quarta-feira, 2 de março de 2022

 95) Cuba Libre, Samba ou "Gin Fizz"?


Nem foi num passado tão distante que a Cuba Libre e o Samba faziam o charme dos drinques que tomávamos em nossos bailes. O primeiro, uma mistura de Coca-Cola com Rum e o segundo a mistura era com cachaça. Naturalmente a hierarquia era estabelecida de acordo com o salário ou a “mesada” do cliente em questão. O aspecto era idêntico o sabor e a velocidade da resposta etílica tinham algumas diferenças, mas ambas muito efetivas, sabor bem agradável, eu gostava muito...

Comecei a frequentar os bailes muito cedo na minha juventude, antes dos quatorze anos. Tinha que ir para casa à meia noite, não ia, ficava escondido junto à mesa dos meus velhos, que não faltavam aos bailes! Após esse período da tenra idade passei a frequentar esses bailes de peito estufado, afinal, um dia depois de fazer quatorze anos, já era um Homem com idade adequada de "quase quinze anos"! O problema era de onde trazer coragem para convidar ou “tirar uma guria para dançar”! Isso era muito complicado e foi difícil administrar até que um amigo MAIS VELHO me ofereceu um gole de Cuba Libre! Aí a cábula se foi e passei a ser um “pé de valsa” e na dança encontrei os melhores momentos da minha Vida, até aquela idade!

Na década de sessenta, bailes ou reuniões dançantes aconteciam em todos finais de semana. Tínhamos dois clubes sociais em Jaguari e um enorme “Galpão do CTG”! Nessas Sociedades a civilidade, os bons modos e costumes, eram severamente observados pelo Diretor Social. Qualquer postura tida como inadequada era advertida implicando severas punições, se é que me entendem... Eu era um menino bem comportado, quase sempre, registre-se aqui!!!

No período pré-maioridade, o acesso a uma bebida alcoólica, só com “contrabando” em algum frasco trazido no bolso de casa, para a mistura mágica com Coca-Cola! Alegria ainda que fosse artificial, estava garantida!

Depois dos dezoito anos, com permissão paterna até para fumar, tudo ficou mais fácil! Aliás, fumar era uma afirmação de que tinha finalmente me tornado um Homem! Hoje soa ridículo, mas se fumava até no intervalo dos bailes, em que a orquestra parava entre uma e outra música. Era comum acender um cigarro e fumá-lo por alguns segundos e ao iniciar a música, jogá-lo ao chão e pisar para extinguir a brasa e seguir dançando!

Uma vez – já maior de idade – estava o “The Crasies Club” [outro dia revelo esse poderoso grupo de seis amigos] num baile no CTG Invernada do Chapadão, em meio a música muito alta e a poeira levantando no salão, quando o garçom veio nos atender. Detalhe: Tínhamos na parceria o Luiz Fernando, de folga do Serviço Militar na Aeronáutica em Canoas como S2 em que sua atividade na Caserna era como Taifeiro no Cassino dos Oficiais. Lá, aprendera técnicas a fazer coquetéis e outras atividades de Copa. Era muito mais que um garçom por sua rica habilidade e entusiasmo em tudo o que fazia! No momento de começar a beber, e o moço que nos servia, na verdade um QUASE garçom sem um fino trato, tendência mais a lides no campo e lavoura, mas que ali estava para ganhar uns trocados, como todos os outros garçons e ordena:

- Quero um Gin Fizz com bastante gelo!

- Como?

- Quero um Gin Fizz com bastante gelo, por favor? 

- Hein?

- Já sei. Não sabe o que é né?! Eu te ensino: Uma dose Gin, suco de limão siciliano, xarope de açúcar. Depois adiciona uma clara de ovo e bata por muito tempo na coqueteleira. Põe gelo picado, casca de limão e sirva... Entendeu?!

- Hã hãn!

Por incrível que pareça, aquele tosco rapaz, trouxe a pedida! E eu que até duvidava. E não é que ficou muito bom?! Docinho, aroma de limão e forte presença de álcool! Bebemos muito! Isto é, bebemos muito mesmo! O resultado foi fulgurante! Só fomos entender a ação dessa alquimia no dia seguinte quando o dono da copa perguntou a alguém do grupo, de onde tínhamos inventado aquela bebida, que o garçom pedia:

- Duas doses de Gin e mistura com uma caipirinha de cachaça!

Nessa simplicidade que merecia aplauso, não preciso jurar que o pileque foi estupendo! Entretanto o curioso é que não me senti verdadeiramente bêbado! Talvez por ter caminhado após o encerramento do baile, por uns cinco quarteirões para voltar às casas! Óbvio que não tinha automóvel!

A única coisa curiosa mesmo, cujo o efeito que me lembro tão claramente. Ao entrar em minha casa, onde havia entre meu quarto e o resto da residência, um pátio florido onde se apoiava uma grande árvore de Três Marias, e essa a um poste de madeira onde se localizava a chave de luz para seguir adentrando na casa. Pois ao me aproximar, a questão de um metro de distância, esse agressivo, covarde e maldoso poste, se aproveitando de minha fraqueza mental por bombardeamento etílico, fez uma movimentação impressionante em direção da minha testa. Foi como se ele não tivesse me reconhecido como morador eventual daquela casa e me bateu como um flexível chicote no meio da testa, e voltou para sua posição inicial como se nada tivesse acontecido!

Permaneci em pé e por um longo tempo a observá-lo, tentando entender a razão daquela estúpida agressão gratuita! Permaneci em silêncio passando suavemente a mão minha testa reconhecendo a presença de um “galo” comprido da raiz do cabelo até o nariz! Eu não disse nada, afinal de contas falar com um poste, só se estivesse completamente bêbado né?! 

Até hoje não entendi a agilidade, velocidade e precisão daquele golpe certeiro. Retiro a acusação de covarde, pois estávamos frente e a frente! A mágoa ficou estabelecida por anos, minha incredulidade, eterna!       

 

7 comentários:

  1. Espetacular!!! A melhor até hoje!!! Gim Fizz com embate épico ao final com o caseiro poste, hahaha

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  2. Genial como sempre! Da bebida não tenho lembrança pq não bebia mas do cenário tenho belas recordações. Na época nem sabia q aquele poste era tão malvado!.. Hehe..

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  3. Que lembranças maravilhosas!! Muito bom como sempre!! Dançar, beber, um pequeno porre, vivências que todo jovem precisa ter.

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  4. Muito bom lembrar e fazer coisas que gosta.

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  5. Acho que o posto se manifestou por tantas outras acumuladas kkkkkk

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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