Uma vez em São Luiz Gonzaga (14/set/1064) quando eu ainda era um “guri”, participando de uma excursão para disputa de futebol, fomos recebidos em casas de Família que nos acolhiam com “pensão completa”. Era comum esse tipo de troca de cortesia entre as cidades ao nosso redor, tudo em nome do bom relacionamento e amizade comunitária. Pois na casa onde me hospedei com mais alguns conterrâneos, essa bondosa Família acolhia o Nairo! Que de morador de rua, estava no seio de uma caridosa e carinhosa Família. Divertia-nos quando estava comendo, por ficar rindo o tempo todo. A felicidade do cara ao comer era emocionante!
Volto a Jaguari para lembrar de outro personagem marcante, o Frederico Vidotto. Mais um “home less” sem nenhum preparo que foi acolhido pelas Freiras, Irmãs Sagrado Coração de Jesus, que administravam o hospital local. Lá ele tinha tudo e as coisas menos importantes como o cigarro, ele ganhava por doações... Em busca exatamente pelo tabaco, visitava a loja do meu pai que era representante da Cia. De Fumos Santa Cruz. Frederico, um homem já de seus 50 anos, adentrava e se encostava no balcão, me olhava e:
- Me dá um "chegaro"!
- Quem chegou?
- Non, non! Quero um chegaro!
E assim brincávamos e o coitado ria feliz! Eu também me sentia feliz por fazer criatura tão humilde, sorrir alegremente e esse sorriso me contagiava fortemente! Ele gostava da brincadeira, embora recorrente e na sequência contava a história de sua vida, que tinha justamente se desviado durante seu Serviço Militar. Teve orgulhosamente o posto de Primeiro Tenente mas abandonou o Exército porque um Sargento o perseguia... Um dia daqueles testei até onde ia seu sonho e total ignorância da hierarquia militar. Foi numa tarde que eu acabara de chegar do Quartel de Santiago, ainda fardado o que o colocou em alegre histeria! Seus olhos brilhavam e ele queria dizer tanta coisa a um homem fardado, que se limitava a balbuciava palavras ininteligíveis, mas de visível alegria plena! Aí fiz o teste:
- Tá vendo essas Divisas? O que sou?
- Cabo do Exército!
Cumprimentei-o e segui sabatinando:
- E quem logo acima, manda no Cabo?
- O Terceiro Sargento!
Prontamente evoluiu e a partir dali, foi descrevendo a hierarquia com plena precisão. Hoje, o último posto no Exército é o de General de Exército - naquela época, ainda existia o posto na aposentadoria de Marechal do Exército - pois ele foi até lá com total desenvoltura e como percebi que tinha me vencido nesse “tira-teima”, fui complicá-lo fazendo a pergunta derradeira, que o colocou a pensar seriamente:
- E quem manda no Marechal?
Ficou por alguns segundos com o semblante sério, testa franzida, cara de dúvida, demorou me olhando fixo nos olhos mantendo um gemido de dúvida, tipo "hummmm" e finalmente me fulminou:
- O Papa!
Ele me ganhou! Então desabou numa gargalhada franca, gostosa porque tinha sido mais esperto que eu e de certa forma, coberto de razão...