quarta-feira, 19 de maio de 2021

54) Uma Reflexão!

 

54) Uma Reflexão!

Meu amigo Dirceo, Editor Chefe da nossa Equipe, me propôs uma reflexão remetida às primeiras duas a três décadas de nossas vidas, especialmente as profissionais. Nossa! É muita mudança para quem já passou dos 70 aninhos de vida!

Sou daquela época em que fumar era bonito e ser pederasta passivo era feio. Hoje as coisas se inverteram e fumar é feio, “a outra coisa”, que não tenho autoridade suficiente para falar, mas parece que também inverteu, talvez eu tenha que me desculpar por não ser gay!

Mas vamos ao cigarro, onde tenho alguma autoridade a descrever. Meu pai foi Distribuidor Autorizado da Cia. De Fumos Santa Cruz em Jaguari. Teve uma ocasião em que foi destaque ao vender UM MILHÃO de cigarros em um só mês. Apesar do convívio com tanto cigarro, meu velho só permitia que seus filhos fumassem após completar dezoito anos. Meus irmãos mais velhos – todos são mais velhos – ganhavam de presente ao completar essa Maioridade, um pacote de cigarros Tufuma, contendo 25 carteiras, isto é, quinhentos cigarros. Em 1966 já existia nessa Companhia, o cigarro com filtro, o Jean Nicot, esse foi meu presente!

Uns três anos antes disso, me iniciei no tabagismo por conta própria, típico de um pós-adolescente tentando ser rebelde. Reforço o “tentando” porque meu Velho não dava muito espaço para essas frescuras de rebeldia não... Mas era proibido!

O pior é que eu gostava mesmo era do cigarro Minister ou Carlton. O maior problema é que essas marcas eram topo de linha de nosso maior concorrente, então me obrigava a fumar escondido por essas duas fortes razões.

No fundo mesmo, minha busca certamente era para o status atingido por fumar dois cigarros de marca clássica, destaques em publicidade & propaganda da época!

A busca por um status em destaque não se encerrava na marca do cigarro, ia adiante com seus complementos, isto é, para atingir um nível superior estava ao acender o cigarro. Fósforo, nem pensar, por duas razões muito claras: Primeiro é que a caixa de fósforo emitia um ruído no bolso ao caminhar típico de quem fumava. Para o “fumante oculto” lá se ia a discrição. Mamãe logo notava e a cobrança era fulminante! Segundo, não havia isqueiro a gás, somente com fluído próprio que dava um cheiro gostoso, hoje presente à queima das turbinas de avião à jato, que se percebe nos aeroportos!

Meu orgulho foi ter um isqueiro Zenith: - Estrutura em ao inoxidável, chama de aproveitamento direto e lateral por dois orifícios, que com o equipamento na horizontal, servia para acender cachimbo. Muito charmoso! Requintado! Destaque garantido.

Essa busca frenética e incansável de um posicionamento superior teve sua continuação no uso de caneta. “Minha época”, a caneta Cross fazia a diferença, muito tempo depois veio a Mont Blanc e um bocado de tempo antes a Parker 21 ou a ainda mais cara, a  Parker 51.

Tive um amigo que foi fazer uma entrevista de admissão de emprego para representante de vendas numa empresa, cujo entrevistador para testá-lo perguntou:

- Você me venderia alguma coisa que está nessa mesa?

- Claro que sim.

- Escolha alguma coisa, se prepare e me venda!

Esse, percebendo que o entrevistador usava uma caneta Cross igual a sua, solicitou-a para manuseá-la e pensar um pouco na venda... Na sequência iniciou falando das vantagens daquele instrumento convidando-o para testá-la. Esse com a caneta ainda na mão ouve o encerramento da argumentação e questiona:

- Nem preciso dessa caneta. Veja no meu porta-canetas que tenho em quantidade, que a Companhia me fornece de graça!  

- O senhor está correto. Entretanto se estiver no escritório de seu  cliente relevante, que vai assinar um contrato importante e ao abrir seu paletó para apanhar a caneta...

O  pseudo vendedor  abre o seu paletó e mostra a elegância que teria, ao apanhar uma caneta Cross, idêntica à do Entrevistador simulando um fechamento! 

O entrevistador se dá por vencido, com um largo sorriso joga-se para trás na sua poltrona e dispara a pergunta mais prazerosa para um entrevistado que procura emprego, quer ouvir:

- Quando você pode começar!?

- Amanhã!

Agora somente sorrisos! Meu amigo era contratado naquele momento . Só lhe restou manter a troca de sorrisos e ter sua vaga conquistada!

Podemos identificar claramente a importância da indumentária e seus assessórios a demonstrar um aspecto de alguém bem-sucedido, Vencedor!

Derivamos para o automóvel usado para chegar ao cliente. Se pilotando uma Ferrari, e aí escrevo mais dez páginas... Nós brasileiros nos entusiasmamos muito com carro, sua potência e seu aspecto visual, culminando com a marca! Tudo ficará muito claramente  exposto de que se está diante de alguém muito bem sucedido, "em princípio"!!!

Então tudo aquilo que perseguimos lá no início de nossa vida com pequenos destaques e sinais de sucesso como o cigarro com filtro, o isqueiro, a caneta diferenciada, boa apresentação pessoal, permanece em nossas análises e critérios para julgamentos básicos e muitas vezes e definitivo!

 

14 comentários:

  1. Vendedores bons são assim, observadores, espertos. Quem é ou foi sabe muito bem disto.... Quanto a cigarros tenho duas recordações. A primeira é que papai fumava. E quando ia me ajudar na Aritmética, eu com 8 anos, ficava com um cigarro aceso entre os dedos e a fumaça ia direto para meu nariz e olhos. Não impota de que lado eu ficasse. Foi ótimo porque detestei cigarros desde aquela época! E mais um fato, me lembro de um absurdo... Eu, na IBM e já com mais de 40 anos e fui preparar uns cursos para uma companhia destas, que não citarei S_ó C_omo respeito... Não é que o Diretor de RH chegou para mim e num tom meio de chantagem me disse: "Você ficaria bem fumando". Naturalmente, na minha cabeça, o mandei para aquele lugar e nem mais apareci lá. Que piada!

    ResponderExcluir
  2. Amigo Fausto, história fantástica que me fez voltar ao tempo quando participei de um processo de uma grande multinacional Americana que durou 60 dias e fui contemplado com uma das vagas,e durante o processo aconteceu isdi: o entrevistador dava um produto para vender a ele..muito bom..e essa da caneta usei muitas vezes já do outro lado da mesa para meus entrevistados enquanto gestor. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro José Nelson, essa é uma técnica muito eficiente, que também passei a usá-la, enquanto gestor... O "personagem" dessa minha crônica, sou eu mesmo!

      Excluir
  3. Amigo Fausto, história fantástica que me fez voltar ao tempo quando participei de um processo de uma grande multinacional Americana que durou 60 dias e fui contemplado com uma das vagas,e durante o processo aconteceu isdi: o entrevistador dava um produto para vender a ele..muito bom..e essa da caneta usei muitas vezes já do outro lado da mesa para meus entrevistados enquanto gestor. Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Bela história...Beber bem é uma arte...Sempre digo a todos " só vende quem quer vender"...Vender bem, faturar e encantar o cliente é o desafio do bom profissional...

    ResponderExcluir
  5. Fantástico!!! É minha história, só que escrita com a sensibilidade e elegância do Fausto. Retrato fiel do bom vendedor dos anos 70/80.

    ResponderExcluir
  6. Caro Fausto.
    Vendere e um talento.
    Eu por exemplo, não consigo vender nem água no Sahara.
    PS- ótimo conto.

    ResponderExcluir
  7. Adorei a história! Fez parte de guase todos dessa geração! Valeu!

    ResponderExcluir
  8. Como sempre, as suas crônicas são muito boas. Meus pais fumavam Minister e caneta Cross era um marco, tenho a minha até hoje.

    ResponderExcluir
  9. Bom é saber que todos esses valores mudam. Ainda há quem se importe com marcas, pois está ai um argumento forte no marketing. Mas o que vale mesmo é a qualidade, satisfação e necessidade do objeto de desejo. Quando penso nessa época de propagandas de cigarro, rapidamente penso, como pode? Como poderia ser charmoso, elegante, dar status? Agora entendi Fausto....kkkkkkkk

    ResponderExcluir
  10. Bela crônica Fausto.
    Faz a gente, que viveu tudo isto, voltar no tempo.
    Um conjunto de caneta e lapiseira cross me ajudou na conquista de namoro de minha esposa Sandra. Faz 47 anos.
    E os cigarros...tudo a ver comigo!!!

    ResponderExcluir
  11. Boa fausto, muito boa. Abraco. BI.

    ResponderExcluir