sexta-feira, 25 de agosto de 2023

 

125) Ushuaia é tão Interessante Assim?   [Parte II]

 

Qual a que mais gostei? Prometi na semana passada e vou justificar hoje, antes, porém algumas outras posições ao referir essa viagem como memorável. Sou um particular entusiasmado pelo Sul da Argentina e suas belezas naturais com de seus lagos maravilhosos. Dá para dizer sem medo de errar, que esses lagos tornam suas paisagens em franca competição com Áustria, Suíça e Norte da Itália! Bom. Nada disso foi alvo dessa excursão que agora descrevo, mas de qualquer forma merecem referência.

Minha sensação é de que o Criador juntou todos morros, cerros, coxilhas e montanhas num único lugar: - Os Majestosos Andes! Desculpa. Estou saindo novamente do fio condutor dessa crônica e do rumo dessa viagem?! Não. É que, para quem gosta de estradas, adora dirigir em planícies, é precisamente isso que torna as estradas argentinas de tão fácil construção e por consequência clara, excelentes para se dirigir. Inclusive em velocidades mais arrojadas! A velocidade permitida em algumas rodovias de via dupla, chega a 140 km! Não que se recomende tal atitude na direção, mas creiam-me, planície com grandes retas, facilita e dá segurança em ultrapassagens!

Esse “detalhe” faz-nos entender a razão de que “los Hermanos” quando dirigem aqui no Brasil, provocam com sua aparente imprudência, tantos acidentes. A regra por lá, é muito diferente em se tratando de construção e manutenção de estradas, elas são superiores e o motorista se acostuma – os motoristas argentinos – a essa segurança, fazem muitas bobagens por aqui. Matam e se matam no nosso trânsito.

Volto lembrando o questionamento que me veio antes de comprar esse pacote turístico. Preocupado com o relacionamento com o grupo por tão longo tempo! Pois essa “vivência social” foi gratificante! O fato de viajar na primeira fila de poltronas do ônibus de dois andares, cedia aquele privilégio de estar avistando todo o descortinar das belezas da estrada, que atraia os demais passageiros! Então no final da tarde, outros casais se agrupavam naquele pequeno espaço e cada casal trazia uma garrafa de vinho em punho! Encerrávamos o dia como uma grande festa, sabendo que logo estaríamos chegando a “algum destino” para o bom banho morno e confortável repouso no hotel, para no dia seguinte seguir em frente ou por ali ficar cumprindo gloriosa programação!

Vamos a localidade de El Calafate, local de minha indicação da maior de todas surpresas: A gigantesca geleira, “Glaciar Perito Moreno”! São trinta quilômetros de extensão e é a terceira maior reserva de água doce do mundo, cujo seu derretimento forma o imponente Lago Argentino de 300 km de extensão em direção a Oeste, formando uma rica biodiversidade imensa, que dá vida a uma terra semiárida de grandes proporções.


 

 No entanto o espetáculo maior está no derretimento dessa geleira, que chega ao lago com imponência de uma enorme parede de gelo. São seus 74 metros de altura por uns três quilômetros de largura. Na altura, compara-se a um edifício de 25 andares! É dele que se despencam blocos de gelo de várias toneladas a todo momento. Fazem um barulho semelhante a uma trovoada, bem assustador. Esses blocos os “ice berg” seguem a flutuar e a se derreterem por horas. Esse show da Mãe Natureza encanta! Pode-se ficar horas apreciando e curtindo quando ele “estala” como um relâmpago quando dezenas de turistas que ali estão, vibrarem num uníssono e vigoroso “HOOO!”


 

A formação desse Glaciar, se dá nos píncaros da Cordilheira dos Andes, onde se acumula um grande volume de neve TODOS OS DIAS e em todas as Estações, que pressiona e desliza pelos seus trinta quilômetros até sua fratura no Lago, que desse degelo vive! O avanço global, se aproxima a dez centímetros a cada dia!

A criatividade dos promotores de turismo – não revelo nome para não parecer publicidade gratuita – é muito inteligente. Após esse verdadeiro espetáculo a programação nos leva a subir na geleira e dar um passeio em sua parte superior, que muito se parece com nossas dunas de areia do Nordeste, mas de uma alvura da neve acumulada, impressionante! Na caminhada, com calçados adequados com grampos de aço etc, há um momento em que se avista uma mesa de madeira, rodeada de pequenos bancos onde nos reservam algumas garrafas de whisky escocês como cortesia!

 


O “Mestre de Cerimônia” a servir o drink, toma sua picareta e quebra lascas de gelo que estão ali formadas desde no início do Glaciar, há mais de Meio Milênio! Surreal! Muita alegria! Saúde!

 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

 

124) Ushuaia é tão Interessante Assim?   [Parte I]


Essa Crônica se valerá de uma das mais desafiantes viagens de turismo rodoviárias que fiz. Foi em em 2004, pelo quanto que foi interessante e pelo longo período com seus 4.372,6 km de estradas rodadas para cada percurso, o que totaliza 8.745,2 km rodados de Porto Alegre ao destino final, mas com um muito confortável ônibus leito. Não por sorte, mas por me antecipar à reserva, ficamos sentados nas poltronas 3 & 4, com a visão panorâmica que o para-brisa do “andar de cima” do carro proporciona!

Inicialmente fiquei preocupado com a extensão do programa, afinal eram 20 noites de excursão, 30/jan a 18/fev. Felizmente na apresentação a empresa de turismo me tranquilizou assegurando que seria apenas uma noite a bordo. Fiquei aliviado. Pernoites em bons hotéis toda viagem, um com reconfortante café da manhã de primeira categoria! Após a viagem fiquei absolutamente convencido de que fazê-lo em programa aéreo é errado! Afirmo convicto: “Chegar ao destino é o objetivo, mas curtir a percurso é o que realmente vale a pena!”

Foram muitas localidades interessantíssimas, onde se hospedava por duas ou até três noites, a começar por Buenos Aires – primeira parada - na sequência Viedma, Comodoro Rivadávia, Rio Gallegos, Punta Arenas e finalmente Ushuaia. Retorno com novas paradas em Rio Grande, Puerto Natales, Punta Tombo, Torres del Paine, El Calafate, Viedma, novamente Buenos Aires e chegada em casa, Porto Alegre. São muitas atrações nessas localidades, mas apreciar o rodar em si é de fato fantástico!

Não fugindo da provocação inicial que o título dessa crônica enseja, eu afirmo que a localidade Ushuaia é por um todo diferente, linda! Considere-se que é a cidade mais próxima do continente gelado, distante pouco mais de 1.000 km., a Antártida. A cidade relativamente pequena com uns 60 mil habitantes localizada entre montanhas dos Andes e Canal Beagle, divisa entre Argentina e Chile. Embora assemelhada com alguns portos já conhecidos do extremo Sul do Chile, Puerto Mont e Puerto Varas!


Entretanto eu me reservo o direito de eleger Punta Tombo, como a segunda parada mais interessante. Um guia turístico local é contratado a nos conduzir em ônibus próprio por “rípios” (estrada de chão, pedregulho e sem asfalto...) até o litoral, onde o Oceano Atlântico reserva uma ou duas baias, com não mais de dois quilômetros, onde uma colônia de pinguins vem passar o forte do Inverno e reproduzir! O “guia argentino” informa que ali se agrupam até três milhões de pinguins, mas com um curioso  complemento: 

- Bueno, todos partem de volta para a Antártida unidos, o que “nessa época” corremos o risco de ao chegar lá, já terem partido e a praia deserta!!!

Lógico que o interior do ônibus emitiu um sonoro Humm... Para que todos nós na sequência incrédulos, ficássemos pasmados ao ver na chegada a presença de uma colônia absurdamente imensa de pinguins! Não os contei, é claro, mas provavelmente o guia estava absolutamente correto: Estavam todos lá, para nossa alegria e um verdadeiro choque com tamanha população de pinguins!

Algumas cercas e pequenas pontes de madeira em meio a eles, limitando a circulação humana e a recomendação de jamais tocá-los, pois eles, os animais não dão a mínima para nós, os humanos! Se alguém tocar ou agarrar um animal de tamanho carisma, talvez a reação nem seja hostil, entretanto o animal estará condenado pelos seus pares... Acontece que se no acariciado animal tiver um “toque humano”, nosso cheiro nele estará aplicado o que o fará rejeitado definitivamente pelo seu bando. É como condená-lo à morte. Pode ter um pouco de exagero dos profissionais de turismo ao afirmarem isso, de que nos fazem tão fatal recomendação, mas por que arriscar a “vida do outro, né”?

 


Qual a que mais gostei? Bom. Melhor contar na próxima semana, pois aqui faltou espaço...

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

 

123) Um Jantar Muito Cruel!?


Tenho frequentemente exaltado nesse canal de comunicação, a importância e até reverência que faço ao bom hábito de viajar, conhecer novas Culturas a nos permitem constante aprendizado e aquisição de Sabedoria. Paralelamente respeito os custos financeiros que esse “hobby” representa que por outro lado considero um investimento.

Comento inclusive, se ao invés dessas incursões, em especial ao Exterior, eu as tivesse evitado e composto um bom saldo de poupança, hoje aposentado, poderia aproveitar toda aquela grana economizada para... Gastar em viagens! Concluo feliz: - Aproveitei e continuarei aproveitando a decisão de viver intensamente cada dia que minha Vida me proporciona! “Carpe Diem”!

Dezembro de 1995 Ukê, minha parceira na época, tinha uma amiga, a Cica, que casou com um Cidadão de Bangladesh residente no Queens, em New York. Pois essa amiga, maravilhada por NYC, nos convidava insistentemente a curtir uma semana por lá. “Tenho um quarto exclusivo para vocês!” Convite aceito. Passaporte em dia com seus complicados “vistos americanos” registrados, com uma semana de antecedência a data do convite, lá fomos nós!

            


Confesso, fui preocupado, inseguro em ficar duas semanas longe de casa, mesmo não sendo a primeira vez de tempo tão longo. Planejado a primeira semana em Manhattan hospedados no YMCA. Hospedagem econômica, muito barata mesmo de instalações simples mas com um endereço de localização invejável: - Defronte ao Central Park!


Meus medos se materializaram, logo na primeira noite, ao caminhar à toa pela Quinta Avenida, comi saborosas amêndoas torradas, expostas à venda na rua em latas com brasas. Mastigando, talvez alguma pedrinha, quebrei um dente! Pré-molar inferior, lascado no lado interno tornando essa face fraturada, afiada como uma gilete. Pois a língua com sua “vida própria”, tocava insistentemente naquela lâmina o tempo todo! Uma hora depois, a língua já estava inchada! Que desespero! Recém no primeiro dia de duas semanas!

Dia seguinte lembrei que o bilhete aéreo na época, foi comprado através do cartão de crédito Diners, ofertava uma cortesia de um   seguro saúde! Cedo contatei com o banco no Brasil, por um daqueles 0800, e pasmem, orientado em apenas 45 minutos eu já estava sentado na cadeira do Dentista que resolveu prontamente com um provisório, mantido por uns três anos, embora a recomendado substituí-lo logo que voltasse ao Brasil... Evidente que quando confessei isso ao meu Dentista “Picucho”, levei um “puxão de orelhas”!  Lição importante do fato: Jamais viaje ao exterior, sem um bom e confiável seguro saúde!

Assim correu a primeira semana com todos passeios possíveis pela “Big Apple”, que a cada Estação do Ano nos é reservada algumas surpresas de toda espécie, desde um bom caminhar pelo Central Park coberto de folhas amarelas no outono, o branco da neve no seu rigoroso Inverno, florido na Primavera. Verão? Hummm... Esse convém evitar, em especial com o que tem ocorrido nos últimos anos cujo calor é insuportável, até mesmo para nós brasileiros!

Chegou a segunda semana quando Cica e seu marido nos buscaram no YMCA! Almoço numa bela surpresa com “espeto corrido” no restaurante Fogo de Chão. Excelente maneira de matar a saudade da culinária gaúcha! Ficamos hospedados na casa deles um pouco distante de Manhattan, bairro Queens, mas voltávamos praticamente todos os dias via “Subway” pela linha azul, a linha A, pouco mais de meia hora estávamos na “Penn Station”, praticamente dentro da Times Square!

Então chegou o Natal! Nas preparações para a Ceia da Véspera, incluíram uma passada no supermercado, onde o anfitrião comprou uma dúzia de lagostas, vivas, o que provocou um forte desafio de como ele as prepararia!

Na tão esperada noite já “ligeiramente” encharcados de um bom espumante veio a recomendação que as duas moças deixassem a cozinha e aguardassem na sala de jantar!

Sobre o fogão uma panela imensa cheia de água a ferver aguardando o comando do “Cheff”! Aí é que tudo tomou um rumo no mínimo curioso. Essas cobiçadas lagostas foram colocadas nessa panela de água fervente, ainda vivas!!! É esse o processo indicado! Jogadas nessa água elas emitem um som, um assovio fino nada discreto. Esse “choro” corta o coração! Somente aí foi que entendi da necessidade das meninas se afastarem do local da execução de tão cruel processo! O resultado, no entanto, é magnífico! Inesquecível!

Aí a razão dessa Crônica com o título de “Um Jantar Muito Cruel”! Evento que para melhor aproveitar, melhor ignorar esse processo, assim como popularmente se recomenda não saber como é fabricada a salsicha!

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

 122) Refrigerantes: Guaraná, Gasosa e Ciyrillinha!

 

Já sei. Quase totalidade dos que estão lendo, não fazem a menor ideia de que refrigerantes estou tratando...  Paciência. São coisas para os "mais antigos"! Então conto a história de um outro refrigerante, esse sim, muito conhecido mundialmente: - Pepsi-Cola!

Foi por volta de 1960 que surgiu a Pepsi-Cola no Rio Grande do Sul e por consequência na minha Jaguari. Diziam que era um refrigerante brasileiro, pois era produzida em Porto Alegre. Eu acreditei nisso! Até então, conhecia apenas três tipos de refrigerantes do título dessa crônica, que eu gostava demais, mas não tinha acesso comum, só em aniversários e para piorar, no meu “niver”, se servia chá!

Num final de tarde na nossa “Prainha”, numa das mesas do bar estava o Camotin com uma Pepsi a sua frente. Sentei junto a ele e o assunto foi sobre aquele refrigerante preto, que não tinha cheiro algum. Meu amigo fazia cara de quem não tinha gostado nem um pouquinho! Nem se comparava ao “bouquet” do guaraná, que se harmoniza com algo que... Desconheço... Talvez não harmonize com nada! Mas tem seu cheiro particular! Pois Camotin não conseguiu beber sequer  a metade do tal refrigerante sem cheiro algum!


 Q
ué toma essa "pépis"?

- Claro que eu quero!

Imaginem se eu ia perder a oportunidade de conhecer aquela novidade. Me acomodei da maneira mais confortável e de boa postura na cadeira, procurando fazer um semblante sério, formal e iniciei a degustar aquele curioso refrigerante sem um gosto definido! De fato, um sabor tão insonso quando seu inexistente perfume. Refrigerante, genericamente, eu não tinha acesso regular, então esse em especial e em meio a uma tarde sem qualquer celebração, se tornou único! Sorvi-o até seu final com muita pompa & circunstância!

O tempo passa e a maldição americana toma conta de nossos gostos e preferência. Quando inventaram a “Cuba Libre” então, com o resultado da mistura da tal Pepsi com Rum, a perdição se completou marcando um dos mais importantes “tragos encorajadores" às aventuras, como a dançar por exemplo.  Em bailes e reuniões dançantes da época, era a glória!

Com algumas crises financeiras, muito presente nessa fase da minha vida, a galera inventou o “Samba”, versão brasileira da mistura de Pepsi com cachaça! Não menos cobiçada do que a Cuba, mais barata e que produzia efeitos semelhantes! Convenhamos, em época de economia compulsória, o samba veio à calhar! E o prestígio da Pepsi, em alta!

Nessas alturas, guaraná etc., já tinham sido abandonadas, até porque veio outro refrigerante – esse sim americano – de nome Coca-Cola, para concorrer com a “gaúcha” Pepsi! Que ingenuidade!

A minha Pepsi inesquecível aconteceu numa viagem de ônibus da empresa Planalto a Porto Alegre, num dia quente do Verão. Evidente que os ônibus da época não atinham ar condicionado. Se entrasse pouca poeira dentro do veículo, já estava no lucro!

Dinheiro curtíssimo - que coisa mais recorrente - quando UMA GARRAFA desse refrigerante tinha, ao meu bolso, um valor expressivo! Ônibus fez uma parada numa estação rodoviária próxima à Capital. O motorista foi ao balcão pediu uma Pepsi, e tomou quase que a um único gole! Eu assisti aquela cena dantesca calado a engolir saliva. Esperança que a sede aliviasse por mágica! Não aliviou! O desejo? Só aumentou!

Fiquei alguns dias na Capital para retornar, com aquela cena que não me saia da cabeça (perceberam que a mantenho até hoje). Finalmente o retorno e o firme propósito de que alguns trocos poupados foram reservados para matar aquele desejo contido, a inundar minhas papilas gustativas com a espumante Pepsi! O propósito ditava que tinha que ser no mesmo local da vinda, para bem valorizar o sonho acalentado por tantos dias!

Como eu esperava, o ônibus fez sua partida e aguardei, acho que até sorrindo, o momento de chegar ao destino onde materializaria aquele sonho de gula plena! Chegamos: - Fui ao balcão e fiz garboso e orgulho a pedida! Peguei a garrafa com a mão firme, olhei para ela sorrindo e tomei o primeiro gole no bico da garrafa com tamanho entusiasmo, que saiu um pouco pelo nariz, fazendo-me arregalar os olhos! Imediatamente ouço o motorista que havia apenas pego um envelope no mesmo balcão, que vociferou:

- Bora! Parada só para pegar documentação! Vem logo guri!

Quase às lágrimas, devolvi a garrafa cheia no balcão e embarquei profundamente triste, sob risco de perder a viagem... Até hoje, quando passo por aquele local, fico com vontade de chegar para perguntar o que fizeram,  sessenta anos, com TODA aquela minha Pepsi-Cola gelada, que por aqui abandonei com tanto dó e dor no coração?!