quarta-feira, 26 de maio de 2021


55) Uma Experiência Única em Amsterdam!



 

Conheci Reepl, o personagem central dessa crônica, ainda jovem de trinta e poucos anos de idade, maduro e de “muito boa cabeça”, que contou uma experiência única vivida na Holanda, ocasião em que visitou a Capital, Amsterdam.

Sem dúvida a cidade é encantadora. Reserva muitas surpresas a quem a visita. Desde seus canais caprichosamente desenhados em forma de espiral pela Mãe Natureza, mas que evidentemente não fica só nisso, o trabalho da Mão Humana também é fantástico. Comecemos pelo mais importante Museu da cidade com as incríveis obras de Vicent Van Gogh, gênio que em apenas 37 anos de vida, deixou um legado invejável de Arte. É local de visita obrigatória na cidade, mas com cuidado aos horários de visitação, que como em toda Europa, são muito rigorosos!

As tulipas! Ah as tulipas! Procure uma época do ano em que estejam floridas, mas saiba que sua floração exuberante acontece no mês de abril, embora que a temporada faz sua abertura oficial no mês de março.

Tudo muito lindo!? Não! Minha segunda visita a deslumbrante Amsterdam, aconteceu num momento inadequado pois coincidiu com greve dos garis e coletores de lixo na cidade! Montanhas, sem exagero, com cinco metros de altura de lixo misto em todas esquinas da cidade que traziam um odor de azedo imperdoável e isso já havia há uma semana, podem imaginar...

Depois, reserve uma noite para visitar as “Vitrines de Luz Vermelha”, que ocupam um bairro inteiro para essa curiosa atração! Trata-se da prostituição dando seu sinal de vida muito às claras, sem nenhuma discrição! Literalmente vitrines que expõe “alguém de programa” exposta ou exposto e disposta (o) à prática sexual. O reservado em formato de vitrine, contém uma cama de casal para o ato e é fechada uma cortina quando alguém da rua se dispõe a pagar e fazer o coito, que será consumando naquele local mesmo que parece exibir as necessidades básicas.

Creiam-me, tem de tudo. Mulheres novas e lindas num quarteirão, outras bonitas de meia-idade e as gordinhas para quem gosta de mais volume! Há também espaço para as feias, um pouco mais afastado que por uma questão de mercado, são as de preços mais baixos, se é que me entendem...

Referi-me acima a “alguém”, por não ter convicção do sexo, isso ficou claro, eu sei. Têm “mulheres grandes” também muito bem vestidas com trajes mínimos, cobrindo o essencial, entretanto num dos quarteirões estão expostas e com frequência arriam sua calcinha exibindo a região ínfero-anterior do osso ilíaco, que um pouco abaixo se manifesta o que deveria ser um clitóris, um órgão copulador do macho, também de tamanho super avantajado!

(Ufa? Com um esforço enorme, consegui não escrever pênis!)

 

Deixando a zona da Luz Vermelha, encontra-se a região do fumo, de cigarro preparado na hora com a famosa maconha. São "bares" que organizadamente e legalmente comercializam a maconha para uso no local. Comprar para usar em casa ou no hotel, não é permitido.

Nominei organizado porque funciona como se fosse um bar regular mesmo, comum, isto é, o atendente traz o cardápio bem montado, com diversas opções do fumo aqui não proibido. Uma vez escolhido, o serviço é feito numa bandeja com todos apetrechos para montagem ritualística do cigarro. Aí é que entra o histórico do fato:

Como um principiante, um pouco temeroso, tímido, senta-se em uma mesa que por coincidência ou não, era naquele momento frequentado unicamente por homens que conversam descontraidamente sob música caribenha e por óbvio, fumaça com o tradicional cheiro da erva reinante.

Olha o cardápio e não entendendo bulhufas sobre o que está oferecendo, socorre-se ao atendente revelando seu total desconhecimento dos produtos e solicita o que tiver de mais brando, suave.  Com um sorriso mostrando total compreensão de seu cliente e muita empatia, se retira voltando com uma bandeja com a erva desfiada, papel apropriado e um isqueiro. É hora de montar o cigarro! No entanto, dado sua falta de experiência chama de volta o atendente e se revela neófito no assunto e é prontamente atendido. Cigarro montado e aceso, delicia-se com sua inovadora experiência, sem sentimento de culpa!

Como afirmei anteriormente, só tem homens no local e ele percebe alguns minutos depois, pouco mais a sua frente, em uma mesa contra a parede um moreno alto, magro, escorado em uma guitarra que lhe observa atentamente. Não dá bola e prossegue sua aventura, no entanto em um segundo momento percebe que o moreno continua lhe observando. É um sujeito estranho, curioso, cabeleira extravagante e muito farta, estilo rastafári cheio de pequenas peças de tecido coloridas e adereços a decorá-la. Estrategicamente vira sua cadeira um pouco de lado para evitar o olho-no-olho, afinal de contas tudo que ele quer é evitar confusão, especialmente estando tão longe de casa.

Os minutos vão passado, acaba o cigarro e a tentação de ver se aquele moreno continua lhe cuidando ou se ainda está lá. Bingo, permanece com aquele mesmo olhar frio, desafiador com meio sorriso debochado entre os dentes... Pior, o cara é alto, grande. Mais tarde, tenta um olhar sobre o ombro e lá está ele que continua teimosamente me olhando, com a mesma cara. Típico de indivíduo bêbado que gosta de arruma encrenca e me elegeu como alvo da noite!

Vira sua cadeira completamente para ficar de costas para o cara. Incomodado perde a paciência e pede a conta:

- Desculpa-me, mas o senhor precisa ficar mais alguns minutos até suavizar o efeito do cigarro. Não deve sair à rua agora!

Diante dessa afirmação convicta, só resta esperar. Contando que aquele moreno vá embora logo. Passado algum tempo, o atendente com sua tradicional gentileza, serve um copo com um líquido bastante doce, um misto de refrigerante com algum xarope estranho. O sabor é agradável que eliminava a sensação de boca seca.

- O cavalheiro deve beber disso, vai lhe fazer bem e ajudará recuperar a normalidade de seus sentidos!

- Muito obrigado!

E bebeu todo, mais algum tempo o atendente volta com um largo sorriso e a conta numa bandejinha. Nada extravagante, mas longe se ser uma diversão barata!

- Agora o senhor pode ir. Mas se quiser mais alguma coisa é só me chamar! Ficamos honrados com sua visita!

Passa seu cartão de crédito, encerra a conta totalmente sóbrio mas antes de ir embora, a tentação de dar a última olhada aquele indivíduo indesejável, que o observara durante todo o tempo, percebe que na verdade, onde supostamente seria sua mesa, é na verdade apenas uma porta qualquer, onde está colado um enorme pôster tamanho natural, do Bob Marley, falecido há quarenta anos! Reepl se dá conta que esteve ameaçado durante toda noite por uma simples foto do famoso Jamaicano!

Retira-se e volta pacificamente ao hotel que o hospedara para um sono reparador! Viram? Amsterdam é encanadora de fato!

 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

54) Uma Reflexão!

 

54) Uma Reflexão!

Meu amigo Dirceo, Editor Chefe da nossa Equipe, me propôs uma reflexão remetida às primeiras duas a três décadas de nossas vidas, especialmente as profissionais. Nossa! É muita mudança para quem já passou dos 70 aninhos de vida!

Sou daquela época em que fumar era bonito e ser pederasta passivo era feio. Hoje as coisas se inverteram e fumar é feio, “a outra coisa”, que não tenho autoridade suficiente para falar, mas parece que também inverteu, talvez eu tenha que me desculpar por não ser gay!

Mas vamos ao cigarro, onde tenho alguma autoridade a descrever. Meu pai foi Distribuidor Autorizado da Cia. De Fumos Santa Cruz em Jaguari. Teve uma ocasião em que foi destaque ao vender UM MILHÃO de cigarros em um só mês. Apesar do convívio com tanto cigarro, meu velho só permitia que seus filhos fumassem após completar dezoito anos. Meus irmãos mais velhos – todos são mais velhos – ganhavam de presente ao completar essa Maioridade, um pacote de cigarros Tufuma, contendo 25 carteiras, isto é, quinhentos cigarros. Em 1966 já existia nessa Companhia, o cigarro com filtro, o Jean Nicot, esse foi meu presente!

Uns três anos antes disso, me iniciei no tabagismo por conta própria, típico de um pós-adolescente tentando ser rebelde. Reforço o “tentando” porque meu Velho não dava muito espaço para essas frescuras de rebeldia não... Mas era proibido!

O pior é que eu gostava mesmo era do cigarro Minister ou Carlton. O maior problema é que essas marcas eram topo de linha de nosso maior concorrente, então me obrigava a fumar escondido por essas duas fortes razões.

No fundo mesmo, minha busca certamente era para o status atingido por fumar dois cigarros de marca clássica, destaques em publicidade & propaganda da época!

A busca por um status em destaque não se encerrava na marca do cigarro, ia adiante com seus complementos, isto é, para atingir um nível superior estava ao acender o cigarro. Fósforo, nem pensar, por duas razões muito claras: Primeiro é que a caixa de fósforo emitia um ruído no bolso ao caminhar típico de quem fumava. Para o “fumante oculto” lá se ia a discrição. Mamãe logo notava e a cobrança era fulminante! Segundo, não havia isqueiro a gás, somente com fluído próprio que dava um cheiro gostoso, hoje presente à queima das turbinas de avião à jato, que se percebe nos aeroportos!

Meu orgulho foi ter um isqueiro Zenith: - Estrutura em ao inoxidável, chama de aproveitamento direto e lateral por dois orifícios, que com o equipamento na horizontal, servia para acender cachimbo. Muito charmoso! Requintado! Destaque garantido.

Essa busca frenética e incansável de um posicionamento superior teve sua continuação no uso de caneta. “Minha época”, a caneta Cross fazia a diferença, muito tempo depois veio a Mont Blanc e um bocado de tempo antes a Parker 21 ou a ainda mais cara, a  Parker 51.

Tive um amigo que foi fazer uma entrevista de admissão de emprego para representante de vendas numa empresa, cujo entrevistador para testá-lo perguntou:

- Você me venderia alguma coisa que está nessa mesa?

- Claro que sim.

- Escolha alguma coisa, se prepare e me venda!

Esse, percebendo que o entrevistador usava uma caneta Cross igual a sua, solicitou-a para manuseá-la e pensar um pouco na venda... Na sequência iniciou falando das vantagens daquele instrumento convidando-o para testá-la. Esse com a caneta ainda na mão ouve o encerramento da argumentação e questiona:

- Nem preciso dessa caneta. Veja no meu porta-canetas que tenho em quantidade, que a Companhia me fornece de graça!  

- O senhor está correto. Entretanto se estiver no escritório de seu  cliente relevante, que vai assinar um contrato importante e ao abrir seu paletó para apanhar a caneta...

O  pseudo vendedor  abre o seu paletó e mostra a elegância que teria, ao apanhar uma caneta Cross, idêntica à do Entrevistador simulando um fechamento! 

O entrevistador se dá por vencido, com um largo sorriso joga-se para trás na sua poltrona e dispara a pergunta mais prazerosa para um entrevistado que procura emprego, quer ouvir:

- Quando você pode começar!?

- Amanhã!

Agora somente sorrisos! Meu amigo era contratado naquele momento . Só lhe restou manter a troca de sorrisos e ter sua vaga conquistada!

Podemos identificar claramente a importância da indumentária e seus assessórios a demonstrar um aspecto de alguém bem-sucedido, Vencedor!

Derivamos para o automóvel usado para chegar ao cliente. Se pilotando uma Ferrari, e aí escrevo mais dez páginas... Nós brasileiros nos entusiasmamos muito com carro, sua potência e seu aspecto visual, culminando com a marca! Tudo ficará muito claramente  exposto de que se está diante de alguém muito bem sucedido, "em princípio"!!!

Então tudo aquilo que perseguimos lá no início de nossa vida com pequenos destaques e sinais de sucesso como o cigarro com filtro, o isqueiro, a caneta diferenciada, boa apresentação pessoal, permanece em nossas análises e critérios para julgamentos básicos e muitas vezes e definitivo!

 

quarta-feira, 12 de maio de 2021

53) Um Poeta sentado a Praça!

 53) Um Doce Poeta Sentado a Praça!

Pensei muitas vezes no porquê deveria escrever sobre a vida de um personagem, que é parte de mim, portanto real, e chego à conclusão de que devo ir em frente. Basicamente porque apreendi bastante durante o tempo em que essa história se passou. Foram quase dez anos em que sofri, amei, fui muito feliz e amadureci. Se eu aprendi, então devo sair do meu egoísmo e arrogância de querer ficar somente para mim, todos os benefícios de que essa experiência me deu. Por que não partilhar com alguém? Pode ser que meus erros e acertos contribuam para um momento melhor para outros, se isso ocorrer, valeu a pena! Valho-me também de uma frase, de um italiano de Jaguari que ouvi, que traduzida diz:

 “Quem não sabe contar sua história, não merece tê-la vivido e quem não tem história para contar, não merece ter nascido! ”

Vou usar linguagens simples, coloquiais às vezes, porque quando se trata de emoções, há que se pôr para fora tudo aquilo que está no coração, de forma pura e sincera. Linguagem complicada à moda Spinoza, traria requinte de um filósofo, mas hermético às emoções, razão principal da existência deste crônica.

De tudo o que se passa nessa crônica, creio que o mais importante é a percepção que tive dos bons momentos em que me reconheci feliz! É tão comum ouvir de pessoas dizer: “Eu era feliz e não sabia! ” Todas as pessoas que falam isso, deixam clara a frustração, a mágoa de que deixou que o presente se tornasse passado e ele se foi. Não dá mais para resgatar, acabou. A saudade é o ônus de quem viveu momentos importantes! É triste, tão triste como real. 

Vemos em tantas filosofias e religiões a necessidade de viver o hoje, o “Carpen Die”; entretanto muitos não apreendem. A vida passa rápido demais - não falo assim por já ter morrido, estou vivo, eu acho – mas vejo tão nitidamente como etapas da nossa vida se foram tão rápido, que agora lamentamos: Significa que não as vivemos o suficiente!  Ou pelo menos não as vivemos com a intensidade que hoje percebemos merecidas! O resultado se chama frustração. 

Tantas pessoas se concentram em educar, disciplinar, preparar para a vida os seus filhos e acabam não curtindo o doce período de suas infâncias. Quando se dão contas, já são adolescentes, adultos, velhos. Onde andará aquela criança do sorriso mais lindo do mundo? Já passou! Agora tem um olhar sério, concentrado, responsável, exemplo profissional, como sempre o queríamos!  Queríamos?

Espero que esta minha transferência de conhecimento a quem leia, possa um dia ser chamada de Livro! Então estarei realizado, era a obrigação dessa minha Vida, que me falta cumprir.

Como é importante o Livro! Eu tive um encontro casual, no início da década de oitenta, que atribuo ser um momento mágico, de rara sorte, pelo conhecimento de Marketing de Escritor mais fantástico que ouvi: Eu era um Representante de Vendas da IBM e trabalhava o centro de Porto Alegre. Ao meio dia costumava, após o almoço, descansar um pouco sentado em um banco qualquer da Praça da Alfândega à sombra de seus gigantescos Jacarandás. Um destes dias aproxima-se e escolhe o mesmo banco para sentar, um dos ícones da Literatura Gaúcha, o famoso e não menos querido Poeta Mário Quintana.

Eu estava só. Ele se senta, respira fundo soltando o ar pela boca, como se estivesse cansado e me olha acenando com a cabeça como que “concordando” com alguma coisa, no que respondi prontamente com o mesmo sinal, simbolicamente dizendo “sim”! Como eu não conseguia desviar o olhar, ele percebeu, me olhou novamente, e não me fiz de rogado e puxei assunto:

- Bom dia!!! - Já era de tarde, nem sei o porquê me escapou um “bom dia”!

- Sim, um lindo dia!!! Respondeu-me, transbordando simpatia!

- Sim, sim, sim!!!

Acho que até repeti mais vezes o meu “sim”. Eu queria me garantir falando com o Poeta, mas sem saber precisamente o que dizer... Ele, acho que ficou com pena de mim e então puxou assunto, lógico que, assunto de seu total domínio e aí veio muito mais que poesia, conhecimento, Sabedoria Pura, inclusive de Marketing:

- Tu compras livro? – Falou meigamente, com sorriso peculiar!


- Sim, claro!

- E quantos livros compras?

- Bem, não sei exatamente, depende do que estou procurando para...

- Eu sei, eu sei... Mas quando compras, um livro já escolhido, quantos desse tu levas para casa?

- Não entendi! Perdi o sorriso e encabulei! Meu rosto devia ser uma interrogação só.  Quantos volumes? Do mesmo livro?

- Sim!

- Um, eu acho!

- Não! Estás errado. Quando se escolhe um livro, devemos comprar três volumes!

- Três? Disse levantando as sobrancelhas, pois eu entendia cada vez menos!

- Claro!  Passou a língua sobre o lábio.

- Um para dar a um amigo importante, outro para mantê-lo novo na sua biblioteca e o terceiro para ler, dobrar páginas, rabiscar e judiar dele... Entendeu?

- Ah sim! Claro, agora entendi!

 Rimos! O Nosso Poeta, apesar de seus quase oitenta anos – à época – tinha seus olhos faiscando de tanta vitalidade e acabara de me dar uma goleada em Sabedoria e domínio da Arte do Marketing! 

Poeta querido nos deixou no mês de maio de 1994, mesmo mês da morte de Arton Senna da Silva, da minha mãe e do meu pai! Muito luto em um único mês, nem sei com sobrevivi e mantive minha saúde mental!

quarta-feira, 5 de maio de 2021

52) Viajando a Jaguari na F-1000 cabine dupla...

 

52) Viajando a Jaguari na F-1000 cabine dupla...

Lá pelo final de 1988, já adulto, casado e separado, aliás, recém separado do primeiro casamento, morando em Porto Alegre, redescobri Jaguari que se tornou um bálsamo às minhas angústias  naturais de um recém separado. Lá, me refugiava em alguns finais de semanas possíveis, onde encontrava sempre disponível o aconchegante ombro da mamãe, mais os meus antigos amigos da puberdade – nunca esquecidos – que me davam um alívio à solidão e muita alegria! Tudo o que ocorria naquele final de semana era só alegria e felicidade!

A “parceria” não se restringia aos meus conterrâneos, havia uma penca de sobrinhos e sobrinhas – nove no total - que apesar da enorme diferença de idade, nos divertíamos muito nas atividades esportivas, viagens, bailes e outras fuzarcas sempre pródigas naquela cidade! Um terço deles viviam em Jaguari os demais, todos em Porto Alegre.

Num final de semana resolvi viajar para lá e TODOS sobrinhos de Porto Alegre queriam viajar comigo. Jaguari para eles, era um Território em que podiam "se soltar", sem fiscalização ou observação eventualmente severa de seus Pais, meus irmãos.  A logística com toda essa população, foi resolvida pelo mano Danilo, pai de três deles: - Disponibilizou sua F-1000 diesel de cabine dupla. Carro lotado, uma garrafa de algum líquido pecaminoso discretamente incluído na bagagem e lá fomos nós logo após o jantar em suas casas, a rodar os 404 km de estrada! A alegria e gritaria presente tornava a viagem, de quase cinco horas, muito divertida e até curta, porque naquela época se viajava todo esse trecho praticamente sem fazer mudanças, estrada vazia durante a noite, uma delícia para mim, encarregado da direção!

Nessa ocasião, o único do grupo viajante que trabalhava era eu, os demais, todos estudantes, alguns em nível intermediário e outros em suas Universidades. “Aquela garrafa”, girou pela cabine – felizmente não havia a Lei Seca – e como não sou de ferro, participei, ainda que moderadamente, por uma questão de bom senso, afinal eu estava com dois terços de todos meus sobrinhos à bordo. Minha “participação” na garrafa era com baixo volume e exigia uma parada no percurso, necessária para um bom gole de café preto a dissipar o sono.

Na verdade nem gosto muito do tal de café que se encontra nas estradas, mas o cheiro é sempre convidativo e tira o sono de verdade! Os demais participantes não tomavam essa especiaria, só aguardavam o “titio” voltar a dirigir e eu sempre voltava!

Por uma razão qualquer, que não lembro, tivemos que desviar o roteiro e entrar na cidade de São Vicente do Sul, já há 24 km do nosso destino final. Logo na saída da cidade – já madrugada de uma noite escura como um breu – Pepeto, o mais velho dos sobrinhos, quis fazer uma parada estratégica para um atendimento urinário! A estrada era em declive e trafegávamos sobre um aterro.

Alguns resmungos, pois afinal, era sexta-feira e a expectativa de chegar logo em Jaguari para “cair na noite” era grande! Verão com temperatura alta e convidativa à cerveja, provocava pressa na galera! O resmungo tinha endereço certo:

- Tinha que ser o Pepeto, esse mijão! Para logo o carro “Tiufa”!

Diante de tumultuadas reivindicações, diminui a velocidade e estacionei no limite do acostamento. O ”postulante à mijada” estava junto a porta do lado direito, abriu-a e desapareceu!!!

Ainda consegui ver numa fração de segundo, um vulto que parecia um “bloco de pano” – acho que era o Pepeto – rolando barranco a baixo como um cilindro humano em alta velocidade! Era um barranco de uns oito a dez metros em ângulo agudo que lhe propiciou um “desembarque” extremamente veloz, um bólido humano rotativo. Explosão de berros histéricos dentro da cabine:

Pepeto caiu! Rolou! Coitado! Se matou! Socorro!

- Minha Nossa! Se foi chão adentro! Afundou na terra! Sumiu! Não volta nunca mais! Adeus Pepeto!

Num misto de susto, pânico, desespero, risos, todos desceram às pressas para acudir o “elemento acidentado”! Poucos segundos depois, em meio à escuridão total, retorna o dito cujo coberto de capim, areia, todo sujo! Palha de grama até nas orelhas! Mas ele, assombrosamente na a maior calma do mundo! Como se estivesse apenas passando pelo local!

- Como tu tá? Te machucou? O que houve?

- Ué! Por que essa gritaria toda? Não foi nada! Que coisa! Como vocês são chatos! Muito estressados! Simbora Tiufa!

Dando tapas na roupa para diminuir o acúmulo de lixo, friccionando os cabelos a tirar a grama e areia, entrou no carro e se sentou como se nada tivesse acontecido, para o desânimo de todos nós. Olhava para o grupo como se fôssemos um bando de malucos!

Acho que o sadismo do grupo exigia pelo menos uma queixa de dor aqui ou ali... De bônus quem sabe, uma costela quebrada ou um dedo destroncado! 

Esses meus sobrinhos me divertiam demais. Pena,me entristece perceber que já são todos adultos!!!