quinta-feira, 7 de março de 2024

 

148) Minha Primeira Viagem ao Rio de Janeiro!

Como é bom viajar e em especial viajar “por terra”! Não é medo de voar, absolutamente, afinal sou paraquedista... Mas estou convicto de que o aproveitamento da travessia é, maioria das vezes, mais interessante do que o porto de destino. De carro, ônibus ou de trem, o que se vê e curte no transcurso é muito valioso. Paisagens, animais da flora local, povoados e povos, tornam a viagem muito interessante, cativante!

Em 1973 viajei com Mauro e Ernani (num pequeno Karmann-ghia) a Buenos Aires para passar a Páscoa, já contado em crônica anterior. Loucura plena. Ano seguinte uma solitária viagem em férias para o Rio de Janeiro com meu Corcel preto ano 1972 com pneus “BFGoodrich”, comprados usados, com intenção de preservar o fluxo de caixa em véspera das férias. Eu adorava essa marca, porque em curvas, mesmo em baixa velocidade, fazia uma gritaria enorme. Pneus “cantavam” encantadoramente! Fiz esse investimento recomendado pelo cunhado Rainer, que também me deu orientações de viagem. A primeira, na verdade foi uma ordem carregada de convicção, que  foi:

- Não vai viajar com esses pneus carecas, né guri!

(Ops!) Aceitem minhas sinceras esculpas, errei a foto! Mas de qualquer maneira, apesar desse na foto não ser "exatamente" do meu Corcel, vale como eu me sentia: Como se fosse num Mustang! Todos reconhecem que hoje em dia o que importa é como a gente se sente! Até a definir seu próprio sexo, isso é modernamente aceito e validado!

Ele, meu cunhado e minha irmã Eleonora moravam no Rio de Janeiro e viriam nesses dias das minhas férias do Rio para as suas férias no Sul, deixando o apartamento a minha disposição na Terra Carioca. Havia conveniência maior? Lá fui eu sem medo de ser feliz! As sugestões prosseguiam dando suas valiosas "dicas":

- Sai cedo e faça pernoite em Registro - SP!

Segundo o Rainer, seriam 943,5km, de boas estradas pela BR116 – nessa época o tráfego, principalmente de caminhões era mínima - dava para se manter velocidades constantes de grandes riscos. E lá fui eu! Viagem perfeita e depois do primeiro pernoite recomendado, prossegui até o complicado cruzar a cidade de São Paulo. Felizmente deu tudo certo como planejado. Ou melhor, como sugerido:

- Entra na Marginal Pinheiros e ...




Saí muito cedo de Registro e no meio da tarde do segundo dia de viagem eu chegava ao Rio, praia do Flamengo. Instalei-me no apartamento do cunhado e irmã, ao lado do Palácio do Catete! Foram vinte dias maravilhosos para um jovem de 25 anos, com um bom e vistoso carro (“Carro do Ano” pela Revista Quatro Rodas!), solteiro e uns bons trocados no bolso. Tudo o que diziam do Rio de Janeiro e suas delícias em todo sentido, foram por mim degustadas no melhor estilo! Como sabemos, tudo acaba e chegou o dia de voltar para casa: Domingo, 06hs da manhã, tanque de gasolina cheio, pneus calibrados e lá fui eu pela Rodovia Dutra pensando talvez pousar em Curitiba, com um bom desempenho de 857,3 km, razoável para uma viagem tranquila que depois restariam mais 751,7 km para chegar em casa e somente no dia seguinte a encerrar as férias no Banco Safra!  

Durante todos bem aproveitados dias na Cidade Maravilhosa, aconteceu uma intercorrência no "distinto Corsel". Isso foi a poucos dias antes de voltar para casa. Pane no carregador da bateria. Essa se descarregava sem alimentação de nova carga. Dava para rodar bem, mas que não ficasse dependendo do motor de arranque. Cuidado ao estacionar. Obrigatório ficar em alguma rampa para depois pegar “no tranco”! Uso de farol extremamente restrito bem como qualquer outro dispositivo que consumisse energia elétrica... Aqui desmoronou todo encantamento pelo veículo tão apaixonadamente referido no início dessa crônica.

Assumi os riscos inerentes e sem lá grande responsabilidade de um motorista maduro - que eu não era - peguei estrada e ao chegar já na suposta saída de São Paulo a tomar a Rodovia Régis Bittencourt, fiquei inseguro. Viaduto de onde deveria tomar rumo ao Sul, avistei um soldado e parei para pedir confirmação (Recomendado fortemente: SÓ peça informação a alguém fardado!) E o militar me respondeu:

- O senhor pode ir pela Régis Bitencourt, mas se prefere ir pela “freeway” direto, vai sempere em frente até Bauru e...

Ora, “freeway” me soou muito bem e dei clara preferência. Nesse caso, ele aproveitou meu rumo e foi de carona comigo até um determinado ponto que anunciaria na sequência. Creio que uns 200 km depois, próximo de seu destino se despediu agradecido e eu segui viagem, porém logo a frente parando em um posto de gasolina para abastecer e fazer um já tardio lanche de almoço. Foi quando, apenas para confirmar com o frentista:

- Curitiba então... Sempre em frente até Bauru, né?!

- Bauru não! Para Curitiba, o senhor tem que ir a São Paulo e de lá...

- Coooomo???

- Sim. 250 km. e pega rodovia a Régis Bitencourt e...

Surtei! Pois não é que o “respeitável fardado” que me orientou, na verdade me passou a conversa de "free way" a trazê-lo de graça para casa... (Seu desgraçado, FDP!) Quase chorando de raiva, retornei e para piorar tudo, chuva forte. Lembram da bateria? Pois é. Acionava o limpador de para-brisas só para ver alguns metros à frente e desligava. Assim foi por uma hora até parar a chuva! Não tinha alternativa. Um horror! Como eu tinha noção que deveria me dirigir ao Sul. Numa saída qualquer, decidi buscar um caminho alternativo ao Paraná, coisa de desesperado e furioso por estar andando à toa! Me perdi novamente em meio a estradas vicinais e assim rodei até ao anoitecer, quando finalmente achei a Rodovia Régis Bitencourt. Daí me direcionei a Curitiba, onde deveria parar em algum hotel à beira da estrada para pernoitar.

Dirigir a noite?! E a bateria! E os faróis? Simples, muito simples: - Seguirei algum ônibus e quando ele frear eu freio, acelerar eu corro e no primeiro hotel de beira de estrada eu paro e durmo onde for! Dilema número dois: Se estou com olhar focado na sinaleira do ônibus, como verei algum hotel? Assim fui até o destino final daquele ônibus, Blumenau. Obediente ao planejado, fui até a rodoviária seguindo-o. Carros parados fui falar ao motorista a razão de segui-lo. Ele deu um longo suspiro! Esteve o tempo todo, por quilômetros preocupado, "enquanto era seguido por um suspeito carro preto com luzes apagadas"... Bem, ali era seu destino final, então aliviado e sorridente, me conduziu a um colega,  motorista de outro ônibus que iria até Florianópolis e me daria o rumo certo! Lá fui eu!  

Fato novo na viagem: - Eu supunha que minha namorada da época, estaria com sua Família passando final de semana na Capital Catarinenses, hábito frequente com quem partilhei passeio por algumas vezes. Estando já em Florianópolis, fui ao provável hotel de costume e de fato lá estavam de malas prontas ao retorno a Porto Alegre.  Não me deixaram encerrar viagem ali. "Venha conosco"! Fui convencido a viajar - dessa vez em comboio - fazendo do carro dela, dirigido por seu irmão, como minha referência de freia/acelera e viajar o resto da noite meio às escuras! 


Ao amanhecer de segunda-feira, pouco antes das 07hs., eu finalmente chegava em casa aturdido com um estranho zumbido no ouvido e leve tontura depois de vinte e cinco horas dirigindo! O que deveria ser "apenas" 1.581,4 km. extrapolou para uma distância - em função de eu "me perder" em São Paulo – que não consigo avaliar com precisão... Essa foi seguramente minha maior e mais imbecil aventura automobilística!

13 comentários:

  1. Bahhh Fausto!!!
    Viagem à cidade maravilhosa é sempre uma delícia, por mais que se repita. Agora, em Viagem direta, penso que o avião é insubstituível, por mais bela que seja a estrada com paisagens, etc... De carro é muito cansativo!!!!

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  2. Ah! Fausto. Essas informações erradas...Ivan

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  3. É verdade a viagem rodoviária é a mais recomenda,pelo que vc desfrutará das paisagens.
    Fiz uma similar em 1977, com uma Brasília
    É inesquecível o que vivemos.
    Parabéns por retratar essa ,digamos,quase aventura.

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  4. E anos depois iria morar por alguns anos na cidade maravilhosa..
    Abraço
    Vídeo

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  5. Uma aventura e tanto e a coragem que só a juventude nos dá. Abraços,

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  6. Ossos de viagem.. nem sempre sai como o planejado... rsss

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  7. Que loucura! Dessa vez deu muita zebra, ainda bem que vc passou dias incríveis no Rio. Mas, no final tudo valeu a pena!

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  8. No ano de 1970, fui com um amigo carioca que trabalhava em Porto Alegre. Nosso meio de locomoção foi um Karmann Ghia 1968. Detalhe: Eu não sabia dirigir, aliás até hoje não sei. Fiquei hospedado na Tijuca. A ida foi tudo novidade, a volta não sei, dormi praticante toda a viagem. Caroneiro bom assim não se encontra mais.

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  9. Tu tens vocação para te meteres em confusão! Quanto a mim, o mais longe que que fui foi a Aparecida (SP) ,em seguras excursões, e às praias de Floripa (onde te-
    nho um sobrinho) em ótimos ônibus! Te-
    nho um outro que mora em Dubai , mas
    não sonho exibir-me por lá !!

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  10. Nada como ser jovem para aguentar essas aventuras maravilhosas!
    Tida

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  11. Que sufoco! Aventuras e mais aventuras! Parabéns por mais este testemunho! Abração. Bidart

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  12. Em uma viagem assim cadas km a mais faz toda diferença. Nesta época já era complicada rio mem polícia era confiavél.

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  13. Muito bom, professor Fausto, inspirando viajantes através de uma bela crônica!

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