem levou a pior, mas o merecido prejuízo material e "um pouco afetivo", ficou com o burro maior!!!

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  2. Dirceo Stona filho do Fiorello11 de maio de 2023 às 05:59

    Foram os melhores, os revólveres Smith & Wesson, usei um calibre 22, fabricado pela American Outdoor Brands em uma certa peleia, que logo nos primeiros três disparos derrubei dois viventes e outros tantos estão correndo até hoje. Escutava os fugitivos dizerem:
    - Com esses “Schimites e com os Uessons” não temos vez. Vamos correr.
    Assim procuro os que sobraram e as almas penadas no fundo do inferno porque não acredito que tenham ido para o céu por engano.

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    1. É verdade. Os "Chimites" ainda são os melhores! Agora em versão pistola 9mm!!!

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    2. Tu é entendido em arma de fogo. E a arma branca. Qual delas é a melhor?

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    3. Olha meu caro Dirceo, de Arma Branca, só entendo e é pouco quando se trata de faca para churrasco! Mas na época em que se divulgavam as "peleias" entre os "Bagual" mesmo, falavam muito numa tal de ADAGA!

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  3. Comprei minha primeira arma de fogo, uma espingarda 15 tiros, em 23.05.75, quando completei 25 anos, depois comprei um 22 TA, tenho os 2 até hoje.
    Toda a pescaria gastava uma, ou até 2 caixas de balas, fazendo tiro ao alvo. Bons tempos.





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    1. Marco, também tive uma 22, ganho num sorteio em tempos de Quartel, mas do tipo bem antigo de um único tiro. Valia apenas para caças de pouca expressão e brincadeira - gostosa - de tiro ao alvo cuja maior vantagem era o preço baixo da munição!

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  4. Adoro sua forma de escrita

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  5. Dica para se indentificar precisa mudar na seta para baixo assim nosso escritor sabe quem fez o comentário. Se deixar Anônimo ele não sabe auem o fez. Elaine

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  6. Bah, essa relíquia está lá em casa até hoje......

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  7. Fiz o teste acima para apresentar como fica Anônimo e agora com nome

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  8. Comportamento de idiota.... Outra coisa, fica falando aí que tem uma 22 e nestes nossos tempos estranhos, não duvido que a PF poderia fazer uma visitinha nada agradável...

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  9. Um burro matando um burro! História boa!

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