quarta-feira, 25 de setembro de 2024

173) O Vinte de Setembro!

Evidente e, que tratar de uma data tão relevante para o Rio Grande do Sul, em especial ao nosso orgulho, não se relata em única crônica, mas em muitos livros, em uma biblioteca inteira, talvez. Relatar um momento Épico de um Povo cheio de bravura, requer um conhecimento histórico de dimensões de milhares de anos luz à frente da minha cultura e competência. Não é hipócrita modéstia desse que escreve, garanto! É História de um Povo Heroico e Bravo em busca de uma Pátria Única, que pudesse ser chamada de Sua!

Historiadores de alta competência na lide das letras, já perpetuaram os raros momentos de sofrimento, batalha e muita dor desse Povo, do meu Povo e como todos “desse naipe”, às vezes exagerando um pouco, onde conquista olhares de desconfiança do que crédito e reverência que nos julgamos merecedores! Verdade. Muitas vezes a nossa “faceirice” provoca dúvidas de até onde realmente fomos com as tais "peleias heroicas"!

Vamos aos fatos: Semana passada – Gaúchos, com muitos Brasileiros acompanhando – celebraram data memorável de uma guerra fraticida, sangrenta que jamais em tempo algum, se crie motivo a repeti-la! De fato, não se comemora uma guerra, jamais, mas o fim dela e nesse caso com resultados práticos um tanto discutíveis, pois o verdadeiro objetivo dos Farrapos, assim chamados durante a guerra, dado ao estado deplorável de suas fardas, então liderados pelo General Bento Gonçalves, David Canabarro e outros  tantos aguerridos, com apoio também do Guerreiro de Mar e Terra, o Italiano "mas" nascido em Nice - França, Giuseppe Garibaldi, assim sonhavam, todos eles, com a República de Piratini!

O adeus à Monarquia e a pesada carga tributária imposta pela Coroa, (algo em torno de 20%, apelidado de “quinto dos infernos”) foram os pontos de conflito e reivindicação furiosa de todo esse Povo, que se julgava oprimido e sem o devido e respeitoso retorno ao que produziam. Enfim, viver se imaginando injustiçado, tira o brilho de qualquer patriotismo e cria nesse Povo um sentimento de plena revolta. O resultado se converte em luta para uma separação definitiva e sua proclamação ocorrida em setembro de 1836 de um Estado Nação, a República de Piratini, ou ainda, a República Rio-Grandense!

Vamos à alegria da celebração, para mim hoje, é o que mais conta. Já cumpri meu Dever Cívico Servindo a Exército Brasileiro em época de Paz, quando muito se cantava: “Brasil, ame-o ou deixe-o!” Que bom, quase todos ficaram! A Monarquia acabou, Dom Pedro II foi triste e vergonhosamente escorraçado do Brasil e a República nacionalmente tão reivindicada está aí sólida, sobrevivendo aos trancos e barrancos, mas sobrevivendo!

Recomendo leitura do romance da Guerra dos Farrapos, intitulada “República das Carretas” de Barbosa Lessa, onde discorre com maestria a Gloriosa Época e quando surge a ideia do seu icônico Hino. Foi através de uma conversa informal ao lombo de seus cavalos, entre o maestro Joaquim Mendanha quando José Garcia provoca:

- Tive uma ideia companheiro. Já temos bandeira, brasão e até mesmo o tope de lapela para identificar quem é do lado da República. Você se anima a inventar um hino? A República pode até lhe pagar!

- Sou da terra de Tiradentes, o mártir da liberdade! Mas pensando bem, é até capaz que eu faça de graça!  Tentar não custa...

- Gostei de ouvir!

O assunto evoluiu, quem faria a letra, ajustes e planejamentos necessários, com a conclusão final por Mendanha:

- Negócio fechado! Garanto que o Presidente Bento Gonçalves vai se retouçar de alegria com esse baita presente: O Hino dos Rio-grandenses!

 

O canto, a música, sempre contribuíram para a alegria e exaltação, gerando sentimento de conquista e glória! Foi nesse momento, portanto, que se consagra o início do tão falado Hino que orgulha e dá aos Gaúchos a razão e força para levantar, erguer a cabeça e ir em frente em todos momentos, sejam de crises e ameaças mais sérias!

Ainda celebrando essa Paz reestabelecida e a consolidação de um Brasil só, sem separação, no último domingo, ao assistir a um disputado jogo de futebol em Porto Alegre, com um time do Rio de Janeiro, foi quando do meu encantamento aconteceu logo após o Hino Nacional protocolar, tradicionalmente entoado antes das partidas, pois foi seguido pelo Hino Rio-grandense! Ouvir dezoito mil vozes entoarem seu Hino a plenos pulmões, só estando presente para avaliar! Admirável, de encher o coração de emoção sincera: - “Como a aurora, precursora do farol da Divindade, foi o Vinte de Setembro o precursor da Liberdade”... 

Que tenhamos sempre, força, energia e saúde para manter nossas Tradições com orgulho e as vezes até com rebeldia, reverenciando nossos antepassados que tenham lutado com razão e devida convicção e que ninguém tenha desperdiçado seu sangue por uma causa sem o devido mérito!

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

172) Lee Iacocca e a Indústria Automobilística Americana.

Na Crônica que escrevi em quinze do mês de agosto/24, discorri sobre o apelo “made in Japan” e lá comentei: Vê-se claramente a indústria americana fragilizada e a europeia fortemente ameaçada! Acontece que não é a primeira vez. Americanos praticamente inventaram o automóvel a gasolina, evoluíram gigantescamente, mas vez por outra entram em crises espantosas.

Há uma vertente de que o primeiro automóvel movido à gasolina, foi construído pela alemã Benz. O Construtor batizou seu carro com o nome da amada esposa, Mercedes! Daí o surgimento de uma das mais aplaudidas marcas de veículos, Mercedes-Benz

Voltemos aos Estados Unidos: - Na década de sessenta, os americanos mergulhavam numa fase terrível com sua indústria de automóveis, precisamente com o avanço das japonesas Honda, Toyota, Nissan e Suzuki. A Ford foi – daquelas que sobreviveram – palco de uma recuperação milagrosa, por um novo direcionamento conduzido pelo ascendente Italiano Lee Iacocca, “Chair man” da Empresa. (Hoje o apelido seria CEO!) Nessa época todo carro americano era de grande porte, daqueles que nós gostávamos de jocosamente chamá-los de “banheirões”. Caros e de alto consumo de gasolina!

Pois o “Milagre da Ford” ocorreu em 16 de abril de 1964 com lançamento de um carro de porte médio, o icônico Mustang. Sua venda atingiu cifras impressionantes e tinham no preço de US$ 2,368.00 um convite muito atraente. Em seu primeiro ano no mercado somaram 418.812 vendas. Um recorde da Organização. Hoje, um Mustang GT 5.0 - V8, começa em US$ 41,960.00, enquanto seu oponente, o Camaro da GM em modelo básico, dez mil dólares a menos!


A História da Ford se confunde e se mistura com seu criador Henry Ford e nessa época mais recente com Henry Ford II, foi ele que sequer fora sócio majoritário da Ford, em um arroubo de um ciúme infantil, demitiu Iacocca.  Foi num jantar com a diretoria, que surtou alegando conspiração e se retirou do local rosnando:

- Ou ele ou eu! Vocês têm vinte minutos para decidir!

Saiu intempestivamente da sala... Em consequência Iacocca era demitido nesse  1976. A herança da “cabeça dura”, vinha de seu pai: - Lembro um fato histórico dito em sala de aulas, enquanto na Faculdade, da célebre reunião em que todos executivos da Ford lutavam bravamente discutindo com o velho e teimoso Mr. Ford, de que deveriam fabricar carros de outras cores, não UNICAMENTE na cor preta, como ele exigia. Diante de tantas provas em especial com o fulgurante crescimento da arquirrival GM-Chevrolet, produzindo em tantas outras  cores, o teimoso contumaz, finalmente "cedeu":

- OK! Se é o que vocês insistentemente querem, podem fabricar carros de qualquer cor, desde que seja preta!

Ponto final! Reunião encerrada! Hilário. Até parece piada, mas a história registrou como ponto decisivo para que a Ford jamais assumisse a liderança automobilística mundial. Essa, cedida a GM, nessa época já recuperada do período entre-guerras por Alfred Sloan – o maior gênio que jamais existiu no ramo de automóveis – definindo até hoje a grandiosidade dessa Indústria Americana. Em termos mundiais persiste na troca de liderança com a Japonesa Toyota e assim vão disputando dólar a dólar seus bilionários faturamentos. Próximo está, a concorrência dos carros de motorização elétrica, que só não será total, enquanto os produtores de petróleo dominarem o mercado da lucrativa exploração e venda de combustíveis fósseis!

Lee Iacocca volta glorioso ao cenário dos fabricantes de automóveis no mesmo ano de 1976, com a pesada missão de recuperar outra Americana, a Chrysler, num buraco muito profundo, quase falida. Longas e discutidas reuniões e ele se incorpora à Organização entrando como Presidente, mas se tornaria ainda mais poderoso, como Presidente do Conselho e Chefe Executivo, no dia primeiro de janeiro de 1980 Recuperou a Empresa e se aposentou em 1992. Foi considerado por fim, como o homem que recuperou a Ford e Chrysler em diferentes momentos.

Disputas na busca de destaque, poder, vitrine, sempre foram burras e é de minha total convicção, que no comando de qualquer instituição, seja pública ou privada, o orgulho pessoal deve ser banido, deixado definitivamente de lado, ou a decadência estará garantida! 


quarta-feira, 11 de setembro de 2024

171) Fui um Patriota Entusiasmado Servindo ao Exército!

Eu completava aos dezoito anos, minha maioridade e por obrigação cívica, deveria me alistar a cumprir o Serviço Militar Obrigatório. Meus irmãos, Sergio e Danilo, tinham prestado Serviço Militar em suas épocas e insistentemente me aconselharam não o fazer, para acelerar meus estudos e finalmente me mudar a Capital cursar uma Faculdade. 

Como eu era um “magrão” de um metro e oitenta e um de altura, com escassos sessenta e três quilos de "pura gordura”, afirmavam que não passaria pela Inspeção de Saúde. Ficaria  livre daquele compromisso cívico sem esforço algum! 

Ledo engano. Examinado, designado a Incorporar em quinze de janeiro de 1967. Nessas alturas eu estava convencido de que perdendo um ano escolar, perderia um ano de vida! Emiti lamúrias chorosas e meus Irmãos que moravam na Capital, tiveram com Dr. Santiago, (homônimo da cidade em que eu Serviria) Médico e Capitão do Exército que me tratava uma rinite alérgica. Conseguiram com o Oficial um atestado de saúde, recomendando minha dispensa, já que serviria no Quarto RC, um Quartel da Arma da Cavalaria, onde abundância de pelos, pó, etc, agravaria minha "precária saúde nasal"!

De posse desse poderoso atestado, fui pessoalmente a Santiago requerer um segundo exame. O Oficial, Médico de plantão, leu meu atestado e nem me examinou, foi logo carimbando meu atestado com muita decisão, dando aquelas pancadas vigorosas com o carimbo para se ouvir de longe. Perguntou-me num ar sereno de extrema compreensão, até de bondade. Parecia um doce e dedicado Frade , meigo, quase um Pai zeloso:  

Por que não apresentou esse documento na inspeção feita lá em Jaguari?

Eu, no alto da minha modesta inteligência, respondi inundado em profunda convicção, em êxtase, quase em orgasmo verbal:

- Naquela ocasião, eu estava sob efeito de um medicamento vaso constritor!

- Muito bem! Então vai Servir sob efeito desse vaso constritor e não me encha mais o saco! E te arranca daqui antes que eu fique nervoso!!!

Sai voando da sala. Nem olhei para trás. Voltei para Jaguari, "com o rabo no meio das pernas", convencido e concordando com a decisão daquele Tenente! Em 15 de janeiro de 1967, lá estava eu no IV RC, recebendo minha farda verde-oliva, cabeleira raspada num severo corte cadete. Detalhe importante, os Beatles, nessa época já faziam sucesso com suas melenas invejadas que nós “guris”, tentávamos copiar! Coisa mais triste ver toda aquela cabeleira preta, bem tratada ser jogada como lixo no chão imundo, daquela barbearia não menos imunda! Fui feito Recruta do Exército Brasileiro! 

Sempre procurei onde quer que fosse, ser um pouco melhor em qualquer grupo – nem sempre atingido, mas sempre procurado – e no Exército não foi diferente. Um grupo de cento e poucos recrutas no Esquadrão, todos eram iguais. O recurso naquele meio, foi fazer o “Curso Formação de Cabos”. Logrei êxito. Embora sendo o menor passo na Carreira Militar, era um passo a frente! A vida na Caserna ficou diferente, bem melhor. Prazerosa e sinceramente guardo saudade dos onze meses e poucos dias em que mais trabalhei, sofri e ri à toa em toda minha Vida! Se voltasse no Tempo, não modificaria absolutamente nada! Melhor Escola de Vida que conheço! Recomendo com entusiasmo aos adolescentes em via de se Alistar!!

Depois da Promoção, lá estava o "Cabo Fausto" de Serviço, com um Smith Wesson calibre 45 na cintura no maior orgulho do Mundo. (Na foto, acompanhado do Aymoré e Carrillo!) Foram imensos desafios e conflitos mentais ao assumir subitamente algumas sérias responsabilidades, inimagináveis poucos meses antes de Incorporar, enquanto vivia protegido como filho mais novo dos cinco filhos da dona Olga! 

No desfile de Sete de Setembro, farda engomada, esporas e fivelas brilhando, escolhido o melhor capacete e lá fui eu em um Jeep ano 1951 sem capota, sentado no compartimento traseiro, portando uma metralhadora “ponto cinquenta”, à frente o motorista mais Sargento Crestani! Não cabia em mim tamanho orgulho, em especial seria a primeira vez a fazer Continência a um General!

Desfile atrasou, como meu Quartel tinha o maior contingente e com desfile de cavalos, ficou por último dos quatro quarteis da cidade. Já passava do meio dia e nada.  Toca um clarim, que não entendi bulhufas do que estava informando, mas traduzindo: “Desfile encerrado”! Voltamos para o Quartel, sem sequer ver o tal General! Que decepção!

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

 170) Cavalo não é burro, nem o Burro é sempre burro!!!

Estava no sítio do meu irmão mais velho, a observar seu pomar e alguns animais no pasto. Subitamente um de seus cavalos – brincalhão, algo frequente nos equinos – disparou desenfreadamente em direção a uma cerca de arames farpados! Todos boquiabertos com a repentina e tresloucada corrida do animal, sem algo a justificar atitude tão espontânea e até violenta, rumo a um sério acidente!

Ainda em grande velocidade há uns dois metros da cerca, freou repentinamente como disparara. Suas patas energicamente travadas, se arrastaram por metros cavoucando a grama do solo fazendo grossa poeira! Ficou estático, cabeça erguida, orgulhoso parecia aguardar aplausos da perplexa plateia! Esperávamos aflitos seu acidente em meio a cerca afiada! Na sequência os comentários por todo aquele espetáculo, se iniciou pelo meu sobrinho caçula, respondido pela minha cunhada:

- Nossa! Mas que burro!

- Meu filho, não é um burro, é um cavalo!

- Espera mãe, eu quis dizer burro, do ”verbo não saber”!

Tudo esclarecido! Para melhor entendimento consideremos que tanto minha cunhada como meu mano, eram Professores de Português numa Escola local e habitualmente, com seus dons didáticos, observavam em complemento de algum adjetivo com o verbo de sua origem. Exemplo: "Dorminhoco, adjetivo oriundo do verbo dormir...”

Apesar de rirmos da intervenção do “pequeno” com menos de dez anos, me trouxe alegria por vê-lo herdar a atitude de seus pais, garantido que sempre terão na sua Cultura Geral um significativo enriquecimento, para mim,  elogiável. Nos dias de hoje, me parece estarem as crianças sendo desenvolvidas apenas a contestar a Sabedoria dos mais velhos, muitas vezes estimulados tão somente a uma vil discussão, nem sempre espontânea mas via de regra polêmica, para mim, um pouco duvidosa de seu resultado construtivo.


Sinto falta daquela cultura mais permeada de exemplos práticos, genuinamente oriunda das bases da Educação. Essa quando se mistura com à cultura urbana, tende produzir resultado muito rico. Jovens da "Cidade Grande", via de regra se fecham em si mesmo e em suas casas/apartamentos que apesar de desenvolvem habilidades às novas tecnologias, ficam habitualmente enclausurados em recintos fechados ou até mesmo em público, com seus olhos fixos numa pequena tela a jogar, brincar; por consequência isolados do “Mundo Lá Fora”. Frustrante, para mim e aos mais antigos! Não afirmo estarem errados ou no rumo certo. Parece-me não ser o caminho de luzes e flores, quando um aparelho celular substitui a conversa, a troca de "olha no olho", embelezando os bons relacionamentos!

Recentemente fazendo a travessia do nosso Rio Guaíba, em excitante embarcação de velocidade, observando e curtindo todas movimentações da interessante navegação, no entanto, especial às crianças que nos acompanhavam, todas, absortas naquelas nas telas minúsculas de seus celulares vendo ou jogando “não-sei-o-que-lá”! Para eles, visivelmente o passeio inexistia. Estavam unicamente aproveitando o "free wi-fi" disponível na embarcação. Senti dó de quem pagava por aquele passeio. No meu modesto entendimento, dinheiro jogado fora! 

Queria tanto saber recuperar a alegria das crianças brincado como antigamente! Hummmm! Bateu um sinal muito claro que a "velhice" está rondando na minha porta!