147) Roubaram o Violino da Paróquia!!!
Hoje minha abertura
dessa publicação se inicia com um pedido de desculpas: Tenho escrito Crônicas,
isto é, fatos verdadeiros vivenciados por mim, entretanto hoje, lembrado um
fato antigo provocado pelo Décio e invocando seu testemunho, passo a escrever
algo que depende de testemunha... O que prova que eu não estava presente
aos fatos, o que descaracteriza a crônica e passa a se tratar de um
"Conto"! Dito isso, vamos aos fatos garantindo, que talvez sejam
verdadeiros:
- Pois é, foi
Décio Brasil, meu conterrâneo, quem serve de testemunha no conto a seguir: -
Sim, é sobre Nossa Terra Natal, Jaguari. Essa pequena cidade, há uns
cinquenta anos tinha uma população de uns dez mil viventes e com o dado comum,
sempre ter um personagem notável seja de inteligência acima da média, do bom
atleta (que nunca se destacou além de sua fronteira citadina, exceção do
Humberto M. lateral-esquerdo do Grêmio, que por falta de sorte era reserva do
Grande Everaldo), há sempre o muito engraçado e lamentavelmente também, o
“ladrãozinho”. Esse geralmente jogado num segundo plano e tratado apenas como
vagabundo, mas nesse "causo" dotado de um carisma que o permitia
viver de seus pequenos furtos, sem uma punição mais severa!
O personagem da época
era o Novai, que todos o chamavam de “gurizinho querido”, sempre sorridente e
por mais de uma vez por ano era surpreendido sem estar alcoolizado, e afirmando
"nunca mais irá beber", mas que no dia seguinte...
O ocorrido agora
relatado, se trata de um evento ligado à Comunidade Religiosa da Cidade, que
estava por receber visita do Bispo de Santa Maria, num final de semana que se
aproximava. O Coral do Ginásio se preparava com ensaios de Cantos Gregorianos e
outros cantos em homenagem ao ilustre visitante! Mas eis que ocorre uma
catástrofe terrível, irreparável: “Roubaram o Violino da Paróquia!”
O escândalo de larga
escala e repercussão se instalou sobre a Cidade como um tsunami a enxovalhar a
moral e ética do Povo em geral! Imaginem diante dos olhos do nobre visitante
que estava por vir! O que fazer? O desfalque do único instrumento do Coral era
assombroso! De imediato a freira responsável pelo Coral foi “dar parte na
polícia”, fazer aquilo que hoje chamamos de BO!
No dia seguinte a tal
Freira foi pela segunda vez à Delegacia de Polícia cobrar resultado junto ao
Delegado, que recém executava os preparativos iniciais da investigação, o que
deixou a reclamante em pânico exigindo a imediata prisão do meliante e o mais
importante, a devolução do instrumento de cordas furtado. A
dificuldade – como sempre – é localizar alguma pista confiável e identificação
do suspeito, diante disso claramente explicado pelo Delegado, a freira
enfureceu de vez:
- Como assim suspeito? É só o senhor ir lá e
prender o Novai e fazer ele devolver o violino, ora bolas! Um pouco de boa
vontade e...
- Espera aí dona...
A discussão foi longa,
imensa e intensa. O Delegado teve extrema dificuldade em explicar à “santa
criatura” de que não era assim tão simples. Há que se ter provas concretas,
testemunhas etc.
Passaram-se apenas dois dias, mas com visitas
diárias da religiosa ao Delegado, questionando agressivamente a razão da
Delegacia ainda não ter identificado o meliante ou alguma testemunha, pois se
aproximava o domingo em que o Bispo estaria na cidade. Foi nesse o dia em que o
Policial perdeu a paciência:
- Só me aparece aqui o
dia que a senhora for chamada ou trouxer uma testemunha! Caso contrário,
desapareça!
Não deu outra: A
religiosa no dia seguinte já telefonou e anunciando uma testemunha! O Delegado
se rendeu e marcou dia e a hora e mandou buscar o Novai para fazer acareação.
Na sala reservada ao tão esperado depoimento, a Freira acompanhada de uma
“Juvenista” como testemunha junto com o suspeito. Delegado inicia a oitiva:
- Novai, já to de saco
cheio por causa desse violino. Devolve imediatamente essa droga prá Freira ou
te tranco nas grade até tu confessá e devolvê o instrumento! Hoje tenho até
testemunha do teu roubo!
- Não roubei, Dotôr! Eu
juro!
- É? Agora tu tá
ferrado, meu! Fala a mocinha aí!
- Sim dotôr, ele tem que
devolver o violino. Eu sô testemunha: Também ACHO que foi ele!
- O que? ACHA? Novai,
Pode ir embora. Te arranca daqui e não me aparece mais, pô! E vocês duas...
Diante da fragilidade da
prova o Delegado surtou! Furioso de correr espuma da boca. Mandou que o Novai
fosse embora imediatamente, e reservou um bom tempo para passar uma carraspana
na Freira por falso testemunho e mais um montão de coisas bem fortes, foi muito
bem xingada afinal de contas...
De súbito, o acusado já
na porta para ir embora, gostando do que ouvia em defesa da sua inocência,
"foi crescendo nos tamancos"! Empostado com grande orgulho, peito
cheio de ar, elegância e segurança de um inocente injustiçado, um autêntico
Monarca Britânico! Em pose de Estadista roncou grosso, cheio de autoridade
questionando o Delegado em alto e bom tom:
- Dotôr. Já tô todo atrapaiado! Com as confusão que essas aí fizeram. Afinal de contas, eu fico ou não fico com o violino?147)