quarta-feira, 5 de maio de 2021

52) Viajando a Jaguari na F-1000 cabine dupla...

 

52) Viajando a Jaguari na F-1000 cabine dupla...

Lá pelo final de 1988, já adulto, casado e separado, aliás, recém separado do primeiro casamento, morando em Porto Alegre, redescobri Jaguari que se tornou um bálsamo às minhas angústias  naturais de um recém separado. Lá, me refugiava em alguns finais de semanas possíveis, onde encontrava sempre disponível o aconchegante ombro da mamãe, mais os meus antigos amigos da puberdade – nunca esquecidos – que me davam um alívio à solidão e muita alegria! Tudo o que ocorria naquele final de semana era só alegria e felicidade!

A “parceria” não se restringia aos meus conterrâneos, havia uma penca de sobrinhos e sobrinhas – nove no total - que apesar da enorme diferença de idade, nos divertíamos muito nas atividades esportivas, viagens, bailes e outras fuzarcas sempre pródigas naquela cidade! Um terço deles viviam em Jaguari os demais, todos em Porto Alegre.

Num final de semana resolvi viajar para lá e TODOS sobrinhos de Porto Alegre queriam viajar comigo. Jaguari para eles, era um Território em que podiam "se soltar", sem fiscalização ou observação eventualmente severa de seus Pais, meus irmãos.  A logística com toda essa população, foi resolvida pelo mano Danilo, pai de três deles: - Disponibilizou sua F-1000 diesel de cabine dupla. Carro lotado, uma garrafa de algum líquido pecaminoso discretamente incluído na bagagem e lá fomos nós logo após o jantar em suas casas, a rodar os 404 km de estrada! A alegria e gritaria presente tornava a viagem, de quase cinco horas, muito divertida e até curta, porque naquela época se viajava todo esse trecho praticamente sem fazer mudanças, estrada vazia durante a noite, uma delícia para mim, encarregado da direção!

Nessa ocasião, o único do grupo viajante que trabalhava era eu, os demais, todos estudantes, alguns em nível intermediário e outros em suas Universidades. “Aquela garrafa”, girou pela cabine – felizmente não havia a Lei Seca – e como não sou de ferro, participei, ainda que moderadamente, por uma questão de bom senso, afinal eu estava com dois terços de todos meus sobrinhos à bordo. Minha “participação” na garrafa era com baixo volume e exigia uma parada no percurso, necessária para um bom gole de café preto a dissipar o sono.

Na verdade nem gosto muito do tal de café que se encontra nas estradas, mas o cheiro é sempre convidativo e tira o sono de verdade! Os demais participantes não tomavam essa especiaria, só aguardavam o “titio” voltar a dirigir e eu sempre voltava!

Por uma razão qualquer, que não lembro, tivemos que desviar o roteiro e entrar na cidade de São Vicente do Sul, já há 24 km do nosso destino final. Logo na saída da cidade – já madrugada de uma noite escura como um breu – Pepeto, o mais velho dos sobrinhos, quis fazer uma parada estratégica para um atendimento urinário! A estrada era em declive e trafegávamos sobre um aterro.

Alguns resmungos, pois afinal, era sexta-feira e a expectativa de chegar logo em Jaguari para “cair na noite” era grande! Verão com temperatura alta e convidativa à cerveja, provocava pressa na galera! O resmungo tinha endereço certo:

- Tinha que ser o Pepeto, esse mijão! Para logo o carro “Tiufa”!

Diante de tumultuadas reivindicações, diminui a velocidade e estacionei no limite do acostamento. O ”postulante à mijada” estava junto a porta do lado direito, abriu-a e desapareceu!!!

Ainda consegui ver numa fração de segundo, um vulto que parecia um “bloco de pano” – acho que era o Pepeto – rolando barranco a baixo como um cilindro humano em alta velocidade! Era um barranco de uns oito a dez metros em ângulo agudo que lhe propiciou um “desembarque” extremamente veloz, um bólido humano rotativo. Explosão de berros histéricos dentro da cabine:

Pepeto caiu! Rolou! Coitado! Se matou! Socorro!

- Minha Nossa! Se foi chão adentro! Afundou na terra! Sumiu! Não volta nunca mais! Adeus Pepeto!

Num misto de susto, pânico, desespero, risos, todos desceram às pressas para acudir o “elemento acidentado”! Poucos segundos depois, em meio à escuridão total, retorna o dito cujo coberto de capim, areia, todo sujo! Palha de grama até nas orelhas! Mas ele, assombrosamente na a maior calma do mundo! Como se estivesse apenas passando pelo local!

- Como tu tá? Te machucou? O que houve?

- Ué! Por que essa gritaria toda? Não foi nada! Que coisa! Como vocês são chatos! Muito estressados! Simbora Tiufa!

Dando tapas na roupa para diminuir o acúmulo de lixo, friccionando os cabelos a tirar a grama e areia, entrou no carro e se sentou como se nada tivesse acontecido, para o desânimo de todos nós. Olhava para o grupo como se fôssemos um bando de malucos!

Acho que o sadismo do grupo exigia pelo menos uma queixa de dor aqui ou ali... De bônus quem sabe, uma costela quebrada ou um dedo destroncado! 

Esses meus sobrinhos me divertiam demais. Pena,me entristece perceber que já são todos adultos!!!

13 comentários:

  1. Eram muitas aventuras.Sempre tinha o lado humorístico,hehe.Abreijão.

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  2. Fausto muito companheiro da gurizada . Nós pais ficávamos tranquilos por estarem em sua companhia que ao final tinham muitas histórias divertidas para contar.

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    1. Como rejuvenesce conviver com a "gurizada". Tudo é festa e ninguém se queixa de nada e nem fala em doença, só isso já vale muito a pena desse revigorante convívio!

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  3. Que época maravilhosa, essas aventuras marcam muito e dão saudades!

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  4. Que coisa boa, viver histórias divertidas e hoje quando se encontro é muito alegre.

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  5. Bah...lembro dessa viagem de vcs...chegaram Sao Vicente para deixar um carona....abraços.

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  6. Lembro muito dessa história!!!! Que coisa bem boa que era se reunir em Jaguari!!!!❤️

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  7. Que bom ter histórias assim para lembrar,ainda mais com sobrinhos, que a gente ama tanto! Legal!

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  8. Fausto tu sempre fostes parceirão da gurizada, teus sobrinhos ou não!!! Hoje tens teus netos...TFA

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    1. Verdade Zezinho, José j.m. azevedo! Talvez seja uma forma de, ao atingir a maturidade, tentar resgatar a juventude e seus sentimentos, justamente no meio deles!

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  9. Muito bom recordar essa lindas histórias e ainda mais com os sobrinhos. Abs

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  10. Muito legal essa história! Tu tens razão, conviver com “gurizada” é tudo de bom! ❤️❤️❤️❤️

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