111) Eu, Menor de Idade Frequentando a Zona?!
E a zona? Como afirmei, eu nunca... Bem, na verdade teve uma época em que se criaram raras exceções, mas devo explicar bem devagarzinho: Tive um amigo muito próximo, um ano mais velho, seus dezessete anos na época, que me contou que foi a zona e “posou” com uma quenga, codinome “mãezinha”! Amanheceu por lá! A descrição de seu encantamento por ter passado uma noite inteira com a “garota de programa” foi incrível, durou até ao amanhecer do dia seguinte! Ele garboso, se vangloriava:
- Quando voltei prá casa, eu me sentia um Homem Feito. Adulto. Macho. Forte. Realizado, sabe?
- Sei sim! Conta mais sobre a “mãezinha”!
Sabia nada! Sentimento me era totalmente desconhecido e muito distante! Ele fez daquele momento o despertar de uma inveja tamanha, difícil de ser disfarçada, a ponto de lhe pedir que contasse novamente com mais detalhes e repetir mais vezes no dia seguinte. Era tão empolgante, especialmente ao detalhe de “se sentir um Homem Feito!” Aquilo provava ser um ato solene e necessário para a Construção Definitiva do Macho!
Evidente que esse sentimento se impregnou em nossos corações e mentes a ponto de desejar fazê-lo com determinação. Pois mais adiante, com outros amigos – também menores de idade – passamos a ir na “Zona” após a seção de cinema. Dar uma passadinha por lá! Coisa para Macho, entretanto muito tímido e roxo de vergonha, sempre. Lá íamos dois ou três moleques para aqueles decrépitos ranchos fedendo a fumaça de cigarro e fogão a lenha, na última rua da cidade, felizmente mal iluminadas a manter discrição.
Num dos prostíbulos - a proprietária era a Dona Piquiri – fui um dia encorajado, determinado a realizar o sonho de “ser finalmente um Homem”! Pois foi dessa vez que lá permaneci pouco mais do que cinco minutos, morrendo de vergonha e com vontade de esconder o rosto mas que arrojadamente até me sentei! Sentado na verdade, bem na ponta daquela cadeira de palha surrada, procurando fingir naturalidade. Com o rosto estrategicamente fora da iluminação do candeeiro a querosene e seu inesquecível odor característico. Evidente que não havia luz elétrica! Era um rancho, ora bolas!
Eis que veio em minha direção, uma senhora imensa, poucos dentes, pele com sofreguidão de muito cigarro, meia idade ou bastante idade. Era uma das “operadoras sexuais do sistema”, puta mesmo. Acho que era a própria dona da tasca. Seu rosto uma bola vermelha, se confundia onde terminava o batom e iniciava a maquiagem do resto da cara. Um imenso campo corado. Difícil era distinguir onde ficavam os olhos, provavelmente numa área onde tinham pintado duas bolas preta.
Assustadora, vinha junto com uma onda de perfume barato a entranhar pelas narinas. De qualquer forma era uma mulher de verdade e supúnhamos que “aquilo” era o que a casa oferecia. Horrorosa, mas por outro lado foi de pura doçura e gentileza a nos deixar mais à vontade, gentilmente vociferou, ou melhor, perguntou:
- Que idade tu tem, o guri de merda? Só pode ser di menor né? Se vê pela cara. Vá prá casa trocá as fralda antes que eu chame a puliça, seu bosta! Mas é só qui me faltava, né! Te arranca daqui piá...
Saída estratégica e apressada porta a fora e um caminhar mais veloz possível por uns dois quarteirões sem olhar para trás. Depois de uma tomada de fôlego, o feliz comentário da brilhante aventura:
- Viram! Ela se interessou. Até veio falar comigo!
- Claro! Prá nos dar um corridão que quase me caguei de medo! Mas valeu, viu Fausto, fez eu me sentir um cusco sarnento!
Clareando esse “incidente”: - Menor na zona de meretrício é proibido todos sabem. Pior, na cidade, havia sempre uma odiosa dupla de Soldados da Brigada Militar, fazendo a ronda, fardados, capacete branco - que permitia perceber de longe sua aproximação - nas raras lâmpadas de iluminação pública que existiam. Aquilo já era o suficiente para a debandada geral ser acionada! Daí o respeito da ameaça aguda da “madame” em chamar a Polícia!
Os anos passam. Veio o de 1967, então já aos dezoito anos, maior de idade e prestando Serviço Militar no Quarto Regimento de Cavalaria do Exército, em Santiago. 18 de julho desse mesmo ano, morre em acidente aéreo, o Ex-Presidente Humberto de Alencar Castelo Branco. Em exercício na Presidência estava, Artur da Costa e Silva desde março daquele ano.
Os tempos eram tidos como “duros”, o Regime Militar severo em posições político partidárias. Tudo gerava tensão nervosa, respeito, medo em todo o País. Por conta disso, o Exército em Prontidão naqueles dias, alocou às cidades onde não havia Quartel, pequenos grupos de Militares Acantonados, compostos por um Oficial, dois Sargentos, três Cabos e oito Soldados. Fui voluntário. Eu era Cabo e a expedição foi justamente a minha Jaguari, distante 46 km de Santiago.
Ao anoitecer, quando não estávamos de Serviço, eu e o também Cabo, Aymoré com Farda de Serviço a rigor, por conta própria dávamos um giro pela Cidade como Vigilantes Federais! Fardados e armados com enorme revólver Smith & Wesson calibre 45 na cintura!
Entrávamos no cinema e arredores. Depois, íamos até a “zona” para ver como estavam as coisas lá no baixo clero! Ao nos depararmos com a outrora temida Patrulha da Brigada Militar, há bem pouco tempo razão de fuga desenfreada, éramos alvo da honrosa emoção de Respeitada Autoridade! Se, a Patrulha eventualmente sentada, levantava rapidamente fazendo Continência! Afinal, eles eram Soldados pertencentes a uma Instituição Estadual, enquanto nós, orgulhosamente Cabos do Exército, uma Respeitada Instituição Federal!
Que saudades
da Juventude, quando com qualquer bobagem, subíamos às nuvens
de felicidade e realização!
Grande Fausto! Grandes histórias!
ResponderExcluirEra assim,hehe.
ResponderExcluirObrigado por ler e comentar. Ponha seu nome no final, por favor! SDS.
ExcluirBoa 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirPor favor, continue lendo todas as quintas-feiras e coloque seu nome no final!!! Muito obrigado por comentar!
ExcluirHistórias de "Zona", sempre são interessantes.
ResponderExcluirCerta ocasião, quando ainda existiam as Zonas de meretrício, com seus cabarés, um amigo, e muito conhecido na cidade, passou á noite toda com o elemento de prazer carnal.
Como de costume, arrumou-se e pagou a moça pelo serviço prestado a contento.
Ao sair da casa pela manhã, coisa mais ou menos de 10h, quando famílias ainda voltavam da missa de domingo, outras sentadas em frente às casas, sorviam o chimarrão dominical, escutaram:
- Ferrerinha.... e o quarto?
Já no meio da rua, todos os olhares voltados a ele, o pecado estampado no rosto, em uma brilhante sacada, vira-se e responde:
- Pinta de verde....
Ķkķkk bela sacada!
ExcluirÉ meu caro Dirceo, quando se é "pego em flagrante", ha que existir uma resposta coerente! "Pinta de verde"! Hehehehe...
Excluircerto
ExcluirQue dizer, Fausto.
ResponderExcluirBelas experiências da juventude.
Quem não passou....
Obrigado por ler e comentar meu caro Ivan! Muito boas experiências na juventude e "no depois" também!!!
ExcluirExcelente seu trip back.
ResponderExcluirObrigado por ler e principalmente comentar... Na próxima, coloque seu nome logo após, para eu saber a "origem" do comentário...
ExcluirQue lindo relato! Bem como falas no teu encerramento, que saudades desta Instituição Federal tão honrada!!!!!
ResponderExcluirVerdade. Saudades do Exército, literalmente...
ExcluirQue juventude bem vivida!! Histórias de zona são muito divertidas!!
ResponderExcluirSem dúvidas Kátia, juventude e nos anos posteriores também muito bem vividos!!!
ExcluirÉ isso aí minha eterna cunhada. Obrigado por ler e comentar!
ResponderExcluirBelas lembranças do passado! Kkkk
ResponderExcluir